segunda-feira, 29 de setembro de 2014






Bocas Cristalinas
Duodecaneto de William Lagos

BOCAS CRISTALINAS I    (2/10/10)

mulheres há que se querem desejadas,
por se sentirem assim mais femininas;
e quanto mais para a paixão te inclinas,
tanto mais elas se sentem cobiçadas,
como um favor
à sua vaidade;
que, na verdade,
qualquer amor
sempre combate a sua insegurança;
às vezes, as mais belas são assim:
precisam ter “lustrado o ego”, enfim,
como prova mais concreta de esperança.

BOCAS CRISTALINAS II

outras existem que são justo o contrário:
são seguras de si, melhor escolhem
e não permitem que quaisquer desfolhem
sobre elas seu desejo multifário
e seus olhares
até ofendem;
somente atendem,
em seus vagares,
o desejo desse homem que escolheram;
esse lhes basta para a segurança,
até onde seu prazer igual alcança,
em que por vez primeira se aqueceram.

BOCAS CRISTALINAS III

vamos supor que a ânsia do desejo
assim imaginado, em sonho vão,
algo retire do alheio coração
e algo reponha, em abstrato beijo,
esse pedaço
já retirado
bem arrancado
do seu regaço:
é como transfusão em peito alheio
e permanece firme e transplantado
enquanto se conserva desejado
enraizada a flor em cada anseio.

BOCAS CRISTALINAS IV

e muito embora seja assim algo arrancado
para criar a imagem desse mito,
vive a quimera em seu querer bendito
ou então maldito, conforme queira o fado.
ela não morre,
porém rebrota
em cada grota
por onde escorre:
vive no olhar de cada apaixonado,
vive nos rins de quem mais a deseja,
vive no coração de quem não beija,
vive na carne em que o nada é consumado.

BOCAS CRISTALINAS V

ao mesmo tempo, pela força do desejo,
no próprio coração também rebrota
o velame multicor da imensa frota
das bocas cristalinas para o beijo.
e não importa
que nunca o dê:
seu peito crê
na paixão morta
e assim se fortalece a adoração
dessas divas de vida transitória,
enquanto dura o sonho dessa glória
e enquanto reverdece o coração.

BOCAS CRISTALINAS VI

fazia parte do ritual antigo
que Astarteia fosse desejada
fisicamente, mais do que adorada,
útero mágico no verdor do velho abrigo
e nos seus templos,
toda mulher
o ritual quer
que dê exemplos
da luxúria caridosa de sua deusa,
uma vez entregando-se, em nobreza,
a troco de moedas, com certeza,
para o santuário que o sexor endeusa.

BOCAS CRISTALINAS VII

já de Afrodite a boca cristalina
não sorria de maneira assim tão crua;
ela surgia, inteiramente nua,
mas imortal, inatingível e divina
que não pedia
que suas devotas
cobrassem quotas
por cada orgia,
de fato urgia até mais fidelidade,
que despertassem o desejo dos amantes,
que se entregassem a esposos, bem confiantes
no esplendor de total felicidade.

BOCAS CRISTALINAS VIII

e a cada vez que se cumpria o sexo,
um pouco de energia era lançada
no altar dessa deusa consagrada
ao ideal reprodutivo, em puro nexo:
nos corações
ela vivia
e renascia
sem orações,
que era o ato de amor que a consagrava,
mais do que incenso ou vela ou sacrifício,
conceder fertilidade o seu ofício
em troca da potência que ganhava.

BOCAS CRISTALINAS IX

e quem te diz que não seja verdadeira
esta lenda que nos desce desde os gregos?
os deuses não contemplam de olhos cegos:
sabem lançar-nos a bênção mais certeira
ou a maldição
ou a indiferença
conforme a crença
e a indevoção.
lembra esse mito derivado de Afrodite,
a quem chamavam Vênus os romanos:
significados possui bem mais arcanos
do que estes a que a razão talvez te incite...

BOCAS CRISTALINAS X

são os altares bocas cristalinas
que te devoram na força dos desejos
e só devolvem os fantasmas de teus beijos
em diferentes, majestosas sinas.
todos os homens
lançam olhares
a tais manjares,
cheios de fomes
e se pudessem, cada uma que passasse
seria um vaso para sua semente,
assim sente o ateu e assim é o crente,
por mais que seus impulsos dominasse.

BOCAS CRISTALINAS XI

e coisa igual ocorre com as mulheres,
seus desejos ocultados com cuidado
ou apenas afastados com enfado,
enquanto trataram de outros afazeres,
mas a cobiça
do amor sensual
é natural
e encontradiça
em cada um de nós, mesmo inconsciente,
mesmo que apenas como chispa da vaidade,
na busca de um olhar com liberdade,
ao interpretar o futuro no presente.

BOCAS CRISTALINAS XII

pois é assim que nutrimos mil fantasmas
que vagam por aí, sem pão nem teto,
na maioria espantados, sem afeto,
tal qual se fossem ossadas e miasmas...
nesse descaro
uns sobrevivem,
outros se extinguem,
ao desamparo;
mas às vezes, ao mergulhar do céu,
conseguem despertar um tal desejo
que após ser consumado pelo beijo,
a gente diga: “Não sei o que me deu!...”





domingo, 28 de setembro de 2014






JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE
(Folklore alemão, recolhido pelos Irmãos Grimm, versão poética de
William Lagos, 26 set 2014)

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE I

Em Oberbrom, pequena aldeia da Alemanha
viviam dois homens muito parecidos,
embora não fossem nem sequer parentes,
a diferença sendo mais da manha
que do aspecto físico que mostravam;
o mais rico tinha modos descontentes
e o chamavam João Grande os conhecidos;
o mais pobre mostrava sempre bom humor,
vendo em sua vida o que havia de melhor:
de João Pequeno assim o apelidaram...

Tinha João Grande seus quatro cavalos
e um campo grande para cultivar;
João Pequeno só possuía um cavalinho
e dois alqueires, ambos a lavrá-los...
João Grande do trabalho não gostava
e deste modo, foi falar com seu vizinho:
“Com um só cavalo, difícil é amanhar
o seu campinho, mesmo sendo tão pequeno...
Mal e mal o seu trigo cresce pleno,
e seu cavalo come mais do que plantava...”

“É bem verdade, meu caro primo João,”
dizia o outro, que tinha a mesma altura
e não via motivo de o chamar
de Gross Hans, como se diz em alemão
(mas até com isto o outro se ofendia...)
“Só um cavalinho eu consegui comprar,
economizei e passei bastante agrura;
dos meus pais só o campinho herdei,
mas com esforço meus alqueires trabalhei
e ainda sustento minha avozinha dia a dia...”

“Mas se tivesse quatro cavalos mais,
muito mais o seu esforço renderia
e poderia algumas horas descansar...”
“Para minha terra, seriam até demais...
De fato, um dia por semana me bastava...”
“Pois é sobre isso que eu queria lhe falar:
Os meus quatro cavalos emprestaria,
se para mim toda a semana trabalhasse
e seu único cavalo ainda atrelasse...
Uma parelha muito forte assim ficava...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE II

“Mas e quando eu trabalharia na minha terra?”
“Ora, aos domingos... Pois um dia não lhe basta?”
“Mas o pastor quer que todos vão à igreja...”
“Ora, eu vou em seu lugar... Você fica na encerra:
domingo sim, domingo não, eu sou você...
Mas pense bem nessa sorte que o bafeja!
De sua terrinha o atraso todo afasta,
logo vai estar ganhando muito mais...
Ou então vá à igreja cedo e volte... Olhe, ademais,
até a pastar no meu campo seu cavalo você vê...”

Assim Klein Hans (seu apelido em alemão)
concordou com a proposta do vizinho,
mesmo sabendo que ele era violento
e assim querendo evitar complicação.
Gross Hans dormia até o meio-dia,
sem Klein Hans descansar um só momento.
Sabia bem não ser seu cavalinho
que o vizinho queria, porém o seu labor
sem precisar pagar qualquer valor,
mas confessava a si mesmo que o temia...

Dos cavalos só precisava para arar,
que tudo mais podia fazer sozinho,
mas Gross Hans na capina o obrigava
e até na ceifa o forçava a trabalhar...
Embora, é claro, de muito má vontade,
nessa labuta ele também colaborava,
lado a lado com seu bom vizinho;
uma pessoa só não conseguia
dar vencimento ao que o campo produzia:
cento por um e com liberalidade!...

É claro que nos domingos frios de inverno
João Pequeno era na igreja um regular,
sem que João Grande saísse de sua cama...
Dizia o pastor não aprovar o arranjo eterno
que o prendia nos domingos de verão,
além de trabalhar toda a semana:
“O seu vizinho o está a explorar!...”
Mas era inútil com João Grande conversar:
“Eu não o obrigo a nos domingos trabalhar!
Se ele o faz, é tão só por ambição!...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE III

De qualquer modo, o arranjo continuava
e João Pequeno estalava o seu chicote,
de preferência sem nos animais tocar;
toda a semana para o vizinho trabalhava,
“Eia, meus cavalinhos!... – a exclamar,
mais com a voz os querendo entusiasmar,
pedras do chão arrancando com pinote,
que ia empilhando ao longo da divisa,
como uma cerca, lugar que ninguém pisa,
sem protestos, na longa obra a se esforçar...

Toda a semana, João Grande nem notava,
pois tinha grande amor pela sua cama;
ao levantar, o trabalho achava feito,
sua própria avó o almoço preparava...
Mas aos domingos, embora a contragosto,
levantava mais cedo, contrafeito,
diversamente do resto da semana,
para cumprir seu dever de ir à igreja,
mas sem manter o trato que se enseja,
dormia no banco, meio tapando o rosto...

Quando saía, passava na taberna
e lá tomava seis canecas de cerveja,
com bom pedaço de salame ou de morcilha...
e ao retornar para sua sesta eterna,
João Pequeno via os cavalos a incitar:
“Eia, meus cavalinhos!...” Seus dentes então rilha.
“Ó João Pequeno!” – com voz malfazeja
ele gritava. “Vá parando com essa história
de dar-se ares com alheia glória!...
Quatro cavalos meus está a tocar!...”

“Mas é só uma maneira de dizer...”
João Pequeno com João Grande se explicava.
“São meus apenas para esse trabalho...
Nos dias de semana, com prazer,
eu grito a mesma coisa, ao estugar......
Nunca reclama quando eu aro no seu talho;
se digo meus, é que assim os comandava...”
“Mas eu não quero, João Pequeno, entendeu bem?
Grite outra coisa para os incitar além!
Ou com o chicote faça a parelha se esforçar!...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE IV

João Pequeno concordava, mansamente,
e lá se ia João Grande, cambaleando,
a tarde inteira a bebedeira a cozinhar...
Mas na sua ausência, cada vez que via gente,
João Pequeno, sem maldade, retomava:
“Eia, meus cavalinhos, vamos trabalhar!...”
E outros vizinhos de João Grande iam troçando:
“Já vendeu seus cavalos ao João Pequeno?”
Sendo orgulhoso, essa troça era um veneno
e novamente com o vizinho rezingava...

“João Pequeno, você vai se arrepender!
Não lhe vou reclamar terceira vez!
Não grite mais como se fossem seus
os meus cavalos ou então, irá sofrer
um bom castigo, muito mais que espera!...”
João Pequeno ficava quieto e dava adeus
tão logo se afastava o camponês,
mas mesmo pobre, tinha seu próprio orgulho,
ressentido também do seu esbulho,
que seu vizinho o maltratava como fera!...

E quando voltava o povo da igrejinha
(porque não fora, sentindo-se culpado)
sendo humano, o demônio da vaidade
o provocava e a gritar de novo vinha:
“Upa, upa, meus queridos cavalinhos!...”
Do seu arranjo sabia bem a comunidade
e tinha toda a simpatia do seu lado;
os camponeses lhe abanavam e sorriam
e os cavalos facilmente o obedeciam,
pelas raízes arrancando paus e espinhos!

Mas João Grande escutou-o, novamente,
estando já bastante embriagado
e lhe gritou: “Esses cavalos não são seus!”
João Pequeno desculpou-se, humildemente...
“Eu prometi que o iria castigar!...”
Fácil os bêbados se tornam em sandeus...
Pegou uma pedra e, mirando com cuidado,
no meio da testa acertou o cavalinho!
Morto na hora, ainda do arado no caminho...
“Eu o avisei!... Agora não pode se queixar!...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE V

Com medo do vizinho, João Pequeno,
como único protesto, proclamou:
“O nosso trato agora está desfeito!...”
“Pouco me importa, já colhi meu feno!...”
E João Grande a cerquinha derrubou.
os seus cavalos arrastando de mau jeito!
Junto do seu, João Pequeno se agachou
e percebendo que, de fato, já morrera
esse único que a ele pertencera,
tomou uma faca e o couro lhe esfolou...

Colocou-o a secar, sobre um varal
e uma cova abriu para o animal,
enterrando-o com lágrimas nos olhos;
a sua própria colheita no final,
assim que o couro viu ao sol secar,
colocou em um saco seus espólios,
era até leve e, com passo natural,
saiu caminhando para a próxima cidade,
em que os venderia com maior facilidade,
sem saber como outro bicho iria arranjar...

Mas era outono e chegou uma tempestade;
seguiu em frente, com o couro na cabeça,
mas ficou escuro e se perdeu da senda...
o riachinho virara torrente de verdade...
Mas o couro trazia ar e assim flutuou...
Do outro lado, viu uma casa de fazenda...
Será que eu ganho pousada, caso eu peça?
Estava trancada, mas viu uma claridade;
bateu à porta e pediu hospitalidade...
Mas uma voz veio de dentro e recusou!

“Prossiga o seu caminho, viandante!
Meu marido saiu numa viagem
e na sua ausência, não deixo entrar ninguém!”
“Mas minha senhora, é uma chuva trovejante!
Estou empapado, eu posso até morrer!...”
“Tenho até pena de você, porém,
sem meu marido, não tenho coragem
de abrir a porta para qualquer estranho...”
“Vai me deixar neste vendaval tamanho?”
“Não insista, porque o não vou receber!...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE VI

Bem ao lado, porém, havia um celeiro
e João Pequeno subiu pela escadinha;
estendendo seu saco sobre a palha,
com o couro se cobriu e bem ligeiro
pegou no sono, mesmo tendo fome.
Talvez seja um castigo, por minha falha
em trabalhar aos domingos na terrinha...
Só espero que não me bique essa cegonha!
Ele pensou.  Se eu cegar, será coisa medonha!
Mas logo a ave bate as asas e no ar some.

Mas pouco tempo depois que adormecera
foi acordado por um jato de luz,
que escapava por uma janela aberta;
pensando que ele fora embora, a má hospedeira
servira a mesa com lauta refeição,
pois a casa que afirmara estar deserta
abrigava um hóspede, que usava uma cruz
de puro ouro, pendurada no seu peito
e bebia vinho para não botar defeito:
da outra aldeia ele era o sacristão!...

Embora luterano, João Pequeno o conhecia;
na aldeia vizinha, a gente era católica
e algumas vezes, ali vendera trigo e aveia...
Mas que diabo o sacristão ali fazia?
Diziam que ao bom padre ele enganava
e furtava as esmolas de sua aldeia,
só dando ao cura qualquer soma simbólica...
Não era sacerdote, mas ficara solteiro
para fingir em nada ser interesseiro
e um pé-de-meia depressa acumulava!...

E ali estava o grande espertalhão,
comendo à farta e bebendo ainda mais!
Um bom assado, peixes e uma torta,
enquanto estou com esta fome de leão!
Continuou olhando, com água na boca...
Foi por isso que ela bancou a mosca-morta!
As suas desculpas só mentiras irreais,
pois lá estava o sacristão, todo enfeitado!...
Com a comida ficaria empanturrado
e ele curtindo essa sua fome louca!...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE VII

Mas agora que amainara a tempestade,
chegava um homem, montado a cavalo,
que foi à porta bater, diretamente,
dando a impressão da maior autoridade...
Só poderia ser da casa o dono!...
Senão, não insistiria firmemente...
Mas a mulher, logo depois de escutá-lo,
foi pôr no forno toda a sua comida
e o vinho em prateleira bem escondida,
o sacristão assustado como um mono!...

Ao vê-la a comida no forno enfiar,
João Pequeno, só de fome, deu um gemido!
E então o dono da casa o escutou...
“Quem está aí?” – foi indagando, desconfiado.
“Sou João Pequeno,” respondeu o rapaz.
“E por que no meu celeiro se enfiou?”
“Fugi da chuva, senhor.  Estou escondido
porque sua esposa não quis me dar abrigo,
pensou, talvez, que eu fosse um inimigo,
que na sua ausência de fazer mal fosse capaz...”

“Ah, minha Claudine sempre foi prudente...”
“Pois é, mas a chuva estava forte
e foi assim que me deitei sobre sua palha...
Se me mandar, vou embora, incontinenti!...”
“Nada disso!  Eu sou hospitaleiro,
mas essa chuva também me atrapalha...
Claudine, abra!  Sou eu, o seu consorte!...
Estou molhado!   Levante dessa cama!...
Só me esperava para a próxima semana,”
ele explicou, “mas retornei bem mais ligeiro...”

“Ande logo, mulher!   Estou com frio...
E você, venha comigo.  Dou-lhe abrigo
se ao menos essa mulher me abrir a porta!”
“Ora, a chuva estava forte como um rio,”
decerto ela tem sono pesado...”
disse o rapaz, sua coberta enrolando, meio torta;
o couro e o saco a carregar consigo,
até que a mulher abriu a porta, atribulada...
“Meu pobre Nicklaus!  Troquei a roupa, atrapalhada...
Ficou esperando muito, meu amado...?”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE VIII

“Já estou batendo faz um quarto de hora!...”
Ela abraçou o marido, firmemente:
“Venha para a cama, vai precisar dormir!...”
“Preciso é de comida e sem demora!...
E depois, trouxe comigo um convidado...”
Mas o sacristão não tivera tempo de fugir
e se enfiara numa arca, velozmente,
que só usavam para guardar lenha...
“Vou pendurar a capa e logo venha
com qualquer prato que tenha preparado...”

“Não o esperava... Mas verduras me sobraram
do que servi aos empregados no jantar...”
Ela queria era livrar-se dele bem depressa
e trouxe a travessa, que os dois logo aceitaram...
Mas João Pequeno só pensava no festim
que ela no forno guardara a toda pressa...
Cerveja morna foi a mulher buscar
e foram comendo a salada fria e crua...
“Pobre rapaz!  Você o deixou dormir na rua!
Contudo entendo que foi por respeito a mim...”

Claudine pensava só no seu sacristão
que a essa altura já se acharia sem ar...
Mas João Pequeno pisou no saco sob a mesa
e sem querer, meio o empurrou, de sopetão...
E o couro úmido soltou logo um rangido...
O fazendeiro demonstrou certa surpresa.
“Que foi isso?”  Mas ele fingiu não escutar
e novamente pisou no saco, bem ligeiro...
“E esse barulho...?”  “Ah, é o meu feiticeiro!
Eu o prendi, mas só reclama esse bandido!...”

“Mas de que jeito o conseguiu prender?”
“Fiz o feitiço virar contra o feiticeiro...”
“E por que esse seu bruxo está gemendo...?”
“Não é gemido, ele só quis me dizer
que o forno encheu com ótimas vitualhas,
por certa mágica que ainda está fazendo...
Que não comamos esta salada por inteiro...”
Claudine ficou branca de assustada:
“Não, marido, ali no forno não há nada!...”
“Foi o meu bruxo que as criou, sem falhas...”

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE IX

E de fato, Nicklaus foi o forno abrir
e encontrou peixe, bolos, carne assada,
mais uma torta para sobremesa...
Claudine já pensava até em fugir...
Mas João Pequeno insistiu: “É poderoso
o meu feiticeiro...”  Era esperteza,
a mulher não queria deixar atrapalhada,
mas é claro que ela percebia tudo agora:
que sua safadeza ele assistira lá de fora,
quando abrira a veneziana. Que medo tenebroso!

Nicklaus e João Pequeno puseram-se a comer,
ela olhando o visitante, apavorada...
E se ele tivesse visto o sacristão?
João Pequeno teve vontade de beber
e deu no couro mais um pontapé,
de rangido produzindo profusão...
“Falou de novo essa sua alma danada?”
“Ora, ele só disse que naquela prateleira
há três garrafas de vinho de primeira...
Tudo criou, de tão mágico que é...”

Pois novamente Nicklaus foi conferir
e sem dúvida, as três garrafas encontrou...
Claudine ficou a render graças a Deus
porque as vazias já fizera sumir,
pratos e copos lavando na cozinha...
“E o feiticeiro, pelos poderes seus,”
indagou Nicklaus, depois que o vinho tomou,
“seria capaz de me mostrar o diabo...?”
“Mas isso é pedir muito, ao fim e ao cabo!
Não terá medo de uma visão assim daninha?”

Nicklaus, já embriagado, respondeu:
“Um bom cristão não tem medo do diabo!
Afinal, pode ou não seu feiticeiro...?”
Com um pontapé, outra vez o couro rangeu.
“Ele disse que pode?  Ele falou...?”
“Ele até disse, senhor fazendeiro,
mas não o quer mostrar a homem honrado...
O diabo já está aqui, porém é feio!...
De sua visão o senhor não tem receio?”
“Tenho minha cruz no peito!” – o outro afirmou.

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE X

“Pode até ser... Mas resolveu meu feiticeiro
que o fará se mostrar, mas disfarçado
no Sacristão de Niederbrom...  O que me diz?”
De Claudine o coração bateu ligeiro.
“Sou luterano e detesto sacristães,
Mas ao de Niederbrom, mais mal eu quis:
com minha Claudine ele já foi desaforado!
E rouba ao padre o dinheiro das esmolas...
Queria mesmo, é agarrá-lo pelas golas,
dar-lhe uma sova e atirá-lo aos cães!...”

João Pequeno chutou o saco mais uma vez.
“O feiticeiro está avisando que não pode!
Não será o sacristão que iremos ver,
mas o diabo, disfarçado em tal freguês...
Se tocar nele, ficará amaldiçoado!...”
“Está certo...  Mas o faça aparecer...”
“Já está ali na arca... Mas fede como um bode!
Peça que levante a tampa a sua mulher...”
“Claudine?  Pobre bicho, não ousará sequer...”
O sacristão suava de medo e fedia, apavorado...

Quanto a Claudine, estava branca feito giz!
João Pequeno falou: “Vou eu mesmo levantar...”
Abriu a tampa e se encolheu o sacristão...
O fazendeiro ir olhar de perto quis...
“Mas que fedor!... É até pior do que eu pensava!
Tem mesmo a cara de porco do ladrão!...”
João Pequeno deixou a tampa então tombar.
Brindaram juntos e depois disse o fazendeiro:
“Quero comprar esse seu feiticeiro!...”
“Ah, não poderia!  Em tudo ele me ajudava!...”

“E se eu lhe der um saco de coroas...?
Cem boas moedas do mais puro ouro!...”
“Olhe,” disse João Pequeno, após hesitação,
“vou aceitar pelas comidas boas
e a hospitalidade que me ofereceu...
Mas é só por que lhe tenho gratidão!
Ele está preso nesse meu saco de couro
e vou dar ordens que obedeça só a você
e que lhe fale também, ora se vê!...”
E Nicklaus até a boca o saco encheu...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XI

“Mas o diabo não pode ficar aqui!
Dê-me a arca, que o jogarei no rio!...”
Nicklaus ficou muito agradecido;
prendeu dois cavalos à carroça logo ali,
ajudando João Pequeno a carregar,
com lágrimas nos olhos, comovido...
“Não quer passar a noite?  Está tão frio!”
“Com o diabo aqui do nosso lado?
E se nos tenta a cometer algum pecado?
Não!  Vou ao rio para a arca ali jogar!...”

“Vou deixar sua carroça lá na aldeia
de Niederbrom.  Pago alguém para a trazer...
É gente honesta, mesmo de outra religião...”
E se tocou para o rio.   Mas se arreceia
o pobre sacristão, começando já a gritar:
“Deixe que eu saia daqui, meu bom irmão!”
“Não sou irmão do diabo!  Agora vai morrer!”
“Mas eu não sou o diabo, sou o Sacristão
de Niederbrom!  Juro pela minha devoção
que uma sacola de dinheiro eu vou pagar!...”

“Está certo... Uma sacola de ouro bem contado?
“Sim, sim, eu juro!  Somente não me jogue!...”
“Então escreva nesta folha de papel
que vai pagar por que o encontrei disfarçado
de diabo e com a mulher do fazendeiro!
Senão vai à sacristia, ali veste o seu burel
e vai pedir socorro!”  “Sim, sim, só não me afogue!”
Assinada a promessa, dirigiu até a aldeia,
pegou o dinheiro e acrescentou outra maneia:
“Mande entregar esta carroça bem ligeiro!...”

Chegou em casa ainda de manhã...
Muito bem pago havia sido o seu cavalo!”
Foi a João Grande pedir-lhe uma vasilha:
“Quero medir a minha aveia temporã...”
Mas o sacristão quase só lhe dera prata...
Então pegou uma moeda de sua pilha,
grudando-a no fundo, só para enganá-lo;
levou a medida depois para o vizinho,
que examinou seu fundo com carinho,
sentindo uma surpresa muito grata...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XII

Mas onde foi que ele arranjou esta moeda?
E foi depressa a João Pequeno interrogar.
“Em Niederbrom está valendo muito o couro;
Fiz leilão pelo melhor preço que conceda...
E olhe aqui!   Recebi cem escudos de prata
e mais um saco de coroas de ouro!...”
João Grande saiu dali e seu machado foi pegar,
matando logo seus quatro cavalos,
bem depressa dos couros a esfolá-los,
correndo à aldeia empós fortuna grata!...

Com o peso, logo estava esbaforido,
pingando sangue e mais suor de andar a pé...
Fui burro!  Um devia ter poupado!...
Sem me cansar me teria conduzido.
Chegou a Niederbrom em dia de feira
e seus couros ofereceu, acalorado...
Oito sacos de moedas quis até!...
Mas com ele se zangaram os curtidores
e os sapateiros o cercaram, sem temores,
dando-lhe sova de pauladas bem certeira!

A carroça ele avistou quando fugia;
entrou nela e saiu em disparada,
mas no caminho encontrou o fazendeiro
e sendo tão parecido com João Pequeno,
levou uma nova sova de chicote!...
Para Oberbrom, sua aldeia, correu ligeiro,
uma terrível vingança maquinada
pela armadilha que João Pequeno lhe aprontara!
Perdera os couros dos cavalos que matara
e estava todo machucado por escote!...

Enquanto isso, a avó de João Pequeno,
que tinha quase cem anos, falecera...
Ele a colocou em sua própria cama quente,
contra seu frio quiçá contraveneno!...
E foi a noite passar em uma cadeira...
Mas João Grande, pé ante pé, mas ferozmente,
com o mesmo machado que os cavalos abatera,
entrou em sua casa e um golpe desferiu
na cabeça da velhinha...  E então, fugiu,
dando risadas pela maldade que fizera!...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XIII

Ora, antigamente o pai de João Pequeno
emprestara boa quantia a um taverneiro,
que jamais se dispusera a devolver...
Comprou carroça e cavalos, bem sereno
e a velhinha colocou ali sentada,
na taverna penetrando ao amanhecer,
sua carroça estacionada no terreiro;
com um escudo de prata ele comprou
três garrafas de vinho e convidou
o taverneiro para uma boa talagada...

“Mas deixe um pouco para a minha avozinha,
que está sentada na carroça, me esperando;
vai visitar uns parentes na cidade
e deve estar com frio, a pobrezinha...”
Mas o taverneiro quase tudo bebeu
e então João Pequeno, com sagacidade:
“Leve o resto para a Vovó!” – foi ordenando.
“Você não manda em mim, mas vou levar...”
“É seu trabalho e acabei de lhe pagar...”
Já tropeçando, o caloteiro obedeceu...

Foi carregando a garrafa e mais um copo,
cumprimentando a velhinha empertigada
que naturalmente, não lhe respondeu...
Estando bêbado, se irritou com muito pouco:
“Pegue esse copo, Vovó, vai se aquecer!”
E como a coitada sua mão não estendeu,
desferiu-lhe uma valente garrafada
e a infeliz despencou até o chão!...
“Você matou minha Vovó, seu trapalhão!”
“Eu não queria essa morte cometer!...”

“Foi meu mau gênio!... O que vou fazer agora?”
“Ora, vá até a polícia apresentar-se...”
“Santo Deus!” – disse o pobre embriagado,
“Não pode o crime disfarçar-se nesta hora...?”
“Talvez, se me pagar quanto me deve...”
E o estalajadeiro pagou, muito aliviado;
foram à Niederbrom, num lençol a enrolar-se
a pobre velha, para esconder a sua ferida;
e a depositaram em sua última guarida...
O sacristão a protestar sequer se atreve...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XIV

João Pequeno largou o taverneiro
na estalagem e voltou para sua aldeia,
encontrando João Grande no caminho,
horrorizado ao encontrá-lo assim inteiro...
João Pequeno lhe mostrou a vasta quantia...
“Mas... está vivo?” – indagou devagarinho.
De um fantasma o malvado se arreceia...
“Ao desferir em mim aquela machadada
estava a Vovó na minha cama então deitada...
Mas que compravam cadáveres eu sabia...”

“Fui a Niederbrom e pagou bem o boticário...
Agora, adeus!  Olhe, não mate mais ninguém!...”
Mas João Grande realmente era malvado...
Minha própria avó está caduca!  Seu fadário
vou aliviar hoje mesmo e ainda lucrar...
Abriu-lhe o crânio com o seu machado!...
Carroça e cavalos foi alugar também
e voltou a Niederbrom de madrugada...
O boticário o recebeu de cara amarrada:
“Por que a esta hora veio me perturbar?”

“É que eu lhe trouxe minha avó para vender...”
“E por que essa velha caduca eu iria comprar?”
“Não está mais caduca.  Ela morreu...
Matei-a eu mesmo!” “E o que quer que eu vá fazer?”
“Vendo o cadáver por um saco de dinheiro!...”
“Você é louco!” – o boticário respondeu.
“Faço de conta que não o pude escutar...
Pois não percebe que vai ser enforcado?
Você está bêbado ou é mesmo atrapalhado...
Vá embora daqui!...  Vá bem ligeiro!...”

Mentiu João Grande que era brincadeira
e para Oberbrom voltou rapidamente;
colocou em sua cama a avozinha
e uma pedra do teto fez ligeira
desprender e cair na sua cabeça...
Saiu depois para a aldeia vizinha,
socorro a pedir... “Ocorreu um acidente!”
E como nada ele tinha para herdar,
a pobre velha sua comida a cozinhar,
logo a enterraram, sem culpá-lo pela peça...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XV

Mas desta vez eu terei a minha vingança!
Quando encontrou João Pequeno distraído,
um saco lhe enviou sobre a cabeça!
“Vou afogá-lo e pegar a sua abastança!...
E com o saco nas costas, caminhou,
até o rio, para afogá-lo bem depressa!
Mas passou pela igreja e ali reunido
viu todo o povo de sua avó no funeral!
Se eu não entrar também, vai pegar mal!
E João Pequeno junto ao portão largou!...

Mas por ali passou um velho salteador
que abandonara sua terrível profissão
e agora gado só comprava e revendia,
mas que sabia ter sido grande pecador
e esperava ir direto para o inferno...
Uma boiada nesse dia conduzia
e um animal deu no saco um tropeção...
João Pequeno se acordou, num escarcéu:
“Sou muito moço para ir agora para o céu!”
“Pior sou eu, que vou ao castigo eterno!...”

“Pois então troque de lugar comigo!
Em meia hora no céu já estará!”
“Tem certeza?” “Eu lhe juro por minha alma!
Fui escolhido, mas não quero ir, amigo!
Estão rezando por mim ali na igreja...”
O salteador aceitou e, com toda a calma,
trocaram de lugar.  “Mas você cuidará
de minha boiada...?” “Claro, faço-lhe o favor...”
Fechou bem o saco e com o maior fervor
tocou a boiada, sem que João Grande o veja...

Mas assim que João Pequeno foi embora,
João Grande mentiu estar triste demais,
saindo do igreja ainda durante o funeral,
pondo o saco nas costas nessa hora...
O velho era, porém, muito mais leve,
mas João Grande não pensou nada de mal:
Deus me perdoou por meus crimes naturais;
já descansei do peso do atrevido!...
É só um castigo por me haver iludido...”
Já o salteador em falar sequer se atreve...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XVI

E assim João Grande jogou o velho no rio,
muito contente por se ter vingado...
Mas na volta, deparou com uma boiada
mais João Pequeno... E sentiu um calafrio...
“Mas como?  Outra vez ressuscitou?
Ou por acaso é uma alma penada?...
“Você pensou que havia me afogado,
mas no fundo do Rio Bromm há um jardim
e um vasto reino ali se abriu perante mim,
mais uma jovem, que me desamarrou...”

“Você é muito bonito, meu rapaz,”
ela me disse, “e não tenho um pretendente.
Sou filha do Gênio do Rio, quero casar,
mas por aqui não há ninguém capaz...
Você aceita, então, casar comigo...?”
“Mas como eu deixaria de aceitar?
Com você eu me caso incontinenti...”
“Primeiro tenho de ir falar com o meu pai,
mas esta boiada como sinal lhe vai...
Leve-a à sua aldeia e retorne sem perigo...”

“Assim, eu vou vender esta boiada
e pegar os meus três sacos de dinheiro,
depois casar no sábado que vem...
A minha noiva é verdadeira fada
e nem sei como se interessou por mim...
Tem quatro irmãs... Você não quer também
arranjar uma noiva, bem ligeiro...?
“Será que alguma me quer por namorado?”
“Mas é claro!  Você é tão bem apessoado...
Só não escolha a que me quis assim...”

“João Pequeno, você me prestará um favor?
“Farei o que quiser, querido amigo...”
“Então me jogue bem fundo nesse rio...”
“Mas por que?  Você não sabe mergulhar?”
“Eu não consigo, vou ficar me debatendo...”
“E minha boiada?  Vou levar para meu tio...”
“Deixe na minha fazenda, sem perigo...”
E lá se foram os dois a caminhar,
João Pequeno mil mentiras a contar,
tocando o gado, que já quase ia correndo...

JOÃO PEQUENO E JOÃO GRANDE XVII

Guardado o gado, já as margens a avistar,
João Pequeno exclamou: “Vizinho, mas que azar!”
“Como assim...?”  “É que o meu saco está no fundo
e um outro saco vamos ter de ir buscar!...
Sei que você é um excelente nadador
e sem um saco, no ponto mais profundo
de forma alguma conseguirá chegar...”
“Então, amarre uma pedra nos meus pés!
Dessa forma, eu chegarei até os sopés...”
“Mas não vai se desatar, no seu pavor?...”

“Não, não vou!...  Amarre bem minhas mãos
e meu pescoço também ate com uma corda...
Assim é garantido que eu afundo...”
“Está certo, mas com duas condições:
a minha noiva nem pense em namorar!...
O nome dela é Coralina e num segundo,
pode pensar que sou eu... Você concorda?”
“Claro que sim...  E qual é a outra condição?”
“Diga ao gênio que você é meu irmão
e de mim só coisas boas irá falar...”

João Grande concordou, na maior pressa
e João Pequeno desenrolou as cordas
com que o salteador prendia a boiada,
amarrando João Grande bem depressa,
com duas pedras e atando bem seus braços...
“Está bem assim?  Não quer mais nada?”
“Está ótimo!  Só me empurre até as bordas...”
João Pequeno não se fez mais de rogado...
João Grande, é claro, morreu afogado,
igual que o salteador, sem deixar traços...

Livre assim da maldade do inimigo
e agora tendo bastante dinheiro,
bem depressa João Pequeno se casou,
não com a filha do gênio, que um abrigo
tivera apenas em sua imaginação...
Mas foi Margrete que ele desposou,
que há muito o desejava por parceiro,
decerto a moça mais formosa de sua aldeia,
muito melhor que a tal falsa sereia
que ele inventara com toda a inspiração!...

ÉPÍLOGO

Depois disso, continuou trabalhador
e comprou a fazenda abandonada
de João Grande, vivendo muitos anos
com sua Margrete, no maior amor:
com muitos filhos sua união foi abençoada!
Se cometeu alguns atos desumanos,
foi em legítima defesa comprovada
e só enganou a quem engano merecia...
E se moral esta história nos trazia,
é que a maldade sempre acaba castigada...