ESCANDIR I
– 15 JUN 2024
HÁ MUITOS
ANOS OS SONETOS ADOTEI
COMO O
ELEGANTE FORMATO DE POESIA;
SONETOS
RASCUNHEI DIA APÓS DIA
E NESSA
GENTIL TAREFA ME EMPENHEI.
Por certo
a fúria da corrente eu enfrentei,
Que a
pouca gente o meu ideal servia,
Menos
ainda que sonetos conseguia
Realizar na perfeição que conformei.
EXISTE
MESMO ESSE DITADO ANTIGO,
SEJA:
”PIOR A EMENDA QUE O SONETO”,
QUANDO
ALGUÉM BUSQUE OS VERSOS CORRIGIR
Que em tal
ação sempre existe algum perigo,
Há um Poltergeist
escondendo albor secreto,
Que à rima
nova busca sempre confundir!
ESCANDIR II
JUSTO PROBLEMA É GRAMÁTICA
DIVERSA
E BEM MAIS FÁCIL RABISCAR
VERSOS SEM RIMA
E DIZER QUE TUDO A VERSO LIVRE
SE DESTINA,
QUANDO DE FATO É A INDOLÊNCIA
ALI DISPERSA,
Em linhas frouxas há displasia
diversa,
Pensando assim que a outro
ideal se afina
E que no texto se encontra a
pura sina,
Com a desculpa de que a rima é
adversa
E QUE ATÉ MESMO RESTRINGE O
PENSAMENTO,
MAS É MAIS FÁCIL SE EXPRESSAR O
SENTIMENTO
QUANDO O VERSO NOS CANTA SIMPLESMENTE,
Nessa textura que se vê no
firmamento,
Cada estrela a agrilhoar em
constelação,
Melhor podendo controlar sua
multidão.
ESCANDIR III
MAS DE FATO ONDE SE ACHAR O
ROMANTISMO
EM SIMPLESMENTE SE FORÇAR O
CONSTELAR?
NÃO SE ENCONTRA EM CADA TERMO ALGUM
BRILHAR,
MESMO NA ÊNFASE TEMPORAL DE
ALGUM MODISMO.
O que ao soneto confere o
brilhantismo
É a obediência a seu ritmo
estelar,
Fácil ali alguma cesura se
encaixar,
Sem recair de alguma censura ao
nihilismo.
NÃO É A RIMA QUE ALCANDORA
ALGUM SONETO,
CADA SÍLABA DO VERSO EM SEU
BAILAR
E FINALMENTE UM NOVO OLHAR A SE
ENCONTRAR
Em qualquer tema que se tome em
objeto,
Essa a magia que ao poema faz
secreto
E em campo santo faz miragem
cintilar.
REVANCHE 1
– 16 JUN 24
QUANDO EU
MORRER, CONSOANTE A LEI DA VIDA,
QUE ADVIRÁ
EM DEZ, TALVEZ EM DOZE ANOS,
A SE
CUMPRIR DA CIGANA OS DONS PROFANOS,
QUE
OCORRERÁ COM TANTA COISA RECOLHIDA
Mesmo da
vida somente a dádiva contida,
Quanto
perdi em seis lustros arcanos,
Pelos
incêndios e demais causas de danos,
Por mais
de um súcubo minha semente consumida,
AINDA
ASSIM ME ESFORCEI E BEM AOS POUCOS REJUNTEI
NOVOS
LIVROS E DISCOS PARA OS QUANTOS EU PERDI
E OS QUE
DEIXEI À BEIRA SENDA FLORESCER
Nesses mil
versos em que meu sangue derramei
E em
minhas artérias mais tutano em produzi,
Para
adubar os cens de orgulhos que em aflição gerei.
REVANCHE 2
A POUCO E POUCO E COM MUITO
SACRIFÍCIO
REUNI MEUS SELOS COM ESFORÇO E
COM VAIDADE,
SEM DÚVIDA EM MAIS VASTA
QUANTIDADE
QUE OS PERDIDOS EM FOGOS DE
ARTIFÍCIO
E os livros fui reunindo em tal
ofício,
De segunda e terceira mão, é
bem verdade...
Mas de quem provém esta vasta
variedade,
Quem contribuiu para satisfazer
meu vício?
MUITOS EM PONTA DE ESTOQUE,
NUNCA LIDOS,
MUITOS COMPREI SEM SEREM ANTES
OUVIDOS
E ACONCHEGO LHES DEI DENTRO EM
MEU LAR
Mas anos passam e já não posso
mais comprar,
Minhas estantes seus deveres já
cumpridos
Sem que de fato ainda sobre
algum lugar...
REVANCHE 3
E VEJO AGORA QUE SE INSURGEM OS
SONETOS
ANTE A INVASÃO DE OUTROS TIPOS
DE POEMAS,
SEM SUBMETER À GUILHOTINA AS
SEUS ALFENAS,
BROTAM DE UM POÇO SEUS SONHOS
MAIS SECRETOS,
Visto de fato serem os cantos
mais diletos,
De minhas células rebrotam
essas penas,
Querem mostrar-se quais
veritáveis gemas,
Iridiadas as suas asas como
insetos.
E MESMO ASSIM, O QUE PODERÁ
OCORRER,
MORTOS MEUS DEDOS, RESTANDO SÓ
OS ANÉIS,
O QUE FARÃO COM MEU TESOURO SEM
VALOR?
Talvez em sacos os ponham a
vender
Para confete fabricar sem
ouropéis,
Serpentinados do que sobrou do meu
amor.
INCUNÁBULOS
I – 17 JUN 2024
“LI, CERTA
VEZ, NUM ALFARRÁBIO ANTIGO”,
HÁ TANTAS
DÉCADAS ESCREVEU-NOS ZIVER RITTA,
SEM QUE EU
ESQUECESSE JAMAIS FRASE BENDITA
DESSE
POETA QUE NÃO CHEGOU A SER MEU AMIGO.
Mas em
minha mente dei a tal verso seu abrigo,
Sem
jamais, contudo, fazer-lhe outra visita.
Em um
álbum que protegia simples fita,
Mas que de
fato mais reler jamais consigo.
TENHO UM
LIVRO DE ZIVER, QUE FOI TALVEZ
O ÚNICO
QUE ELE CHEGOU A PUBLICAR,
TIPOGRAFADO,
AFINAL, EM OUTRA CIDADE.
Mas nunca
mais encontrei tal soneto uma só vez.
Bem que eu
queria sua pena contemplar,
Pelos
sonetos que redigiu em quantidade.
INCUNÁBULOS II
TODO SONETO É PROFECIA EM
REALIDADE,
VATE SINCERO DE DIONÍSICA
POESIA,
NATURALMENTE CONTÉM NELE
PROFECIA,
AMBAS PALAVRAS GEMINADAS NA
VERDADE.
Talvez Dionyso nelas mesmas
falaria,
Provocações a atiçar em
quididade:
Busco as palavras em imortal
profundidade,
Ou elas vêm por forçar-me a
parceria.
MORREU ZIVER E EU MORREREI UM
DIA,
SEUS VERSOS MAIS DE CUNHO
RELIGIOSO,
NEM SEI DE AMOR CHEGOU A
VERSEJAR.
E o que farão com minhas sagas
de heresia?
Talvez somente um ideal
sensaboroso,
Que a muito poucos conseguirá
contaminar.
INCUNÁBULOS III
QUERO OS SEGREDOS NOS VOCÁBULOS
CONTIDOS,
ESSAS HERANÇAS QUE
ULTRAPASSARAM GERAÇÕES,
AORTAS ARTÉRIAS A ABRAÇAR OS
CORAÇÕES,
ANTIGOS DEUSES NEM SEQUER HOJE
LEMBRADOS.
Sempre julguei ter meus versos
inspirados
Pelo Paráclito que consola as
multidões,
Que há dois mil anos foi legado
às solidões,
Mas que em minhas linhas
percebo desbotados.
VEJO OS POETAS A VAGAR NOS
DESCAMPADOS
CAMPOS-ELÍSEOS ANTES DO
CRISTIANISMO,
QUE MINHALMA PODEM AINDA
ENFEITIÇAR
E ali viajarei após ter
divorciados
Meus próprios membros da alma
em fetichismo,
Como em grimórios bruxedos
revelar.
INCUNÁBULOS IV
QUE COISA TRISTE ALGUM POETA DE
TALENTO,
QUE HOJE EM DIA SEQUER SE PODE
RELEMBRAR,
QUE EM VIDA A FAMA NEM SEQUER
PÔDE ALCANÇAR,
SEU CORPO ASTRAL TIRITANDO NO
RELENTO
Que em meu olhar se fixou um só
momento
E de suas íris conseguiu-me
projetar
Réstias de luz minhas pupilas a
queimar,
No meu quiasma a gravar seu
sentimento.
EM MEU PORVIR AINDA SEREI
ALEGORIA,
A ME OCULTAR EM QUALQUER GOTA
DE ORVALHO:
TENHO O DEVER DE ESCREVER O QUE
MANDARAM,
Por mais opaca essa luz que em mim
luzia,
Em meu manto de fragmentos
ainda me espalho,
Pobre reflexo dos mil dons que
me alcançaram.