sábado, 15 de dezembro de 2012






A PRINCESA LAILY
(Conto de Fadas Hindu, colocado em formato poético por
William Lagos, 18 NOV 12)

A PRINCESA LAILY  I

Dizem as crônicas que no reino de Danthal
havia um rajá por nome Chandragari,
extremamente rico e venturoso;
valoroso vencedor de cem batalhas,
trouxera a paz e combatia qualquer mal
em qualquer ponto do reino por que gire,
seu povo próspero e seu solo dadivoso...

Uma só coisa afligia o soberano:
sua esposa falecera e as concubinas
lhe haviam dado multidão de filhas...
Já velho, Chandragari novamente,
aceitando o parecer de Gargamana,
seu irmão e seu vizir, uniu suas sinas
a uma princesa das Maldivas Ilhas...

Lakhmê, sua nova esposa, engravidou
e três meninos deu-lhe de uma vez,
Mohandas, Moshnali e Mashnun,
que se tornaram fortes e guerreiros;
mas um faquir, chamado Ruda, se mostrou,
de barbas longas e bem escura tez,
profetizando que viveria só um...

Em sua dor, o rajá mandou encarcerá-lo;
então desceu povo inimigo da montanha
apoiado por piratas desde o mar,
querendo o reino submeter à sua pilhagem.
Saiu o rajá com os filhos a enfrentá-lo,
causando nele destruição tamanha,
que o adversário nunca mais quis retornar.

A PRINCESA LAILY  II

Contudo, das feridas do combate,
o Príncipe Mohandas faleceu
e quando saíram a expulsar os piratas,
também morreu o Príncipe Moshnali.
Ficou Mashnun apenas, como o vate
profetizara e o rei se arrependeu,
mandando-o retirar das casamatas...

Ruda surgiu e o rajá se desculpou;
fingiu o faquir não sentir ressentimento,
pois sua própria prisão vaticinara
e Chandragari só ao destino obedecera...
Mas lá no fundo o seu ódio o dominou
e resolveu extorquir em pagamento
a própria vida do terceiro que sobrara...

Ora, Gargamana, do rajá vizir e irmão,
tendo um só filho, a quem chamara Hussein,
não ambicionava o trono para si...
Hussein casara com uma das filhas do rajá,
as outras casadas com cada cortesão,
como uma honra do rajá, também,
e seus netos já brincavam por ali...

Porém Ruda, conquistando-lhe a amizade,
colocou-lhe más ideias na cabeça:
“Hussein é o sobrinho e o genro do rajá,
bem indicado para sua sucessão...”
“Mashnun é o herdeiro de verdade!...”
“Mas é solteiro ainda, não se esqueça...
pode morrer, acidentes sempre os há...”

A PRINCESA LAILY  III

Gargamana com seu filho conversou,
porém Hussein demonstrou-se revoltado:
“É meu amigo Mashnun, desde criança!...
Se alguma coisa almejo, é ser vizir,
seguir seus passos, meu pai...” lhe confessou.
“Após ter sido Mashnun entronizado:
que tenha um longo reino é minha esperança!...”

“Nós dois brincamos desde menininhos,
comíamos juntos as frutas do jardim;
ele me deu a sua adaga de ouro;
ainda saímos em longas excursões,
caçamos juntos, pescamos uns peixinhos,
como um irmão foi ele sempre para mim:
nossa amizade é o meu maior tesouro!...”

Gargamana referiu toda essa história
a Ruda, que ficou um tanto pensativo
e prometeu então o trono para Hussein,
sem precisar que morresse Mashnun.
Duvidou o vizir de tal visão inglória,
mas o faquir lhe mostrou sorriso altivo:
“Confie em mim, que planejo muito bem...”

Então Ruda foi falar com Mashnun
e lhe mentiu que tivera uma visão
sobre a mulher mais bela deste mundo,
a ele destinada por Shiva, o rei das fadas.
“Não se deixe iludir por mais nenhum:
ela é a esposa do seu coração
e já o ama com um ardor profundo...”

A PRINCESA LAILY  IV

“Nunca se esqueça de que existe essa mulher
que já o ama, mesmo sem tê-lo conhecido,
mas desde a infância seu nome já conhece...
Portanto, não aceite mais ninguém;
não há no mundo outra jovem sequer
cuja beleza o mundo tenha ouvido
igual à dela, nem ao menos numa prece!”

E a Mashnun sem demora convenceu
de que devia por tal jovem esperar;
e embora o pai o instasse, com frequência,
recusava-se a casar com qualquer outra.
Morreu Lakhmê e Chandragari envelheceu,
mas Mashnun continuava a recusar,
sem o trono brindar com descendência...

Havia um reino cujo nome era Falana,
localizado a muitas léguas de distância;
e seu rajá, por estranha coincidência,
também tivera somente filha única,
chamada Laily, de beleza mais que humana,
por muitos cortejada em vã constância,
a lhe pedirem a mão com insistência...

Porém Ruda, por artes de feitiço,
apareceu-lhe em sonhos, disfarçado
como avatar divino e lhe determinou
casar somente com o jovem Mashnun.
E ela passara seus anos de mais viço
a repetir todo o tempo o nome amado,
como o esposo que Shiva lhe mandou.

A PRINCESA LAILY  V

Porém Falana era um reino bem distante
das fronteiras do reino de Danthal
e ali ninguém conhecia Mashnun;
mas ela criara para si ideia fixa,
sempre seu nome a pronunciar, constante,
e só de o ouvir o Rajá Mansuk sentia-se mal:
“Por que repetes tal nome e mais nenhum...?”

“Ruda, o avatar, de Shiva o mensageiro,
disse-me em sonhos que seria o meu marido
e não me casarei com ninguém mais...”
“Mas onde mora, afinal, esse rapaz...?”
“Não o sei.  Sei que é príncipe estrangeiro
e nenhum outro será o meu prometido:
senão com ele, não casarei jamais”...”

O rajá seu pai enviou muitos correios
em busca do tal Príncipe Mashnun,
porém nenhum o conseguiu achar,
pois ocorreu que, para sua vergonha,
Gargamana envidou todos os meios
Para esconder, quando chegava algum
até Danthal, mandando-o encarcerar...

E destruía de Mansuk suas mensagens;
e assim o tempo foi passando, aos poucos;
Mashnun e Hussein continuavam suas caçadas
e sempre o primo o buscava convencer
de que esquecesse as profecias e miragens,
que Ruda só recitava versos loucos;
e lhe indicava as mais belas namoradas...

A PRINCESA LAILY  VI

Porém Mashnun não se deixava convencer;
“Hussein, sempre foste seu amigo,
mas não posso me evadir à profecia...”
Os filhos de Hussein já eram crescidos;
o rajá velho não custaria a morrer;
estava o reino em plena paz e abrigo,
mas já certa inquietação se pressentia...

“O povo quer que continues a dinastia!”
dizia Chandragari e o ministério aconselhava:
“O rajá tem muitos netos na cidade:
não faltará alguém que se revolte,
se nenhum filho seu na sucessão seguia...”
Pois a ambição a mostrar-se começava
e alguns dos genros já pensavam em maldade.

Hussein, aos poucos, quase convencera
seu amigo a pôr de lado sua ilusão
de ter a mulher mais linda deste mundo...
E Ruda e Gargamana já se preocupavam,
porque o vizir também envelhecera,
sem ver o fruto de sua maquinação,
começando a nutrir rancor profundo...

E então, um dia, empregando sua magia,
Ruda afastou os animais da mata,
enquanto Mashnun saía em caçada,
salvo um veado que corria velozmente...
E o príncipe essa caça perseguia;
léguas e léguas a perseguição desata,
sem que sua presa jamais fosse alcançada...


A PRINCESA LAILY  VII

Os dois haviam parado, já cansados,
quando escutaram uma voz entusiasmada:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun...”
E o príncipe respondeu, sem hesitar:
“Quem por meu nome chama nesses brados?”
E Laily se apresenta, apaixonada,
a proclamar seu amor tão incomum...

Mas quinze anos já haviam passado
e a princesa já não tinha mais seu viço;
o sol da pele roubara-lhe a brancura,
trazia desgrenhada a cabeleira,
suas vestes os espinhos haviam rasgado
e Ruda ainda lançara outro feitiço,
que lhe emprestava a aparência de feiura...

E Mashnun se sentiu desapontado,
pensando ter achado uma mendiga,
embora um resto de beleza conservasse
e perguntou: “Quem és?  Por que me chamas?”
Comovido, mas um tanto horrorizado...
“Sou Laily, filha e herdeira dessa antiga
dinastia que em Falana se encontrasse.”

Porém Hussein mostrou-se consternado:
“Mas tu não vês que essa mulher é louca?
Se algo é, é a mais feia deste mundo!...
Há mil mulheres mais belas em Danthal!...”
E assim Mashnun se afastou, muito abalado,
pois doravante em sua memória só espoca
esse nome, “Laily”, em amor profundo...

A PRINCESA LAILY  VIII 

Mas Laily retornou para a cidade
e disse ao pai ter encontrado Mashnun
e que somente com ele casaria...
Seu pai, já bem cansado, perguntou:
“Mas onde está esse homem, por piedade?”
Mandou seus guardas pela mata, mas nenhum
pôde encontrar a quem ela descrevia...

Mas a princesa de jeito algum se convenceu
e o foi buscar também pela floresta,
sem achar rastro do seu belo caçador.
E se passaram assim mais quinze anos...
Entrementes, Chandragari faleceu
E Mashnun não permitiu que houvesse festa:
subiu ao trono, governando sem amor...

Gargamana e Ruda se alegraram,
enquanto Hussein se tornou o novo vizir
e como um meio de evitar guerra civil,
Mashnun o nomeara como herdeiro,
porém seus olhos jamais se contentaram
com as mulheres que Hussein fez vir
por despertar-lhe o instinto varonil.

“Quem eu quero é Laily, na realidade...”
“Mas ela é velha e feia, meu amigo...”
“Não importa, mande arautos a Falana,
para pedir-lhe a mão em casamento!...”
Eles partiram, mas sem ter felicidade:
seu pai lhes dera boa acolhida e abrigo,
mas Laily havia sumido há uma semana!...

A PRINCESA LAILY  IX

Ora, acontece que Ruda a encontrara
no meio da floresta, a procurar,
e a aconselhou, então, o mau faquir:
“Princesa, o reino de Danthal é muito longe,
só há um meio de encontrar sua estrada;
no Bagirati está um peixe a respirar
e em sua boca te deverás introduzir...”

“Seu nome é Rayú e ele irá te conduzir
até as praias do reino de Danthal...”
Com o mau conselho, esperava que morresse,
pois pelo monstro seria devorada...
O peixe achou nas margens, a dormir
de boca aberta; e sem temer o mal,
lá se jogou – que seu amor a protegesse!...

E lá de dentro, não parava de falar:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
O pobre monstro sentiu-se desvairado:
Mas como eu falo com a língua dessa gente?
Desesperado, se lançou a nadar,
do Bagirati ao Ganges e em nenhum
ponto dos rios o tal som foi silenciado...

Rayú foi percorrer os Sete Mares,
mas a voz nunca cessava no seu peito:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
Voltou à Índia e às praias de Danthal,
sem conseguir aliviar os seus pesares,
a voz soando para seu despeito,
sem que a pudesse parar de modo algum!...

A PRINCESA LAILY  X

E foi subindo, aos poucos, pelo rio,
depois de quinze anos a vagar,
pela voz assustadora acompanhado:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
Meio sem forças, passando fome e frio,
sem saber de que maneira se livrar
daquele horrível som amaldiçoado!...

Veio assisti-lo o seu amigo Karakal.
“O que é que tens, Rayú? – lhe perguntou.
“É essa voz que nunca para de gemer:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
“Mashnun é o rajá velho de Danthal,
que até hoje donzela alguma desposou...
Talvez eu possa até te socorrer...”

“Se prometeres que não vais me mastigar,
eu posso entrar em tua boca para ver...”
E Rayú escancarou-se num bocejo,
mas o chacal não demorou a sair:
“Tens uma velha no ventre, a te assombrar!
Estou com medo e nada mais posso fazer,
talvez o Tigre satisfaça o teu desejo!...”

E Karakal foi chamar a outra fera.
“Que tens, Rayú...?”  Shirhan lhe perguntou.
“É essa voz que nunca para de falar:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
“Há quinze anos que me acho nessa espera
e só agora é que o chacal me relatou
que há uma velha lá dentro, a me assombrar!”

A PRINCESA LAILY  XI

“Se prometeres que não vais me mastigar,
eu posso entrar na tua boca, inteiro,
para poder te prestar um benefício...
Tigres não temem qualquer mulher velha!”
Então Rayú abriu a boca, a bocejar
e Shirhan foi entrando, sorrateiro,
porém fugiu como quem acha um malefício!

“Rayú, não engoliste uma mulher:
tens no teu ventre uma velha feiticeira!
Desculpa, mas não posso te ajudar,
mas vou chamar a grande cobra Píton...
Ela esmaga qualquer fera que quiser
e será a tua esperança derradeira...
Ninguém mais poderá te libertar!...”

Chegou Naga, a negra píton, se arrastando;
grossos anéis tem a rainha das serpentes...
“Que tens, Rayú...?” “É uma voz que me persegue:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
“Há quinze anos passa me assombrando
e me obrigando a falar a língua das gentes!
Não tenho salvação, se Naga Píton me renegue!...”

E a cobra se arrastou pela garganta
e viu lá dentro uma velhinha a murmurar:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
“Terei de abrir-te o ventre com minhas presas!’
“Mata essa bruxa, assim ela não mais canta!”
“Não, Rayú, não a posso assassinar:
Shiva a protege e não me trouxe mal algum!”

A PRINCESA LAILY  XII

“Mas então, tu preferes me matar...?”
disse o pobre Rayú, desesperado.
“Não te amofines, que não vais morrer...”
E assim dizendo, abriu com uma dentada
a barriga do peixe, para o libertar
da princesa que o havia atormentado,
por tantos anos, sem seu mal querer...

Laily saiu, sem ter sofrido nada
e a píton passou a língua na ferida,
que se fechou, sem maior dificuldade.
Rayú lhe agradeceu profusamente
e se afastou, dando grande rabanada,
ventre vazio, com fome ensandecida:
por quinze anos não comera de verdade!

Mas Laily já estava bem velhinha,
cabelos brancos, toda desdentada,
da mocidade já perdera todo o viço
e nem sequer conseguia caminhar...
“Monta em minhas costas, doce princesinha,
eu vou levar-te até teu bem-amado,
que ainda te espera, mesmo com o feitiço...”

E todo o povo daquela capital
fugiu das ruas, com medo da serpente...
Contudo, estavam ainda mais apavorados
por essa velha encarquilhada nas suas costas...
Porém, chegadas ao palácio real,
a mulher proclamou urgentemente
a sua intenção perante os seus soldados...


A PRINCESA LAILY  XIII

“Levem-me agora à presença do Rajá!...”
E os soldados, sentindo grande medo,
foram dar a notícia ao soberano...
“Majestade, está aí fora a Fada Píton,
carregando uma mulher, que exige já
uma audiência com o maior segredo...
É muito velha, mas tem porte sobre-humano!”

Sem demora, Mashnun a mandou entrar
e a recebeu do alto de seu trono,
suas barbas brancas quase na cintura...
Laily fez-lhe grande reverência,
mas lhe disse: “Senhor, vim-me casar!
De meu coração tu foste o eterno dono
e permaneço inteiramente pura!...”

“Sou Laily, do Reino de Falana,
única filha de meu nobre pai!...”
“E ainda vive o bom Rajá Mansuk?”
indagou Mashnun.  “É bem velhinho,
mas a esperança lhe dá força soberana
e nossa boda ainda assistir vai...
Olhe meus olhos.  Não existe qualquer truque.”

Porém Ruda e o vizir antigo
se apresentaram, em contradição.
Soltou a píton sonora gargalhada
e, de um só bote, ela engoliu os dois!...
“Tanta maldade castigar ainda consigo!”
disse a serpente e então sofreu transformação,
pois era Lakshmi, em serpente disfarçada!

A PRINCESA LAILY  XIV

Então a Fada do Amor para os hindus
disse ao rajá que provocara o casamento.
“Mas agora vejo que estão velhos demais...
Tirem as roupas, vocês dois!” – determinou.
“E subam nelas, após ficarem nus!...”
Obedeceram-lhe, em seu encantamento,
sem por momentos hesitar jamais...

Então Lakshmi soprou-lhes longa flama,
que transformou suas roupas em fogueira,
sem que o casal das chamas se apartasse...
E assim que o fogo inteiro se apagou,
a multidão dos cortesãos exclama!...
Estavam jovens os dois, nessa ligeira
chama de amor que seus anos resgatasse!...

E Mashnun reuniu grande cortejo
e foi com Laily, em palanquim,
até do Reino de Falana a capital,
onde ainda achou os pais de Laily;
e o casamento celebrou-se nesse ensejo,
com grande pompa e alegria sem fim,
como é de praxe em toda união real...

Mas logo após, os pais de Laily morreram,
as suas cinzas no Ganges derramadas:
só o retorno da filha é que aguardavam;
e então Laily como Rani foi coroada...
Seu caminho de volta percorreram,
duas almas totalmente apaixonadas,
e a Danthal todos logo retornavam...

A PRINCESA LAILY  XV

Contudo, após voltarem ao castelo,
a Fada Lakshmi quis provar o seu amor,
desconfiada dos intentos de um humano...
E um relâmpago fez cair do céu!
Por um instante, de Laily o rosto belo
se iluminou, mas virou cinzas sem calor:
ficou sozinho novamente o soberano!

Lançou-lhe as cinzas ao Ganges, desolado,
e retornou de palanquim à capital,
no peito apenas um vazio sentindo...
“De que me serve ser de novo um jovem?”
E o velho Hussein, seu vizir encarquilhado,
que governara, em seu lugar, Danthal,
foi-lhe outros casamentos sugerindo...

Mas ele disse ao seu fiel vizir:
“Somente Laily será minha esposa!”
“Como podes casar, se ela está morta?”
Mas por três anos Mashnun ficou fiel
e então Lakshmi de uma roseira fez cair
um botão rubro, da nuance mais formosa,
que foi girando, como o vento o exporta...

E no momento em que o rajá o segurou,
escutou-se um trovão pelo castelo
e em Laily, novamente, se mudou,
sorrindo Lakshmi pelo seu milagre...
E os dois enamorados abençoou:
cada qual permaneceu jovem e belo
pelos cem anos que seu reino continuou...


EPÍLOGO

Porém no dia dos cem anos de reinado
o casal assomou à sua sacada,
aclamados pela alegre multidão,
pois sempre haviam governado com justiça...
Mas, de repente, dos céus veio um chamado:
e o par subiu, como poeira iluminada,
ante o toque triunfal de outro trovão...

Mostram ainda, no Reino de Danthal,
duas roseiras que brotaram da sacada,
por entre as frestas de seu pavimento.
Florescem sempre, no inverno e no verão,
seu perfume a percorrer a capital,
sem que jamais qualquer seja regada
e ninguém tem explicação para esse evento...

Dizem também, que uma vez cada cem anos,
se escuta a voz de uma das roseiras:
“Mashnun, Mashnun, vou casar com Mashnun!”
“E eu casarei com minha doce Laily!”
Responde logo, com timbres mais arcanos,
uma voz masculina, em derradeiras
juras de amor, como igual não há nenhum!...

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