VERSOS OCOS I
pelas campânulas
tambores ocos
no suflar argentino dos tufões
no rodopio gentil dos furacões
em que almas dançam na luz
atribulada
das luas mortas da estação passada
compassada
compassada
repassada
repassada
repassa
e passa
sai do intelecto
e não da alma
este estertor melífluo do pardal
oximoresco seu pio desnatural
neste desgosto total por novo afeto
que pus de lado e circundei completo
catalepto
catalepto
espectro
espectro
no
plectro do plectro
VERSOS OCOS II
enche a camisa
um vão suspiro
e noutro instante me encarquilha o peito
ponho de lado o sonho sem defeito
na surpresa amarelada do regresso
na cânfora azulada do pregresso
feito
ingresso feito ingresso
progresso
progresso
engesso
em gesso
bimbalham guizos
verdes prejuízos
qual sino mole de cascas de mogango
meus clarins se enrouquecem e me zango
contra a matéria indolente das cabaças
a chocalhar matracas pelas praças
sem que
desfaças sem que desfaças
asas de
traças asas de traças
o que
retraças como retraças
VERSOS OCOS III
enlanguescido
novo sentido
do catavento transformado em siso
do furacão que mal aciona um guizo
no randômico esbatir aleatório
de sabor pélvico e som circuncisório
perfunctório
perfunctório
fosfóreo
fosfóreo
um
foro no foro
mas não importa
navalha corta
cerceando a voz plangente de meu
canto
manifestado mesmo assim contanto
que ainda jorre a glória em
borbotão
no retalhar da mente e coração
contradição
contradição
tradição
tradição
na
traição contração
VERSOS OCOS IV
farsa imperfeita
ritmo novo
foge completo ao pendor do corrupio
que me fluía do peito feito rio
nos sabores regulares do soneto
que por feroz que seja escorre quieto
irrequieto
irrequieto
requieto
requieto
inquieto
no quieto
sussurro manso
sem ter descanso
em surpreendente valor de defasagem
sem covardia mas sem pingo de coragem
varrido de emoção mordaz salobra
como a água que jorra ao fim da obra
amargobra
amargobra
que
obra sem obra
na
obra da cobra
VERSOS OCOS V
em histeria
dia após dia
o vagalume chama o olhar do sapo
o fio de ouro se transforma em trapo
a bola de cristal esconde o mal
a ponta de um anzol esconde o sol
o vácuo agarro
a luz amarro
enquanto o sapo pretende iluminar
enquanto o ouro pretende renovar
a aurora cristalina do teu beijo
grafitizado na ausência de um ensejo
sou caranguejo qual
caranguejo
então manquejo
num murmurejo
e apenas
vejo o meu desejo
VERSOS OCOS VI
no grito histérico
canta a gaivota
a saga moribunda das cocotas
a exultação senil das maricotas
o pipilar zombeteiro dos pardais
os próprios versos que não lerás jamais
esmeraldinos
esmeraldinos
caudalinos
caudalinos
ferinos
ferinos
na praia azul
marcha um leproso
seus pés descalços presenteiam o contágio
quem aprecia das areias o apanágio
quem se estende sobre elas sem reserva
sem proteção sequer de qualquer erva
triste
epopeia triste epopeia
adeus
Hygeia adeus Hygeia
nem faz
ideia nem faz ideia
VERSOS OCOS VII
na franja alada
há um canivete
cortes fundos no tapete voador
o vento silva qual ventilador
o gênio busca a lâmpada sagrada
e a rolha não consegue mais tirar
contaminada
contaminada
desencantada
desencantada
jaula
dourada jaula dourada
não há mais tempo
torna-se humano
porém suas pernas são riscos de fumaça
em passos trôpegos sua senda traça
destruturado da divina providência
obrigado a aceitar a previdência
aposentadoria
aposentadoria
pensão
vazia pensão vazia
triste
elegia triste elegia
VERSOS OCOS VIII
amei a sorte
foi cobra cega
fiz um colar com mil olhos de vidro
tomados de cristais de pura geada
um fio de vento usei para fiada
meu casaco transformei numa pandorga
constantemente
constantemente
ebulescente
ebulescente
efervescente
efervescente
na multidão das hordas
contei os caramujos
é preciso descartar qualquer sentido
que versos loucos tenham conduzido
um barco a vela que abandona oceano
uma carruagem desce às profundezas
emaranhezas
emaranhezas
um tanto
tesas um tanto tesas
nas realezas
das realezas
VERSOS OCOS IX
a caçarola
aleita o azeite
ferve meu coração em minhas entranhas
na busca amarga de vozes mais estranhas
um hipopótamo dança na fogueira
o faquir deixa os pregos pela esteira
abracadabra
abracadabra
cadáver abra
cadáver abra
redil de
cobra ninho de cabra
serpente morta
não perde casca
o vento já exauriu-se de desejo
fecunda a relva com solerte beijo
os gafanhotos ressurgem no deserto
a colmeia nativa está bem perto
peripatética
peripatética
peripécia
peripécia
profética
profética
VERSOS OCOS X
dentes de serra
aqui me estendo
ao plutocrata meu cavalo rendo
ao oligarca minhas fezes vendo
procuro em vão ficar embriagado
dionyso afastou-se de meu lado
no desperdício
no desperdício
só há
resquício só há resquício
do
viço do vício
é zombeteiro
o olhar ligeiro
em serenata convoquei trovões
os hipocampos cantam-me canções
estou imerso na dramaturgia
a seca emerge em ácida alegria
na liturgia
na liturgia
desta agonia
desta agonia
a profecia
aqui jazia
VERSOS OCOS XI
na academia
oleosos corpos
eu não pretendo levantar mais peso
meus músculos já tem obrigação
de carregar os males de meus versos
de desgastar-se em velhas ladainhas
ângelus
ângelus
arcângelus
arcângelus
síngulus
síngulus
sem horários
tempos de terços
eu durmo envolto no hábito da data
meu travesseiro é o dia que desata
os meus lençóis dois meses em declínio
o meu colchão manual de latrocínio
meu ordinário meu
ordinário
é um
corsário é um corsário
extraordinário
extraordinário
VERSOS OCOS XII
em pura osmose
desenfreada
a propaganda atiça a mais consumo
meus tristes versos apenas um resumo
do canto alegre de mil flores mudas
na calandra esfalfada em que me escudas
tombadilho
tombadilho
no trilho no
trilho
me ilho me
ilho
perdeu-se o siso
do escaravelho
os versos resmoneiam de degredos
as grades libertaram mil segredos
há elefantes no reino de sião
há mil diamantes no meu coração
num alvoroço
num alvoroço
após o
almoço após o
almoço
remoço remoço
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