SOMBRAS LONGAS
& MAIS
WILLIAM LAGOS
-- 18-25/12/2017
SOMBRAS LONGAS
-- 18 DEZ 2017
SOMBRA MUTÁVEL
-- 19 DEZ 2017
SOMBRA
ENJAULADA -- 20 DEZ 17
CANTO DE CISNE
-- 21 DEZ 17
LADRÕES DE
SESTA -- 22 DEZ 2017
TECNOLOGIA --
23 DEZ 2017
ATRÁS DA JANELA
-- 24 DEZ 17
MAGIA DE NATAL
-- 25 DEZ 2017
SOMBRAS LONGAS
I -- 18 DEZ 2017
na púrpura
almofada do poente,
quando a sombra
se alonga e o escuro vem,
meu corpo ali
se alongará também,
sobre tua
sombra a se fazer presente.
essa tua sombra
que me fora indiferente
será abraçada,
em lento vaivém,
por essa sombra
que de mim provém,
numa emboscada
que mal se pressente.
porque verás
tua sombra projetada,
sem ninguém
mais encontrar-se do teu lado,
porém minha
sombra se inclina de mansinho
e mesmo sendo
por mágica alongada,
essa tua
prenderá, bem apertado,
no
surpreendente lusco-fusco do carinho.
SOMBRAS LONGAS
II
hás de pensar: mas como isso acontece?
e minha sombra
afastar num safanão,
mas muito firme
é o abraço em que estarão,
sombra de amor
qualquer sonho enobrece.
esse evento que
a outrem enlouquece
subirá desde
teus pés em invasão.
se for
romântica tua imaginação
e aceitares o
amor que se oferece.
talvez queiras
então acariciar
essa sombra
indolente qual gatinho
que parece quer
apenas se esfregar,
mas que a alma
te conquista de mansinho
e a única ração
que podes dar
é uma tigela
cheia de carinho.
SOMBRAS LONGAS
III
será sinuosa
sombra como cobra,
mas só de amor
será o seu veneno,
a germinar em
ti amor pequeno:
mais do que
sombra é algo que me sobra.
e sobre a
sombra insidiosa se redobra:
só bem de longe
eu te farei aceno,
essa sobra de
mim convite pleno,
e pouco a pouco
tua própria sombra dobra.
como evitar uma
tal curiosidade
quando essa
sombra projetada por magia
só teu olhar de
sombra atingiria
a sobra minha
em tal complexidade:
talvez não
deixes que a ti meu corpo abrace,
mas a sombra
aceitarás que te perpasse.
SOMBRAS LONGAS
IV
porque tua
sombra se sentirá curiosa.
a se arrastar
empós os pés que estão
da sombra minha
fazendo a projeção,
sombra grosseira
a dominar a sombra airosa.
e nessa
varredura preguiçosa
de repente
notarás não mais estão
as duas sombras
na mesma posição,
mas se moveram;
agapanto e rosa,
até se
enovelarem a meus pés
e de tua sombra
seguirás empós,
até encontrares
quem a outra projetou,
tímida ainda,
sem me dar-me as fés,
mas nesse
instante nos acharemos sós,
e tua sombra
escutará a quem te amou.
SOMBRA MUTÁVEL
I -- 19 DEZ 2017
depois que te
encontrar, vais-me pedir
um leão
encantado e sem defesa
eu serei,
contra a própria natureza,
o teu leão -- e
saberei rugir.
quando eu me
levantar, vais-me pedir
uma águia
dourada em sua grandeza
e eu serei essa
águia, com certeza:
sobre o telhado
de tua casa irei dormir.
eu serei tudo
quanto me pedires;
dito melhor, a
quanto me forçares
em teu desejo
ou por teu desespero.
eu serei tudo
quanto permitires
e te darei todo
o bem que precisares:
só não
conseguirei ser o que quero...
SOMBRA MUTÁVEL
II
quando eu te
procurar, me pedirás
um tigre
caçador, branco e vermelho
e eu serei esse
tigre em meu conselho
e os demais
tigres me farejarão.
assim serei, em
transmogrificação,
um tigre-fera
até meus dias de velho
e a ninguém
mais deixarei meter bedelho
na minha vida,
nem cortarem-me ilusão.
pois foi um
erro desejarem-me felino
e me empurrarem
além de meus limites,
todos exigem,
ninguém nunca me dá nada
e se a vida me
tiraram, já menino,
como tigre
viverei, se assim me incites,
mostrando
garras e presas na calçada.
SOMBRA MUTÁVEL
III
por ti serei
assim o que quiseres,
mas para
descobrir, por meu desgosto,
que mesmo feito
amor após o mosto,
para o que
espero de ti em nada alteres.
por desfastio,
talvez, o que fizeres,
será ser sombra
mutável ao sol posto.
porém sombras
são negras, não têm rosto
e embora tenhas
de mim o quanto esperes
eu só terei de
ti o que me deres,
a carne e a
sombra irás me controlar,
lançar-me-ei
como risco à tua vontade.
serei silhueta
submissa a teus prazeres,
sem ter jamais
certeza desse amar
poder de ti
recolher em saciedade.
SOMBRA MUTÁVEL
IV
ao projetar-me
corri um grande risco,
sem saber o que
tua sombra desejava,
como esse olhar
de sombra contemplava
a sombra minha
em parpadear e pisco.
e ao chegares,
enfim, girado o disco,
enquanto a
carne tua me abraçava,
era tua sombra
somente que me amava
e a vida minha
tomou-me como o fisco.
não foi minha
carne que tua carne amou,
sendo minha
sombra amada pela tua,
quando a carne
enlaçou-me em zombaria,
porém minha
carne para ti se transformou,
mil silhuetas a
mostrar a sombra nua,
enquanto a alma
inteira te servia.
SOMBRA
ENJAULADA I -- 20 DEZ 17
o que me vem às
mãos, assim escrevo.
passei anos me
iludindo ser idônea
essa mulher que
amava, essa begônia
de esplendor a
que amar ainda devo.
confesso que eu
errei nesse meu frevo
de agradá-la
sempre, sua antimônia
intermitência
entre mel e amônia,
promessa de um
futuro, em que não levo
a menor
parte. garanti o seu conforto
a expensas de
mim, que tudo pago
e ainda julga
que me pode repreender;
por agradá-la
da poesia fiz aborto
por longos
anos, em troca de um afago
que seu
capricho custava a conceder.
SOMBRA
ENJAULADA II -- 20 DEZ 17
mas como pode
ter sombra uma ilusão?
sobra
intangível, sobra do corporal,
não tenho a
força de um ente material,
sombra vazia do
próprio coração.
quando minha
sombra provocou essa paixão
na sombra dela
e não nela, afinal,
que poderia se
esperar do amor carnal,
somente sombra
a compartir dessa emoção?
e por mais que
o carnal se realizasse
quando juntos
estivéssemos no leito,
nenhuma sombra
existia nos lençóis.
em que apenas
pele branca se mostrasse.
sem sombra
negra em perpétuo ajeito,
feita afinal da
interrupção dos sóis.
SOMBRA
ENJAULADA III
assim a sombra
é apenas testemunha,
abraçada a
outra sombra no seu canto;
extinta a luz,
não têm sequer o pranto,
triste consolo
de quem mais se acabrunha.
no sonho meu
talvez encontrem cunha
e ali se
mostrem como negro manto,
sombra na
sombra, num abraço santo,
logo perdido se
o corpo se estremunha.
contudo, se me
ergo, solitária,
ressurge a
sombra que de mim provém,
mas ela ainda
se abraça ao travesseiro
e sua sombra
não se mostra solidária,
ainda sozinha
esta sombra que me tem
por mãe e pai e
também seu carcereiro.
SOMBRA
ENJAULADA IV
e embora a
sombra se projete afora,
contra a sola
de meus pés acha grilhão
ou algemada na
palma de minha mão
e jamais de seu
presídio vai-se embora.
por liberdade
algumas vezes chora,
quando estou
longe da sombra de paixão,
a sombra dela a
que deu seu coração
e dela
aproximar-me então me implora.
mas no dia em
que eu morrer, morre comigo;
eu poderei
ascender sobre o jazigo,
mas não me
consta que sombra tenha alma
e assim fica
essa sombra acorrentada,
tão infeliz
porque a fiz enamorada,
na tumba escura
sem jamais encontrar calma.
CANTO
DE CISNE I -- 21 DEZ 17
Quando
eu morrer, pedirão do cisne o canto,
meu pescoço estendido na fumaça
de minha cremação, que assim retraça
o
quanto me queimei sem molhar pranto.
Quando
eu morrer, dirão que fui um santo.
apesar da zombaria e da pirraça
de que fui alvo, da mordida dessa traça,
qual
é a humanidade em seu encanto...
Pois
de cisne esse canto eu não terei:
o que eu queria é ser igual a Zeus
e
possuir Leda o quanto mais quisesse...
Sei
que não posso; mas em versos eu direi
o meu bom-dia, boa-tarde e meu adeus
a
quantos nadas que a morte me trouxesse...
CANTO
DE CISNE II
Quando
eu morrer, só quero que me espalhem
por sobre o mar ou sobre qualquer serra,
que ninguém sobre meus ossos faça guerra
nem
que meu pobre deeneá então retalhem...
Até
mesmo em galinheiro não me falhem
de distribuir. Ou no esgoto de minha terra,
que não se guarde a cinza que me encerra:
se
vértebra sobrar, então que a malhem!...
Quer
haja ou não qualquer ressurreição
ser-me-á indiferente após a morte:
meu
corpo é certo que não se erguerá,
mesmo
da última trombeta em aclamação:
só poderá conclamar para essa sorte
esse
meu resto espiritual que sobrará!...
CANTO
DE CISNE III
O
que não quero é a queimação dos versos,
tal qual fizeram com Camilo Rocha,
pobre infeliz, consumido pela torcha
da
"tísica", seus pulmões assim conversos.
Tudo
queimaram, em tempos tão diversos,
como a carne de ovelha que se escorcha
a colocar no espeto em que se enforcha,
de
seu pelego os músculos inversos...
Mal
se sabia que a causa da doença
se transmitia quase sempre pelo ar
e
que os bacilos não viviam no papel;
e
assim eu falo, sem querer causar ofensa:
foi pior bacilo o infeliz que foi queimar
seus
pobres versos num descarte de ouropel...
CANTO
DE CISNE IV
É
natural que não o afirme, porém penso,
vendo as linhas a escorrer tão facilmente
que a morte dele e de outros eu alente,
ao
derramar na folha um verso tenso.
Queimaram
os perdigotos de seu lenço,
a que o sangue corrompera, mas realmente
tuberculose não se faz sobrevivente
nas
muitas laudas de conteúdo denso.
Talvez,
quem sabe, voltejando pelo ar
esses versos transformados em fumaça
só
se acalmaram ao pousar em mim.
Ou
de Lucena ou de Wayne, o seu lugar
perdido sob o Sol ou em sombra escassa
em
meus ouvidos achassem pouso, enfim...
CANTO
DE CISNE V
Mas
tudo isso não é mais que fantasia,
como saber se os versos alma têm?
Ou que, perdidos, encontrem-me, também
para
pousar em quem os acolheria?...
Verdade
sendo, não me surpreenderia:
do inconsciente coletivo é que me vêm;
se a alguém mais pertenceram é um porém;
se
a ninguém mais, não me desapontaria...
Mas
qual é o canto de cisne dos poetas?
São os que vivem que o afirmam escutar,
nas
finais frases de seu elaborar,
no
compilar das obras incompletas...
E assim me esforço, se tenho uma ocasião,
de
a meus rascunhos enfim dar redação!...
CANTO
DE CISNE VI
Não
que acredite um dia alcançar fama,
acadêmico me tornar ou ser nobel
ou após a morte, enfim, darem quartel
para
meus versos de incontável gama.
Eu
só desejo é que a alma que os reclama
possa das linhas lamber favo de mel,
cada soneto reluzindo no burel
de
um monge puro que seu valor proclama.
Não
para si, mas para distribuir
gratuitamente, pois foi dom gratuito,
quer
pintado de ouro, quer de tisne
e
que no próprio coração possa sentir
uma esperança ou consolo mais fortuito
que
eu te entoar qualquer canto de cisne...
LADRÕES
DE SESTA I -- 22 DEZ 2017
Quando
ao crepúsculos, em límpido letargo,
as sombras descem em sua pura languidez,
do que se fez e de quanto não se fez
chega
a memória como atroz embargo.
Recordar
o passado é duro encargo,
melancolia cortante em seu jaez,
a modorra a perturbar-nos por sua vez,
os
sonhos maus chegando a passo largo.
Numa
tocaia à espreita, em emboscada,
escondida no bochorno da modorra,
quando
o calor não nos permite nada.
E
esses duendes do passado se alimentam
e nos agarram por mais que a gente corra
e
novamente a nos sugar o sonho intentam...
LADRÕES
DE SESTA II
O
que a gente preferia é um sonho erótico:
mesmo os parceiros sendo evanescentes,
no devaneio sempre estarão presentes,
do
imaginar em seu poder despótico...
Já
o sonho do sono é estrambótico,
de nós zomba nos instantes mais
prementes;
algo nos faz despertar
semi-inconscientes,
só
um fantasma ainda habitando o nervo ótico...
Mas
é tão raro conseguir-se retomar
ao sonho bom depois que se findou;
retorna
o sono, mas sem ser o sono REM
ou
então outra quimera a nos brindar,
bem diferente da que se procurou,
em
nova traça a zombar de nós também...
LADRÕES
DE SESTA III
Porém
na sesta algum controle existe,
são imagens a correr em devaneio,
talvez do livro que inda há pouco eu
leio,
talvez
de um abantesma que se inquiste...
Mas
é possível causar o seu despiste,
outro fantasma a buscar em nosso seio,
até um mais forte surgir-nos de permeio,
a
quem nossa defesa não resiste...
É
nesse instante que nos vem o sonho mau,
uma lembrança de qualquer humilhação,
algum
lamento pelo que nunca se fez...
E
nos desperta qual golpe de um pau,
nesse delírio de conturbação,
clara
deixando a lembrança de sua grês...
LADRÕES
DE SESTA IV
Pois
mesmo quando vai depressa embora,
deixa em nós suas garras e gavinhas:
perdes o sono que anteriormente tinhas,
por
mais que a languidez em ti se ancora...
Mas
a canícula ainda forte lá fora,
ali ficas repetindo as ladainhas,
ou contando carneirinhos, longas linhas
mais
de churrasco que da lã de outrora...
E
nessas tardes quentes do verão
é bem mais fácil conservar a percepção
do
rebanho das gotas de suor,
a
escorrer em lenta perspiração,
lançada a sesta a qualquer outro rincão,
mesmo
que o corpo esteja sem vigor...
TECNOLOGIA
I -- 23 DEZ 2017
Com
a impressora solidifico o medo
e
assim posso guardá-lo em prateleira;
não
mais me assalta em hora passageira,
posso
afastá-lo com a pressão de um dedo.
Afinal,
se a digital guarda um segredo
e
hoje até para eleição se a quer inteira.
deve
ser muito mais forte que se queira
e
com leve pressão ao medo enredo...
Nos
maranhos dos laços das papilas,
posso
esse medo manter a meu alcance
e
submetê-lo com pequeno toque...
E
meus temores de 3D em longas filas
contemplarei
sem que o olhar se canse,
até
podendo-lhes fazer algum retoque...
TECNOLOGIA
II
Pois
comprarei uma impressora de 3D,
depois
mandar escanear meu coração
e
num átimo imprimir à perfeição
o
meu amor, que no peito não se vê...
Pois
certamente haverá algum portão
para
acessar qualquer espaço em que se dê
dos
abstratos a presença e que se lê
para
enfim viralizar essa emoção...
Porque,
afinal, é uma questão de fé
a
existência do amor e da saudade.
Quem
guardar pode em sua mão felicidade?
Onde
a inveja possui de fato a sé?
Será
possível trolar toda a vaidade
que
impura paira sobre a sociedade?
TECNOLOGIA
III
Se
nossa fé é a crença no impossível,
será
que posso digitar um santo
a
quem já enviei preces e pranto?
E
que aspecto teria, se possível?
Não
esse gesso fabricado em inexaurível
artesanato
que se acha em cada canto.
Seria
um vulto recoberto por um manto,
pela
3D tornado agora bem tangível?
Naturalmente
são fac-símile as imagens,
concretizadas
por lêiser e impressora,
mas
quem sabe surgirá qualquer magia
que
as interligue com essas paragens
das
emoções internas de quem chora
por
ter somente tal tecnologia...
TECNOLOGIA
IV
O
problema é que depressa irá surgir
(Sempre
aparece algum espertalhão),
um
hacker digital e charlatão,
algum
pobre coração sempre a iludir...
E
as emoções que poderíamos assistir
concretizadas
em científica noção
as
verdadeiras nossas não serão,
porém
de outras roubadas ao dormir...
De
tal modo na impressora confiarei
que
conserve bem segura no escritório
para
só nela concretizar a minha paixão...
E
numa caixa de bom-bons a enviarei,
seu
invólucro de seda só ilusório,
falha
deixando em meu próprio coração...
ATRÁS DA
JANELA I -- 24 DEZ 17
O
celular é uma porta para o mundo
e tantas
coisas permite realizar;
aos
solitários promete acompanhar
caso
saibam controlar seu dom fecundo.
Mas o
que vejo e me faz mesmo iracundo
é que as
pessoas se permitem dominar;
muita
gente já se deixou atropelar,
olhos
grudados nesse painel rotundo.
Pois não
olham sequer por onde vão,
facilmente
deixando-se assaltar,
sem
conversar nas rodas dos amigos.
E
roubado o celular... que maldição!
Já coisa
alguma conseguem realizar,
sem suas
redes sociais de mil perigos.
ATRÁS DA
JANELA II
Sua
agressividade pensam garantida,
mesmo
que mostrem qualquer fotografia,
imagem
falsa que se colocaria,
já
retocada a face antes possuída...
Tornou-se
um vício a que se dá guarida,
uma
artimanha em que a gente consentia,
que sem
teclar viver não mais podia,
para seu
tablet a alma já vendida...
Um
meio-ambiente realmente endemoniado,
hoje o
domínio de mil espertalhões
dados
roubando dos mil inadvertidos
e que
permite a qualquer um ser enganado,
como
nunca as anteriores gerações,
facilmente
a seu prejuízo seduzidos...
ATRÁS DA
JANELA III
Porque,
de fato, ninguém sabe realmente
quem a
espia por detrás dessa janela,
um
impostor se passando por donzela
e as
tuas contas invadindo facilmente.
Essa
mania tornou-se tão premente
pela
ambição comercial oculta nela;
cada
mensagem transmitida pela tela
causa
despesa ao povo indiferente,
que a
maior parte do tempo não precisa
desse
intercâmbio, que deveria ser útil,
mas que
de fato serve ao povo escravizar.
E os
satélites congestiona na imprecisa
repetição
de tanta coisa fútil,
sem coisa
alguma, na verdade, melhorar.
ATRÁS DA
JANELA IV
Sei
muito bem estar sendo impopular,
mas bem
podia haver racionamento;
só as
mensagens de maior merecimento
deveriam
transitar por celular.
À
medicina e à segurança dedicar
o que
fosse necessário no momento,
nas
emergências o necessário assento
ou
alguma forma de informações buscar.
Não um
veículo para se fofoquear
ou para
vigarices se empregar,
algum
limite de mensagens, diariamente,
que se
pudessem os negócios completar,
mas a
vida a viver de anteriormente,
em que
aos amigos se iria visitar...
ATRÁS DA
JANELA V
Não sou
contrário à comunicação,
o que me
assombra é esse desperdício,
o que me
abala é ver tornado em vício
o que
criaram para nossa diversão.
E que
serve hoje para a separação,
e que provoca,
de fato, um malefício,
sem ser
cumprido seu verdadeiro ofício
de à
vida humana apenas confortar.
Foi
transformada em banalização
essa
janela, que realmente te limita,
levando
a vida mais como um empréstimo,
sem
buscares novos meios de atuação,
uma
leitura ou um esporte que te incita
a
retomar de cada dia o inteiro préstimo.
ATRÁS DA
JANELA VI
Nisto
que falo me mantenho coerente,
pois até
hoje não comprei um celular,
por
propaganda não me deixo manobrar,
procuro
sempre controlar o meu presente.
E se
comprasse algum desses, finalmente,
não
deixaria esse deusinho me assombrar,
só o
ligaria quando fosse precisar,
seria de
fato o meu servo onipotente.
Mas até
hoje não vi tal necessidade,
ainda
prefiro até um banco caminhar,
fazer
minhas compras e as contas a pagar,
pessoalmente,
com plena liberdade,
sem ser
exposto assim a uma artimanha,
ou ser
roubado por alguém que me acompanha!
Magia de Natal 1 -- 25 Dez 2017
No mundo, antigamente, havia magia.
Era possível aos deuses invocar
Os aos demônios poder ameaçar,
Mediante o poder mágico que havia.
Com preces, sacrifício ou homilia
Se poderia aos deuses propiciar
Ou mediante talismãs se dominar
Um mau espírito que mal fazer queria.
Nem todos tinham, é claro, tal poder.
Eram os magos e também as feiticeiras
Que com demônios até mesmo consorciavam
E por meio de ritual, dor ou prazer,
Submetiam as criaturas sobranceiras
Que à sua própria vontade se curvavam.
Magia do Natal 2
Com uma vassoura facilmente se voava,
Dava uma bola de cristal longa visão,
Porvir e antanho se manifestarão,
Em búzio e cartas vaticínio se encontrava.
Mediante uma boneca por Vodu matava,
com Abre-te Sésamo cruzava-se portão,
Lâmpada Mágica ou por límpida poção,
Filtro de Amor perfeito se alcançava.
E havia Fadas e Faunos na paisagem,
Quaisquer maléficos, outros benevolentes,
Não nos feriam, a alma sendo pura;
Mesmo gigantes canibais de má visagem
Seriam banidos pelo poder dos crentes;
Ver uma Ninfa ou um Elfo se procura...
Magia do Natal 3
Era outro mundo, bem diverso deste agora.
Talvez houvesse menos segurança.
Ventos sopravam de Éolo na dança
Hélios brilhava para nós no outrora...
Num aeroplano hoje chegamos sem demora.
A eletricidade a toda casa alcança:
Luz, micro-ondas, água quente avança
E a geladeira funciona a qualquer hora...
Mas que magia existe nesses fatos?
E nem paramos no milagre a refletir,
Eletricidade, de fato, não se entende.
Mas há certeza ao se ligar esses contatos;
Faz-se monótono o computador a reluzir,
Um automóvel dirigir fácil se aprende.
Magia do Natal 4
Mas qual a graça da tecnologia?
Por imprevisto, nos cortam a água ou a luz,
Mas logo voltam, passada a breve cruz:
Perdeu-se o mágico que antes existia...
Já ninguém pensa que a fotografia
Ou o cinema ou um vídeo que seduz
Ou a gravação que à voz de um morto nos conduz
São maravilhas a nos compor o dia-a-dia.
Ninguém se espanta com o retrato dos avós
Nem com a reprodução de sinfonia,
Pavarotti a gente escuta em um Cedê.
Com celulares nunca ficamos sós,
Sem nem notar a ciência que trazia.
Coisas comuns -- se conhece e não se crê.
Magia do Natal 5
Hoje domina o Deus Civilização,
Pela Deusa Ciência acompanhado
E no intermédio, ainda atribulado
Permanece o nosso humano coração.
Mas à ciência ainda faz competição
Essa busca constante do sagrado:
Que a Santa Virgem perdoa o teu pecado,
Que qualquer santo atenda a tua oração.
Porque na falta dos deuses ou magia
Nada no mundo podemos controlar,
Que a Energia, de fato, nos sujeita,
Mas cada vez que algo a interromper,
Para algum santo é inútil apelar,
Como os antigos faziam em cada feita...
Magia de Natal 6
Com franqueza, até a gente preferia
Poder anjos ou demônios controlar,
Nossas ordens obrigados a aceitar,
Por um poder que a nós somente pertencia...
Dois mil anos atrás, nos explodia
Supernova que se pôde observar;
Três Magos se animaram a jornadear,
Para os Pastores só uma gruta os atraía...
Hoje o Natal é uma festa comercial,
Dedicada a esse bom Papai Noel:
Descrendo dele, quanto em Deus perdeu a Fé?
Que perdurasse essa Magia do Natal!
Para as crianças... Mas que esse pão-de-mel
A vida inteira se saboreasse até!...
Recanto das Letras
> Autores > William Lagos
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