O GIGANTE DAS FILIPINAS
O Gigante das Filipinas 1 – 4 maio 2019
Na Ilha de Luzón todos viviam felizes,
Raramente a sofrer quaisquer deslizes:
O Rei dos Homens,
O Rei dos Pássaros,
O Rei dos Caranguejos,
O Rei dos Percevejos,
O Rei dos Mosquitos e
O Rei das Enguias
Haviam firmado tratado real de paz,
Sem contra os outros realizarem ações más.
Os Homens não pescavam as Enguias;
Nenhum ataque pelas praias delas vias
Contra os Meninos,
Contra as Meninas,
Contra os Velhos,
Contra as Mulheres,
Contra os Cachorros,
Vacas e Cabras.
Outros peixes a caçar se limitavam
Só os javalis e macacos emboscavam.
Os Homens não
caçavam Caranguejos
E andavam
livremente pelos brejos,
Sem ser mordidos,
Sem ser pinçados,
Sem ser cortados,
Sem ser feridos,
Nem atacados,
Nem maltratados
E os caranguejos só
comiam bichinhos,
Muitos dos quais
até podiam ser daninhos!
Os Homens não matavam os Mosquitos,
Que anteriormente os deixavam muito aflitos.
Agora só picavam
Os Javalis da mata,
As Lontras dos rios,
Os Cervos e Macacos,
Os Tapires selvagens
E os Papagaios,
Que não haviam assinado seus tratados
E assim por eles eram alimentados.
Os Homens não esmagavam Percevejos
Que agora picavam só os animais dos brejos:
Picavam Lontras,
Picavam Javalis,
Picavam Veados,
Picavam Búfalos,
Picavam Lêmures,
Picavam Mangustos,
Mas não picavam o gado ou os humanos,
Não mais sofriam seus fisgões insanos!
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Tampouco os Homens capturavam Passarinhos,
Que encantavam com o canto seus filhinhos,
Não os prendiam
Em suas gaiolas,
Mas eles vinham
Cantar de dia
E mesmo alguns
Para cantar de noite.
Viviam com todos assim em harmonia,
Criavam gado e faziam boa pescaria.
Porém um dia surgiu ali um Gigante,
Veio nadando desde um país distante,
Arrancando Tubarões,
Tirando Arraias
Dos braços e das pernas,
Comendo a dentadas
Os bichos ferozes
Que o tentavam comer!
Mas chegou logo na primeira aldeia,
Que destruiu com sua patada feia!
Ele berrou: “Eu
sou o Gigante Odon
E não sou mesmo
nem um pouquinho bom!
Vou esmagar,
Vou rebentar,
Vou expulsar,
Vou exterminar,
Vou espatifar,
Vou assassinar,
Qualquer tribo que
não me obedecer
E tendo fome, toda
a gente eu vou comer!”
Alguns dos Homens tentaram resistir,
Mas o Gigante pôs todos a fugir,
Alguns matou,
Esmagou outros,
Jogou-os longe,
Sua pele grossa
Troçava das flechadas,
Mesmo envenenadas!
“Tratem todos de me trazer comida
Ou de um por um eu tirarei a vida!”
Os passarinhos tentaram resistir,
Mas com seus braços ele os podia ferir:
Não adiantava
Que eles voassem
Ou que pairassem
Ou que flutuassem,
Ou que atacassem:
Odon só ficava rindo!
“Eu vou derrubar todos os seus ninhos!
Não deixo árvores para os Passarinhos!”
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Os Caranguejos tentaram atacar,
Mas facilmente ele os podia esmagar:
Quebrava as cascas,
Por sob as patas,
Comia sua carne
E usava as pinças
Para os dentes palitar,
Gritando todo o tempo!
“Vou destruir as fontes de seus brejos!
Não vai ficar qualquer lugar de Caranguejos!”
As Enguias o tentaram combater
E os seus dedões começaram a morder”
Mas o Gigante
As arrancava
Às gargalhadas
E então comia
Mais de uma enguia
No mesmo instante!
“Vou assolar as praias bem depressa:
Nenhuma Enguia poderá se escapar dessa!”
Os Mosquitos e
mais os Percevejos
Tentaram resistir
pelos seus brejos,
Porém Odon,
Com pele grossa,
Passava a mão
E aos punhados
Esses bichinhos
Eram todos
esmagados!
“Eu sou Odon, o
novo Rei da Terra!
De nada adianta
tentar me fazer guerra!”
Então o Rei dos Homens convocou
Os seus aliados e com eles conversou:
“Esse Gigante,
Caro Rei dos Caranguejos,
Caro Rei das Enguias,
Caro Rei dos Percevejos,
Caro Rei dos Mosquitos,
Caro Rei dos Passarinhos,
É demasiado forte para se derrotar!
Precisaremos então parlamentar!...”
Então os seis Reis foram ao Gigante
E lhe falaram de longe, nesse instante:
“O que você quer,
Para ir embora
De nossa terra,
Sem fazer guerra
E a paz nos dar,
Neste lugar?”
“Eu sou Odon e não mais irei embora!
Gostei daqui e permaneço agora!”
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“Então o que deseja para não nos atacar?”
Indagou o Rei dos Pássaros a piar:
“Eu sou Picoy,
Rei dos Pássaros
Da Ilha de Luzón!
Meus companheiros
Também são reis:
Queremos paz!...”
“E eu sou Odon e agora o Rei sou Eu!
Tudo que existe por aqui é meu!...”
“Não há nada que vocês me possam dar!
O que eu quiser, eu mesmo vou tomar!
Sou dono da praia,
Dono do mar,
Dono da mata,
Dono do monte,
Dono da planície,
Até dono do ar!”
Disse Odon, de novo a gargalhar,
Os pobres reis quase surdos a ficar!
“Mas quem sabe
vocês se submetem:
Pagar tributos a
mim se comprometem!
Quero dez vacas
E dez cabritos,
Quero cem cocos,
Dez javalis,
Quero hortaliças
Em quantidade,
Toda semana e com
regularidade
E que me atendam
qualquer outra vontade!”
Falou o Rei dos Homens: “Dez vacas por semana?
Será demais para nós o que reclama!
Logo em seguida
Não há mais vacas!
Você matou
Ou esmagou
Dezenas delas,
Quando atacou!”
“Pouco me importa! Se não trouxerem
Irei buscar onde quer que as esconderem!”
“Pelo caminho, suas casas eu rebento:
Eu sou Odon e minha força é um portento!”
Assim aceitaram,
Foram pagando
E os animais
Já se acabando,
Os coqueirais
Sem dar mais frutos
Aos bichos do mato os Mosquitos traziam
Com os Percevejos, mas já depressa diminuiam!
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As Enguias lhe traziam toneladas
De Peixes e as Conchas encontradas
Traziam os Caranguejos,
Todos com fome,
Muito cansados
Mas o Gigante
Só engordava
E gargalhava!
Muito contente, sem ter de procurar!
Vivia bem, sem ter de trabalhar!...
Então Odon determinou aos Homens:
“Pouco me importa se vocês não comem!
Quero uma casa,
O meu palácio!
Cortem bambus
E tragam palha!
Façam minha casa,
Façam minha cama!
Quero também ter a maior cabaça
Para me lavar e uma cuia como taça!”
“Para eu beber e
uma grande quantidade
De água do rio de
boa qualidade
E uma lareira,
Carvão bastante,
Para comer assados
O gado e os
animais
E mais uns cem
espetos
Para fritar os
peixes!
Quero um palácio e
quero já e agora!
Portanto façam
tudo isso sem demora!”
Assim os Homens e as Mulheres, bem cansados,
Até os Velhos e Crianças, todos esfomeados,
Cortaram os bambus,
Grossos e compridos,
Trouxeram palha,
Queimaram carvão,
Acharam a cabaça
E uma grande taça
E construíram a vasta casa do Gigante,
Grande o bastante para um Elefante!...
Com palafitas fizeram que se armasse
Para que nunca a casa grande se inundasse:
Eram bambus
De fato, imensos
E muito grossos,
Mais uma escada
De oito degraus:
Também bambus,
Mas muitos deles de fome desmaiavam:
Gado e hortas, ao Gigante tudo davam!
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E os cinco Reis então se combinaram:
“Esses Humanos já tanto trabalharam
Que não têm forças
E nem vontade,
Mas nós podemos:
Sempre há sementes
E alguns bichinhos
Para comermos,
Mesmo que cocos e frutas já não sobrem
E os animais dificilmente se recobrem...”
“Eu tenho um plano,” disse o Pássaro Picoy
Aos quatro Reis, a quem a fome rói,
Porém não tanto
Quanto aos Humanos,
Se decidiram,
Porém disseram
Para seus povos
Que continuassem
Levando os vastos tributos ao Gigante,
Não desconfiasse deles nesse instante!
Já o próprio Odon
construíra uma cadeira,
Que era mais uma
espreguiçadeira,
Pois percebera
Que Humanos
famintos
Já não podiam
Fazer nada mais
E ainda achava
Que nem sabiam,
Pois nas aldeias
todas que esmagara
Nenhuma cadeira
até então achara...
Mas como o seu tributo se atrasara,
Pois, afinal, toda a gente trabalhara
Na grande construção,
Sem ter mais tempo
Para plantar
Ou ir buscar
Vacas e Cabritos,
Foi o Gigante
Esmagar outras aldeias mais distantes,
Dali roubando as coisas mais interessantes...
Foi então que os cinco Reis aproveitaram
E pela escada de bambu todos treparam!
O Passarinho
Na lareira se escondeu,
O Percevejo
Se enfiou na cama,
O Caranguejo
Dentro da cabaça,
O Mosquito numa fresta da cadeira
E a Enguia junto à porta, sorrateira!...
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Chegou Odon, o chão a pisotear,
Com ossos de Búfalo dentes a palitar
E foi subindo,
Já estava escuro!
Eles precisam
Me fazer lâmpadas;
Com óleo de palmeira
Darão um bom clarão!
Pensou o Gigante e então foi se acomodar
Em sua cadeira a fim de descansar.
Mas assim que começou a cochilar
O Rei dos Mosquitos saiu de seu lugar
E começou,
Picando a orelha,
Picando o nariz,
Picando a boca,
Picando os olhos,
Sempre a zumbir
E o Gigante logo se acordou
E com um tapa quase que o acertou!
Mas o Mosquito-Rei
era veloz
E não deixava esse
Gigante a sós:
Picava aqui
Picava ali,
O gigante só
acertava
A sua orelha,
O seu nariz
E a sobrancelha!
O Odon malvado não
aguentava mais,
Parecia ser
tortura por demais!
Então lembrou que tinha um mosquiteiro
E se estendeu em sua cama por inteiro!
Puxou a rede,
E assim deixou
Fora o Mosquito...
Deu um suspiro,
Todo aliviado
E foi dormir...
Mas no momento em que ele cochilou
Já o Rei dos Percevejos o picou!
Odon então se acordou com um gemido:
Mas o que é isso que me deixou ferido?
Só que a seguir
O Percevejo,
Já o ferroava
Noutro lugar!
Ele berrava.
Mas não pegava,
O Rei dos Percevejos era esperto,
Logo corria para outro espaço aberto!
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Enquanto isso, o Gigante se coçava,
Se esbofeteava, se virava e se tapeava!
Mas o Percevejo,
Muito veloz,
Fisgava adiante!
Pobre Gigante,
Não conseguia
Se defender!
E já estava completamente inchado,
Pelo Rei dos Percevejos aferroado!
Logo a seguir, Odon se levantou
E na lareira, de um pulo, se atirou!
Queria uma brasa
Para assoprar
E acender fogo
Para enxergar
Qual era a fera
Que o atacava!
Mas ali se achava o Pássaro Picoy
E no momento em que Odon-Gigante foi,
O Rei dos Pássaros
começou cinzas a espalhar
E nos olhos de
Odon pôs-se a bicar!
No seu nariz,
Na sobrancelha,
No beiço grosso,
Soprou centelha,
Picou a bochecha,
De ferir não
cessa!
Então o Gigante
foi à cabaça pegar água
Para lavar a cara,
mas teve nova mágoa!
O Rei dos Caranguejos ali estava
E em seu nariz a pinça esquerda pendurava!
Mais a direita,
Presa no beiço!
Odon gritava,
Louco de medo,
Qual é o segredo?
Estou assombrado?
Quais os fantasmas que se escondem por aqui?
Não fico mais, vou me mandar daqui!
E então correu na direção da escada,
Onde a Enguia achava-se emboscada!
Que se estirou
E o derrubou
Escada abaixo,
Foi de nariz,
No chão, la embaixo:
Oito degraus!
Mas logo levantou, todo estonteado
E para o mar correu, muito apressado!
O Gigante das Filipinas 9
Já não queria saber da ilha infestada
Por fantasmas: Minha
casa está assombrada!
Correu ao mar,
Chegou na praia,
A pisotear
E a esmagar,
A cambalear,
Mas sem parar!
Entrou direto para dentro da maré
Que o carregou para o mar alto até!...
Mas desta vez, ele estava bem cansado:
Muito sangue o Percevejo havia tirado,
Mais o Mosquito,
Mais as bicadas
Do Passarinho,
E as duas pinçadas
Do Caranguejo!
E ainda caíra
Lá do alto da escada de nariz,
Sangrando quase igual que um chafariz!
E para mal maior
de seu pecado,
Todo esse tempo
Odon havia engordado!
Comera demais,
Sem exercício!
Já não podia
Nadar igual
Como fizera
Até Luzón!
E os Tubarões e as
Arraias o atacaram!
Deu manotaços,
porém o devoraram!...
E nunca mais, nessa Ilha de Luzón
Chegou um outro gigante de mau tom!
O Rei dos Homens,
O Rei dos Pássaros,
O Rei dos Caranguejos,
O Rei dos Percevejos,
O Rei dos Mosquitos
E o Rei das Enguias
Renovaram o seu pacto anterior,
Em um festim alegre de esplendor!
De esconderijos trouxeram a comida,
Para uma festa muito divertida
E até hoje
São bons amigos!
Desses perigos
Por amizade
Só triunfaram!
É bem verdade
Que a aliança não abrange os estrangeiros,
A quem os mosquitos picam bem ligeiros!
EPÍLOGO
Mas as tribos do interior das Filipinas
Mantén seu pacto com as criaturas pequeninas
Que os ajudaram
No pior momento,
Quando precisaram
Mais do que nunca!
E até hoje esse reizinho,
O Pássaro Picoy,
É protegido com o maior cuidado:
Graças a ele Odon foi derrotado!...
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