BUSTO DE GESSO –
13 ABRIL 1977
(Lena Horne, coadjuvante Hollywood)
Na sala o meu avô
possuía um busto antigo
De jovem
sorridente (viera lá da França):
Nos olhos
marrom-claro jocosa luz fulgia,
Lembrando
travessuras dos tempos de criança;
Cabelos ondulados
pendiam sobre os ombros.
Como soltos
apenas das dobras de uma trança;
O peito já
mostrava, em forma fugidia,
Mulher quase
menina – adolescente em dança!
Um dia, em que
fiquei sozinho lá na sala,
Para vê-la de
perto, bem junto me cheguei,
Cuidando perceber
no gesso de sua gala,
Um lampejo de
vida – e mais me aproximei
E em tributo a
esta ninfa (e quase por amá-la!)
Furtivamente e a
medo – seus lábios frios beijei!...
RELICÁRIO –24 JULHO 1978
Cansada um dia de guardar constante
Tesouro assaz comum, donzela nobre
Da alfombra casta que seu véu recobre
Decidiu desnudar-se nesse instante.
Escolheu ao acaso o seu verdugo,
Por não possuir o bem que mais queria;
E num capricho, assim se desfazia
A um tempo de sua glória e de seu jugo.
Depois... ergueu-se um brinde, solitária
Em taberna qualquer – da cirurgia
Sobrevivente apenas temporária;
Pois ficou-lhe ferida tão vazia:
Ao reduzir-se à condição de pária,
Seu coração – mais virgem se fazia!
REFÚGIO – 24 JULHO 78
Noite passada, envolta nos meus braços,
Chorou-me a esposa por perdido afeto
Que em seu coração manso e discreto,
Fizera despontar tantos abraços...
Assim, envolto por tão doces laços,
Rasgado de emoções tão multiformes,
Procurei consolá-la, mas disformes
Lhe gotejaram pérolas dos traços...
“És tudo para mim, tudo o que tenho!”
Disse marcada de profunda dor:
“Não estou preparada, porém venho...”
E eu – fracassei em dar-lhe meu calor,
Pois apesar de todo o meu empenho,
Noite passada – eu nem lhe fiz amor!
CEIFA – 26 JULHO
1985 (Irmão Parmenas)
(Baseado em Mateus
7:15-21)
Com vestes de
ovelhas, os lobos vorazes,
Os falsos
profetas de nós se aproximam
E tantas
doutrinas aos homens destinam,
Quais frutos
diversos de campos ferazes.
Responde o
Evangelho com ditos verazes:
As árvores boas
dão frutos que ensinam,
Porém outros
frutos nos ferem, lastimam,
Nos sugam as
almas – são frutos sagazes!
E pelos seus
frutos os conhecereis:
Nem todo que
invoca do Altíssimo o Nome,
Nem todo o que
clama, nos céus entrará.
Somente o que
cumpre esta Lei que consome
Figueiras estéreis,
profetas e reis,
Na fúlgida pira
que em chama arderá!
SEQUELA – 8 ABRIL 79
Com reverência, à
pena amargo eu torno,
De amarga pena usar
com reverência,
De transcrever,
sincero e com paciência,
De um claro
sentimento o vão contorno...
Com reverência em meu
franzido cenho,
Por franzer-se em
palavra e reverência,
Retorno em amargor de
tal paciência,
A refazer dos versos
o desenho...
Porque o tempo
sofrido e sem alarde
É um tempo longo e
morto e faz-se tarde
E logo já não posso
estar contigo...
Porém melhor eu faço
que esta tarde
Gaste a escrever
poemas sem alarde
Por bem saber não
queiras vir comigo...
ALIVIO –08 ABRIL 1979
Vivendo eu sempre assim nessa incerteza
De um desejar que nunca desejei,
De um gozar por um bem que não gozei,
De uma inconstância vil, quase tibieza...
Vivendo eu sempre assim tanta certeza
De não querer a quanto mais eu queira,
De não beirar o amor quando se abeira,
Nem de abordar a força em tal fraqueza,
Terei motivos de sobra de ilusão.
Poderei sempre achar consolação
Por não ter obtido o que não tive...
Pois não tentando achar, não alcancei;
À força de temer, não te beijei
E porque não te busquei, não te obtive...
OLOR – 08 abril 79
Eis-me uqui, pois ainda de teus beijos,
Rescendendo a saliva, em doce afeto,
Envolto em teu perfume tão completo,
Quanto é total a entrega a
teus desejos;
Eis-me aqu, pois ainda de teus braços,
Carinhado dos pelos cintilantes,
Esparsas gotas d’oiro e triunfantes.
A rebrilhar em meus seus doce traços,
Numa cascata etérea e fugidia,
Que recobriu-me, em plena luz do dia,
Em seu candor de lua e ardor de lume,
Fulgor real e ruivo de quimera,
Que a carne exuda e a carne minha altera,
Permanecendo em mim no teu perfume.
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