(Recuperação
de antigos sonetos que estariam perdidos para sempre em um incêndio, se não
tivessem sido guardados por ela em uma pasta de carinho, antes mesmo que me
confessasse o seu amor).
DEGRADAÇÃO – 06 ABR 79
(Danielle Darrieux, apogeu cinema francês)
Amor um dia, em gesto
cintilante
Eu te entreguei qual
áureo recipiente,
De seiva estuante e de
esplendor frequente,
Qual estrela matutina
e chamejante.
Meses depois, pediste
casuarinas,
Para expor em tua sala
à luz mortiça;
E ao deixar de ser
bela, quebradiça.
Acinzentou-se em ramas
peregrinas...
Não resistindo à geada
matutina,
Furtada a estrela pela
ventania,
Viçoso fora o nosso
amor outrora,
Tornou-se cinza, tal
que a casuarina;
E como a casuarina,
veio um dia,
Em que tiveste de
lançá-lo fora...
BAILE
– 08 abril 1979
Tenho
da vida grão ressentimento,
Pelo
bem que não tive e não terei,
Pois
tanta coisa de simples não gozei
Na
hora aprazada e em seu gentil momento.
Fiquei
aqui suplicando desatinos,
A
mastigar aromas e perfumes,
Mesclados
de palor e de azedumes
Pelo
velório de sonhos peregrinos...
Que
meus dias à toa se escoassem,
Que
meus desejos nada realizassem
É
afinal, destino bem comum...
Mas
que eu fosse tão fértil em desejos!
Que
desejasse, enfim, ter tantos beijos
Quantos
sonhei e não vivi nenhum!
ENREDO
– 7 abril l979
Pois
fazer mil sonetos é bem fácil:
É
não fazer o quanto mais se deve,
É
nunca responder quem nos escreve,
É
não aventurar-se ao bem mais grácil;
É
ficar sempre isento de alegria,
É
privar sempre de amor o coração,
É
guardar-se somente na ilusão,
É
fingir não sentir quanto sentia;
É
maanter-se no escuro em claro dia,
É
faminto ficar-se de desejo,
É
pretender-se surdo à malodia;
É
fugir-se do ardor ao puro ensejo,
É
furtar-se aos aromas da elegia,
Para
perder-se no sonho de teu beijo...
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