quarta-feira, 24 de abril de 2024


SETE ESFERAS I – 13 ABRIL 24 (SHUKRA)

segundo afirmam alguns dos ocultistas,

cada planeta viaja no seu carro,

com rodas de metal, outras de barro,

do universo a cruzar as longas pistas

e que embora diferente do que insistas,

foi a Lua a Virgem-Mãe de nossa Terra,

essa progênie que a Lua então encerra,

sendo adotada por Vênus nessas listas

e que Ogdoada conduz esse pleneta,

com duas árdegas parelhas de cavalos

“nascidos da Terra”, em dons diversos

das alimárias que cada outro astro projeta,

o mundo astral em seus páramos alados,

de nosso mundo de ilusões puros reversos.

 

SETE ESFERAS II

também se afirma que é Shukra esse planeta,

que não possuía satélites e assim se enamorou

dessa filha vibrante que também dele se agradou

muito mais que de sua mãe, genitora mais secreta.

assim Shukra se dirigiu a Shiva, a quem afeta

todo o domínio dos planetas que criou

e com fervor a proteção lhe suplicou

para os Asuras e dos Daityas a luz dileta,

que a cada Daitya-Deva desse sua proteção.

também dos carros invisíveis aos corcéis,

Ogdoada dando a Shukra o movimento,

esta que é a luz de mais constante duração,

luz da manhã e luz da tarde em seus flabéis

o “alter-sol” de Pitágoras em seu assento.

 

SETE ESFERAS III

mas sendo assim a fonte dessa luz,

brilhante Shukra que adotou a nossa Terra,

que a viu crescer com tudo que ela encerra,

tornou-se Lúcifer, que a luz nos céus conduz;

esta esfera do ser que sobre o céu reluz,

sendo identificada por noção que aberra

com um espírito do mal, mas como a luz descerra,

como pode ser a treva oposta à cruz?

o regente Shukra amando tanto a filha estranha,

que encarnou como Ushunas e leis lhe deu,

que os Paravatmas, ou Senhores do Ser

devem fazer cumprir na luz que os banha,

os “Senhores da Luz” ou Jivatmas quais reis,

quais hierarcas em seu máximo poder.

 

SETE ESFERAS IV

talvez tudo seja tão somente fantasia

em nosso mundo astronômico e concreto

ou talvez no mundo quântico secreto

lá estejam os Protetores em plena galhardia;

não te pretendo converter à luz do dia,

nem abalar dessa tua fé o afeto,

nem ao Zodíaco do Zohar dileto,

nem à Kaballah em que escravo se iludia;

há tanta lenda e versão gnosticista,

há tantos Logos para o neoplatonista,

quem os Senhores da Luz pode escolher?

quem do cristianismo preferir seguir as pistas,

pode aceitar das Patrística os copistas,

como contos de fadas tão somente  pretender.

 

FANTOCHE ASTRAL I – 14 ABRIL 24

sei que sou dela apenas marionete,

movido a seu redor, lançado alhures,

só de relance em seus ínvios desejares,

ou pelo mundo a dispersar-me qual confete,

que todo o impulso da vida me projete

(quiçá um efeito tão só de imaginares)

talvez apenas humildade ante os cantares

dessa altivez que tanto a mim afete.

quer seja isso não mais que fantasia,

ainda pressinto que manejou os meus cordéis,

que a mim levou tanto verso a redigir,

que a inspiração inteira dela procedia,

meu contribuir tão somente os ouropéis

em seu reflexo marchetado de porvir.

 

FANTOCHE ASTRAL II

em meu orgulho, pretendi independência,

que meus grifos prendesse em calabouços,

que ali os privasse de quaisquer retoços,

somente em seu labor a ter leniência;

ou que me rebelasse em vezo de impaciência,

que de Dionysos recebesse meus esboços,

que em minha mente riscassem longos ossos

desses poetas de maior magnificência;

mas cada vez em que contemplo seu olhar

de extensíssima íris, sem negror,

arpoado eu me vejo em seu cristalino

e desse anzol não posso me furtar,

tudo que existe dentro em mim de esplendor

eu devo apenas ao seu manto de destino.

 

FANTOCHE ASTRAL III

por certo me conheço e até acredite,

ser criatura envolta em manto santo,

sem sequer minhas as lágrimas de pranto

que para seus próprios alvos me concite

mas me percebo por igual que nela habite,

como acordes e três claves de seu canto,

que dessa estrela me oculte o próprio manto,

tão esgarçado por reclamares que me agite

e então de novo me vem a convicção

 que não foi só o inspirar que ali bebi,

mas a água dessa fonte em brotação,

em que alimento minhas fomes de emoção,

nessa paixão desordenada em que vivi,

cada soneto a esfarelar-me o coração.

 

SETE SUSPIROS I – 15 ABRIL 24

naquela noite de azinhavre, do teu lado,

notei o teu enjoo por qualquer razão perdida

e te indaguei: “estás grávida, querida?”

“só se for pela semente do diabo!”

bem certamente me quedei desconcertado,

ainda mais que só por mim foi revivida

essa lembrança em sua alma mal contida,

suspiro apenas em meu suspiro revelado.

sei que essa noite jamais esquecerei,

há décadas se foi e nunca esqueço,

mas por que somente eu me lembro dela?

mas foi real e dela sempre lembrarei,

porém ela se olvidou e me estremeço:

quanto de mim foi importante para ela?

 

SETE SUSPIROS II

esta ideia me é certp horripilante,

pois lembro dela cada momento fugidio

e acalanto dentre o peito um arrepio:

por que teria ela esquecido deste instante?

até que ponto guardo lembrança delirante,

presa em meu peito por sedoso fio,

sem me ligar a ela nesse cio,

sem que se lembre de nosso amor vibrante?

e quando troco com ela confidência,

há tantos anos fielmente do seu lado,

como me abala que se lembre de tão pouco!

tantos momentos queimantes da consciência,

estarão somente em mim, em pranto degredado,

sem lembrar-se de um suspiro ou grito rouco?

 

SETE SUSPIROS III

difícil é se recordar do sofrimento

de cada instante perdido no passado,

de cada amor que com frequência foi chamado,

da própria alma a se rasgar cada momento.

sei que fui alvo de meu próprio julgamento:

que me faria enfim sofrer fui avisado

e mesmo assim submeti-me a seu chamado,

parte de mim a ansiar suspiramento.

lembro os momentos de pena e de alegria,

todos bordados bem fundo no meu peito

e como dói saber que não os recorda!

se nem ao menos os contempla em nostalgia,

somente afirma que nem sequer tenho o direito

de ter por minha cada fímbria que ela borda!

 

SETE MIRAGENS I –16 ABR 24

ela foi minha rainha e foi sibila,

de deusa antiga imortal sacerdotisa,

de nova deusa fiel diaconisa,

de suas preces a registrar a longa fila,

de meus ideais antigos fez a esquila,

totalmente segura do que visa,

deuses queimados no solo por que pisa,

meus sonhos esmagados feito argila!

porém juntos a cruzar tantos portentos!

minha vida plena foi ela que me deu,

seja por beijos, fosse de lança em riste

e ainda vejo inúteis meus lamentos:

depois de tudo que nos aconteceu,

não precisava me deixar tão triste!

 

SETE MIRAGENS II

tempo houve em que até acreditava

que tais palavras e seus gestos desabridos

eram voltados para mim e distribuídos

de modo tal que me atingissem esperava;

mas depois que percebi que me lembrava

de tantas coisas em meus sonhos malferidos,

tão pouco o efeito sobre si, logo esquecidos

que nem me ter feito sofrer se recordava!

ah, mulher minha, que amei e não perdi

mas que ainda hoje se assenta do meu lado,

como eu queria fosse sua maldade intensa!

que assim lembrasse o quanto já sofri,

até a certeza final ter-se instalado,

que me ferira em densa e pura indiferença!

 

SETE MIRAGENS III

mas quem sou eu neste instante de arrebol,

em que o sol nascente só me trouxe escuridão,

frágeis linhas a despregar sem ter noção,

somente escorrem para longe do farol;

rebrilha nalma o reflexo desse anzol,

foge a luz de meu fanal sem compaixão,

busco no escuro solar minha ilusão,

dedilho o rosário dos vazios deste meu rol

e no entretanto, quando o tempo calha

e ela me mostra um fragmento de sua alma,

sem o menor registro desse antanho,

penso em minha vida quais fios de maravalha,

enrolados pelo chão, sem dor nem calma,

enquanto ao som de sua voz ainda me assanho!

 


 

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