sábado, 27 de abril de 2024


 

 

TRÊS SORRIOS 1—17 ABRIL 2024

(Elle e Dakota Fanning)

 

Vou coletar cada um de teus sorrisos,

Para usar como alfinetes de gravata,

Cada um seu dia, cada qual sua data,

De meus troféus os principais incisos.

 

Vou roubá-los de ti sem dar avisos,

De minha boca para guardar em casamatas,

De tues lábios a brotar feito cascatas,

Sem o sardônico casquinar de quaisquer risos.

 

Nem sempre mostras sorrisos incisivos,

Certas vezes somente a boca entortas,

Que estivesses contra mim então julgava,

Mas por trás dela havia outros esquivos,

De teu amor fechadas as comportas,

Era o fervor que de tua alma se ocultava...

 

TRÊS SORRIOS 2

 

Ai,teus sorrisos como me devoram1

Vejo-me preso por detrás das comissuras,

As tuas narinas arquejando puras,

Para meus olhos meiga visão que adoram!

 

Por trás dos lábios teus sorrisos moram,

As comissuras podendo ser bem duras,

Para meu mal a retardar-me as curas,

Mas de repente tuas feições se douram.

 

Vejo a saliva num relance repentino

Logo se esconde, a imagem permanece

E minha tristeza se esvai do pensamento,

Ouço tua voz como um guizo  em desatino,

Cada sorriso qual vastidão de prece,

Cada surpresa a dominar meu julgamento!

 

TRÊS SORRIOS 3

 

Teu sorriso eu ostento qual medalha,

Mas somente para mim no meu espelho,

Nova a alegria em meu rosto velho,

Pelas linhas de expresão percorre a calha.

 

Mas quando chega o sorriso e não me falha,

Rejuvenesço em chibatear de relho,

Todo o meu coração então destelho,

Que entre o sorriso através de minha  muralha!

 

Que a ti pertenço sei inevitavelmente

Com três sorrisos um dia me tomaste,

Um de teus lábios e outros de teus seios,

Cada mamilo imantado inteiramente,

Como sorriso no instante em que o mostraste,

De mim roubando os mais fatais receios!

 

AVES DE ARRIBAÇÃO I – 18 ABR 24

 

Em meus ombros pousaram avezinhas,

bicando meus lóbulos com delicadeza,

seus chilreios que escutasse com firmeza,

vozes antigas em arcanas ladainhas,

pois me cantaram suas coplas pequeninhas,

uma à direita e a outra com certeza,

a revisitar dos ancestrais pura leveza:

canção de antanho, quem sabe donde vinhas?

 

Cada bicada, ao invés de me sangrar,

sangue no interior da mente me insuflava,

as escanções de mil aedos falecidos,

seu corpo descarnado, sem mais poder cantar,

mas a sua mente sobre a minha derramava

versos sem dono, há gerações já esquecidos.

 

AVES DE ARRIBAÇÃO II

 

Elas vinham de outros continentes,

buscando o sol no acalanto do verão,

sempre migrando em sua eterna arribação,

para o sul e para o norte permanentes;

mas não vinham em mim buscar, contentes,

pradarias de verdura e de amplidão,

nem os insetos de uma nova geração,

porém trazer-me palimpsextos reverentes.

 

Quiçá mil vates perdidos na distância

haviam em seus remígios se amparado,

talvez em tais seres alados reencarnado,

seus bicos cheios de velhices e de infância,

ao invés de andar à busca de alimento,

só a meus ouvidos a vir trazer alento.

 

AVES DE ARRIBAÇÃO III

 

E eu as escutei, meus ombros fortes

a lhes servir de gaiola e de poleiro,

fiquei bebendo cada canto derradeiro,

em mim reunindo suas vidas e suas mortes,

sagas e giestas dos mais amplos portes,

das cançonetas e acalantos o som inteiro,

canções de guerra e de sexo altaneiro,

canções de amor de tão variadas sortes.

 

E que podia fazer, após ter escutado?

Anos a fio me puz a digitar,

tantos poemas etéreos de além-mar

e aqui  exponho a ti seu resultado,

dentes apenas a mastigar suas rimas,

dores mesquinhas e alegrias peregrinas!...

 

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