TRÊS SORRIOS 1—17 ABRIL 2024
(Elle e Dakota Fanning)
Vou coletar cada um de teus sorrisos,
Para usar como alfinetes de gravata,
Cada um seu dia, cada qual sua data,
De meus troféus os principais
incisos.
Vou roubá-los de ti sem dar avisos,
De minha boca para guardar em
casamatas,
De tues lábios a brotar feito
cascatas,
Sem o sardônico casquinar de
quaisquer risos.
Nem sempre mostras sorrisos
incisivos,
Certas vezes somente a boca entortas,
Que estivesses contra mim então
julgava,
Mas por trás dela havia outros
esquivos,
De teu amor fechadas as comportas,
Era o fervor que de tua alma se
ocultava...
TRÊS SORRIOS
2
Ai,teus
sorrisos como me devoram1
Vejo-me preso
por detrás das comissuras,
As tuas
narinas arquejando puras,
Para meus
olhos meiga visão que adoram!
Por trás dos
lábios teus sorrisos moram,
As comissuras
podendo ser bem duras,
Para meu mal
a retardar-me as curas,
Mas de
repente tuas feições se douram.
Vejo a saliva
num relance repentino
Logo se
esconde, a imagem permanece
E minha tristeza
se esvai do pensamento,
Ouço tua voz
como um guizo em desatino,
Cada sorriso
qual vastidão de prece,
Cada surpresa
a dominar meu julgamento!
TRÊS SORRIOS
3
Teu sorriso
eu ostento qual medalha,
Mas somente
para mim no meu espelho,
Nova a
alegria em meu rosto velho,
Pelas linhas
de expresão percorre a calha.
Mas quando
chega o sorriso e não me falha,
Rejuvenesço
em chibatear de relho,
Todo o meu
coração então destelho,
Que entre o
sorriso através de minha muralha!
Que a ti
pertenço sei inevitavelmente
Com três
sorrisos um dia me tomaste,
Um de teus
lábios e outros de teus seios,
Cada mamilo
imantado inteiramente,
Como sorriso
no instante em que o mostraste,
De mim
roubando os mais fatais receios!
AVES DE ARRIBAÇÃO I –
18 ABR 24
Em meus ombros
pousaram avezinhas,
bicando meus lóbulos
com delicadeza,
seus chilreios que
escutasse com firmeza,
vozes antigas em
arcanas ladainhas,
pois me cantaram suas
coplas pequeninhas,
uma à direita e a
outra com certeza,
a revisitar dos
ancestrais pura leveza:
canção de antanho,
quem sabe donde vinhas?
Cada bicada, ao invés
de me sangrar,
sangue no interior da
mente me insuflava,
as escanções de mil
aedos falecidos,
seu corpo descarnado,
sem mais poder cantar,
mas a sua mente sobre
a minha derramava
versos sem dono, há
gerações já esquecidos.
AVES
DE ARRIBAÇÃO II
Elas
vinham de outros continentes,
buscando
o sol no acalanto do verão,
sempre
migrando em sua eterna arribação,
para
o sul e para o norte permanentes;
mas
não vinham em mim buscar, contentes,
pradarias
de verdura e de amplidão,
nem
os insetos de uma nova geração,
porém
trazer-me palimpsextos reverentes.
Quiçá
mil vates perdidos na distância
haviam
em seus remígios se amparado,
talvez
em tais seres alados reencarnado,
seus
bicos cheios de velhices e de infância,
ao
invés de andar à busca de alimento,
só
a meus ouvidos a vir trazer alento.
AVES
DE ARRIBAÇÃO III
E
eu as escutei, meus ombros fortes
a
lhes servir de gaiola e de poleiro,
fiquei
bebendo cada canto derradeiro,
em
mim reunindo suas vidas e suas mortes,
sagas
e giestas dos mais amplos portes,
das
cançonetas e acalantos o som inteiro,
canções
de guerra e de sexo altaneiro,
canções
de amor de tão variadas sortes.
E
que podia fazer, após ter escutado?
Anos
a fio me puz a digitar,
tantos
poemas etéreos de além-mar
e
aqui exponho a ti seu resultado,
dentes
apenas a mastigar suas rimas,
dores
mesquinhas e alegrias peregrinas!...
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