A RAINHA DO MAR
III
Escolhidas as
da corte, a pente fino,
Foram sendo ao
soberano apresentadas,
Suas maquiagens
favorecendo o feminino...
Mas por Dom João foram sendo descartadas,
Que a maioria não era bela o suficiente
Outras de irmãos eram mal aquinhoadas...
E das cidades
procuraram entre a gente,
Mas nenhuma a
Dom João satisfazia:
“Eu quero uma
de beleza tão saliente
“Que minha escolha seja aceita em harmonia
Como sendo dentre todas a mais bela:
De forma alguma um motivo de ironia!...
“Que a mais
bonita eu desejo e hei de tê-la
Ou ao menos, a
mais formosa do país...
Tenho certeza
de que acabarei por vê-la...”
Seus arautos cumpriram o que o rei quis
E casa a casa pelo reino esmiuçaram...
Mulheres belas qual a flor-de-lis
Aqui e ali os mensageiros
encontraram,
Mas em famílias de
muitas irmãs...
Bem menos belas
facilmente acharam,
Com linhagens masculinas mais louçãs,
Mas nenhuma que a ambas condições
Satisfizesse suas longas buscas vãs...
Dom João avaliou bem
as situações
E elaborou uma lista
de “passáveis”,
Sempre as mais belas
nessas ocasiões...
Das quais escolheria as mais afáveis,
Pois com alguma casaria, possivelmente,
Dessa lista das que lhe eram aceitáveis...
Mas não se
achava satisfeito, realmente,
Pois se sentia
como homem já maduro
Para casar-se
assim, impensadamente...
Estavam as coisas nesse pé, quando no escuro
De uma igreja viram um jovem a chorar
Diante da santa de coração mais puro...
Chegou um padre
para lhe perguntar
Qual o motivo
de seu arrependimento:
No confessionário
o poderia escutar...
“Mas eu não tenho pecado.
É o sofrimento.
Da casa de meus pais tenho saudade
E essa imagem despertou meu sentimento,
“Sem que eu
tivesse cometido uma maldade...
É que essa
imagem de Nossa Senhora
Lembra muito
minha irmã, essa é a verdade!...
A RAINHA DO MAR
IV
O padre
recordou-se, nessa hora
Da bela noiva
que buscavam para o rei,
De corpo e
rosto tão perfeito quanto outrora
Fora Maria agraciada dentre a grei,
Para gerar do mundo o Salvador,
Logo pensando: “Ao bispo eu falarei!...”
Mas primeiro
indagou: “Caro senhor,
Você é
conterrâneo ou estrangeiro?”
E respondeu-lhe
o rapaz, com grande ardor:
“Desta nação sou cidadão certeiro,
Igual meus pais e como foram meus avós;
O nosso lar é justo e hospitaleiro...”
“E quantos
filhos eles têm, além de vós?”
“Ah, somos
doze, mas só temos essa irmã...
Moramos no
Escarpado, junto do rio a foz...
“A nossa terra é fértil, boa e chã,
Mas para morar lá somos demais
E à procura de emprego estou no afã...”
“De um jardineiro
precisamos, ademais...”
Disse-lhe o
padre. “Fique esperando aqui,
Um bom emprego
conseguir-te vais...”
E disse ao bispo: “Senhor, a noiva consegui
Que nosso rei ansioso está a buscar...
O irmão dela está na igreja, logo ali...”
Foi logo o bispo ao
rapaz interrogar
E prometeu-lhe emprego
e um bom quartinho,
Indo depressa ao rei
se apresentar...
E o Conselho convocou o rapazinho,
Que novamente descreveu sua irmandade,
Da única irmã falando com carinho...
Mensageiros
mandaram para a veracidade
Confirmarem do
relato do rapaz,
Que a
verificassem com sinceridade...
À casa de seu pai o irmão os traz,
Maravilhados ficando com a beldade,
Que os requisitos do rei bem satisfaz!...
Mas disse o pai
da moça: “Na realidade,
A minha filha a
vocês não entregarei,
Sem documento que
garanta a idoneidade
“Do casamento assim proposto pelo rei;
Nunca antes de um escrito juramento
É que o desposará, segundo a lei...
“Só então eu
lhe darei consentimento;
Inês criamos
com demasiado amor
E só aceito um
tal procedimento...
Nenhum comentário:
Postar um comentário