domingo, 21 de abril de 2024


 

 

PENEDIA I – 10 ABRIL 24

(MARY PICKFORD, grande  dama do cinema mudo)

 

Ainda mantenho essa visão do pedregulho

que um dia a sua rocha ser ela afirmou,

flor desse espanto com que me degustou,

sem ter espera ou noção de tal esbulho,

sua força altiva reduzida a entulho,

até que ponto ele a desapontou?

Com tanto alarde sua voz ele escutou,

mas somente uma vez estuou o orgulho.

 

Hoje perdura simples grão de areia,

que ainda palpita na praia de sua alma

e insiste em escrever na longa praia...

 

Pequeno fogo seu coração ainda ateia,

que ela abana com gentileza e calma,

preso em seus dedos, sem permitir que caia!

 

PENEDIA II

 

Pobre grãozinho na praia do infinito,

rubro infinito de seu forte coração.

tão atrevido em oferecer-lhe proteção,

calhau inchado na pretensão do grito,

por trás do orgulho somente um seixo aflito,

amor imenso mascarado em ilusáo,

amor pequeno a suplicar sua pretensão,

derretido em seu ardor esse aerolito!

 

Em sua vaidade pretendendo ser poeta,

fingiu ser magma não mais que luz de fósforo,

que jamais lhe comprará mansão no Bósforo,

 

sua única conquista essa dileta

luz perenal incapaz de superar,

sequer sua imagem atrever-se a cobiçar.

 

PENEDIA III

 

Essa sua deusa a receber tantos orantes,

nunca a algum deles  respondendo a prece,

apenas sobre mim é que sua tulpa desce,

nessa intinção de seus dotes mais constantes.

Os dois lados do hexágono brilhantes,

essas  arestas em que minha pele desfalece,

minhas reentrâncias sem luz que amor não cesse

de alimntar por encarnações distantes.

 

Passados anos, calhau depois de seixo,

foi-se acrescendo o pobre pedregulho,

chegou a pensar que em penedia transmutasse.

 

Mas nestes versos minha confissão eu deixo:

tudo quanto em mim existe e que me orgulho,

cacos de jóias que sobre mim soprasse!

 

CONQUISTADORA I – 11 ABRIL24

 

Ela mostrou-me os seios empinados,

como pedra basilar de sua vaidade,

deixada atrás sua primeira mocidade,

armas de guerra seus mamilos castanhados.

Eu que pensava ser contido,como alados

foram meus sonhos de ousadia e de ansiedade,

mas como me atrevi a lhe pedir saudade,

ela tomou-me para sempre em seu cuidado.

 

Mas que não haja qualquer suspeita de vanglória:

sabe Inanna, a deusa antiga, que foi ela,

que por vezes sem conta me atraiu.

 

Foram seus seios o início de minha história,

como me dominou o anseio da procela,

quando me arpoou e o coração me abriu!

 

CONQUISTADORA II

 

Não me atrevi a pedir-lhe nada mais.

Eram seus versos de sabores singulares

que me arpoaram ainda mais, rijos altares,

para essa deusa a executr ritos fatais.

Sabem os deuses seus dotes naturais,

mas nada deles agrilhoara meus azares,

minha mente se encantou, sem mais pesares,

seu corpo apenas foram pecados capitais.

 

Meses e anos tão somente de amizade,

trocando versos que ela até mostrava

ao namorado que dela então se galardoava,

 

mas que jamais soube lhe dar felicidade.

Mais era a música que comigo ela escutava,

dançando em mim os beijos que não dava.

 

CONQUISTADORA III

 

Até aquela noite de total metempsicose,

em que osculou-me inesperdamente;

já tinha há muito conquistado meu presente,

mas nessa noite de mim sorveu a última dose.

De minhas amigas a derribar qualquer osmose,

só imagino o triunfo em seu semblante,

por meu ardor que ela deixara delirante,

foi mãe e esposa nessa total meiose.

 

Não permitindo ao amor que então senti,

jamais de novo a desculpa esfarrapada

de que sua alma fosse todo o meu desejo!

 

Que nessa noite inteiro eu me verti,

ante sua boca de alcaçuz, beijo acirrado

que a própria alma devorou-me nesse beijo!

 

COMPLETAÇÃO I – 12 ABRIL 2024

 

Passou-se a noite e a luz de um sol nublado

se me esgueirou por entre as grades da janela.

Estou só no escritório.  Sei minha bela

bem perto e longe se encontra do meu lado.

Cada estranha memória de novo se congela,

como um tris em corte rápido e extremado,

a vidraça que me toma em seu rasgado,

horas ainda até que veja minha donzela...

 

que donzela não é, sabem os deuses:

só a conheci quando já tinha trinta anos,

forte em namoro com algum de qualidade

 

muito maior que a minha e deu-lhe adeuses!...

Foi um amor em mim insuflado por arcanos

e nem sequer a desejava, é bem verdade!...

 

COMPLETAÇÃO II

 

O que eu queria era a magia de seus versos,

que me encantaram a mente e o coração.

Sabem os deuses realizar composição,

mas sem querer-lhe dedilhar os terços;

sabem os deuses meus motivos tão diversos,

agrilhoando cada palma, cada mão,

perdido estava em ergástulo malsão,

minha força gasta em deveres tão dispersos...

 

Ela sofrera já. Fora sempre solitária,

por mais que se perdesse em alheios braços...

Sabem os deuses minha caleidoscópica emoção,

 

que me rasgava rm minha senda mulifária.

Vesti seus versos na alma de meus traços,

sem a mim mesmo confessar a minha paixão!

 

COMPLETAÇÃO III

 

Deusas antigas, hoje santas e madonas,

como soubestes nos então submeter!

Do ideal monoteísta até esquecer,

a terra e a mãe a erguer-se nessas lonas...

Com as quais sacerdotes  e hábeis marafonas

as souberam entronizar em seu poder,

mudados nomes, nos altares a se erguer,

minha voz arcana, como em mim ressonas!

 

Assim, inteiramente foi-se a noite,

a luz mortiça greta minha vidraça;

ela está perto, em seu leito sem luar

 

e a mim o ordálio me corta em cada açoite,

vaga minha vida, sem que esse ardor me faça

descer a escada em meu astral a palpitar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário