PENEDIA I – 10 ABRIL
24
(MARY PICKFORD, grande dama do cinema mudo)
Ainda mantenho essa
visão do pedregulho
que um dia a sua rocha
ser ela afirmou,
flor desse espanto com
que me degustou,
sem ter espera ou
noção de tal esbulho,
sua força altiva
reduzida a entulho,
até que ponto ele a
desapontou?
Com tanto alarde sua
voz ele escutou,
mas somente uma vez
estuou o orgulho.
Hoje perdura simples
grão de areia,
que ainda palpita na
praia de sua alma
e insiste em escrever
na longa praia...
Pequeno fogo seu
coração ainda ateia,
que ela abana com
gentileza e calma,
preso em seus dedos,
sem permitir que caia!
PENEDIA
II
Pobre
grãozinho na praia do infinito,
rubro
infinito de seu forte coração.
tão
atrevido em oferecer-lhe proteção,
calhau
inchado na pretensão do grito,
por
trás do orgulho somente um seixo aflito,
amor
imenso mascarado em ilusáo,
amor
pequeno a suplicar sua pretensão,
derretido
em seu ardor esse aerolito!
Em
sua vaidade pretendendo ser poeta,
fingiu
ser magma não mais que luz de fósforo,
que
jamais lhe comprará mansão no Bósforo,
sua
única conquista essa dileta
luz
perenal incapaz de superar,
sequer
sua imagem atrever-se a cobiçar.
PENEDIA
III
Essa
sua deusa a receber tantos orantes,
nunca
a algum deles respondendo a prece,
apenas
sobre mim é que sua tulpa desce,
nessa
intinção de seus dotes mais constantes.
Os
dois lados do hexágono brilhantes,
essas arestas em que minha pele desfalece,
minhas
reentrâncias sem luz que amor não cesse
de
alimntar por encarnações distantes.
Passados
anos, calhau depois de seixo,
foi-se
acrescendo o pobre pedregulho,
chegou
a pensar que em penedia transmutasse.
Mas
nestes versos minha confissão eu deixo:
tudo
quanto em mim existe e que me orgulho,
cacos
de jóias que sobre mim soprasse!
CONQUISTADORA I – 11
ABRIL24
Ela mostrou-me os
seios empinados,
como pedra basilar de
sua vaidade,
deixada atrás sua
primeira mocidade,
armas de guerra seus
mamilos castanhados.
Eu que pensava ser
contido,como alados
foram meus sonhos de
ousadia e de ansiedade,
mas como me atrevi a
lhe pedir saudade,
ela tomou-me para
sempre em seu cuidado.
Mas que não haja
qualquer suspeita de vanglória:
sabe Inanna, a deusa
antiga, que foi ela,
que por vezes sem
conta me atraiu.
Foram seus seios o
início de minha história,
como me dominou o
anseio da procela,
quando me arpoou e o
coração me abriu!
CONQUISTADORA
II
Não
me atrevi a pedir-lhe nada mais.
Eram
seus versos de sabores singulares
que
me arpoaram ainda mais, rijos altares,
para
essa deusa a executr ritos fatais.
Sabem
os deuses seus dotes naturais,
mas
nada deles agrilhoara meus azares,
minha
mente se encantou, sem mais pesares,
seu
corpo apenas foram pecados capitais.
Meses
e anos tão somente de amizade,
trocando
versos que ela até mostrava
ao
namorado que dela então se galardoava,
mas
que jamais soube lhe dar felicidade.
Mais
era a música que comigo ela escutava,
dançando
em mim os beijos que não dava.
CONQUISTADORA
III
Até
aquela noite de total metempsicose,
em
que osculou-me inesperdamente;
já
tinha há muito conquistado meu presente,
mas
nessa noite de mim sorveu a última dose.
De
minhas amigas a derribar qualquer osmose,
só
imagino o triunfo em seu semblante,
por
meu ardor que ela deixara delirante,
foi
mãe e esposa nessa total meiose.
Não
permitindo ao amor que então senti,
jamais
de novo a desculpa esfarrapada
de
que sua alma fosse todo o meu desejo!
Que
nessa noite inteiro eu me verti,
ante
sua boca de alcaçuz, beijo acirrado
que
a própria alma devorou-me nesse beijo!
COMPLETAÇÃO I – 12 ABRIL 2024
Passou-se a noite e a luz de um sol nublado
se me esgueirou por entre as grades da janela.
Estou só no escritório.
Sei minha bela
bem perto e longe se encontra do meu lado.
Cada estranha memória de novo se congela,
como um tris em corte rápido e extremado,
a vidraça que me toma em seu rasgado,
horas ainda até que veja minha donzela...
que donzela não é, sabem os deuses:
só a conheci quando já tinha trinta anos,
forte em namoro com algum de qualidade
muito maior que a minha e deu-lhe adeuses!...
Foi um amor em mim insuflado por arcanos
e nem sequer a desejava, é bem verdade!...
COMPLETAÇÃO II
O que eu queria era a magia de seus
versos,
que me encantaram a mente e o
coração.
Sabem os deuses realizar composição,
mas sem querer-lhe dedilhar os
terços;
sabem os deuses meus motivos tão
diversos,
agrilhoando cada palma, cada mão,
perdido estava em ergástulo malsão,
minha força gasta em deveres tão
dispersos...
Ela sofrera já. Fora sempre
solitária,
por mais que se perdesse em alheios
braços...
Sabem os deuses minha caleidoscópica
emoção,
que me rasgava rm minha senda
mulifária.
Vesti seus versos na alma de meus
traços,
sem a mim mesmo confessar a minha
paixão!
COMPLETAÇÃO III
Deusas antigas, hoje santas e
madonas,
como soubestes nos então submeter!
Do ideal monoteísta até esquecer,
a terra e a mãe a erguer-se nessas
lonas...
Com as quais sacerdotes e hábeis marafonas
as souberam entronizar em seu poder,
mudados nomes, nos altares a se
erguer,
minha voz arcana, como em mim
ressonas!
Assim, inteiramente foi-se a noite,
a luz mortiça greta minha vidraça;
ela está perto, em seu leito sem
luar
e a mim o ordálio me corta em cada
açoite,
vaga minha vida, sem que esse ardor
me faça
descer a escada em meu astral a
palpitar!
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