A RAINHA DO MAR
V
Vendo um
retrato feito por pintor
E escutando as
descrições dos mensageiros,
Dom João
assentiu com seu valor,
Pois de fato, os anos passam, bem ligeiros
E já cansara de escolher mulher
Que o satisfizesse e também aos estrangeiros...
Sendo aquela a
mais formosa que puder
Encontrar de
seu reino nos rincões,
Jurou casar-se,
sem a ver sequer...
Foi uma esquadra a confirmar suas intenções,
Levando a carta, com a promessa escrita,
Esclarecendo totalmente as posições
E vendo o pai
ser verdadeira a dita,
Concordou que a
levassem, afinal,
Dando a seu rei
a filha tão bonita...
Levou consigo seu minúsculo enxoval,
Tecido às pressas por sua mãe e amigas...
Mas devido à sua pobreza natural
Tinha a família só
roupas muito antigas,
Desgastadas pelo uso e
bem grosseiras,
Que na corte
provocariam troça e figas...
Rendia pouco o produto de suas jeiras
E eram tantos os que delas comiam!...
Monte Escarpado localizado nas fronteiras
Entre a nação e outros
reinos que existiam.
E assim Inês partiu,
só acompanhada
Por três aias, que da
capital lhe enviam...
Era uma jovem gentil, bem educada,
Mas não conhecia as maneiras cortesãs;
De ensiná-las cada aia encarregada...
Mas as
precauções acabaram sendo vãs,
Porque
encontraram uma forte tempestade,
Que persistiu
por três noites e manhãs...
As caravelas, das ondas à vontade,
Umas das outras, aos poucos, se afastaram
E a de Inês, para maior infelicidade,
Com violência
as vagas naufragaram,
Saindo em botes
tripulantes e soldados
E Inês em
outro, mas as aias se afastaram!
Chegou o bote à praia, em alcantilados
Rochedos, trazendo Inês e uns marinheiros
E nos penhascos ficaram isolados!
No outro dia,
chegaram uns montanheiros,
Que os alçaram
para além dos montes
E os acomodaram
nas casas de chacreiros...
A RAINHA DO MAR
VI
Foi Dona Inês
por uma velha recebida,
Que lhe
emprestou umas roupas a trocar;
Mas ao saber
que essa jovem acolhida
Era a noiva do rei, sua inveja a dominar,
Logo a levou para
conhecer a horta,
Para num poço fundo a empurrar!...
Com as mesmas
roupas ajeitou sua filha torta,
Mais feia e
nariguda que o pecado,
Calculando que
Inês já estava morta!...
Com um véu grosso seu rosto bem tapado
E sem nada falar, sob o pretexto
De que ficara com o rosto todo inchado
E por uns
tempos, só falaria por gesto...
E num barco
diferente essa impostora
Embarcou, nesse
truque desonesto...
Depois que foram, chegou a malfeitora
Até a boca do poço; e descobriu
Viver ainda Dona Inês, gelada embora!
Para evitar ser
descoberta, decidiu
Puxá-la bem depressa
para fora;
E como estava
desmaiada, desferiu
Com as longas unhas, dois golpes nessa hora,
Ambos os olhos da pobrezinha perfurando!
E a cabeça lhe raspou, sem mais demora!
Logo a seguir, braços
e pernas amarrando,
Ela a encerrou dentro
de um caixão,
Sobre a beira do
precipício o derrubando!
Sem ter por ela mercê nem compaixão,
Porém querendo assim só garantir
Da própria filha a feliz coroação!...
Mas as ondas do
mar, no seu bulir,
O ataúde
inteiramente transportaram
Até a capital
do reino ele atingir!...
Depois, dois pescadores o puxaram
Para seu barco e, na maior surpresa,
A pobre moça cega ali encontraram!...
Enquanto isso,
a esquadra já chegara
E a pouco e
pouco, junto ao porto se reuniu;
Tão somente um
dos navios que naufragara...
O almirante, em desespero, a não cumprir
A missão de que seu rei o incumbira,
A culpa inteira do sinistro a assumir...
Mas lentamente,
toda a gente se reunira
E nem um único
marinheiro perecera,
Coisa bem rara
quando a tormenta gira!...
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