VLADKO E LODNISSA XV – 23 jan 2023

 

Vladko seguiu à risca as instruções

 e realmente a princesa veio a bordo,

quando zarpou sem nem se dar acordo,

aos artigos dando plenas atenções

e ao perceber de Vladko as intenções,

de dentro do capuz retirou um tordo,

que lançou pela amurada no rebordo,

para ao rei avisar suas más intenções.

 

Então o rapaz a sua águia convocou

pelo expediente de queimar-lhe a pena,

como a fada-madrinha lhe ordenara,

que do tordo de imediato se apossou,

fazendo dele uma refeição amena,

que a intenção da princesa contrariara.

“Como você fez isso, feiticeiro?”

“Apenas sigo as ordens de meu rei.”

“Queimar primeiro o remígio da águia observei,

Também isso seu rei lhe ordenou primeiro?”

“O rei só espera o resultado derradeiro,

se depender de sua vontade, eu morrerei,

contudo as suas ordens cumprirei,

com minha coragem e o engenho mais ligeiro!”

 

“Mas o que espera, afinal, seu rei de mim?”

‘Nada sei, só me ordenou capturá-la...”

“E então lhe deu este barco enfeitiçado?”

“Não, minha senhora, de forma alguma foi assim,

prova minha dignidade, mas sem valorizá-la,

de outro modo consegui ser transportado.”

Disse a princesa: “Meu nome é Kalazenta.

Qual é o seu?” “Sou Vladko, simplesmente.”

“Pois me parece um cavaleiro bem valente,

mas não me entregarei sem resistência,

certa magia por igual em mim se assenta

e ainda posso ser bastante impertinente.”

“Acredito na senhora, totalmente,

já percebi a extensão de sua potência.”

 

“Quem foi que o advertiu de meu poder?”

Porém Vladko preferiu ficar calado.

“Está certo,” disse ela.  “Veja bem:”

Tirou um calhau que no seio pudera esconder

que com um rápido gesto, no mar foi arrojado.

E de imediato, se encalhou o galeão também.

“Como está vendo, seu barco está encalhado:

só poderá se mover, se for de volta

para o castelo em que de novo serei solta

e por meu pai será decerto degolado!

Vladko, contudo, não se deu por derrotado

e a escama lançou sobre a água revolta;

vendo a pedrinha em que a nave estava envolta,

o peixe nela se lançou em veloz nado.

 

E a engoliu com a maior facilidade,

o grande barco prontamente deslanchou

e o mar seguiu cortando velozmente.

Kalazenta se encheu de ferocidade

e uma terrível borrasca em torno provocou,

à qual o barco resistiu galhardamente.

 

VLADKO E LODNISSA XVI – 24 jan 2023

 

E Kalazenta, após tanta frustração.

pôs-se a gritar e a espernear em sua impotência

e logo o balanço do barco, sem leniência,

um forte enjoo lhe provocou sem solução.

“Vladko, só você pode ser minha salvação:

aporte à fonte da Mogyar Benemerência,

só com sua água me recobrarei deste pendência

ou morrerei nesta terrível situação!...”

 

Só que ela estava apenas a fingir,

para forçar Vladko à praia retornar,

mas ele soprou a pluma para o ar

e prontamente a pomba fez surgir,

com uma concha de água a transportar,

com a qual Vladko seus lábios foi ungir.

“Vejo que é realmente um bruxo poderoso,

de forma alguma me casarei com seu rei,

és o único homem com quem me casarei,

juntos dominaremos sobre um reino portentoso!”

“Meu rei, antigamente foi bom e generoso,

Senhora Kalazenta e para ele a levarei,

mesmo sabendo que sua recompensa perderei,

mas a ele obedeço, como servo valoroso!”

 

“Caro Vladko, caso se casar comigo, 

não irá mais precisar de temer esse tal rei,

meu pai lhe dará até mesmo a sua coroa!”

“Minha senhora, estará sob meu abrigo,

porém consigo não me comprometerei,

sois muito bela, mas não será uma coisa boa!”

“Mas por que firme recusa a minha proposta?

Você não é forte o bastante para poder enfrentar

qualquer injustiça que ele tente te aplicar?”

“Minha senhora, a Princesa Lodnissa está disposta

a se casar comigo e qualquer coisa me desgosta

que não seja minha união com ela completar;

é só por isso que a seu pai me vou curvar,

cuja vontade ela também por mim arrosta!...”

 

“É uma pena, mas se for assim, não insistirei,

mas talvez disso você vá se arrepender,

você não faz ideia do que eu seja realmente.”

“Infelizmente, eu nunca a amarei,

só com Lodnissa eu poderei viver

e sei que ela também me ama ternamente!”

Mas quando Kalazenta chegou ao castelo,

exigiu ser libertada altivamente.

“Cara princesa, eu a respeito grandemente,

mas só a devolvo mediante um resgate belo!”

“Então, Senhor Rei, agora faço-lhe um apelo,

que me case com esse Vladko prontamente!

Ele ofendeu a minha pureza plenamente,

só me desposando devolverá o meu desvelo!”

 

Porém Vladko desmentiu-a totalmente:

“Sempre a tratei com o maior respeito

e nossa viagem foi de curta duração!...”

“Você prendeu-me na cabine de insolente!”

“Mas que cabine?” – disse Vladko, sem jeito.

“Na cabine principal do seu galeão!...”