O RATINHO BRANCO
(Folklore inglês, versão poética de William Lagos, 25 NOV
12)
O RATINHO BRANCO I
Segundo contam, em tempos que lá vão,
Em um condado nas plagas da Inglaterra,
Vivia no campo uma jovem muito bela
A quem os pais chamaram Jenny Martin.
Era graciosa, mas pobre, essa donzela,
Morava num casebre junto à serra,
Muito modesta em seu vestido de algodão.
Sempre penteara seus louros cabelos,
Contemplando na água azul o seu reflexo
Sobre a lagoa, sem ondas agitadas,
Azuis seus olhos ainda mais que o céu,
De belo porte e com feições rosadas,
E mais de um camponês por seu amplexo
Ansiava nos seus sonhos e desvelos.
Embora fosse jovem tão modesta,
Adormecera a ouvir belas histórias
E sonhava com um príncipe encantado
Que a levaria para ser a sua rainha...
E mesmo o camponês mais arrumado
Nem de longe competia com tais glórias:
Imaginava ser castelo uma floresta...
Não obstante, à sua mãe muito ajudava,
Embora fosse pequena a sua choupana,
Levava baldes para tirar água do poço,
Para o fogão sempre ia cortar lenha,
Ainda sonhando encontrar um belo moço,
Dono das terras em que erguera sua cabana,
Sem arrendar o torrão que trabalhava.
O RATINHO BRANCO II
Seu pai, porém, era só um arrendatário
Que abrira clareira no meio da floresta
Pagando renda pelo campo trabalhado...
Porém um dia, indo colher amoras,
Encontrou um ratinho branco machucado,
Sendo acossado por alguma feroz besta:
Ser devorado seria em breve o seu fadário...
De compaixão seu peito comovido,
Os braços estendeu para o ratinho,
Sua presença espantando o inimigo,
Uma doninha ou talvez algum texugo;
Para melhor protegê-lo do perigo,
Ela enrolou o trêmulo bichinho
Na barra do avental de seu vestido.
Desceu com ele até a margem do rio,
E ali lavou com cuidado sua ferida
Para a seguir improvisar uma atadura,
Com uma tira que rasgou da própria saia;
Deu no ratinho um beijo, com ternura,
Mas ele escapuliu, sem despedida,
No mato se enfiando, em calafrio!...
Jenny Martin suspirou, cheia de pena,
Porque tinha se encantado com o bichinho
E até queria criar, mas era arisco!
Encheu de amoras seu cesto até a beirada;
Nessa floresta não temia qualquer risco
E bem depressa encontrou o seu caminho
Até chegar à sua choupana bem pequena...
O RATINHO BRANCO III
Mas passada uma semana e mais três dias
Mais uma vez encontrou o seu ratinho...
Estava agora encolhido num buraco,
De que o tentava arrancar uma coruja...
Ela espantou-a, balançando o saco
Que antes enchera com graveto e espinho,
Sem temer da ave agourenta as bruxarias...
Mas quando veio em busca do bichinho,
Descobriu que já sumira totalmente...
“Pobrezinho,” ela pensou, “está com medo...
Talvez pense que eu lhe possa fazer mal.
Ratinho Branco, escuta o meu segredo:
Se eu te pegasse, ficaria bem contente
Em te criar como se fosses meu filhinho!...”
Pois não é que daí a outra semana,
Jenny Martin viu o ratinho, novamente,
Desta vez sendo acossado por um cão!
Sem ter medo, ela espantou o animal,
Com um galho que usou como bastão;
E então pegou o animalzinho, suavemente,
Para levá-lo consigo até a choupana...
“Meu querido, desta vez não fugirás,”
Falou Jenny, e com cuidado o segurou.
“Vou-te levar e irás morar comigo...
Repara que esta já é a terceira vez
Que te salvo da morte e do perigo...”
E com carinho contra o peito o apertou:
“Cá na floresta bem depressa morrerás...”
O RATINHO BRANCO IV
Mas Jenny Martin teve então uma surpresa:
O ratinho branco deu um guincho e lhe falou.
“Boa donzela, também lá sofro perigo,
Vocês não têm uma gatinha caçadora...?
Entendes bem porque não quero ir lá
contigo?...”
Jenny Martin compreendeu mas discordou,
Ao ver-lhe os olhos brilhando de esperteza...
Pois em seu desapontamento ficou triste.
“Terei cuidado... Tu irás dormir comigo...”
“Não importa, a sua gatinha é caçadora...”
“Mas eu prometo que lhe deixarei bem claro,
Desde a chegada, na primeira hora,
Que você será minha mascote e meu amigo;
Tenho certeza que em te caçar não mais
insiste...”
“Sei bem, minha jovem, que você gosta de mim,
Porém é certo que dentro de sua casa
Não poderá com segurança me esconder...
Tão logo adormeça, em seu sono gentil,
Sua gatinha vai dar bote e me comer
E seu estômago será minha cova rasa...
Nem meu rabinho encontrarás, enfim...”
“Se bem me queres, peço então me leves
Até o oco principal do meu carvalho,
Porque só lá me encontrarei em segurança,
De que saí só por antiga tradição...
Eu lhe suplico então, bela criança,
Que me coloque no alto desse galho,
Vai-lhe custar tão só momentos breves...”
O RATINHO BRANCO V
Jenny Martin respondeu, ainda a hesitar:
“Mas se a coruja vier te procurar?...”
“Não, querida, em nosso oco ela não vai
E ainda que vá, tenho lá quem me defenda...”
“Mas meu ratinho, e se de novo você cai?”
“Doravante, o meu povo há de ajudar,
No meio deles, nenhum mal me irá encontrar.”
“Pois, na verdade, eu sou o Rei dos Ratos;
Não há perigo de me perder de novo,
Mas sempre hei de ser a você agradecido,
Pois minha vida três vezes me salvaste...
Eu saberei me mostrar reconhecido
E terás sempre a ajuda do meu povo,
Pois a ninguém nos mostramos nunca ingratos.”
Deste modo, três vontades lhe darei,
Por mais difíceis que lhe pareçam ser.
Mas primeiro, pense bem no seu desejo,
Porque lhe darei qualquer coisa que me peças,
Mas calcule com cuidado o seu ensejo,
Que seus anseios possam bem satisfazer
E que estejam à altura de algum rei!...’
Jenny Martin então deixou-se convencer,
Foi caminhando até o velho carvalho
E deparou com multidão de ratos
Brotando sem cessar do enorme oco...
Tirou os tamancos, subindo com recatos
E lá em cima, depôs o rei no galho,
Para seu bando, em festejo, o receber!
O RATINHO BRANCO VI
Jenny Martin não conseguia compreender,
Ao ver a vasta rataria em aclamação
Pelo retorno feliz do jovem rei:
“Mas por que não foram eles ajudá-lo?”
“É um requisito de nossa antiga lei:
Deve o rei demonstrar sua adequação
Durante um mês, sem ninguém o proteger.”
“Só no caso de haver sobrevivido,
De um jeito ou de outro, receberá a coroa,
Sendo aclamado por toda a rataria!...
Com sua ajuda, conquistei direito ao trono,
Pois nenhum rato auxiliou-me nessa via
E doravante terei vida longa e boa,
Portanto irei demonstrar-me agradecido!”
“Quando você de qualquer coisa precisar,
Venha sozinha até o meu carvalho,
Para três vez pelo nome me chamar...”
“Mas eu não sei o seu nome!...” disse Jenny.
“Basta três vezes ‘Rei dos Ratos’ exclamar,
Que eu marcharei até a ponta deste galho
E a atenderei por três vezes, sem negar!”
Jenny Martin então voltou para a choupana,
Considerando se pedia um bom vestido
Ou um colar, talvez sapatos delicados
Ou até mesmo um belo espelho de cristal!...
Mas contemplou aqueles campos arrendados,
Todo o trabalho que seu pai tinha sofrido
E então notou quão pequenina era a cabana!
O RATINHO BRANCO VII
Ela passou a noite inteira sem dormir,
Por um melhor presente maquinando:
Afinal,
eu salvei mesmo a vida dele!
Eu vou
pedir bastante; mas se ele não puder,
Eu
deposito a minha confiança nele;
Aceito o
que me der e vou guardando
Mais
dois desejos, até saber o que pedir!...
Porque Jenny realmente era modesta,
Mas começava a sentir certa ambição.
E no outro dia se levantou bem cedo,
Pegou seu cesto para colher groselhas,
Sem contar a mais ninguém o seu segredo.
Mas como
explicar as coisas que me dão?
Não vou
dizer que as encontrei pela floresta!
Mas assim que no carvalho ela chegou,
Não hesitou em chamar o seu ratinho,
Sua voz espantando a passarada...
“Rei dos Ratos!...” por três vezes insistiu
E sem demora, uma corte aparelhada
Apareceu, acompanhando seu reizinho.
“Que me queres?” de imediato perguntou.
Jenny Martin encheu-se de coragem:
“Perdão, Majestade, mas o senhor me prometeu
Que três desejos meus me atenderia...
“É bem verdade e já lhe dei a minha palavra.”
“Meu pai é arrendatário e noite e dia
Trabalhando a terra de outrem padeceu,
Nossa cabana é pobre e sem aragem...”
O RATINHO BRANCO VIII
“Se Vossa Majestade se agradar,
E bem naturalmente, se puder,
Eu queria que me pai fosse granjeiro
E nossa casa arejada e bem maior,
Com um pomar de macieira e limoeiro
E animais de puxar e de comer,
Mais roupas fortes para se trabalhar...”
“Justo é,” respondeu o Rei dos Ratos.
“Está feito!” exclamou, logo a seguir.
Satisfiz já teu primeiro desejo!...”
E deu-lhe as costas, voltando para o oco.
Quando a garota quis soprar-lhe um beijo,
Só viu o rabinho branco já a sumir...
E então notou que estava de sapatos!
Tinham sumido seus tamancos de madeira,
Trazia outras roupas, em lugar das velhas,
Feitas de pano forte e resistente,
Não via o menor sinal de seus farrapos!
E retornou para casa, bem contente,
Viu que a mata se encolhera e havia ovelhas,
Campos plantados e pés de laranjeira!...
Havia pereiras, abacates e figueiras
E lá no meio de uma grande plantação,
Uma casa grande, de telhado avermelhado,
Feita de pedra, confortável e espaçosa!
E então achou seu pai, acompanhado
Por empregados, examinando a brotação
Das belas uvas que nasciam das parreiras!...
O RATINHO BRANCO IX
“Sua bênção, pai,” disse Jenny, humildemente.
“Deus te abençoe, minha filha,” respondeu,
Como se nada tivesse sido transformado.
Entrou na nova casa, ampla e arejada;
Sua mãe usava uma roupa diferente,
Com empregadas sob o comando seu...
Beijou a filha muito alegremente...
Então
ninguém percebeu toda a mudança?
Pensou Jenny... Como se
fosse sempre assim...?
Subiu a seu quarto e se enxergou num espelho,
Vendo que estava mais bonita do que nunca!
Só era igual seu guarda-roupa velho,
Cheio de trajos novos, com perfume de
jasmim...
Pôs-se a dançar, toda cheia de esperança...
Pois, de repente, daquela frase se lembrou:
“Satisfiz já teu primeiro desejo!...”
Portanto, tinha mais dois para pedir!
Mas eu pensava
já ter gasto os três!...
E encontrou joias simples a luzir
Numa gaveta...
E nem esperou pelo meu beijo,
Depois
que todo o meu destino transformou!
Cruzou uma porta e descobriu um banheiro,
Em que água corria, quente e fria...
Mas
nunca vira qualquer coisa assim!...
A água
do banho se ia buscar de balde!...
As maravilhas pareciam não ter fim,
Estava tonta enquanto se vestia
Para o jantar, com o maior esmero!...
O RATINHO BRANCO X
Encontrou uma longa mesa de jantar:
Com os pais se assentavam os criados
Enquanto vinham as criadas e os serviam.
Aos poucos, foi lembrando de seus nomes,
Eram gente da aldeia em que viviam,
Com seus tamancos e trapos desgastados,
Seu pai e mãe em bem melhor trajar...
E embora estivesse tão curiosa,
Jenny Martin não se animou a perguntar...
Todos agiam de modo natural,
Se
indagasse, que pensariam dela...?
E quando a refeição chegou ao final,
Sua mãe a chamou para o tear,
No qual bordavam tapeçaria formosa...
Ela escutou as ordens que se pai
Determinava para o dia seguinte,
Seus empregados a ouvir atentamente.
Então as criadas à mesa se sentaram,
Como era praxe normal daquela gente,
Sem a menor reclamação ou acinte,
Numa rotina que bem natural lhes cai...
Ficou auxiliando na tapeçaria,
Sabendo exatamente o que bordar,
Nesses temas que lembrava, de repente,
Somente interrompidos desde a véspera.
Uma empregada chegou então, humildemente:
“Chegou o Augusto para lhe falar”,
Como se fosse alguém que conhecia...
O RATINHO BRANCO XI
E lá na sala estava um camponês
Que lhe fazia a corte, anteriormente,
Na mão a lhe trazer buquê de flores,
Que ela aceitou, um tanto embaraçada...
Mas quando veio o rapaz falar de amores,
Com as velhas botas que usava anteriormente,
Jenny Martin o despediu, com altivez...
Seu pai falou que era um bom trabalhador,
Quando almoçavam juntos, no outro dia,
Porém a mãe lhe prometeu melhor partido
E, dito e feito, nessa noite apareceu
O próprio filho do senhor que havia vendido
A granja que agora a eles pertencia,
Para pedir sua mão ao lavrador...
O pai estar de acordo respondeu
Mas que da filha dependia sua vontade.
Jenny Martin pediu então para pensar
Porque, afinal, mal e mal o conhecia!...
E o rapaz rico foi forçado a concordar.
Jenny Martin encheu-se de vaidade
E seu segundo desejo concebeu...
Entrou no mato, na manhã seguinte
E chamou por três vezes o ratinho:
“Rei dos Ratos! Atende ao meu pedido!”
E logo veio o bichinho, com um cetro,
De manto branco seu corpo revestido.
“Que me queres?” perguntou, devagarinho,
Acompanhado talvez por outros vinte...
O RATINHO BRANCO XII
Mas a garota não se deixou intimidar:
“Vim a fazer-lhe meu segundo pedido...”
“E qual será?” indagou-lhe o animal.
“Quero morar em magnífica mansão,
Da propriedade a ama natural,
Com um noivo nobre como prometido
E tudo o mais que possa me agradar...”
“Justo é,” respondeu-lhe o bom ratinho.
“Está feito!” e para seu oco retornava,
Antes que Jenny lhe pudesse agradecer...
Usava agora roupas muito ricas,
Que só à nobreza poderiam pertencer...
Na orla da mata, um pajem a esperava,
Com um cavalo ajaezado em cor-de-vinho...
Jenny montou com a maior facilidade
E voltou para sua casa, acompanhada
Pelo pajem e mais três guardas de libré,
Todos agindo de maneira natural.
Trazia sapatos de camurça em cada pé,
Uma tiara na testa e ainda enfeitada
Por muitas joias de grande qualidade.
Havia jardins e grandes plantações,
Por muitos camponeses trabalhadas
E lhe tirou o chapéu o capataz,
A quem Jenny respondeu com leve aceno.
Subitamente, reconheceu o rapaz
Que ainda na véspera proferira enamoradas
Palavras tolas em suas tontas pretensões...
O RATINHO BRANCO XIII
O pajem ajudou-a a desmontar,
Seu cavalo pegou o palafreneiro
E o mordomo a recebeu na escada...
Após tomar um banho perfumado,
Desceu para o jantar, acompanhada
Por duas aias e reparou, ligeiro,
Que todos se levantaram a saudar...
Seus pais lhe pareceram avelhantados
Mas em sua mesa só sentavam cavalheiros...
Os criados chegavam com terrinas
E ninguém lhe parecia surpreendido.
Após deliciar-se com comidas finas,
Foram dançar no salão passos ligeiros,
Por uma orquestra de libré acompanhados...
Após a dança, um jovem aproximou-se;
Reconheceu ser o filho do granjeiro
E recusou-lhe o pedido, sem pensar.
Seu velho pai pareceu desapontado,
Porém sua mãe não demorou a aprovar:
“Melhor partido será um cavalheiro!”
E seu demora o pretendente apresentou-se.
Pois dito e feito, logo no outro dia,
Chegou o filho do duque, em sua carruagem,
Desembarcando no pátio da mansão,
Acompanhado por garbosa comitiva.
Foi a seu pai para pedir-lhe a mão
E sem se maravilhar com tal miragem,
Querer pensar novamente ela insistia...
O RATINHO BRANCO XIV
E Jenny Martin, que já fora tão modesta,
Encheu-se de vaidade e de ambição!...
Ainda
tenho direito a um pedido,
E vou
exigir morar em um castelo!...
No outro dia, mal o sol havia nascido,
Partiu para a floresta, em procissão
De cavalheiros, qual se fosse para festa!
E achegou-se ao carvalho, bem depressa,
Para chamar de novo o seu ratinho,
Deixando a escolta à espera na clareira.
“Rei dos Ratos!” chamou, com insistência,
Veio uma escolta com face sobranceira,
E em ricas vestes, surgiu o bom reizinho,
Cuja paciência, a bem dizer, não cessa!...
“Que me queres?” de novo lhe indagou.
“Agora quero morar é num castelo!...”
“Justo é!” disse o rei, sem nem piscar.
“Eu prometi que atenderia três desejos...
Está feito!” e tornou a se virar,
Sem outro olhar para seu rosto belo.
E seu aspecto novamente se mudou.
Em vez do bosque, estava numa aleia
E a ajudaram a subir em sua carruagem
Os seus lacaios de linda libré;
Cem guardas de armadura a acompanharam
E mais duzentos arqueiros, indo a pé.
Além das aias na mais bela roupagem,
Numerosos cavalheiros em plateia...
O RATINHO BRANCO XV
Seu comandante logo reconheceu,
Por ser o jovem que lhe pedira a mão,
Ainda na véspera, com grande atrevimento.
Ela queria mesmo é ser rainha!...
Sentia, contudo, um mau pressentimento,
Que no palácio demonstrou-se com razão,
Pois nem a mãe e nem o pai lhe apareceu!...
E dessa vez, se animou a perguntar:
“O meu pai e minha mãe, onde se encontram?”
E a conduziram até um monumento,
De seus pais a demarcar a sepultura...
Ela chorou, então, por um momento,
Mas sua vaidade e ambição demonstram
Que era agora a única a mandar...
E quando o duque se lhe apresentou,
Recusou-lhe o pedido, sem pensar,
Na esperança de melhor partido ainda...
Sua ambição já não achava mais limites,
Mas em resposta a tal vaidade infinda,
Um brilhante cortejo viu chegar
E da carruagem foi o rei que se apeou!...
E quando o rei pediu-lhe a mão em casamento
Desta vez nem um momento ela hesitou,
Embora fosse já viúvo e meio velho...
Mas enquanto lhe arrumavam o enxoval,
Jenny Martin foi olhar-se em seu espelho
E sua ganância novamente a dominou,
Pedindo algumas horas de adiamento...
O RATINHO BRANCO XVI
E acompanhada por belo cortejo,
Foi à floresta, para se despedir,
Já que teria de morar na capital...
Mas, de fato, era outra sua intenção
E qual se fora uma coisa natural
Foi ao carvalho mais uma vez pedir,
Esperando atendimento nesse ensejo...
Mas desta vez, só após bem longa espera,
Apresentou-se, afinal, o seu ratinho.
“Que me queres?” indagou-lhe novamente.
“Quero mandar sozinha no país,
Que eu tudo meu rei seja obediente,
Que para o mundo ele abra o meu caminho,
Que meu esposo dê-me tudo o que eu
quisera!...”
Disse o ratinho: “Três desejos prometi
E realizei as tuas três vontades.
Agora nada mais podes pedir...”
“Como não?
Pois se agora sou a rainha!”
“Não ainda, sem a boda se cumprir.
Exigiste demais, em tuas vaidades:
Também meu erro, pois demais te concedi.”
“Pois não te casarás mais com o rei
E desta forma, nunca serás rainha,
Quem tudo quer, minha jovem, tudo perde...”
E Jenny Martin sentiu o peso dos tamancos,
As roupas velhas, sem que nada herde,
Somente um cesto de groselhas ainda tinha,
Chorando embora: “Ratinho, eu te salvei!...”
EPÍLOGO
E retornou à sua choupana, devagar,
Sem palácio, sem granja e sem mansão,
Seu pai estava no campo capinando...
Soltou as groselhas, tirou água do poço,
Em suas tarefas a mãe foi ajudando,
Para depois cortar a lenha do fogão,
Acostumada, como sempre, a trabalhar...
Foi tudo
um sonho? Consigo ela pensava
E quando Augusto veio, ela o aceitou...
Da mente a história a pouco e pouco sai,
Teve seus filhos e foi até feliz,
Por muito tempo conservando mãe e pai...
E o Rei dos Ratos nunca mais achou
Nas raras vezes em que ainda o procurava...
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