LADRÃO NOTURNO
& MAIS
LADRÃO NOTURNO I – 24
set 2007
se espalha a Lua nos
cacos de garrafa
que coroam teu Muro e
que permitem
aos mosquitos suas
Larvas depositem
em nova Geração, que não
se abafa,
sob os Raios da lua de
esmeralda.
marrons e brancos,
outros Cacos deste azul
filtrado do Luar, em seu
exul
e triunfal viver, que o
Sol escalda...
mais outros cacos te
defendem da Paixão,
em muro Alto, que a teu
redor constróis,
a quem ninguém se
achega, sem Cortar-se...
e eu... deposito em
larvas de Emoção
meus Versos, em teu
muro, sob os sóis,
e fico a ver meus
Dedos a sangrar-se...
LADRÃO NOTURNO II – 01 JUL
2016
tal como o Aedes ou o
Culex te picam
e teu sangue em alimento
Vampirizam
meus versos em teu peito
Metalizam
contra a espécie de
Armadura em que repicam...
mas ao contrário de
roubar, Dignificam
aos maus Fluidos que te
martirizam
e os tomam para mim
enquanto Alisam
as Marcas encarnadas que
ali ficam.
deixam Mosquitos seu
pequeno sol vermelho,
para indicar onde foi
feita sua Pilhagem
e em poucos dias se
Recupera a pele,
mas os meus versos são
as marcas em que Ajoelho
para te dar Carinho e
vassalagem,
sem qualquer Marca que
no peito se congele.
LADRÃO NOTURNO III
sempre que um Díptero
sobre tua pele esteja
ele Demarca teu sangue
com saliva
e assim Abranda a
proteção mais viva
de tuas Plaquetas no
instante em que se enseja.
e no Momento em que teu
sangue beija,
contigo Compartilha a
sua cativa
bactéria, vírus ou fungo
que se Ativa
e tua Saúde a pouco e
pouco aleija...
nem é que seja um Inimigo,
realmente,
quer tão somente seu
Deeneá reproduzir
de tua saúde na mais
total Indiferença
que na cadeia Alimentar
se esquente,
ilusão tua de que a
possas Presidir:
dos Parasitas és
refeição intensa...
LADRÃO
NOTURNO IV
como
o Mosquito durante a noite chego
para
picar de teus olhos a Retina,
mas
não te assalto Adormecida, minha menina,
busco
primeiro a Sedução de teu apego.
com
saliva de Emoções tua alma eu rego,
caleidoscópica
Interferência na tua sina,
nem
pingo em ti a Bactéria peregrina:
somente
sonhos de Ilusões assim te lego.
e
hás de convir, sem o teu Consentimento,
jamais
Acesso alcançaria a teu olhar,
pois
sempre podes os meus Versos rejeitar,
porém
te Inundo e assim poluo o julgamento
com
uma série de Quimeras e ilusões,
teus
próprios Sonhos em novéis recordações...
LAVANDEIRO
I – 24 set 2007
estendo
Braços de prata sob a lua,
para
Lançar a ti meus sentimentos:
o
Tempo passa e a emoção estua,
sem
se importar com meus Ressentimentos.
estendo
braços de Prata à flor do rio,
para
lavar-me de teu Esquecimento:
das
Impurezas que acumula o estio,
quando
o sol Enchurrasca o firmamento...
que
meus braços de prata não Desbotam,
nem
ao cantar meus Versos; impotentes
se
tornam, mas sempre mais presentes.
pois
esses braços de prata se Intrometam
para
cercar-te em Luzes, nas frequentes
lavagens
Brancas de sangue alvinitentes.
LAVANDEIRO
II – 2 JUL 16
meus
braços se Projetam, argentinos,
como
Raios de luar impenitentes
se
Intrometem em teus sonhos, redolentes
de
um Perfume de versos peregrinos.
meus
braços se projetam, Valdevinos,
para
tua Alma conquistar, contentes,
braços
de Neve, pálidos, silentes,
tangendo
Luzes, tartamudos sinos...
meus
braços te rodeiam, na Distância,
sem
qualquer sombra de Pendor sensual,
pouco
me importa o Gênero que trazes;
para
as almas não tem Sexo importância,
nem
a conquista de um Corpo material,
mas
a Partilha das mais etéreas gazes.
LAVANDEIRO
III
teus
braços ao Plenilúnio me confortam,
braços
Etéreos também, nunca nos vimos,
as
mesmas Emoções tão só sentimos,
escondidas
dos Olhares nas comportas.
a
vida Escreve por veredas tortas,
uns
andam na Planície, outros nos cimos,
fisicamente,
não nos Atingimos,
os
Corações têm amuradas fortes...
mas
meus Braços de luar lágrimas têm,
pois
que apenas em Fantasia te encontraram,
como
saber se ao mesmo tempo estás Sonhando?
tal
qual Lágrimas de espanto tens também,
a
Derramar de teus braços, que se alçaram
para
outros braços, Gentilmente se entregando...
LAVANDEIRO
IV
porém
meus braços te Roubam as tristezas
e
teu Lacrimejar recobre as minhas
falenas
de luar, tão Pequeninhas,
alegres
a Adejar nas incertezas...
bem
que busquei te Ungir com dez belezas,
iguais
que essas dez Mágoas que continhas
e
que percebo, a cada vez que te Avizinhas,
senhora
minha, dona Ímpia das purezas...
numa
trança de luar, teu Sonho e o meu
se
revestem Mutuamente de carinho,
depois
te acordas e não lembras de mais Nada.
mas
eu, que Sinto que meu sonho é teu,
ainda
procuro Achar o teu caminho,
minhalma
inteira de Lembranças polvilhada...
ESCUMADOR i – 24 SET
2007
pois vou fazer um plágio
de mim mesmo,
fingir que ainda sou
puro, que inocentes
se encontram os meus
dedos e meus dentes,
meu fígado e meu sangue,
que anda a esmo;
eu vou fingir então que
sou poeta,
se bem que nunca o fui,
sou ferramenta,
que de escrever alheios
versos se contenta,
brotando fundo da emoção
de esteta...
porque poetas... há
tantos por ai...
plagiando-se uns aos
outros, sem vergonha,
de vestir
platitudes, sabor vago e sem sal...
prefiro apenas mostrar
quanto sofri,
que poeta não sou, mas
só quem sonha
em plagiar a si mesmo
até o final...
ESCUMADOR II – 03 JUL 16
é deste modo que
assemelho a escumadeira,
com que tiras das
panelas a impureza,
quer seja a nata ou
qualquer outra vileza,
um instrumento na mão de
cozinheira,
que a superfície
escoima, bem ligeira,
sem ao sabor ou ao odor
causar pobreza,
as bolhas fervem,
depois, serve-se a mesa
para agradar a cada boca
interesseira.
escumo os versos, após
fazer rascunho,
de seu sabor retiro a
interferência
e não permito que seu
odor me queime.
depois... digito com os
dedos o que o punho
foi rabiscando, com
certa negligência,
nessa tarefa diária em
que se teime...
ESCUMADOR III
o quanto eu sei é que
apenas nesta escuma
há tanta gente que pensa
versejar,
sem verdadeiro saber
nunca mostrar,
perdido o odor no
espocar da espuma...
tenho de livros
publicados larga ruma,
que neste e aquele sebo
fui comprar;
junto de mim eu busco os
empilhar,
antes que a obra
solitária suma...
e então percebo, olhando
tristemente
as pilhas desses livros,
às centenas,
que jamais tempo para os
ler eu acharei...
e vejo neles a verdade,
amargamente,
copiando de uns aos
outros tantas penas...
por que motivo então os
meus publicarei?
ESCUMADOR iV
que busque eu ser inteiramente
original
é um atestado totalmente
verdadeiro:
minhas próprias plantas
sementes no terreiro,
ervas daninhas em
terreno marginal.
mas não espero qualquer
coisa, bem ou mal,
falso poeta, redator
interesseiro
de fama ou glória ou eventual
dinheiro,
só para mim sendo tarefa
natural.
e vendo os versos que
redigi há tempos,
esquecidos como a escuma
descartada,
busco minha sopa
novamente requentar,
já escoimada dos antigos
contratempos,
novas ideias completando
a iniciada,
somente em mim buscando
o meu plagiar.
TRIDENTES I – 24 SET 2007
outra porta
fechou-se, pois se Ocupam
os servos do
destino, sem Cessar,
sedulamente
meus sonhos a Cortar, (*)
que nem me
inquietam mais nem Preocupam
(*) Aplicadamente, cuidadosamente.
e nem sequer
consigo me Abalar:
são dessas
coisas que vivem me Ocorrendo,
vez após
outra, num fragor Tremendo,
sem que
vitória venha me Aliviar;
pois eu
sinto pisarem meu Sepulcro,
de cada vez
que de minha vida o Fulcro
pareça
finalmente Alcandorar:
como se os
deuses apenas Balouçassem
a cornucópia
murcha e me Atiçassem
para poderem
melhor me Espezinhar.
TRIDENTES II
– 4 JUL 2016
não sei se é
Júpiter que relâmpagos me atira
ou se Netuno
me espezinha com o tridente
ou se é o
Mjölnir de Thor, equipotente (*)
ou seja o
corvo de Odin que assim me fira
(*)
O Martelo.
ou se é
Plutão que meu destino mira
ou ainda
Vulcano, em seu forjar potente,
quem sabe
Loki, o deus malevolente,
talvez
Heimdall quando em Bifrost gira, (*)
(*)
O guarda da Ponte do Arco-Íris.
quiçá um
deus Azteca, esses sedentos
de sangue a
me arrombar o Coração
ou o El
Dorado, em tão vastíssima ilusão;
Ildaba ou
outra deidade de sumérios provimentos,
já
esquecidas pela antiga Geração,
os seus
Rancores nada mais do que ilusão.
TRIDENTES
III
talvez ainda
uma potência do Hinduísmo,
a extrair-me
da Roda da Fortuna,
quando a
Sansara a melhor fado me ruma,
Deva ou
Asura de perdido saudosismo.
talvez se
imprima a influência do Budismo,
vontades a
extinguir-me uma por uma,
até que o
último desejo se resuma
a um
Nirvana, pelo qual bem pouco cismo...
poderia
acrescentar deuses Fenícios
ou Iranianas
dualistas divindades,
alguma
imagem Cananeia ou mesmo Síria,
sobre mim
Descartando os próprios vícios
ou os
Tronos, Dominações e Potestades
judeo-cristãos
em abstrusa Teologia.
TRIDENTES IV
serão os
Anjos que destarte me atormemtam?
Anjos,
Arcanjos, Tronos, Dominações,
Querubins e
Serafins em suas legiões
ou os três
Coros que em princípio nos alentam?
as
Potestades e as Virtudes nos atentam,
dão Principados
suas antigas instruções?
diz-nos São
Paulo em suas fortes citações
que são
Escudos quando os demos a nós tentam.
fato é que
sempre realizei tudo Melhor,
bem
certamente, que a Vasta maioria,
mas no
momento em que viria meu Sucesso,
alguém se Riu
de mim em vasto Ardor
e só me
Resta que também me ria
desse
Tantálico renovar de meu regresso.
PORTENTO
I – 5 JUL 16
Haverá
para mim outra canção
Que
no futuro alguém me cantará;
Pouco
me importa se um outro a escutará:
Foi
destinada para meu coração.
Seja
canção de inverno ou de verão,
Tenho
certeza de que se destinará
Direto
para mim. E a escreverá
Sem
pensar de me ver ter ocasião.
Possivelmente,
nem me conhecerá
E
muito menos terá lido o que escrevi,
Mas
comporá para mim tal melodia
Que
em me ouvido um dia tinirá,
Mesmo
depois que sua orelha já perdi,
Porém
trauteando em idêntica harmonia.
PORTENTO
II
Sempre
haverá para mim a evolação
De
uns poucos pentagramas pelo espaço;
De
certo modo, hão de cruzar o embaraço
Do
tempo, morte e vida e evolução.
Reconheço
ser possível a noção
De
que jamais escutarei esse som baço;
Talvez
de mim já não exista qualquer traço,
Capaz
de captar-lhe a vibração.
Porém
conservo em mim esta certeza
De
que a canção será um dia ouvida
E
que alguém a escutará em meu lugar
E
pouco importa que me perca na vileza
Dos
átomos a girar, nessa perdida
Tempestade
de um constante embaralhar.
PORTENTO
III
O
que importa é que a constante agitação
Outras
mentes em breve há de formar
E
de algum modo também sensibilizar
Para
o fruir de uma idêntica emoção
E
se outra boca entoar essa canção.
Com
outras notas e sem o meu frasear,
Meu
sentimento se achará nesse lugar
E
para mim irá fluir tal criação.
E
não lastimo que me chegue o fim da vida
E
nem sequer que se extinga toda a obra
Ou
que meu nome jamais seja lembrado,
Porém
que saiba que a canção será colhida
Por
entre os ventos, em que amor sossobra
E
que algum verso venha a ser então cantado!
RENOVAÇÃO
I – 6 jul 16
Haverá
para mim um novo sonho
Que
alguém, no futuro, sonhará;
Não
faço ideia se me recordará,
Se
nele um dia me encontrarei risonho.
No
atual momento, nada mais proponho
Que
exista alguém, que então celebrará
A
mesma vida que de mim se perderá
Ou
a mesma fantasia que hoje exponho.
O
que eu espero é que perdure a raça,
Com
todos os defeitos que ela encerra
E
as qualidades, que aos poucos se definem
E
se renove a exultação que abraça
Tanto
o pendor da paz como o da guerra
A
que as sementes de hoje se destinem.
RENOVAÇÃO
II
Mas
suponhamos que por um malefício
A
raça humana toda enfim desapareça,
Somente
a morte de uma guerra egressa
Ou
sua extinção oriunda de algum vício;
Ou
suponhamos cessar todo o bulício
Por
catástrofe qualquer, em que pereça
Toda
a sombra de vida e que se esqueça
Que
um dia a Terra gozou tal benefício.
Suponhamos
seja tudo algo aleatório,
Sem
que exista qualquer plano sideral
Ou
divindade feroz em seu castigo,
Ainda
acredito que haverá outro esponsório
De
que surja alguma vida mineral,
Novos
ideais a conceber consigo.
RENOVAÇÃO
III
E
se nem mesmo esta hipótese transcorra
E
só ficarem as estrelas permanentes,
Sem
as menores consciências lá presentes,
Até
que a derradeira delas morra.
Suponhamos
que a contração enfim ocorra,
Leis
naturais de efeito onipresentes,
A
provocar seus resultados imanentes:
Para
um só ponto toda a matéria escorra.
Contudo
átomos mesmo ali existirão,
Provavelmente
de extrema densidade,
Que
em algum tipo de sonho bailarão
E
nessa dança totalmente incompreensível
Vão
recriar-se, em universalidade,
Como
berço de outro sonho inexaurível.
RENOVAÇÃO
IV
Mas
me parece bem mais ponderável
Que
haja um progresso, rumo ao infinito,
Antes
que chegue o final de todo o grito
Na
consciência de uma raça memorável.
A
fé conservo no destino perdurável
Deste
genoma dentre o qual habito.
Essa
é minha crença, como o tinha dito.
Mesmo
que entenda que em parte é inviável.
Caso
eu tivesse certeza desse sonho,
Toda
a fé nele certamente perderia:
No
imponderável é que a crença se baseia.
E
reconheço totalmente ser bisonho
O
meu ideal, que no porvir se embasaria
Dessa
certeza do irreal em que creria...
RELÂMPAGO
– 6 JUL 16
Dizia
meu sogro, em tom de brincadeira,
para
explicar por que correm africanos,
em
todos os torneios soberanos,
que
a explicação seria assaz certeira:
que
havia leões correndo na sua esteira,
muito
apreciando a carne dos humanos
e
que os caçavam, bufando em seus afanos,
pela
planície, pelo monte e por ladeira!
Mas
que dizer dos corredores jamaicanos
e
de outros povos centro-americanos,
em
que leões só em zoológicos existiam?
Vai
ver roubaram bananas aos milhares
e
os cachorros lhes mordiam calcanhares,
razão
por que destarte assim corriam!...
TRAIÇÃO I – 7 JUL 2016
Não é que a vida marche mais depressa;
para mim ser mais lenta até parece;
meus dias a alongar-se em sutil prece
enquanto dos deveres não me esqueça.
Na verdade, eu planejo sem ter pressa,
ao levantar, o quanto hoje me interesse;
ao fim do dia, aquilo que não fez-se
retorna à fila, não importa o quanto meça.
Diuturnamente, tenho muito que fazer,
sem que recolha o tempo para tanto,
mas meus minutos passaram bem contados,
sem que perceba minhas horas a escorrer,
sem que me cause o paradeiro algum espanto,
ao fim do dia, quando todos já passados.
TRAIÇAO II
Houve períodos em que quase não dormia,
quando as tarefas me eram mais prementes,
horas de sono não mais que indiferentes,
se comparadas a quanto mais fazia.
Houve períodos, ao contrário, em que meu dia
queimava em sono as horas subjacentes
às minhas cobertas, em sonhos imponentes
que mais amava do que as horas que então via.
Será que quando durmo, há uma traição
contra as horas aos dias dedicadas,
algum tipo de adultério com minhalma?
Ou bem ao invés, é de dia a rebelião
contra as horas ao sono consagradas,
rancor que exista permeio o sono e a calma?
TRAIÇÃO III
Sem dúvida, pretendi algumas vezes
ser preferível, de fato, não dormir,
sendo bastante tão só subtrair
algumas horas ao tempo que me leses,
trabalho, que me tomas tantos meses:
fechar os olhos, em devaneio então partir,
os músculos a permitir descontrair,
a mente limpa dos temores que ali peses...
E após alguns minutos, relaxado,
cometida minha traição sem ter pecado,
alegremente retornando a meu labor.
Será que o sono ficará mais ressentido
por esses sonhos que jamais terá nutrido,
apesar de renovar-se o meu vigor?
REGRAS DA VIDA LXXXVIII (88) – 7 JUL 2016
Mantenha sua moral sempre elevada
em ambos os sentidos, no otimismo
e na coragem de enfrentar nova alvorada
por mais que seja imprevisto o seu modismo.
Ou no sentido de manter seu idealismo,
conservando seus padrões toda a jornada,
sem se entregar a irrequieto sexualismo,
mas disposto a agir de mente airada.
Não por respeito ao que os outros vão pensar,
nem por temer consequência de seus atos,
nem ainda por achar que age melhor,
mas para à noite um bom sono conciliar,
sabendo que aprovou todos os fatos
de que participou em igual vigor.
AMOR TRANSGÊNICO I
– 8 JUL 16
Na verdade,
qualquer linha de conduta
é somente para nós
e a nós protege;
não podemos
aceitar que alguém aleije
a posição que
escolhemos para a luta
a cada instante,
na terrenal labuta,
que nos irá
cobrar, quando se enseje,
a quebra do pendão
que a mente alveje:
a tais pirraças
não ouve e nem escuta.
Não é para outrem
que se age assim,
porém para a pessoal
satisfação
e se cedermos, só
iremos decrescer
a nossos próprios
olhos, um arlequim
a saltitar muito
longe do padrão
que algures
escolhera obedecer.
AMOR TRANSGÊNICO
II
Existem certas
pessoas, certamente,
a apresentar
sexuais malformações,
tais quais os rins
ou defeituosos corações,
em que qualquer
intervenção se faz premente.
Se alguma válvula
do coração é inconveniente
se alocam à
cirurgia as soluções
inconcebíveis
ainda há poucas gerações;
se operam fígado e
pulmões naturalmente.
Hoje em dia até se
veem, possivelmente,
procedimentos no
sistema cerebral,
caso haja um
câncer ou quiçá um aneurisma
ou mesmo tiros, em
perfuração ingente,
que hodiernamente
já produzem menor mal,
ante as heroicas
medidas dessa crisma.
AMOR TRANSGÊNICO
III
Já no arsenal há
bom procedimento
tanto cardíaco
como cerebroespinal
quando um nenê
apresenta qualquer mal
que prejudique seu
desenvolvimento.
Na medula se
abrandou o impedimento,
quando partida em
golpe acidental;
próteses há de
valimento artificial
que não se achavam
apenas há um momento,
considerada a
duração da raça;
se implantam dedos,
mãos e mesmo braços,
quase milagres
tais rituais da medicina,
nenhum espanto que
algum dia se faça
intervenção até
mesmo em mentais traços,
quando o caráter
para um mal se inclina.
AMOR TRANSGÊNICO
IV
De fato, há
transcendentes tratamentos
que são mais
físicos que psicológicos
e os vastos
arsenais farmacológicos,
capazes de variegar
os sentimentos
ou de favorecer os
pensamentos,
aumentados por
meios neurológicos
os potenciais dos
elementos fisiológicos,
na orientação de
mais perfeitos julgamentos.
Não há limites
para as potencialidades;
já nem é mesmo
necessária a gestação
pelo processo
biológico animal;
e até é possível
moldar personalidades
e em assepsia
promover a geração
de novos clones de
maneira artificial.
AMOR TRANSGÊNICO V
E se é possível
realizar transplantes
até mesmo de um
imperfeito coração
e não se para de
amar, em conclusão
das novas fibras
cardíacas constantes,
por que então não
se operar isso que dantes
para o gênero era
imperfeita condição
ou desprezar como
abominação
o teu irmão humano
em outros instantes,
mas que agora
transmutou seu sexo
e se tornou mulher
fisicamente,
trazendo em si os
hormônios adequados?
Ou a mulher, cujo
corpo antes sem nexo
se fez de homem,
hoje quase totalmente,
mediante implantes
mais ou menos acertados?
AMOR TRANSGÊNICO
VI
Se era antes só um
ser insatisfeito,
duro combate a
travar no fisiológico,
inadequado em seu
pendor psicológico,
sentindo em si a
amargura de um efeito
que o gerou qual
ser humano com defeito,
seus cromossomas a
formar um par ilógico,
passando a vida em
estado hipnagógico, (*)
somente em sonho
exercer pleno direito?
(*) Estado anterior
ao sono, devaneio.
Rara é a mulher
que em homem se transforma;
bem mais comum é
se passar ao feminino:
há hermafroditas
que até útero contém...
Que seja amada
então em nova forma,
nesse transgênico
abandonar do masculino
que dentro dela a
fêmea inteira tem.
ÍNDOLE I – 9 JUL 16
Há certas coisas que evitei de preferência;
a vingança nos consume e
desanima
mesquinharia qualquer nos
contamina
tanto o caráter como a moral
potência.
Também é bom se furtar à
impaciência;
pela raiva a razão se desafina;
ferir aos outros em nada nos
anima;
melhor é se negar à impertinência.
E nos mostrarmos agressivos com
os outros
não nos conduz a nada...
pecadilhos
são todos esses, mas nenhum nos
é fatal,
só nos arrancam pedaços, como
potros,
com o freio nos seus dentes,
andarilhos
que pouco a pouco nos desviam
para o mal.
ÍNDOLE II
Mas não se pense que afirmo a
perfeição,
que a mesma senda siga que o teu
Buddha,
que meu pensar a engano não te
iluda:
não sou melhor do que minha
geração.
Esses esteios de minha afirmação
só resultam da paciência que me
acuda,
muito sofri de recaída aguda
e outras tocaias ainda vejo em
prevenção.
A natureza humana é sorrateira,
contendo monstros tão somente
submersos,
que à menos chance nos
controlarão,
toda a virtude em criação
ligeira,
as boas intenções sempre
dispersas,
vítimas fáceis de uma nova tentação.
ÍNDOLE III
Bem nos foi dito que não são os
sãos
que de médico precisam, mas
enfermos;
a nossa índole se submete a
termos,
não temos alma limpa em nossas
mãos.
Se não tivesse entretido sonhos
vãos
não haveria em minhalma tantos
ermos;
ressentimentos, por gloriosos,
não podemos
considerar, mesmo em amplas
decisões.
É justamente por que se sonhou
tanto
ou que sonhos sobre nós nos
insuflaram
que somos dominados por
rancores.
da adolescência ultrapassado o
pranto
pelos amores que se não
realizaram
a macular assim quaisquer
pendores.
ÍNDOLE IV
Contudo, existe em nós
conformação
com essas coisas que nos traz a
vida;
algumas lutas levamos de
vencida,
algumas jóias a nos cair na mão;
houve momentos de maior
consternação
e outros instantes de música
insofrida,
baila nos ares a aquarela
colorida
de algum arco-íris de sutil
celebração.
Tudo isso conta e, aos poucos,
nos constrói,
em resultado dessa mescla de
fracasso
com os beijos que guardamos no
regaço,
junto com cada decepção que rói,
junto com cada vitória
transitória,
junto com o trânsito vão de uma
vitória.
ÍNDOLE V
O que acontece é algum fracasso
delirante
que a cada um acomete que lutou;
só não fracassa quem vencer
nunca tentou
desenterrar da lama o seu
diamante.
O que acontece é que o impulso
para adiante
tão só retorna a quem mais se
esforçou;
nada tomba no colo a quem ficou
só na esperança divinal de um
ajudante.
Contudo, existe algum que nada
aprende
e simplesmente se revolta contra
a vida,
a chafurdar em um tranquilo
desespero;
e existe outro que mais coragem
prende
e suas derrotas ainda leva de
vencida,
sempre enfrentando seu destino
fero.
ÍNDOLE VI
Assim aprende o inútil da
vingança,
todo o desgosto da mesquinharia,
quanto era tolo o rancor que
antes nutria,
quanto o desânimo macula a tua
pujança.
A equanimidade assim alcança,
quando depois do ardor que se
inicia
às maiores consequências da
porfia
é dispensado por zombeteira
dança.
E assim fui eu, perante cada
desaponto:
do desencanto consegui me
libertar,
para esforçar-me na próxima
empreitada.
E se não tive sucesso em tal
reponto,
soube ao menos as lições
aproveitar,
mesmo ganhando pouco mais que
nada...
RUBEDO I – 10 JUN
2016
Jamais esquecerei
a noite morna
em que as estrelas
renasciam, lentamente,
movia-se o céu no
formato diferente
em que a cortina
das pálpebras transforma
em um véu
transparente, que se adorna
de um préstito
fantasioso e iridescente,
espectro e
projeção que sai da mente
e num mundo
dadivoso toma forma.
Então se atravessa
o cortinado
e se percebe que o
sonho é bem real
e que seus braços
aqui estejam, afinal,
depois de tanto
tempo haver negado,
em verdadeira
quimera de cristal
que não se torna
em piscar esfacelado.
RUBEDO II
Os alquimistas
pensavam ter segredo
de transformar a
quimera em realidade
em seus cadinhos,
com um pouco de ansiedade,
o material
transmogrifado num albedo.
Ficava a sua
mistura num rubedo,
vermelho fogo da
imaterialidade,
depois chegava a
um negror de opacidade,
nessa outra fase
que chamavam de nigredo.
Se a cocção porém
chegasse à quintessência, (*)
o caldo
transformava-se em albedo,
desse brancor de
cristalina essência.
(*)
Cozimento, fervura.
Mui raramente
ultrapassavam o encarnado,
toda a experiência
lançada no degredo
e então refeita
com o máximo cuidado.
RUBEDO III
Mas contentei-me
com teu beijo avermelhado
que me envolveu na
mais doce constrição,
na morna hora da
cálida paixão,
enovelando em mim
todo o passado.
Não busquei o
negror mais encantado
da milenar e
capilar repetição,
bastou-me o buço
provado na ocasião,
sem lançar meu
branco amor cristalizado.
Não houve assim a
fervura da paixão
nem o amor da
brandura conjugal,
nada mais que tal
mornura transparente,
somente o orgasmo
da sublimação
na própria mente,
em gravação fatal
do adamantino
antanho permanente.
RUBEDO IV
Que seja o albedo
do amor tão só um ideal
de que a alma
raramente se aproxima.
Que seja o ideal
não mais que um toque de menina,
ainda inocente do
fogaço natural
que leva o útero à
concepção final,
que seja o beijo
qual jóia peregrina,
pairar alvo,
brancor, naftalina,
semiconsciente do
queimor do castiçal,
muito embora,
certamente, saiba mais,
percepção
espontânea, embora oculta,
que o companheiro
de faixa etária igual,
sem que o futuro
se espalhe no jamais,
biológico porvir
que à alma indulta
nesse fulgor de
exaltação sensual.
RUBEDO V
Também chamam de
albedo a fulgurância
que nossa Terra
projeta contra a Lua,
mares e rochas
numa dança nua,
dos raios cósmicos
sideral fragrância,
cópia do Sol em
mais pálida instância,
que pelo cosmos em
mil átomos flutua,
fótons pairando
com escada e rua
em leve brilho de
inquieta refrescância,
esses raios de
terrar sombra somente (*)
do cintilar do Sol
por sobre os mares,
nem de longe tão
argênteo que o luar,
(*)
Luar da Terra sobre a Lua.
mas que se pode
perceber, frequente,
quando a Lua expõe
pudores singulares
e então se esconde
do Sol a faiscar.
RUBEDO VI
Tal como a Lua,
projetaste sobre mim
teu argentino
fulgor intensamente;
em meu viver,
fiquei dele dependente
e nada escrevo sem
recebê-lo assim.
Tal como a Terra,
anseio ser afim
e distribuir sobre
ti luzir contente;
meu brilho é fraco
e o sonho contingente,
bem mal consigo
iluminar o teu jardim.
Assim o amor que
te envio é só rubedo,
flor imperial, mas
emoção terrena,
só mais intensa se
transformará em nigredo
e nem de longe em
teu peito assim respiro
prazer igual de
criação amena
ao que me dás com
único suspiro.
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