AQUARELAS
NO VENTO E MAIS
18-27/JUL/2017
NOVAS
SÉRIES DE WILLIAM LAGOS
SONETOS
AQUARELAS
NO VENTO ... ... ... 18/7/17
A
CARNE DO VENTO ... ... ... 19/7/17
O
NOME DO VENTO ... ... ... 20/7/17
A COR
DO VENTO ... ... ... 21/7/17
DOXOLOGIA
... ... ... 22/7/17
MARIPOSA
VERMELHA ... ... ... 23/7/17
CRONOMANCIA
... ... ... 24/7/17
OTTAVA
RIMA
TRÊS
INSETOS ... ... ... 25 JUL 2017
TRÊS
BEIJOS ... ... ... 26 JUL 2017
TRÊS
CÂNTICOS ... ... ... 27 JUL 2017
AQUARELAS
NO VENTO I – 18 JUL 2017
A
VIDA É MEGA-SENA, EM QUE APOSTAMOS TODOS,
NADA
MAIS DO QUE UM VOLANTE DE ESPERANÇA
NESSE
FUTURO EM QUE SE CRÊ DESDE CRIANÇA,
PROSPERIDADE
E AMOR SE AGUARDA EM RODOS.
NA
MAIOR PARTE DAS VEZES, DE OUTROS MODOS
ESSES
SORTEIOS QUE SE ESPERA, NÃO SE ALCANÇA,
MAS
PARA ADIANTE O ALMEJAR SE AVANÇA,
TERRA
SÓLIDA A SE BUSCAR ALÉM DOS LODOS...
SOMENTE
UNS POUCOS DE NÓS SERÃO PREMIADOS,
BEM
CAPRICHOSOS SERÃO SORTE E DESTINO;
MESMO
SABENDO SER UM MAGRO DESATINO
OS
MILHÕES QUE NÃO FOMOS CONTEMPLADOS
AINDA
INSISTIMOS EM TAIS IMPOSTOS DISFARÇADOS,
EM
GASTOS CERTOS CONTRA INCERTOS ALMEJADOS...
AQUARELAS
NO VENTO II
MAS
SEM DE FATO SE COMPRAR A LOTERIA,
SEMPRE
DA VIDA ESPERAMOS BOA SURPRESA;
O ANO
NOVO DE ENTUSIASMO A GENTE PREZA,
PROSPERIDADE
A NOS TRAZER GARANTIRIA;
E
TANTOS HÁ QUE EMPREENDEM ROMARIA
OU
ACENDEM VELAS EM TROCA DE PROMESSA
OU
COMPROMISSO COM ORIXÁ QUE NÃO SE ESQUEÇA
OU
SUAS PRECES A APARECIDA ESCUTARIA!
CONTUDO
É CERTO QUE APENAS O ESFORÇO
DESSES
MILHÕES DE PENITENTES INCONTÁVEIS
LHES
PODERIA GARANTIR UM RESULTADO,
MAS
AO INVÉS DE CURVARMOS NOSSO DORSO,
TODOS
REZAMOS POR TAIS IMPONDERÁVEIS,
PESADO
O VOO DE UM ESCARAVELHO ALADO!...
AQUARELAS
NO VENTO III
QUEM
CERTA VEZ JÁ PINTOU COM AQUARELA
NELA
NÃO ESPERA QUALQUER POTÊNCIA MÁGICA,
CAUSAR
SE PODE A BORRAÇÃO MAIS TRÁGICA
NA
BUSCA INÁBIL DE UMA PAISAGEM BELA;
NUNCA
ESSA IMAGEM SURGE POR SI SÓ:
VEMOS
NO MÁXIMO O RORSCHACH MAIS CASUAL,
(*)
NESSE
EQUILÍBRIO APENAS CONCEPTUAL,
CASO
SE DOBRE O DESENHO SER TER DÓ!
(*)
INSTRUMENTOS VISUAIS PARA TESTES DE PERSONALIDADE.
QUEM
JÁ PINTOU COM AQUARELA SABE
QUE A
COR NÃO VEM DA PONTA DO PINCEL;
HÁ
UMA PALETA FEITA DE RODELAS;
MOLHAM-SE
AS CERDAS E À UMIDADE CABE
DE
UMA PASTILHA ROUBAR UM TOM DE GEL,
QUE
GENTILMENTE SE ESPALHA NAS CARTELAS.
AQUARELAS
NO VENTO IV
TODA
AQUARELA REQUER ÁGUA E PIGMENTO
QUE
SE PODE ESPALHAR SOBRE O PAPEL,
TALVEZ
AO IMAGINAR DANDO QUARTEL
OU A
UM SIMPLES CONTORNO DANDO ALENTO.
AO
REQUADRO SE DÁ PREENCHIMENTO
COM
DELICADA EMBRASURA DO PINCEL,
GOTA
APÓS GOTA, EM TONS DE VINHO E MEL,
SEM PERMITIR
DO CONTORNO O PASSAMENTO.
NÃO
É, DE FATO, QUALQUER TÉCNICA DIFÍCIL,
REQUER
PACIÊNCIA E MAIS CONCENTRAÇÃO,
SEM
PRECISAR DE QUE UM SANTO GUIE A MÃO;
DAS
PASTILHAS O PIGMENTO É FÍSSIL,
MAS
SE AS CERDAS NÃO LAVARMOS COM CUIDADO
DE
OUTRA NUANCE TUDO SERÁ CONTAMINADO...
AQUARELAS
NO VENTO v
AGORA,
PENSE: SE TER TÉCNICA É PRECISO
PARA
INSERIR ESSAS FIGURAS NO CARTÃO
(ADOLF
HITLER TINHA NISTO BOA MÃO,
MUITAS
PAISAGENS PINTOU DE BELO AVISO). (*)
MAS O
TRABALHO SÓ SE FAZ EM FUNDO LISO,
ALGO
DE SÓLIDO A GARANTIR-LHE A CORREÇÃO;
QUE
SE PINTA NO PAPEL, NÃO EM ÁGUA EM JORRO SÃO;
SE
ALGUÉM TENTASSE, SÓ CAUSARIA TROÇA E RISO.
MAS E
SE ALGUÉM INTENTAR PINTAR NO VENTO?
SERIA
A TINTA ESPALHADA EM CEM BORRIFOS
OU
SIMPLESMENTE PINGARIA PARA O CHÃO;
PINTAR
NO AR SÓ NOS TRARIA UM CONTRATEMPO;
NISTO
NÃO EXISTEM MAGIAS NEM FEITIÇOS,
PACIÊNCIA
APENAS E MAIS CONCENTRAÇÃO.
AQUARELAS
NO VENTO Vi
PORÉM
É ISTO O QUE FAZ QUEM SE BASEIA
NAS
PROMESSAS PEREGRINAS DA ESPERANÇA;
BORRAR
A VIDA É SOMENTE O QUE SE ALCANÇA;
O
VENTO ESGARÇA A MAIS FORMOSA TEIA.
NA
REALIDADE, O DESTINO A GENTE TRANÇA;
SEM
PRENDER FOGO, COISA ALGUMA SE INCENDEIA,
NADA
RESULTA DE INVEJAR A VIDA ALHEIA:
PROMESSA
É DÚVIDA EM IRREQUIETA DANÇA!
SÓ
COM ESFORÇO É QUE PINTAS AQUARELAS
POR
TEU TRABALHO E HABILIDADE DE CONTATOS,
CONTUDO
O VENTO NADA PINTA NO TEU COLO,
NEM O
ZODÍACO TE CONCEDE BOAS ESTRELAS;
(VOLANTES
VOAM – SÃO PÁSSAROS INGRATOS,
MAS
QUEM NÃO JOGA É DE TODOS O MAIS TOLO!)
(*)
RESTAM CENTENAS DE AQUARELAS DE ADOLF HITLER, PINTADAS COM CUIDADOSO DETALHE
DURANTE A DÉCADA DE VINTE E COMPRADAS POR ALGUNS SHILLINGS POR UM AMIGO JUDEU
QUE AS REVENDIA COMO CARTÕES POSTAIS... HOJE SE VENDEM AO PREÇO MÉDIO DE 32.000
EUROS. O EXEMPLO ACIMA, A ÓPERA DE VIENA, FOI VENDIDO RECENTEMENTE EM UM LEILÃO
REALIZADO EM SHROPSHIRE, INGLATERRA, POR CEM MIL EUROS...
A
CARNE DO VENTO I – 19 JUL 2017
Qual
de um nenê o sorriso sedutor,
teus
olhos brilham quando me sorriem;
pupila
e íris que contra mim se aliem,
formando
um halo de hierático esplendor!
Dos
lábios o Risório é um constritor
mas
não explica porque bebês nos riem,
que
a proteção a seu redor mais criem,
sua
inermidade a conquistar o nosso amor.
E
disto brotam os humanos sentimentos.
Caso
as crianças já nascessem caminhando,
iguais
a zebras, gazela ou cavalinhos,
a
indiferença dominaria os julgamentos,
simples
instintos tão somente dominando,
brutal
o sexo, sem busca de carinhos!...
A
CARNE DO VENTO II
Assim
teus olhos de estranho reluzir
vêm
alígeros sentimentos despertar
de
uma afeição de teor mais singular:
de
certo modo é a conquista do nutrir.
Instinto
leva os pequerruchos a sorrir,
materno
peito dando a vida em seu sugar;
essa
afeição não produz o seu chorar,
mas
todo o incômodo alcança redimir...
É
uma armadilha de antanho, uma artimanha,
desenvolvida
pelo multissecular
acerto
e tentativa. Igual hipótese se assanha
nos
olhos da mulher que se deseja,
muito
mais que para um simples copular,
qual
artifício de uma aranha que nos beija!
A
CARNE DO VENTO III
O
bem-querer nos tolda o julgamento,
mas
nada traz em si de malfazejo,
pois
nada existe de material no beijo,
é
apenas toque em alheio tegumento,
mas
que desperta um singular alento,
corrente
existencial para o desejo,
que
mal se pode conservar após o ensejo,
num
cantochão de comprometimento.
Fica
na mente a visão de algum sorriso,
só
na memória do beijo o paladar,
velho
e intangível ciclone milenar,
um
turbilhão no ar, sutil aviso,
que
teu carinho é vento em seu soprar,
até
o momento da chama se apagar.
A
CARNE DO VENTO III
Pois
um sorriso, afinal, esse arreganho,
nada
mais é que um vento em carnação,
dessa
boquinha rosa a expiração,
para
a instintiva captação de um ganho.
Cada
mulher possui no olhar um lanho
bem
afiado até obter cooperação;
e
esse brilho faz de nós cooptação
e
nos envolve de lágrimas em banho.
E
que é o olhar, senão carne de vento,
alguma
coisa totalmente imaterial,
que
a mente assalta em bote feminil
até
que o olhar nos capture, desatento,
em
nossa alma a esculpir, feito buril,
zéfiro
esquivo do concreto espiritual.
O NOME DO VENTO I
– 20 JUL 2017
Se algum dia
ainda escrever outra canção,
terá de ser
visível totalmente;
não grafarei
qualquer balada indiferente,
mas ditirambo
para olhar e coração.
Porque nunca é
permanente esta noção,
que canção dura e
acaba simplesmente,
o vento a
perturbar em tom nascente,
para acalmar-se
em jazigo de ocasião.
Cada som gera um
círculo concêntrico,
algo intocável,
não mais que vibração,
contra os
tímpanos causando excitação,
mas sem deixar de
si nada de excêntrico,
toda canção em
cadência transitória,
só recordada no
ventre da memória.
O NOME DO VENTO
II
O vento insufla
apenas por contraste
provocado pelo
frio e por calor;
por violento que
seja e zumbidor,
não capturas o
vento que tocaste;
não existe uma
armadilha que lhe baste;
pode fazer algo
girar com seu vigor
e para trás te
empurrar em igual fragor,
por vibrações a
ti mesmo deslocaste;
que ruge o vento
qual a duração da vida,
humano sopro que
brota do pulmão,
mas quem consegue
captar respiração?
Mesmo que seja
num balão contida,
já se tornou
calmaria em umidade,
não mais que
vento como toda a humanidade.
O NOME DO VENTO
III
Somente o vento
em nós demonstra vida,
embora o efeito
possa haver de um fole
quando se move um
corpo e nos console
por breve
instante uma ilusão querida.
É só energia em
tal suflar contida:
calor agita as
moléculas que bole,
mas não existe
quem a vida enrole,
sua vibração ao
cessar faz-se perdida.
Porque o nome do
vento é Abstração,
forte e potente
quando encontra obstrução,
mas diluído
quando é livre o movimento
e o próprio vento
que exalo é uma ilusão,
não mais do que o
girar de um catavento
enquanto bolhas
me percorrem o coração.
A COR DO VENTO I –
21 JUL 2017
Mesmo que nisto não
creias, em teu coração estou
E por onde quer que vás,
lá me acharei contigo.
De alegria a
partilhar, compartilhando teu perigo,
Perdure o canto
embora só até quando terminou.
Perdura o verso
entanto até o ponto em que acabou
E vida só terá ao
conservar-se em abrigo
No teu olhar até o
sepulcro quente e antigo
Dentro da mente, se
nela o verbo germinou.
Mas como o vento, um
soneto é uma semente,
Composta apenas por
intangível vibração,
Mas que radículas
espalha no fragor do coração.
E no teu cérebro
circunvolui e brota contente
Depois que um dia
lhe emprestaste luz e cor,
Num inefável
turbilhonar que é quase amor.
A COR DO VENTO II
Caso a algum destes
meus versos deste vida,
Foi desse parto que
umbilical ressuscitaste
E a redenção das
letras mortas provocaste,
No vento inerme tua
coloração contida.
Dizem que o vento é
a soprar força incontida,
Mas é ar apenas sem
consciência que agitaste,
É em teus ouvidos
que a agitação vibraste:
Não é o vento que
ali vibra, mas tua ermida,
Quando o acolheste,
mesmo involuntariamente.
Não é o ar que zune,
somente a tua audição,
Porque é em ti mesma
que provocas vibração.
Se houver silêncio,
ainda teu sangue vibra quente,
Um som que escutas
como o troar de uma montanha
Nesses momentos em
que tuas cocleias lanha!...
A COR DO VENTO III
Assim o vento
encontra em ti coloração,
Em dependência de
tua exclusiva reação;
Ouvidos podes cobrir
mesmo com tua mão,
A cor do vento a
branca rosa em brotação
Ou podes dar-lhe em
tuas entranhas a vazão,
Na temerária maneira
de visceral ação,
Um ciclone a te
zumbir no coração,
Do sangue inteiro a
roubar vermelhidão.
Também o verso é tão
somente uma ilusão,
Simples cabide de
cem letras de arcabouço,
Um rosa pálido se
não o deixas penetrar;
Mas ao revesti-lo
com tua púrpura emoção,
Vento de versos a
rondar num calabouço,
Tuas mais secretas
ilusões a despertar.
A COR DO VENTO IV
Mesmo que penses
apagar essa memória,
Murmura ainda nos
cilindros teus neurais,
Que esquecimentos
nunca são totais,
Gravaste os versos
de forma peremptória!
Mesmo o Alzheimer de
abrasão inglória,
Faculdades a apagar
intelectuais,
Afastado pode ser
por eventuais
Estímulos elétricos
e toda a história
Por algum tempo será
viva e colorida,
Não mais um vento
solitário e gris
E assim a estrofe
que tua emoção intuiu
Bem lá no fundo da
aquarela está inserida
E essas mensagens
que redigir te quis
Serão revistas por
quem já um dia as viu.
DOXOLOGIA I – 22 JUL 2017
Que ninguém seja tão
doido como eu sou
é um sincero desejo que
hoje expresso;
a minha doideira
serviu-me de começo
e na vereda da poesia me
empurrou...
Não creio ser preciso que
aonde eu vou
também me sigas. Nem tampouco peço
que deixes de expressar
um real apreço
pela poesia quem igual
não endoidou!
Porque caminhos há, bem
diferentes
para alcançarem
resultados semelhantes,
sem ser preciso dilacerar
os próprios ventres;
Dionyso decerto a mim
embriagou
e assim O louvo em
ditirambos quentes
das circunvoluções que um
dia dominou.
DOXOLOGIA II
Há quem escreva por
qualquer ato de amor,
com mais frequência por
se achar apaixonado;
só os corações têm nas frases
aplicado,
oclusa a mente por emoção
maior...
Há quem pretenda
eclesiástico pendor,
hinos escreve para um
santo amado,
em homilias para o povo
congregado,
a mente e a alma
envolvendo em tal teor.
Há quem componha um verso
mais social,
ali afirmando mais que
tudo a ideologia,
qualquer que seja a razão
deste fanal
e há quem descreva a flor
e a natureza,
louvando o sol, o monte e
a pradaria,
na instigação de momentos
de beleza.
DOXOLOGIA III
Mas eu não faço
assim. Não há motivo
para que escreva nesta
vasta proporção,
qualquer coisa me impele
à redação
e a mente inteira se
expande nesse crivo.
É quando escrevo que mais
me sinto vivo
que no conluio dos
instantes de paixão,
que no pregão de doutrina
ou religião
ou propaganda propalar de
ideal altivo.
Isso que eu faço só de
dentro brota
e quando não escrevo, me
angustio;
a mente eu doo em vascas
de agonia,
qual doação de sangue na
igual rota,
num sonho esquivo que da
mente envio,
quase a esgotar meus
neurônios na poesia.
DOXOLOGIA IV
Que ninguém seja tão
doído como eu:
que escrever possam
apenas por vaidade,
sem desgastar-se por real
necessidade,
que a dor não sintam que
sempre me mordeu!
Mas como o sangue
recupera quem o deu,
também a mente que o
sacrifício invade
renova aos poucos sua
mentalidade:
após o transe feroz que a
acometeu!...
Não obstante, sangue
doado com frequência,,
segundo ouvi dizer, forma
a tendência
de renovar-se ainda mais
do que devia;
e assim preciso doar
versos novamente
e tais loucura e dor, tão
simplesmente,
forçam estrofes a renovar
dia após dia!
Mariposa Vermelha 1 – 23 jul
2017
Tua flor aberta para mim,
divina
Mariposa vermelha em seu
casulo,
Abrigo púbico em que a mente
anulo,
Úmido berço da mais pura sina,
Que diariamente, em ânsia, me
assassina,
Opérculo de mel, em que me
adulo,
Armadilha de sangue a chamar
pulo,
Rede encantada que me prende e
ensina,
Camarote do navio que leva ao
sonho,
Doce gota recoberta de
alcatifa,
Templo vermelho da Afrodite
antiga
E que me mantém vivo, quando
ponho
A gota de mim mesmo, qual califa
Que as odaliscas no seu peito
abriga!
Mariposa Vermelha 2
A sedução da encarnada
mariposa,
Semioculta em seu musgo de
negror,
É minha sentença de peculiar
pendor,
Na tentação constante de minha
esposa;
Por que perder-me empós alguma
rosa,
Quando a possuo colorada de
vigor,
Coberta púrpura de torno
constritor,
Tempestuosa a floração de amor
ditosa!
Se a mim aceita e desejar
demonstra,
Nada mais posso demonstrar que
gratidão:
Por que, afinal, se deixa
assim regar?
Antes arisca e desterrada
lontra,
Hoje acolhida no meu coração,
Qual uma flor de jardim
crepuscular!
Mariposa Vermelha 3
Porém negou-se a tecer mais
que um casulo,
Sem que a semente se pudesse
enraizar;
Única vez deixou-se fecundar
O botão róseo em cujo ardor me
anulo!
Para uma nova colheita sempre
a adulo,
Mas sempre insiste em
contemporizar:
“Ainda é cedo, vamos esperar:
O teu amor com meu amor
emulo...”
“Mas outro filho teremos de
educar,
Crianças custam bem mais do
que fazê-las
E imprevidência em teu querer
revelas.”
Só uma lagarta veio as folhas
devorar
E a outra pupa que poderia ser
brotada
Ficou apenas em seu ovário
enclausurada.
CRONOMANCIA I – 24 JUL 2017
Meu sangue é forte e se renova
fácil,
feita a sangria negra de meus
cantos,
algures sendo azuis como meus
prantos
nesse sangue que hemorrajo em
verso grácil.
Nessa torrente de plaquetas
rútil
seria preciso mesmo que outros
tantos
leucócitos nadassem e rubros
mantos
das hemácias a tingissem
inconsútil.
O verso brota e se renova na
medula
e assim se revigora o
gastamento
e então constato ser bom que
sangre mais
e a transfusão que destes
versos pula
se expanda além para maior
ressurgimento
de cada sonho em manancial de
sais.
CRONOMANCIA II
Catulli Carmina escuto enquanto
escrevo,
versos de antanho brunidos em
latim,
de Carl Orff um legado para
mim,
que em meus ouvidos e coração
eu levo,
cujo ritmo estafante imitar
devo;
Carmina Burana conhecem mais
outros assim
e O Triunfo di Afrodite é meu
festim:
poucos conhecem e nele então me
cevo!
Ferve a música profana ao meu
redor
e me invade qual se fora
transfusão;
há dois mil anos ocorreu a
hemorragia,
frascos de ouro preservando seu
valor,
até o latim ser convertido em
alemão,
tal que o Fausto medieval da
fantasia...
CRONOMANCIA III
No tempo se acha a magia
verdadeira:
as mãos podemos queimar nesse
passado,
sem que o sangue seja nelas
cozinhado
e desses mortos poetas sigo a
esteira...
E agora é Wagner em sua
Valquíria alvissareira,
de um outro antanho o nobre
cunho reciclado;
trouxe Afrodite sangue em sêmen
congelado:
do romantismo meu coração se
abeira...
E enquanto a mim cronometrarem
as plaquetas,
nessa diuturna e sutil
renovação,
leucócitos e hemácias em orgia,
bebo no tempo instilações
secretas
em minha medula a surgir
revelação
do ardor do tempo feito em profecia!...
ottava rima
três insetos – 25 jul 17
pendor diverso persigo neste agora
qual libélula sobre lábios em botão
que apenas bebe a saliva e vai-se
embora
gosto de sonho a fruir no coração
e sobre os lábios palpitando nessa
hora
de sua presença tão só recordação,
gênio diáfano de espantos iridiado
ser de cerâmica em vidro quadrialado
talvez
em estrofe limitar-me deveria
porém
existe em mim essa impulsão
como
díptero eu mais pontos percorria
em
mim existe já continuação
e
em diferentes bocas pousaria
mágoas
trazendo de outro coração
que
asas diáfanas possui também a mosca
e
seu probóscide me suga e nalma enrosca
bem
mais cruel seria um gafanhoto
devorando
facilmente toda a flor
não
lhe bastando da mandrágora o rebroto
lábios
cortando qual um soldador
gotas
de anil bebendo em perdigoto
saltando
verde em sangue multicor
sem
o vermelho poder matar-lhe a fome
nesse
olhar gris que a própria morte dome
ottava rima
três beijos – 26 jul 17
beijo teus olhos em luz crepuscular
reluzindo nas mágoas de tua noite,
minha própria mágoa assim a fecundar
enquanto a ti persigo nesse afoite
teus olhos fecham e cortam meu sonhar
por que seus cílios têm tão forte
açoite?
e contra o nada a dentadura estalo
tua luz mordendo em singular regalo
beijo
teus lábios em busca do gargalo
que
me conduza à prova do licor
em
tua garganta sei haver badalo
que
o sino tanja para um sonhador
mas
a úvula não tange e então me calo
fica
do beijo apenas o sabor
sem
que me fira a música da aurora
e
nem um dobre de finados nessa hora
emoldurando a ponta do nariz
como num quadro de princesa antiga
em suas narinas abeberar-me quis
que das aletas o perfume me persiga
também nelas se refletem os ardis
rósea esperança em tão mimosa liga
e me penduro sobre a boca aflita
no desvario que nalma me reflita
ottava rima
três cânticos – 27 jul 17
tal qual duas flores percebo os seios
dela
botões de sonho sem abotoaduras
pequenas mortes para minha procela
em religioso agitar de investiduras
dois molhes firmes como os de donzela
contra mil vagas a agitar lonjuras
e minha testa deponho em seu regaço
qual infante em ânsia por abraço
e
aos poucos desço até da vida a fonte
no
meio de seu ventre encontro poço,
umbilical
restauração, antiga ponte,
na
água salobra o coração remoço,
buscando
ainda as faldas de outro monte
de
musgo e samambaias em que roço
os
mil segredos do corpo da mulher
que
só se adorna para mim quando o quiser
e
beijo a rosa enfim no seu botão
que
em gruta esconder-se tem ofício
nesse
invólucro de tríplice emoção
que
à vida humana traz bem e malefício
clitóris
puro e fonte de paixão
quiçá
de hermafrodita seu resquício
algo
de Hermes com seus pés alados
dom
de Afrodite na herma dos pecados
William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog: www.wltradutorepoeta.blogspot.com
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
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