AS CORES DO CIÚME
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS -- 4-14/3/2019
MULHER PARA ÉDIPO, PIERRE-AUGUSTE RENOIR
AS CORES DO CIÚME (XII) ...
... ... 4 mar 2019
AS JACOBINAS (III) ... ...
... 5 mar 2019
TROPOS (III) ... ... ... 6
mar 2019
AYOCOSMOS (III) ... ... ... 7
mar 2019
IGUAL QUE RIO (IV) ... ...
... 8 mar 2019
ARRULHOS NA ALGEROSA (III)
... ... ... 9 mar 2019
YOGA (III) ... ... ... 10
mar 2019
ORIENTALISMOS (IV) ... ... ...
11 mar 2019
AS PANMANCIAS (III) ... ...
... 12 mar 2019
MICROCOSMOS (III) ... ...
... 13 mar 2019
SAIBRO BRANCO (IV) ... ...
... 14 mar 2019
AS CORES DO CIÚME I
– 4 mar 2019
Isso que chamam de ciúme é um belo exemplo
da forja de um acervo de emoções,
bem mais complexas do que isso que dispões
sob esse rótulo de abobadado templo.
A possessão e o domínio ali contemplo,
os cem retalhos de nossas solidões,
os atos falhos das mil desilusões,
essas feridas que só em amor retemplo,
mas sem amor se fazem reabertas
e se ao amor se mesclar a desconfiança,
muito mais ferem supurações incertas,
agudas dores sobre a autoconfiança,
mais que facadas em tua carne abertas,
enquanto sangra até o final a tua
esperança.
AS CORES DO CIÚME II
O ciúme é alimentado pela inveja
de alguém ter o que supúnhamos ser nosso,
essa vertigem que ocultar não posso
quando a certeza de mim não mais se enseja.
Ciúme é o rancor que não mais beija,
ante o objeto do amor tecido grosso,
um empecilho de singular colosso,
vago desdém que em torno a nós adeja.
Ciúme é um ódio que deixou de ser amor,
certa injustiça mesclada de malícia,
a dor vazia que nem sequer chega a ser dor,
mas surda pulsação já sem calor,
nessa suspeita de fera impudicícia,
melancolia a sangrar nosso vigor.
AS CORES DO CIÚME III
Ciúme é muito mais que insegurança,
um vasto esgar de interno vandalismo,
um talho fundo no tecido do humanismo,
irracional ânsia pelos pais de uma criança
que o pai inveja porque goza da bonança
da juventude da mãe em feminismo
ou do usufruto que a mãe tem do masculismo:
ciúme são setenta fios da mesma trança!
E ainda insistem por breve nome apelidar
a multidão de corrupios contraditórios,
manipulados de uma forma singular
por cada um de nós, consoante o conteúdo
que a alma comungou em seus cibórios,
para a garganta recortar em talho agudo!
AS CORES DO CIÚME IV
Ciúme, em tom geral, é mais egoísmo,
sem desejar um só momento repartir
o que se tem, assim a se iludir
que será nosso, sem qualquer mutacionismo.
Todo ciúme é de avareza abismo,
teu amor sem querer deixar dormir,
pois mesmo em sonho te poderá trair,
nesse murmúrio quase num mutismo,
em que algum nome podes decifrar,
que certamente não será o teu,
já que esse sonho não te pertenceu,
mas que o querias igualmente açambarcar,
teu par guardado de qualquer olhar
que alguma imagem pudesse te furtar!
AS CORES DO CIÚME V
Porque ciúme é a seara da incerteza,
da qual não queres perder sequer espiga,
que alguém nem um só suspiro te consiga
furtar de teu escrínio de beleza.
Todo ciúme sendo um ato de crueza,
que te pode transformar numa inimiga
aquela que já foi máxima amiga,
um desperdício de tua maior riqueza!
Porque ciúme é um ato de mendigo
que se revolta ao ver felicidade
nesses que passam por si sem mendigar,
porque ciúme traz a solidão consigo,
sem usufruto permitir, em realidade,
daquele amor que deveria te alegrar...
AS CORES DO CIÚME VI
Todo ciúme possui nó de mau-humor;
ciúme traz um certo tom de desespero,
se reveste de selvagem laivo fero,
um dom de angústia misturado com rancor.
Mostra em seu íntimo um agônico palor,
gesto famélico de um ritual severo,
a desconfiança dos filhos que então gero,
a impudência de um jovem toreador.
Ciúme é beijo azedo em boca amargo,
um acre olor pungente nas narinas,
cegueira breve sobre nosso olhar,
amplexo assassino em gesto largo,
o esfacelar de nossas mútuas sinas,
a sensação de em areia se afundar.
AS CORES DO CIÚME VII
Pois não se sente ciúme só de um par:
sempre há cobiça da posição social,
há o ciúme da produção intelectual,
de qualquer coisa que nos possam retirar.
Porque o ciúme é orgulho a se encrespar.
esse orgulho malferido, estranho mal,
que até numa criança é natural,
mãe e brinquedos sem querer compartilhar.
Destarte ciúme é a natureza humana,
essa certeza de que tudo há de acabar,
que a vida inteira se deverá deixar
e nessa pena o ciúme mais se irmana,
não resultado de qualquer insegurança,
mas da certeza de perder mesmo a esperança!
AS CORES DO CIÚME VIII
Porque ciúme, de fato, é mais que amor,
pura ânsia que abrange o que se deu
e quanto do objeto nem foi teu,
uma expansão do mais estranho ardor.
Ciúme é jóia de singular valor,
que nao se sabe de onde procedeu,
qual a entidade que nô-lo concedeu,
perdão-castigo de caridosa dor.
Outras facetas mil no poliedro,
nessa nuvem de algodão que se percorre,
enquanto o amor se foi e nem mais dói,
que a mente encerra num caixão de cedro
essa parte da alma que nos morre,
miséria seca que nosso peito rói!
AS CORES DO CIÚME IX
Ciúme é sangue que ferve e não se aquece;
Ciúme é pulmão que gela e não respira;
Ciúme é desejo que a ereção nos tira;
Ciúme é súplica que não chega a prece.
Ciúme é um nó na garganta que não desce;
Ciúme é estômago vazio que se revira;
Ciúme é câimbra que jamais se estira;
Ciúme é sede que nunca se arrefece.
Ciúme é um cão de caça sem ter faro;
Ciúme é linha que já perdeu o anzol,
essa fobia que nem ao menos enlouquece.
esse corisco que o fulgor não deixa claro,
esse áspero recife sem farol,
alma de geada que nem sequer padece!
AS CORES DO CIÚME X
Que ciúme é essa traição do próprio ego,
a pira ardente de um automartírio,
a expansão abrangente de um delírio,
contido apenas por desespero cego!
Busca de um par que flui diverso rego,
argentino castiçal, perdido o círio,
velho broquel desnudo de seu lírio,
constante inquietação sem mais sossego...
Quando ciúme se lança para alguém
ou quiçá para algo que se amou,
a gente esquece de se amar também,
só um coquetel de cinzas que restou,
após tragado o último porém
que nem no ventre se depositou...
AS CORES DO CIÚME XI
Ciúme é sobre o sonho pá de cal,
última pedra arrancada do alicerce,
último lanho que nos corta cerce,
do suicídio a inspiração final.
Da morte em vida o patíbulo imoral,
luxúria morta em solitária prece,
defunta mágoa que ao coração nos desce,
qual derradeira imprecação fatal.
Morto o ciúme, porém razão de vida,
na amarga busca de pueril vingança,
por infeliz que seja e ineficaz,
mas que alimenta a alma combalida
do mesmo ardor de um choro de criança
que sua vontade exige e não se faz!
AS CORES DO CIÚME XII
E contudo, quê de nós sem o ciúme!
É o ciúme que impulsiona o artista,
é o ciúme a desbravar qualquer conquista,
é o ciúme que a própria alma traz a lume!
É o ciúme que à alternativa rume,
é o ciúme a incitar cada cientista,
é o ciúme que ao poeta mostra a pista,
é o ciúme que o monge leva ao cume.
Esse ciúme monstruoso e habitual,
que ao filho alheio vai prejudicar,
para o nosso próprio filho entronizar;
esse ciúme muito além do amor carnal,
esse ciúme a propelir competição,
a mola mestra da civilização!...
AS JACOBINAS I – 5 MAR 19 (Terça de Carnaval)
Quatro ramas me acenam da janela,
meio convite que lhes suba nas lianas;
só o faria caso tivesse longas canas
como pernas de pau e estranha sela;
folhas opostas e inteiras mostra a bela
acanteácea em suas gulosas ramas,
a expandir-se com tamanhas ganas,
como um colar devotado à minha donzela!
Ela as contempla através de sua ogival
vidraça, entre os merlões do parapeito (*)
e a um colar polinésio tem direito,
como enfeite para este carnaval,
igual que usam na distante Louisiana,
mais outra herdeira da tradição romana!
(*) Pedras no alto das muralhas, separadas por ameias.
AS JACOBINAS II
Mostra pequenas cornucópias
delicadas,
que alguns confundem e chamam de
trombetas,
vindas da China em expedições
secretas,
mas aqui da América de fato
originadas
suas cornucópias de floração
amareladas,
mas há mais de trinta variações
concretas,
de nossos trópicos, suas flores
prediletas
sendo vermelhas ou mesmo alaranjadas.
Algumas delas só em estufas
protegidas,
em nosso clima do Sul mais rigoroso:
grandes calores nos auges do verão,
outras no inverno por geadas
envolvidas,
sem que percam as folhas ou o ardiloso
projetar-se sobre o telhado em
floração.
AS JACOBINAS III
Pois hoje à tarde as longas guias me acenaram,
dança singela ao perpassar do vento,
talvez pensando até formar um liamento
com meus cabelos que dos vidros contemplaram!
Essas lianas assim me convocaram,
para crescer em seu verde filamento,
formando atilho transitório no momento,
em que as postilhonas me asilaram...
Mas o convite não aceitei, porque
não poderia igual que elas balançar-me,
sou preso à terra no grilhão da gravidade
e esse ar em que elas bailam, já se vê,
é rarefeito para sustentar-me,
em minha pesada solidez de humanidade!
TROPOS
I – 6 MAR 2019
Definir
por palavra uma emoção
é
empreendimento bastante delicado,
seu
sentido facilmente contrariado,
conforme
o viés que porta uma razão;
cada
emoção complexíssima noção,
manifestada
em teor descontrolado,
conforme
o cérebro a tenha imaginado,
dentre
os caprichos de cada coração!
Se eu
disser, por exemplo, “Amor é Sorte”,
alguém
há de entender que é positivo
esse
conceito que em breve frase ativo;
mas
outrem pensará, em oposto corte,
que
seja amor bastante negativo,
um
desgosto a nos causar de certo porte.
TROPOS II
O problema é que, ao contrário do
ditado,
vale a palavra por mais de mil
imagens,
por exemplo essa, de iniciar
miragens,
exposta anteriormente em
contrastado;
que amor é acerto tão diferenciado,
a recordar multíferas paisagens,
a transmitir complexas mensagens,
como um filtro pela mente
compassado.
Ao se falar “Amor”, corre esse
fluxo,
que nos percorre a alma, velozmente,
qualquer figura a se rever
frequente,
enquanto outro aspecto mais
esdrúxulo,
uma só vez na mente nos cintila,
logo trocado ao longo dessa fila.
TROPOS
III
Outra
palavra de igual poder é “Guerra”.
Suas
imagens coriscantes se sucedem.
de uma
conservar, outras impedem:
destruição
a espalhar por toda a Terra!
Dentro
da mente essa visão se encerra
e
incontáveis lembranças nos concedem
e
outras mil já ser lembradas pedem,
nessa
explosão que, silenciosa, berra!
E que
dizer dessa palavra, “Morte”,
que nos
assombra ou, ao contrário, causa
um
certo alívio, se colheu nosso inimigo!
E
novamente entra a noção da “Sorte”,
mil
volantes de loteria sem ter pausa,
nas
quatro folhas de um trifólio amigo!
AYOCOSMOS I – 7
MARÇO 19
Creio não sei o que
mais tenha a dizer
Que já não tenha
dito em meu antanho,
Na variedade de
versos, sem tamanho,
Que diariamente
me ponho a recolher
De qualquer
dédalo do espírito, sem poder
Afirmar com
clareza de onde o ganho
Firme enriquece
meu espírito tacanho.
Incerto xempre,
se o fui eu a conceber.
“Andar sin ayo”
se diz em espanhol,
Para indicar
quem goveerna suas ações,
Sem depender do
arrimo de ninguém,
Nem de opressão
provinda de algum rol
De sociais
regras ou quaiquer ordenações :
Primeiro pensa e
só depois é que agir vem.
AYOCOSMOS II
Nas sete décadas que tenho em meu viver
Das injunções eu fui-me libertando,
Das injustiças eu fui-me apaziguando,
Buscando em mim toda razão de meu sofrer.
Buscando em mim toda razão de meu poder,
Responsável por meus atos me tornando,
A própria culpa de meus erros aceitando,
Sem que essa culpa me viesse a enlouquecer.
Aceito apenas, de algum remorso isento,
Muito mais fundo encravado o meu lamento
Pelo que podia ter feito e que não fiz.
Pelo que sou já não devo a mais ninguém,
Contudo vivo a cortejar o meu porém,
Que me desdenha pelo que não quis.
AYOCOSMOS III
Meu próprio
cosmos construí “sin ayo”;
Olho ao redor e
penso que são poucos
Os que puderam
ouvidos fazer moucos
Às exigências de
um mundo tao lacraio,
Que me morderam,
nas quais não mais eu caio,
Por mais que me
emudeça em gritos roucos,
Ou me conduza
com ademanes loucos,
Que ao verão me
conclamam ao fim de maio.
Criei meu
propriocosmos solipsista,
Do ayocosmos
solerte minha conquista;
Se algo aceito,
é que escolhi primeiro.
Só deeidindo por
ser própria a decisão
E de algum modo
surpreendi-me por inteiro
Quando encontrei
o que dizer nesta ocasião!
IGUAL
QUE RIO I – 8 MAR 19
És
minha torrente, cristalina e passageira,
na
superfície sempre permanente,
passa
tua água por igual local frequente
e
ante o mesmo calhau se encrespa inteira
e
até parece coagular-se, derradeira,
tal
qual se fosse numa foto complacente,
mas
só congela o movimento em aparente
impressão
de se poder captar a marcha ligeira;
tens
redemoinho a girar em intensa roda,
parece
o mesmo em suas volutas nuas,
dança
veloz que nunca sai de moda,
e
ali comprendo qual se fosse a coda,
que
por inteiro a mim mesmo possuas,
enquanto
a ti jamais possuirei toda.
IGUAL
QUE RIO II
Uma
vez disse Heráclito, o Obscuro,
que
duas vezes jamais se cruza um rio;
de
modo igual, se para ti sorrio,
diverso
é o rosto que com o olhar perfuro;
o
rosto antigo já desfez-se com apuro,
esse
de hoje a seguir seu corrupio;
parece
o mesmo apenas em seu lio,
mas
outra alma já me fita do olhar puro.
A
água segue o mesmo emaranhado,
desce
em ondículas, sempre semelhante:
por
onde passa, passa inteira novamente,
assim
o espírito, em teu rosto espelhado,
logo
reflete, vivaz, novo semblante,
sempre
igual, porém sempre diferente.
IGUAL
QUE RIO III
E
qual a prova que tenho de que o rio
que
agora desce, possui um movimento?
Contra
o tato de meus dedos toma alento,
mas
isto é prova de meu próprio brio;
mas
folha seca desce num sombrio
deslizar,
sem qualquer congelamento,
pois
segue a gravidade, sem que um vento
sobre
minhas costas provoque um arrepio.
Então
eu sei que aquela breve dissensão,
que
se diria ser plena e permanente,
igual
desce pelas águas de tua vida
e
sei que há motilidade em mutação,
pois
me pareces ser a mesma diariamente,
mas
lá no fundo sei que há desconhecida.
IGUAL
QUE RIO IV
O
que se ama, então, é o movimento,
esse
fluxo das águas transitórias,
carregando
consigo vãs histórias,
transmitidas
em breve passamento;
e
assim, de amar teu corpo me contento,
as
girândolas de teu rosto são arbórias,
em
suas transiências mais peremptórias,
adivinhadas
tão só por um momento.
E
nelas nado, mergulhado nesse amuo,
que
mais me atrai ao fingir me repelir,
nessa
saliva com que os lábios meus aguo
e
em cada cílio teu acho prisão,
sem
saber quem és hoje a me iludir,
com
mil fatias de teu vasto coração.
ARRULHOS
NA ALGEROSA I – 9 MAR 19
Logo
acima da vidraça do jardim
há
metade de cilindro de zinco, proteção
para
onde as chuvas do telhado vão,
depois
às calhas se lançar feito arlequim.
É
a algerosa, no dizer do muezim,
ao
rededor da almenara, sua oração
a
convocar, em segurança sua dicção,
em
proteção de sua permanência, enfim.
Tantas
palavras em nosso português,
igual
que tantos termos em espanhol,
refletem
a multissecular dominação
que
o califado em nosso antanho fez,
sobre
ancestrais a trabalhar de sol a sol,
escravizados
dos mouros na opressão.
ARRULHOS NA ALGEROSA II
Em geral, as pessoas dizem “calha”,
ao referir-se a esse zinco
ou alumínio,
que interrompe das águas o domínio,
que uma cabeça atingiriam sem falha
dos transeuntes; ou que, então, se espalha,
as tijoletas a fragmentar em assassínio;
mas é só o cano que desce, como escrínio,
a verdadeira calha – e a densa malha
que percorre dos telhados os beirais
são as algerosas, uma palavra doce,
que executa essa tarefa em gentileza;
e a água escoa, então, nos terminais,
tal qual se fonte de água pura fosse,
a projetar-se na calçada com presteza.
ARRULHOS
NA ALGEROSA III
Sob
o cilindro desse zinco protetor
vem
as pombas construir seus ninhos;
entra
ano e sai ano os passarinhos
ali
estão com seu arrulho sedutor,
que
tantos dizem ser juras de amor,
dos
namorados a prova de carinhos,
mas
são pios de advertência esses gritinhos,
a
demarcar de cada berço o andor...
Nem
mesmo os gatos, que andam sorrateiros,
sob
as algerosas conseguem se enfiar
cinza-azuladas
vêm as pombas arrulhar
para
nova geração, em dias certeiros,
quando
os seus pios reiniciar, brejeiros,
mais
uma vez meu sono a acalentar.
Yoga 1 – 10 mar
2019
Confesso agora que
não adotei este modismo,
A que até hoje não
consegui me adaptar,
Por mais que digam
que me possa dar
Melhoria para meu
fisioculturismo;
De fato, tampouco
pratiquei este fisismo,
Meus músculos
desenvolvi a trabalhar,
Com pá e machado,
sempre útil meu malhar,
Abri valetas, cortei
lenha, sem “fingismo”...
Muito peso
carreguei, sem levantar,
Sempre que fosse
necessário transportar,
Longos trajetos
igualmente a palmilhar
Quando a certo
lugar devia chegar
E desse modo,
nenhum tempo me sobrou
Para uma Asana que a Yoga me mostrou.
Yoga 2
Em certas coisas,
não sou mais que reacionário,
Até hoje a
desconfiar da acupuntura,
Não há tatuagens em
minha pele dura:
Raspar meus pelos
seria necessário...
E gosto deles,sendo
um valetudinário
Primata, de
ascendência branca pura,
Bem mais macaco que
o apodo que à negrura
É atribuído, por
preconceito vário,
Porque os pelos dos
afrodescendentes
São quase no seu
corpo inexistentes
E se rasparmos de
um macaco o pelo,
Sua pele é branca e
rosada, seu desvelo
Bem mais parelho ao
dos eurodescendentes
Que o dessa gents
que tem em África ascendentes.
Yoga 3
E desse modo, se
quiser meditação,
Aproveito quando
estou em devaneio
Ou de manhã, se de
me erguer tenho receio
E denomino
“planejar” essa inação,
Pois só levanto
após tal preparação,
Sem precisar de
posições de longo veio
E nem ginástica
sueca de permeio:
Guardo meu corpo
sem tal combinação.
E se disser que
jamais em “academia”
Sequer entrei,
talvez nem me acredites,,,
Mas de modismos
nunca sigo a voga,
Sempre a mente a
ter em mim a primazia
E se a qualquer
exercício então me incites,
Até posso
aquiescer, mas não de Yoga!
Orientalismos 1 – 11 mar 19
Só não me entendas mal. Não é por preconceito
Contra as tendências de origens orientais,
Que o Brahmanismo estudei até demais,
Já no Jainismo encontrei vasto defeito.
Reencarnação, pessoalmente, até aceito,
Mas não a metempsicose, que em animais,
Caso retorne, não quero estar jamais,
Qual ser humano reencarnar tenho
direito!
E se minha barba já tem cinquenta anos,
Não a ostento a imitar qualquer Saddhu,
Tampouco aceito algum budismo cru,
Que rejeitado foi por tantos brâmanes
Portanto espero assim que não me danes
Por preconceitos tidos por insanos!...
Orientalismos 2
De fato, muito aprecio o Brahmanismo,
Suas stupas coroando
templos belos,
Nos afrescos de Ajanta mil desvelos,
De Sigiriya no Ceilão o feiticismo.
De Borobudur o estatuário sem cinismo,
De Angkor Vât os gigantescos selos,
Inescrutáveis tais rostos singelos,
Redescobertos pelo Arqueologismo...
Abandonados pelo povo do lugar,
Especialmente onde domina o Islamismo,
Sem mais respeito por um passado histórico,
Algumas vezes até a iconoclastizar,
Em resultado de místimo histerismo
Qualquer detalhe de beleza no marmórico.
Oientalismos 3
Muito me agrada toda a arte revelada
Pelos povos da Índia e do Japão,
Que meus próprios patrimônios mesmo são,
Antes que a Unesco sua proteção sagrada
Ungisse sobre tal arte reencontrada...
Tudo isso habita no meu coração,
De algum pagode de orgulhosa construção
A um jardim Zen de perfeição bem calculada.
Tudo isso eu amo, mas nao artes marciais
E muito menos o violento ninjaísmo,
Embora benevolência demonstre ao xintoísmo
E a tantas coisas que no Oriente existem mais,
Porém jamais em total subserviência,
Que no Ocidente ainda percebo mais potência.
Orientalismos 4
Afinal, Índia e China estagnaram,
Do mesmo modo que muito do arabismo,
Foi entre nós a surgir o industrialismo
E as civilizações aqui mais prosperaram.
Nessa corrente nove mil anos deslizaram,
Desde os Sumérios, os Sírios e o arcaísmo
Dos templos hieráticos desse egipcionismo
Que tantos, subservientes, já louvaram.
Mas vem dos Gregos nosso racionalismo,
Vem dos Romanos nossa prática cultura,
Vem dos Judeus o inicial monoteísmo,
Que nos trouxeram, través de muita agrura
A nossa tecnologia e o atual cientificismo,
Vencendo as guerras de fortaleza impura.
AS
PANMANCIAS I – 12 MAR 19
pensei
um dia consultar uma adivinha,
que
me rachasse o espelho do futuro,
na
expectativa de um porvir mais puro,
talvez
num deles desposando uma rainha...
em
outro deles toda a glória se avizinha,
assim
rasgada a mortalha do obscuro,
que
não mostrasse para mim caminho duro,
só
minha vitória, inda que fosse pequeninha...
mas
a sibila mostrou-se caprichosa,
sem
revelar-me seu délfico esplendor,
embriagada
em seu vapor, mas silenciosa...
também
no pêndulo vigoroso busquei sorte,
se
a teria em qualquer jogo de amor
ou
na vitória da vida sobre a morte...
AS
PANMANCIAS II
o
pêndulo, misticamente, se moveu,
impulsionado,
talvez, pelo inconsciente,
mas
não decerto pelo pulso meu fremente,
só
que o segredo do futuro me escondeu...
qualquer
sacrário ou escrínio se perdeu
e
fui as cartas consultar, incontinenti,
mas
novamente até o Tarot foi inclemente,
um
malefício qualquer não prometeu,
sem
predizer tampouco um benefício
e
igualmente os búzios me falharam...
talvez
tivera manto divinatório,
este
cumprisse condizente seu ofício,
mas
tais bordados não se apresentaram
e
nem das folhas de chá seu repertório...
AS
PANMANCIAS III
sem
crença ter na luz da astrologia,
nem
um horóscopo dispor-me a financiar,
em
alternativa final, fui apelar
a
praticante de quiromancia...
e
vejam só! essa cigana então dizia,
as
linhas de minha mão a desvendar,
que
longa vida deveria me tocar,
pela
extensão dos riscos que entao via...
que
seis filhos eu teria me afirmou,
como
fruto de só dois casamentos,
acho
até que mencionou outros portentos...
mas
estes dois meu passado confirmou,
até
possíveis, com alguns ajustamentos,
os
longos anos que me profetizou!...
MICROCOSMOS
I – 13 MAR 2019
Lembrança
corroída como poeira,
que
se assenta vagamente no passado,
como
sol posto em crepúsculo velado,
quando
se apaga a flama derradeira...
Só
por instante, a memória foi certeira,
de
flecha luz no escuro sopesado,
tempo
em areia escusamente revelado,
por
leve passo na fímbria passageira...
mas
o instante se esvaiu, igual que o pó
se
assenta aos poucos, nos fundos do ataúde
e
mais um laço de trauma atribulado
se
perde nesse olvido de estar só
e
nesse instante, sem saudade que me escude,
só
resta a ausência de um sonho desmanchado...
MICROCOSMOS
II
Cada
lembrança é um vasto microcosmos,
bem
contingente no universo da amplidão,
só
uma forma temporária em profusão,
um
semovente em seu pseudocosmos...
Cada
lembrança um cintilar de cosmos,
um
flashback igual que em gravação
de
qualquer filme, derradeira comunhão
com
o que seria, talvez, um magnocosmos...
esse
instante suspeitoso do passado,
qualquer
semblante ex-tempore revelado,
cada
sentido novamente em erupção,
nessa
abrangência irreal da sensação,
que
a seguir se desvanece em ar cansado
pela
premência de material percepção.
MICROCOSMOS
III
Mas
por que um microcosmos tão disperso
pelos
dédalos e meandros do passado
nos
chega de tocaia, em consagrado
milagre
fraco, em esplendor converso?
De
onde surge esse aberrante terço
que
se reza sem querer e sem pecado?
Qual
labirinto do coma desvendado,
após
dormir em hipnagógico reverso?
Contudo
explode, sem contemplação
e
no momento em que o queremos apanhar,
corre
dos dedos qual líquido fogo,
num
poeiracosmos sem maior revelação.
Fica
a surpresa, de nós ainda a zombar,
quebrada
assim toda a regra de seu jogo!
SAIBRO BRANCO I – 14 março 2019
AMOR É ABRUPTO QUANDO NOS
ASSALTA,
POR ISSO FALAM NAS FLECHAS DE
CUPIDO,
QUANDO O DEUSINHO CEGO, MALFERIDO
MORDE NOSSO CORAÇÃO COM ESSA
MALTA
DE ILUSÕES QUE SUA SETA NOS
RESSALTA,
NO PEITO E MENTE ESSE ENSANDECIDO
TROPEL CONTRADITÓRIO E DOLORIDO,
CUJO CONTROLE PARA NÓS SEMPRE NOS
FALTA.
É UM CALCULADO E ESPONTÂNEO
SOFRIMENTO,
QUE SE QUER COMBATER E NÃO SE
QUER,
NO MASOQUÍSTICO DESEJO DA MULHER
QUE NÃO NOS VÊ COM O MESMO
JULGAMENTO,
ANTES NOS OLHA COM DESPREZO E NOS
CONDENA,
PELO TEMOR DE ACENAR COM A MENOR
PENA!
SAIBRO BRANCO II
PORQUE A MENTE DA MULHER É COMO
ARGILA,
SE BEM QUE SEJA DESBOTADA NA SUA
COR,
DE “SAIBRO BRANCO” A CHAMO EM MEU
VISOR,
MOLDADA DE EMOÇÕES EM LARGA FILA;
DO RACIONAL NÃO SE MOSTRA FIEL
ANCILA
E FACILMENTE DESCAMBA PARA O AMOR,
CONVERTIDA EM ILUSÕES NESSE TEOR,
EM UM PROCESSO NO QUAL SEQUER SE
ATILA.
E A PENA ABRE CAMINHO COM VIGOR
PARA ESSE VASTO CONJUNTO DE EMOÇÕES,
MISTO DE FRIO, DE SAL E DE CALOR,
QUE LHES FAZEM PALPITAR OS CORAÇÕES
E NELES BORDAM UM ESPECIAL FAVOR,
SEM INTENÇÃO DE EXPLICAR-LHE SUAS
RAZÕES.
SAIBRO BRANCO III
SUA ALMA ASSIM POR DEMAIS É
SUSCETÍVEL
A QUALQUER TIPO DE MANIPULAÇÃO,
SOB INSISTÊNCIA SOFRENDO PERSUASÃO
DE FORMA LENTA E ATÉ IMPERCEPTÍVEL,
SEM QUE HAJA INDIFERENÇA
INEXAURIVEL...
MAS SE ENFRAQUECE, POR INSTANTE, A
REJEIÇÃO,
MOLDA-SE O SAIBRO PERANTE A
SUGESTÃO,
SURGINDO A CRENÇA DE UM AMOR PURO E
SENSÍVEL.
RARA A MULHER QUE RESISTE A GALANTEIO,
DESDE QUE SEJA FINO E DELICADO,
SINCERAMENTE CONSTANTE E PERPETUADO,
POIS TODO AMOR, LÁ NO FUNDO, É
MATERNAL,
TODO INSTINTIVO, EMPÓS PRESERVAÇÃO
DE NOSSA ESPÉCIE EM SEU VENTRE
INDIVIDUAL.
SAIBRO BRANCO IV
EIS PORQUE O TEMOR DE SENTIR
PENA,
SE O PRÓPRIO ÓDIO PODE TORNAR-SE
INVERSO,
QUANDO O DESPREZO SE TORNA
CONTROVERSO
E A BRANDURA, POUCO A POUCO,
COBRE A CENA
E NESSA PRÓPRIA INJÚRIA QUE
CONDENA
ACHA RAZÃO SEM RAZÃO E ASSIM
CONVERSO
É O CORAÇÃO AO ESCANDIR DO VERSO,
ENQUANTO A ALMA AMOR CAPTA QUAL ANTENA.
SE NÃO FOSSE ESSA ARGILA
MATERNAL,
ESSE INSTINTO BROTADO LÁ DO
ANTANHO,
NEM SEQUER SE DISPORIA A
ENGRAVIDAR;
E NO ENTRETANTO, ESSE BRADO
ESPIRITUAL
FAZ O IDEAL CRESCER A UM GRAU
TAMANHO
QUE ENFIM TE AMA, SEM QUERER TE
AMAR!
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