segunda-feira, 19 de junho de 2023


 

 

AS TRÊS MANTILHAS XVII – 15 outubro 2022

 

E assim a pôs na garupa do jumento

e o cavalgaram pela longa estrada.

Seus pais acharam sua beleza deslumbrante:

“Esta é Martchinka e me partilha o sentimento,

por mim sabe que será sempre idolatrada,

será comigo carinhosa e esposa amante...”

“Mas eu só posso conviver durante o dia,

para meu pouso seguirei na noite fria!...”

Por belas que as duas noivas parecessem,

os pais ficaram um tanto perturbados:

nenhuma delas netos lhes daria,

que pudessem mimar quando crescessem;

e como seriam dois matrimônios realizados,

se as duas reunir sequer se poderia?

Uma somente durante o dia passará

enquanto a outra só de noite ficará!

Mas como Milovan custava a retornar,

os irmãos diziam que roubar não poderia

alguma noiva, igual às coisas que furtara,

alegando que alguém a fôra presentear!

E ao mesmo tempo, que já se realizaria

o casamento que o crepúsculo já chegara:

enquanto uma noiva tinha pressa de voltar

e a outra mesmo só acabara de chegar!

Mas Milovan ao castelo retornara,

para a Ludmilla explicar a nova exigência;

a princesa, sorridente, o escutou,

se lhe pedisse, prontamente o abraçara,

mas a escutá-lo na maior paciência

e Milovan fazer a proposta nem ousou!

Contudo, permanecia ainda o encantamento,

embora bem mais fraco no momento!...

E nessa noite, Ludmilla o fez dormir num aposento

todo forrado de verde, “Mas não tenha medo,

será a prova derradeira, és bem valente

e saberás te portar a bom contento!

Ao novo espírito não lhe contes o segredo

desse amuleto e de quanto ele é potente.

Ele também tentará te arrebatar,

mas em tua vida não poderá tocar!...”

 

AS TRÊS MANTILHAS XVIII – 16 outubro 2022

 

De fato, quando bateu a meia-noite,

surgiu o fantasma, com acusação pungente:”

“Desgraçado, vieste aqui roubar o meu castelo!”

“O senhor é o rei?” – indagou, sem grande afoite.

“Sim, sou Aleksander Quarto, o rei potente,

mas vou matar-te e assim não poderás tê-lo!

A meus soldados e cortesãos lograste,

mas meu poder nada haverá que afaste!”

“Majestade, tendes todo o meu respeito,

aqui cheguei só a buscar uma mantilha

e da segunda vez, só uma corrente,

mas a princesa é muito bela e estou sujeito

a confessar que sinto amor pela sua filha;

porém com o castelo não me importo, realmente.”

“Insensato! Como finges não saber?

Se a desposares, tudo irá te pertencer!”

“Se for assim, ficarei muito agradecido,

mas sequer ouvira falar de seu castelo

e muito menos do reino que governa;

a duas provas já fui submetido

e as duas enfrentei no maior zelo,

logo sua maldição deixará de ser eterna!”

“Talvez, mas a terceira prova é a mais forte

e não conseguirás vencê-la só por sorte!”

“Não sei por que não consigo te matar!”

“Perdoe, Majestade, mas um fantasma

não consegue, realmente, me atingir!”

“Contudo, ainda poderei te arrebatar,

entendes bem? Mas o medo não te pasma?

Todos os outros pretendentes consegui ferir,

mas ao me verem, uivavam de terror!”

“Não o farei, eu só o respeito, meu senhor!”

O rei soltou uma forte imprecação

e sem tocar no jovem, realmente,

fez que flutuasse para a noite escura.

“Se conseguires suportar a provação,

serás digno de minha filha, finalmente

e a mim mesmo libertarás da praga impura;

mas feche os olhos firmemente agora,

porque tudo será mudado nesta hora!”

 

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