A MOCHILA MÁGICA III
(MAUREEN O'HARA, apogeu de Hollywood)
Começou Brian a ficar um tanto inquieto,
porém notou que os soldados à sua frente
eram mais novos na tropa do que ele.
Com quinze anos seu soldo era completo
teria mais sorte que aquela pobre gente,
pois bela soma seria o lucro dele...
Finalmente, conseguiu à mesinha chegar
em que se achava o tenente com sua escolta.
“Seu número, Patrick!” – Sem mais volta,
exigiu o superior, sem nem o olhar...
“Meu nome não é Patrick,” ele explicou.
“Pouco me importa. Qual é o
número da ficha?”
Brian lhe disse, ofendido levemente,
mas com os maus modos pouco se importou,
que grossura na tropa afinal é coisa micha
e só o número importava a esse tenente.
“Está aqui, dois mil, cento e cinquenta e seis.
O seu nome é Shaughnessy, Patrick?”
“Sim, Brian Dennis, espero que aí indique...”
“B. D., estou vendo... Você engajou em Dezesseis?”
“Sim, senhor, estou na tropa há quinze anos.”
“Não perguntei, Patrick. Não vê
que posso ler?”
“Mas eu não sou...” – “Você quer calar a boca?
Para mim é igual aos outros carcamanos,
É Patrick, e pronto! Não quero
mais saber,
entendeu?” “Sim, senhor!” “Que coisa louca!
Querem que eu saiba o nome de milhares!...”
“É isso mesmo, senhor,” disse o sargento.
“Que importa o nome de cada irlandês sarnento?
Bastam os números para os militares!...”
“Pois muito bem, Patrick! Shaughnessy, B. D.,
engajado na tropa em Oitocentos e Dezesseis,
vamos ver...
Temos aqui uma bela soma...
Sabe ler, Patrick?
O que é que você vê?”
“Aqui, senhor?
Quinhentas e vinte e três...
Libras, senhor...?”
Sua alegria ele mal doma.
“Pois é, Patrick...
Mas temos os descontos.
Você gastou oito belos uniformes,
comeu, bebeu...
Seus gastos são enormes...
Há a espingarda, a munição, outros apontos...”
A MOCHILA MÁGICA IV
“Mas, senhor, eu devolvi a espingarda!...”
“Tem o desgaste, as balas que empregou,
as botas e os coturnos que gastou...
Vamos ver, pretende agora devolver a farda,
o cantil e a mochila que ganhou...?
Possível abatimento se anotou...”
“Mas, senhor, não tenho roupa de civil!...”
“Bem, vai então conservar o uniforme,
sem as insígnias regimentais, está conforme?”
“Sim, meu tenente!
Andar nu é coisa vil!...”
“Quer fazer graça, Patrick?
Contas feitas,
você tem a receber só três xelins...
Assine aqui, que o sargento então lhe paga.
Quer conferir se as somas estão direitas?
Ainda recebe provisão e afins
e pode conservar mochila e adaga...”
O pobre Brian viu na cara dos ingleses
que não estavam para brincadeiras,
colocou os três xelins nas algibeiras,
fez continência, como em tantas vezes...
Tomou ensopado com o cozinheiro,
encheu a mochila com as provisões
e uma garrafa de bom uísque irlandês.
Meteu o pé na estrada, bem ligeiro,
que não queria se envolver em confusões:
não se discute com comandante inglês!...
E saiu caminhando sem destino...
Teria de arrumar algum emprego...
Tenho comida para seis dias, não nego,
mas, e depois? Que é que faço, meu menino...?
De
qualquer forma, conservou o bom humor
e
seguiu caminhando pela estrada,
mas
onde ia, pouco ou nada conseguia,
sempre
encontrava mais de um predecessor,
a menor
vaga já se encontrava ocupada
e
alimento ninguém lhe repartia...
Eram
centenas de soldados dispensados,
as
pessoas não sabiam o que fazer
e mais
caminho seguiu a percorrer,
até bem
longe dos lugares frequentados...
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