sexta-feira, 15 de dezembro de 2023


 

 

(A MOCHILA MÁGICA VII

JUDITH ANDERSON & GENE TIERNEY)

 

Experimentou de novo.   Bastava pedir

e já lá na mochila qualquer coisa se achava!

À velhinha agradeceu, com sinceridade...

De repente, uma luz viu na frente a luzir,

uma lâmpada acessa que já rebrilhava...

Talvez ali arranjasse a hospitalidade...

Seguiu seu caminho e uma granja encontrou;

a porta empurrou, viu um velho sentado,

ante pilhas de ouro brilhante e dourado,

que logo pistola ao soldado apontou...

 

“Vá embora daqui, ou atiro, ladrão!”

“Ladrão eu não sou, vim só pedir comida

ou quem sabe um lugar em que pouse esta noite...”

“Vou chamar os cachorros, se vai armar confusão!”

“Tudo bem,” disse Brian, “não me quer dar guarida,

vou-me embora depressa, não preciso de açoite!...”

E como era honesto, seguiu pela estrada,

embora sentisse forte ressentimento:

Tantas pilhas de ouro e nem reparte o alimento!

Pois quero o ouro na mochila, sem lhe deixar nada!

 

Desta vez, já aguardava seu peso sentir;

abriu a mochila, que se achava estufada:

Não preciso, de fato, de todo esse ouro!

Então desejou só uma parte possuir,

que o resto voltasse à granja deixada...

E com bem menos peso, marchou sem desdouro.

Mas logo outras luzes à frente enxergou,

encontrou uma aldeia, chegou à estalagem,

mostrou uma moeda e pediu hospedagem

e com boa vontade, o hospedeiro o aceitou.

 

Mas depois que bebeu e comeu, já bem farto,

o estalajadeiro se mostrou meio embaraçado:

“A casa está cheia, chegou bem na feira...”

“Mas serve-me o estábulo, não precisa ser quarto...”

“Também está cheio, está tudo tomado...”

“Eu me deito no chão, pode ser numa esteira...”

(Recordou ter nos bolsos todo aquele dinheiro).

“Eu posso pagar, mas na rua, há perigo!...”

“Tem toda razão, mas lamento, meu amigo,

está tudo lotado,” disse o estalajadeiro.

 

A MOCHILA MÁGICA VIII

 

“Quer dizer, tenho um quarto, porém não alugo,

pois já várias pessoas morreram ali...”

“Não seja por isso, me alugue essa peça,

mal algum poderá tomar-me em seu jugo,

tenho a graça de Deus, ficarei bem aqui...

Eu me responsabilizo e que esta libra agradeça!”

O estalajadeiro aceitou, de expressão constrangida

e destrancou o quarto, que abriu para arejar.

“No meio da noite, a fome me faz acordar,

quero vinho bastante e bastante comida!...”

 

“É uma pena, rapaz, simpatizei contigo...”

Mas puseram uma mesa com quatro cadeiras,

comida à vontade e garrafas de vinho...

Após trancar a porta, disse Brian consigo:

Vou deixar acesas quatro velas inteiras

e dormir com um olho só, como bom soldadinho!

E lá pelas tantas, mal e mal cochilava,

um barulho escutou, descendo a lareira;

ergueu-se depressa, sentou-se em cadeira

e ficou à espreita de quanto o aguardava...

 

Então, viu surgir um diabo encarnado

e de braços abertos; mas logo o convidava:

“Venha comer, meu amigo, deve estar com fome!”

O diabo o olhou com surpresa e de lado:

“Você não tem medo?”  E já se aproximava.

“Cada um que me vê, só de susto já some!...”

“Pelo contrário, olhe aqui, está servido o jantar,

não está com fome?  Sente-se para comer...”

Viu o diabo a comida com o maior prazer

e à mesa sentou-se, sem fazer-se rogar...

 

Surgiu em seguida um diabo amarelo,

que parou espantado ao pé da lareira;

um diabo bem negro desceu-lhe na esteira

e Brian os chamou para o banquete belo

e logo se puseram a comer e a beber,

mostrando naquilo evidente prazer...

Então lhe falou o diabo vermelho:

“Cristão, você é o primeiro a nos convidar,

e assim lhe explicarei por que vou lhe matar...

É que aqui se hospedou um pirata bem velho.

 


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