A NOVA CRIAÇÃO E MAIS
William Lagos 24/12/16 a 02/01/17
(ASHTORETH, ÓLEO DE ANTOINE JUDIT)
A NOVA CRIAÇÃO I
No princípio criou o homem o Disco
Rígido
e a imagem no Monitor era sem forma e
vazia,
da Microsoft o espírito em mil Pixels pairaria,
o Teclado a enriquecer em fluxo hígido. (*)
(*) Saudável, completo, sem defeitos.
Depois a luz se produziu no seio túrgido
de uma tela que em cada lar introduzia;
da tela em proteção seu logotipo
reluzia,
bidimensionalidades furtadas ao sol
fúlgido.
Então surgiram a Tela Plana e o Celular,
com a insistência de mil Redes Sociais,
a vida humana já sem forma e mais vazia,
seus Teclados o teu tempo a devorar
em mundos falsos que te ocupam mais e
mais
inclusão cega que tua mente alienaria.
A NOVA CRIAÇÃO II
Disse Bill Gates, portanto: “Haja dinheiro,
que assim recrie a formosura das
paisagens,
que sobre a tela descreva as mil
vantagens,
sendo esquecido o teu Remoto
companheiro.”
“Aprenderás a digitar bem mais ligeiro
por tais botões a transmitir mensagens,
basta que apertes teu retângulo e miragens
digitais dominarás no mundo inteiro!...”
É o sacerdote que proclama a religião
da nova igreja entronizada em cada lar,
em que há canais de Deus e outros de
sexo!
A teus caprichos dará qualquer
satisfação,
da urbe e do orbe a vastidão a controlar,
(*)
sem que precises fazer nada de complexo!
(*) Urbis
et Orbis, alusão aos sermões dos Papas.
A NOVA CRIAÇÃO III
A antiga tradição, quer real, quer
fantasia,
talvez metáfora orientada a analfabetos
ou realmente a descrever atos secretos,
da Divindade que assim comprimiria
todos os atos da Criação num breve dia,
criando o Sol e a Lua tão diletos,
as plantas e animais, peixes e insetos,
pingos de estrelas a que o Sol
presidiria.
Sete períodos, sete eras geológicas,
em sucessão clara, que em nada contraria
a ciência humano ao que o Gênesis dizia.
Mas a Computação tem novas lógicas
que em sete dias jamais se limitaram:
há quantos anos as suas garras se
espalharam?
A NOVA CRIAÇÃO IV
Mas uma vez que não lhe bastam sete dias
para criar de novo o Sol, a Lua e
Estrelas,
ou retirar dos Oceanos as Terras belas
e os Animais que em tantos sites vias
e as multidões dos Humanos, que
assistias
transmogrifados nos pixels das telas,
sabe-se lá em teu porvir quais as
mazelas
vão te afastar deste mundo em que vivias!
Hoje os tablets e os onipresentes celulares,
certas pessoas tendo chips inseridos
e marca-passos com controles digitais;
quem nos dirá que novos monstros
singulares,
apocalípticos, aos blue
tooth substituídos
cartões de crédito descartando e tudo o
mais!
A NOVA CRIAÇÃO V
Disse São João que o Número da Besta
seria seiscentos e sessenta e seis,
sendo “número de homem”, qual lereis
nas finais páginas da sacrossanta gesta.
Ainda é analógico o Evangelho que nos
resta,
mas consultá-lo em digitais podeis;
em certos pontos da rede encontrareis
dois Testamentos em luminosa festa!...
Porém em muitos outros sites se acharão
as instruções para baixar novos
programas;
não serão eles Seiscentos e Sessenta
e Seis, nas Plataformas que ali estão,
criados para o homem seus proclamas,
em qualquer atividade que o sustenta?...
A NOVA CRIAÇÃO VI
Antigamente, era só a televisão
que nos lares dos humanos penetrava
e já os costumes assaz influenciava,
olhar a dentro, em trepidante projeção.
Porém criou-se a digital computação
que em toda parte mais ainda se
infiltrava
e suas mil possibilidades apregoava
nos notebooks
de espantosa difusão!
Tornam-se agora universais os celulares,
aos videoguêimes devorando facilmente,
informações a burlar comércio e escola,
tecnológicos portentos singulares
que o homem julga usar tranquilamente,
sem perceber que o digital é que o
controla!
MAIS UM NATAL 1 – 25 DEZ 16
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Nos indagou Assis, o “Machadão”,
Mestre de todos quantos hoje estão
Trilhando as sendas antigas que nos deu.
Já muita gente o Natal nos descreveu,
Alguns tomados de amor no coração,
Outro na crítica da comercialização,
Na literária alternativa que escolheu.
Em mim não encontro originalidade
Em percorrer assim igual vereda,
Por mais que venha solicitação.
Pois eu mesmo redigi, na mocidade,
Alguns hinos de louvor, música leda
E também críticas à presente situação.
MAIS UM NATAL 2
O que se espera que se afirme, enfim?
Que se tornou apenas alvo de ambição
Pelo lucro que se aufere na ocasião,
Claras vitrinas a se enfeitar assim?
Já escrevi sobre as ovelhas, quando vim
A descrever sua hesitante posição.
Teria o jumento realmente exaltação
Na longa estrada até o Egito Sefardim.
Mas o boi que tantas vezes se menciona
Uma vaca talvez fosse, realmente,
Dando ao leite de Maria um complemento.
Mas uma ovelha de qual prêmio faz-se a dona?
Seria, por certo, degolada simplesmente,
Sacrificado assim seu sangue bento...
MAIS UM NATAL 3
Teriam ouvido mensagem de esperança
Vinda do céu, com o fim do sacrifício?
Pobres bichinhos, do churrasco o benefício,
A quem perdão divino nunca alcança!
Sua carne ensinam a comer desde criança,
Um holocausto a mascarar o vício,
Nunca de fato para Deus tal malefício,
Só para a gula de assar sua carne mansa!
E se na Páscoa perdoaram-se os pecados,
Uma só vez, de toda a humanidade,
Perdão não houve para quaisquer ovinos...
Pela ilusão teriam sido arrebatados,
Expectadores de tal Natividade
De protegerem da degola os seus destinos?
MAIS UM NATAL 4
Mas até isso eu já falei um dia!
Falei também do Menino Carpinteiro,
Ou do Messias, que rejeitou ligeiro
O povo de Israel que O recebia...
Já mencionei que esta data lembraria
O festival de Mitra e o fogo arteiro
Do solstício indo-europeu, um tal luzeiro
Que a luz do dia novamente ampliaria...
Pois era a morte do Inverno que incendiavam,
Que fosse assim afastado lentamente,
Que todo o frio se descartasse eventualmente,
E assim cristãos ortodoxos recusavam
Esta data, em favor da Epifania,
Ao confirmarem que tal luz se alongaria...
MAIS UM NATAL 5
Já muita vez mencionei o Yule antigo,
No qual um deus revestido de azevinho
Afastaria um novo ano mais mesquinho,
Na primavera à semeadura dando abrigo.
Ou mesmo o mito de Adônis, Rei-Mendigo,
Por um ano a receber todo o carinho,
Quais vontades satisfeitas no caminho,
Para depois ser lançado em seu jazigo,
Seu sangue inteiro pelos campos derramado,
Das abundantes colheitas garantia
E outro mendigo como rei se escolheria...
Tal qual um dia foi também sacrificado
Esse Menino dado à luz nesse inicial,
Famoso dia a que chamaram de Natal!
MAIS UM NATAL 6
Mudou o Natal, é claro. Nas igrejas
É celebrado com pompa e circunstância,
Ainda ovelhas a degolar em cada estância
Para a gula celebrar... que mais desejas?
Ou o peito de um peru, se acaso estejas
Influenciado também pela constância
Das tradições do norte... em pura ânsia
Beijas a carne e não ao Cristo beijas!...
Mas assim mesmo é a natureza humana:
É sempre o estômago que as gerações enlaça
E bem merece o comércio tal quartel...
Mas o Pinheiro do Natal ainda irmana,
Ainda há Presépios como símbolos da graça
Do nascimento desse bom Papai Noel!...
O SENHOR DOS ESPELHOS I – 19
NOV 2007
"Arquimedes" só
podia ser um físico,
com esse nome; ou então, um
matemático,
medindo os ares,
brilhando-lhe um simpático
sorriso em comissuras de
seus lábios...
Já "Marquimedes"
podia ser um tísico,
seus foles cheios de
pneumonia,
pelo mar que medira, ou
pleurisia,
que provocam tal moléstia os
alfarrábios...
Talvez devera
chamar-se "Terquimedes",
a Terra inteira medindo com
seus números,
suportando a atmosfera nos
seus úmeros...
[Ou deglutindo o mar, para
acessá-lo!...]
Bem sei que um trocadilho
não me pedes,
porém o sábio deu-me a honra
de louvá-lo!...
O SENHOR DOS ESPELHOS II – 26 DEZ 2016
(Ideia inicial sugerida por Ludwig Gulda
em seu poema Kriegsmärchen
[Conta de Fadas Guerreiro], traduzido e
adaptado por William Lagos.)
Em seu castelo repleto de riqueza
que todas as terras dominava a seu
redor,
vivia rainha de grandíssima beleza,
porém dotada de vaidade ainda maior!
Além de todos os dotes que possuía,
tinha em segredo um belo espelho mágico,
sobre o qual diariamente ela se via,
seu vasto orgulho até mesmo um tanto
trágico.
Era um imenso espelho de cristal,
formado o fundo por óxido de prata;
Marianne, a bela, mirava-se no oval,
toda vaidosa de seu olhar de gata!
E ela indagava: “Espelho, espelho meu,
fólio de prata sob um vidro de cristal,
no mundo existe alguém mais bela do que
eu?”
“Sois a mais bela!” – respondia o
espelho oval...
Passados anos, já um tanto encanecida
e procurando quaisquer rugas e sinais,
se perguntava, já pouco convencida,
se a formosura não teria outras
rivais...
E ela indagava: “Espelho, espelho meu,
fólio de prata sob um vidro de cristal,
no mundo existe alguém mais bela do que
eu?”
“Sois a mais bela!” – respondia o
espelho oval...
Logo depois, se desnudava inteiramente,
a examinar a sua elegância e a esbeltez,
ante o espelho a dançar vaidosamente,
cega aos defeitos que nele o tempo
fez...
Um dia, porém, já bem entrada em anos,
repetiu ela a mesma indagação
e o espelho respondeu, meio em afanos:
“Ninguém na França vos tem comparação.”
“Mas num castelo que existe além do
Reno,
mora Schneewittchen, a Branca de Neve,
que é décadas mais jovem e o rosto
ameno,
mais do que o vosso, minha senhora, é
leve...”
“Que quer dizer? Ela é mais bela do que eu?”
O rosto mágico no espelho suspirou:
“Foi na Alemanha, senhora, que cresceu:
Em toda a França ainda ninguém vos superou...”
O SENHOR DOS ESPELHOS III
Era Marianne praticante de alquimia
e logo após de preparar forte veneno,
magicamente os ares percorria,
a procurar o tal castelo além do Reno...
E disfarçada em honesta vendedora
tentou fazer com que comesse a tal maçã
que envenenara, doce, rubra e loura,
porém a jovem desconfiou fosse malsã
e recusou-se a lhe dar qualquer
mordida...
Voltou Marianne para o lar em
frustração,
da formosura dessa jovem convencida,
assim forçada a seu espelho dar razão!
Ora, existia na Inglaterra um
comerciante,
chamado John Bull, bastante rico,
mas avarento, a amealhar constante
novos tesouros, sua fortuna em pico!
Possuía ele uma Sala de Tesouro,
com ouro, jóias e diamantes empilhados
e bem guardado, num surrão de couro,
espelho mágico, protegido em mil
cuidados!
E ele dizia: “Espelho, espelho meu,
fólio de ouro sob um vidro de cristal,
no mundo existe homem mais rico do que
eu?”
“Ainda há muitos,” – replicava o espelho
oval.
Mas tanto esforço John Bull realizou,
sem muito escrúpulo atrapalhando seus
negócios,
que um certo dia o espelho concordou:
“Podeis agora aproveitar os vossos
ócios.”
“De fato, o homem mais rico vos
tornastes!”
De John Bull brilhou alegre o coração,
mas não deixou que a boa nova o
afastasse
de mais negócios, ainda cheio de
ambição.
De quando em vez ele abria o seu surrão,
tirando o espelho que protegia o couro
e indagava, ainda tomado de emoção:
“Alguém existe a possuir maior tesouro?”
E respondia então o espelho, inabalável:
“Não, meu senhor, ninguém tem igual
fortuna!
Vossa riqueza é, de fato, incontestável,
mas não deixeis que a ambição vos
puna...”
O SENHOR DOS ESPELHOS IV
Porém John Bull continuou a trabalhar,
cada vez mais ampliando o seu tesouro,
sem amizades e sem amor buscar,
de novo abrindo o seu surrão de couro...
Mas um dia, recebeu triste surpresa:
“Vós sois o homem mais rico da
Inglaterra,
mas na Alemanha Siegfried, com certeza,
tornou-se o homem mais rico sobre a
Terra!”
“Pois conquistou o vasto Ouro do Reno:
do Anão Alberich o conseguiu tomar
e tal tesouro conserva o dom ameno
de poder eternamente se ampliar!...”
John Bull, então, que também era
alquimista,
afiada adaga encantou, bem facilmente,
e foi montado em unicórnio na conquista
desse tesouro de ampliação frequente!
Mas Siegfried era bravíssimo guerreiro
e nunca o gume de sua adaga o atingiu.
John Bull voltou, frustrado por inteiro
e ao espelho mágico então se dirigiu.
Disse-lhe o espelho: “Senhor meu,
respeitado,
além do Reno está Branca de Neve
e Siegfried será seu Príncipe Encantado,
que em combate vencer ninguém se
atreve.”
Ao mesmo tempo, Marianne consultava
seu próprio espelho e, por ato de magia,
por meio dele com John Bull já
conversava:
terrível trama entre os dois se
constituía!
Ela a figura de Schneewittchen imitaria,
perante Siegfried a aparecer
e John Bull ser Siegfried fingiria,
Branca de Neve nessa ilusão iria
vencer!...
E com sua adaga a jovem mataria,
enquanto Marianne daria o seu veneno
a Siegfried! – E assim não mais
existiria
o tal casal de rivais além do Reno!
E combinados os dois, então partiram,
pelos espelhos totalmente transformados,
para a Alemanha, onde fazer buscaram
os malefícios destarte planejados!...
O SENHOR DOS ESPELHOS V
Mas Arquimedes, senhor de cada espelho,
em Siracusa ainda a magia praticava,
o qual de mais de três milênios já era
velho
e sob um nome modesto se ocultava.
Em seu espelho do bronze mais polido,
que refletia muito mais que os de
cristal,
a trama viu que haviam resolvido
dois alquimistas voltados para o mal!...
E com um simples sorriso de desdém,
modificou o resultado de seus planos:
capturou os dois bruxos desde o Além,
no exercício dos poderes mais arcanos!
Como castigo, meio como diversão,
Os transformou em pequenos mamulengos!
(*)
Logo no teatro de Stromboli eles estão,
manobrados por cordéis, fantoches
rengos!
(*) Nome dado aos fantoches no Nordeste.
Ali Stromboli a velha história ainda
encenava
dos Sete Anões e sua Branca de Neve,
que a boneca Marianne apresentava:
John Bull no Príncipe transformar-se
deve!
E muitas vezes tais papeis
interpretaram,
sem precisarem de água ou alimento
e então Pinóquio ali os dois acharam,
da Fada Azul assistindo a seu portento!
Comunicando-se pelo pensamento,
presos os dois por essa triste sorte,
entre ambos foi surgindo um sentimento:
queriam juntos continuar até a morte!
Mas não assim! Não naquele Teatrinho
de Fantoches que só Stromboli movia!
De mamulengos um destino tão mesquinho!
Mas esperança enfim neles surgia!...
A Fada Azul a Pinóquio transformou,
realmente, num menino de verdade!
“E se o Mago Arquimedes nos perdoou
a Fada Azul nos concede a liberdade?”
E numa noite, os dois se concentraram,
por uma fenda do teto vendo a estrela
e com a máxima confiança suplicaram:
“Devolva nossos corpos, fada bela!”
O SENHOR DOS ESPELHOS VI
Dessa primeira vez, nada adiantou:
como fantoches, vários anos se passaram;
a mesma trama se representou
e os pobres presos ainda mais se amaram!
Mas finalmente, numa noite sem luar
a estreita fenda a um raio deu passagem.
“Oh, Fada Azul, a nós dois vem
libertar!”
Suplicaram os dois bonecos com
coragem...
“Será que os dois já têm merecimento?
Lembram por que foram trazidos para cá?”
“Senhora nossa, um arrependimento
maior que o nosso jamais encontrará!”
“Que me darão, a fim de os restaurar?
“Tudo o que temos, até o bem mais
precioso!”
“O meu castelo, com suas terras e seu
mar!”
“A minha mansão, com seu tesouro
fabuloso!”
“Aceito a oferta, mas não é o
suficiente!
Quero de fato o que possuem de mais
precioso!”
“Dou meu espelho de prata reluzente!”
“Dou meu espelho do ouro mais formoso!”
“Também os aceito, mas não me basta
ainda:
quero de fato o que possuem de mais
precioso!”
“Tudo o que temos, senhora, já vos
brinda!
Nada possuímos mais de valoroso!...”
“Cada um possui, bem sei, coisa mais linda:
feia já foi, mas tornou-se um bem
precioso!”
“A minha Vaidade eu darei, que foi
infinda!”
“A minha Ambição pelo ouro tão formoso!”
“Agora sim, o pagamento é adequado:
a sua Vaidade ora reluz como Safira;
a sua Ambição é um Topázio amarelado
que de Arquimedes afastarão a ira!...”
Então os dois, em aldeia da Toscana,
transformados em dois velhos camponeses,
viveram juntos nesse amor que já os
inflama
por sete anos e ainda mais por sete
meses!
Ah, e o Stromboli? Foi pela fada transformado
num bigodudo e gordo bonequinho,
seu teatrinho sendo agora administrado
por Gepetto e por seu lindo
garotinho!...
O SENHOR DOS ESPELHOS VII
E Arquimedes, de seu lar em
Siracusa,
medindo o ar, como ainda
costumava,
a bela aldeia da Toscana
contemplava,
com seu sorriso irônico de
escusa...
“Como essa gente da magia
abusa,
pensando que aos arcanos
controlava!
A sua maldade no astral não
prosperava;
a iniquidade só esmaga a
quem a usa!...”
“Mas aqui estou eu, aos
poucos a ciência
inteiramente pela Terra distribuindo...
Diversos estudiosos a
descobrindo,
“ao mesmo tempo, em aparente
coincidência...
Meu espelho de bronze,
espelho meu,
no mundo existe alguém mais
sábio do que eu?”
TORREÕES
I – 20 NOV 2007
Até
muralhas se cansam quando a insídia
vai rompendo
lentamente os alicerces...
Assim os
sentimentos, quando invertes
ambos os
polos, por combate contra a invídia... (*)
(*) Inveja.
Até o aço
se entrega à ação da vídia
e se
perfura. Ao longo dos reversos,
corta-se
a alma. Pela tração dispersos
se curvam
corações à ação da mídia...
Assim
minha vida: biruta e maravalha
me são
podadas pelo torno e enxó.
Eu não me
quebro, só enxugo lentamente
os meus
excessos, que a energia espalha
e, pouco
a pouco, o cerne fica só
que,
diverso da muralha, é permanente.
TORREÕES
II – 27 DEZ 2016
As
beiradas dos móveis, lentamente,
se vão
tornando em quinas afiadas;
as tuas
mãos até podem ser cortadas
se ali se
esfregam por demais frequente.
A tela
branca te parece consistente,
mas é
composta por Estruturas transformadas
em
impulsos digitais. São transportadas
por
linhas místicas no espaço transcendente.
E assim
como tuas mãos podes cortar,
esses mil
Pixels se aguçam ante o olhar
e te
podem cegar, sem ter maldade
ou te
levar para o novo mundo alado
em que
cada pensamento é transmutado
nessas
partículas sem qualquer sensualidade.
TORREÕES
III
E mesmo a
alma cede à permanente
ação da
corrupção que sempre a cerca,
até que a
antiga honestidade ali se perca
nesse
esmeril da esqualidez frequente.
A alma se
torna, enfim, sobressalente,
enquanto
a nevoa sobre ela se condensa
pela
fosfórica emanação intensa,
tal qual
tortura em um crisol ardente.
Aguda
qual mefítica noosfera,
a
sobrepor-se à índole inicial
nuances
baças a revestir a idealidade,
que
adormece, bem mais do que se altera,
sob esse
manto de gás imaterial
imposto a
ela por toda a sociedade.
TORREÕES
IV
A pouco e
pouco derruem-se os bastiões,
enche-se
o fosso e se desgasta a levadiça,
à nobreza
original impondo-se a sediça,
como as
ameias vazias entre os merlões.
Já muita
vez me alvejaram imposições,
a alma
inteira amortalhando nessa liça,
adormecendo
a antiga ética castiça
pelo
constante esparzir das corrupções.
Mas
consegui reerguer os meus torreões
e me
tornar semelhante ao que antes fui,
mesmo
trazendo na mente as cicatrizes
e te
conclamo à avaliação das emoções,
quais
sejam tuas e qual do externo flui,
antes que
a alma seja lama em que deslizes!
COLATERAIS
I – 20 nov 2007
Tu
nunca me feriste. Nem podias.
Para
ferir-me, intenção era precisa,
desejo
de punir, uma indivisa
atenção
perante a meta que querias...
Não,
nunca me feriste. Conhecias
uma
forma de agir mais insidiosa.
Quando
os espinhos ferem, fica a rosa
tão
bela e sem moral qual antes vias...
Não
foi assim. Foi veneno indiferente,
centrado
em ti, de modo permanente:
nem
sequer calculaste o que fazias...
E,
de tal modo, foi a ação mais incisiva,
pensavas
só em ti, foste abrasiva
e
o mal foi feito porque nem me percebias...
COLATERAIS
II – 28 DEZ 2016
Pois
sempre me feriste. Sem querer
e
nem ao menos por sentires compaixão,
desdém,
vingança, qualquer desilusão:
feriste
apenas por não me conhecer.
Feriste
apenas por jamais saber
a
origem seres da mais vera emoção.
Por
existires, criaste-me a paixão,
sem
outra instância a que pudesse recorrer.
Pois
assim foi essa longa maravilha,
a
infatuação por sedução ideal,
pela
mulher que na vida não se acha;
e
em vão busquei seguir alheia trilha,
meu
romantismo um patíbulo fatal,
sem
que ao pescoço decepasse a acha. (*)
(*) Machado. Rima de um verbo com substantivo por
convergência.
COLATERAIS
III
Em
torno abunda a feminilidade,
entre
milhares de mulheres distribuída,
que
a meu redor flutuam toda a vida,
com
esplendorosa ou sutil sensualidade.
Algumas
bem conscientes da vaidade,
de
outras a alma em recato só envolvida,
mas
bem ou mal, colaboraram na ferida
causada
em mim por orgulho e veleidade.
Somente
passam... trescalando seu perfume
ou
se deixam em nudez fotografar,
sem
compreender as possíveis consequências,
para
os homens mais grosseiros simples lume
da
excitação sexual a despertar,
colaterais
de seus desejos e tendências...
COLATERAIS
IV
Mas
naquele a quem marcou o romantismo
e
que o corpo da mulher julga sagrado,
elas
despertam ardor mais encantado,
num
componente apenas leve de sexismo.
Cada
corpo desnudo um saudosismo,
cada
semblante a seus anseios combinado,
pois
certamente jamais será encontrado
o
suprassumo de todo o feminismo...
É
assim comigo, como em qualquer poeta,
sua
paixão não sendo a fêmea, mas a musa,
que
nem ao menos se esforça por possuir,
mas
todas ama, em seu ideal de esteta,
corpos
e rostos em uma só... Confusa
fada
impossível por quem deixou-se seduzir.
RODA-VIVA
I – 22 nov 07
Basta
apenas que tenha mais um tempo,
que
me sobrem minutos de atenção,
que
diminua um pouco a sugação
diária
de minha vida, em contratempo,
que
não me exijam tanto, que não queiram
tirar
de mim o sonho e o pensamento,
que
não me esgotem todo o sentimento
ao
ponto que do cerne se me abeiram,
para
que os versos fluam, em torrente,
mais
do que antes, ao me tornar forçado
à
quota semanal [vinte sonetos]... (*)
E
eis que agora me vejo até impotente
para
limpar rascunhos, superado
por cornucópia
de poemas insurretos...
(*) Esse foi o poema nº 29 dessa semana.
RODA-VIVA
II – 29 dez 16
Não
sei dizer se me gabei no rodapé
de
vinte e nove sonetos ter escrito
nesse
período de Novembro, circunscrito
na
antiga década que hoje já não é
ou
se apenas registrei, quem sabe até
como
surpresa pespontada no infinito,
mais
breve o tempo do derradeiro grito,
ao
qual não temo, por força de minha fé,
quando
minha vida tornar-se em Roda-Morta,
sem
que os dedos das mãos possa mexer
e
outros poemas só no espaço projetar,
nesse
inconsciente coletivo que suporta
tantos
anseios que nunca pude ler,
mas
que recebo e ainda posso registrar.
RODA-VIVA
III
Talvez
exista ainda a Roda-Adormecida,
a
quem consigo despertar com certo beijo
e
que flutua pelos ares como adejo
dos
lábios doces da princesa ali estendida.
Porém,
se a despertar de novo à vida,
não
mais à obra pretendida almejo;
terei
de a acompanhar, em fiel cortejo,
minha
poética assim comprometida...
Porque
toda Adormecida é caprichosa
e
então requer de seu Príncipe Encantado
toda
a atenção e total fidelidade,
enquanto
a musa da poesia é mais bondosa,
sem
intenção de possuir em fatuidade
pois
sabe bem ter ao Príncipe encantado.
RODA-VIVA
IV
Claro
que versos continuam a ser escritos,
que
Adormecida em nova musa se transforma
e
seus novos sentimentos molda e forma:
versos
de amor satisfeito são bonitos...
Mas
não são mais como aqueles circunscritos
pela
ansiedade que o coração adorna
por
musa antiga em sua auréola morna,
tão
mais perfeitos quanto mais aflitos!
Enquanto
amor impossível se procura
pelo
prazer de traduzi-lo em versos,
seguem
anseios sempre insatisfeitos,
enquanto
o amor alcançado a dor nos cura
e
a alma orbita ao redor de olhos dispersos
nesses
caprichos que impõem como direitos!
ESGOTOS I
– 23 nov 2007
(Caso o título já lhe cause desagrado, vá
direto a DULCIDEZ.)
Escrevo
até poemas no banheiro,
sentado
sobre o vaso sanitário.
Mas o
cheiro não te chega, sorrateiro,
mesmo que
os versos mereçam tal fadário.
Igual
ao "eu fecal" que, multifário,
derramo a
cada dia, sem primeiro
examinar
o valor de tal calvário
de
sacrifício pleno e derradeiro...
Do mesmo
modo que abandono fezes,
lanço ao
mundo poemas em montões,
puxo a
descarga e a água os impulsiona...
Sem me
importar que, em todas essas vezes,
lance
fatias de minhas ilusões
às
cloacas de um mundo que ressona.
ESGOTOS
II – 30 DEZ 16
Se estas
imagens a mim mesmo repelem,
quando as
releio, uma década depois,
e ainda
perturbam, como posso, pois,
esperar
que ao favor de ti apelem?
Mas os
instintos ainda me compelem
a comentar,
pelo menos a nós dois,
essas
trilhas de versos, como os bois,
acorrentados,
as suas mós impelem...
Percebo
bem que pareça ser nojento
mencionar
o despejo de excreções
e
compará-lo ao descarte da poesia
mas não
recordo ter lido, em algum momento,
referência
a emunctórias dejeções,
salvo em
quadrinhas da mais pura zombaria!
ESGOTOS
III
Já não
recordo o que foi que me impeliu
a
empregar tal desusada imageria,
salvo um
momento em que total descria
que
algures lessem quanto o estro produziu.
Às
ilusões o mundo não se abriu,
salvo em
latrina para minha poesia;
naquela
década talvez já saberia
todo o
desprezo com que o mundo as viu.
Será que
alguma certeza então nutria
de que
pior que sofrer a zombaria
ou mesmo
a crítica mordaz que sempre vêm
somente
algum descaso encontraria
e igual
que às fezes, minhalma sofreria
o
desconforto e descarte do desdém?
ESGOTOS
IV
Certa
coisa, porém, posso afirmar:
mesmo que
fossem as imagens aviltantes,
originais
sempre foram nos instantes
em que à
sua redação fui-me abalar.
E desta
forma, não irei me desculpar,
as minhas
cloacas sendo até insignificantes
ante os
esgotos que hoje vejo dominantes
a meu
redor e aos quais só posso desprezar.
Meus mil
poemas têm ao menos conteúdo,
seguindo
as normas de um perfeito estilo,
mais que
os dejetos que vejo a meu redor,
que
aplaudir vejo, qual se aplaude tudo
e que o
medíocre se apraz em aplaudi-lo,
por mais
vulgar que seja o seu teor!...
DULCIDEZ I – 23 NOV 2007
Doidas são as palavras que te digo:
doídas são; palavras que me escorrem
de uma artéria aberta, que recorrem
diretamente da aorta, sem perigo.
Porque à medida em que o sangue assim
escoa,
o tutano de meus ossos cria mais...
Pois tal amor não se acabará jamais,
como o espaço é infinito e o tempo voa.
São doidas estas linhas que concebo:
são doídas, porque espalham o segredo
contido no meu líquido espinal...
São meus nervos que fluem, enquanto bebo
a taça amarga deste meu degredo,
num fulgor absíntico e final.
DULCIDEZ II – 31 DEZ 2016
Certamente o oposto aqui se impõe
ao tal soneto que despertou teu nojo;
só de sangue coagulado traz despojo:
é artéria aberta de versos que propõe.
Nessa metáfora doida que se opõe
é o nome “Dulcidez” que ao chão arrojo;
do coração já esvaziei frequente o bojo,
mas silencioso o conteúdo se repõe.
Onde a doçura nesse sangue derramado,
por mais que seja em versos transmutado?
Melhor seria lamentar sal e amargor!
Mas nessa linfa potente que me flui
ainda rubra esperança me reflui,
na insopitável pressão de seu rigor!
DULCIDEZ III
Na verdade, nunca são de minha escolha
os versos doces ou amargos que
apresento;
solerte dor dá início a seu assento,
diariamente a preencher alguma folha,
pela poesia que a mim mesmo acolha,
em seus braços de puro assentimento;
nunca sou eu que peneiro qualquer vento,
mas é a brisa do céu que os dedos molha.
E quando afirmo tal escrita ser loucura,
estou de fato asseverando a escravidão
que aceito fácil, por ver nela a
formosura
pois reconheço que só, minha mente
impura
não poderia conceber tal perfeição
que em tantos versos reconheço que
perdura!
DULCIDEZ IV
E quando falo assim em meu degredo,
nesse fulgor absíntico e final,
eu reconheço o poder desse fanal
ao qual a mente, sem protestos, cedo.
Dessa loucura poética o segredo
só conhecem as musas, afinal,
ante o riso estrondoroso e triunfal
de Dionyso, com quem eu me embebedo.
Desse veneno capitoso é seu licor
alcoólico, mas que bem maior tontura
provoca nos poetas a que inspira,
assim perdidos no verdadeiro amor
pelas quimeras de perfeita formosura
em que sua alma orbita e o mundo gira!
ANO NOVO I – 01 JAN 2017
NO MANTO NEGRO DE UMA DANÇARINA
CINTILAM LANTEJOULAS COMO
ESTRELAS
NIX DEITOU-SE E DEIXOU QUE SUAS
DONZELAS
DO MUNDO CONTEMPLASSEM CADA
ESQUINA.
SÃO OS OLHOS LUMINOSOS DESSAS
BELAS
PUPILAS QUE CONTEMPLAM CADA SINA
SEM JULGAR SEJA VÍTIMA OU
ASSASSINA
APENAS OBSERVANDO TAIS SEQUELAS.
A NOITE SE COBRIU, PORQUE É DE
DIA,
EM QUE PASSEIA DE MÃOS DADAS COM
O SOL,
SENDO APENAS ILUSÃO QUE ESTEJA
AUSENTE,
PORQUE É DE NOITE, APÓS A DIÁRIA
ORGIA
QUE HÉLIOS DEIXA DESCANSAR O SEU
FAROL,
DA MINHA RUA A SENTINELA
REVERENTE.
ANO NOVO II
BEM MANSAMENTE, SEU FILHO VEM
TRAZER
COM ASAS BRANCAS DE FORMOSA PRATA
QUE ENTÃO CONFUNDEM COM CEGONHA
GRATA
QUANDO O BEBÊ DOS CÉUS VEEM
DESCENDER.
POR ISSO A LENDA FEZ AO POVO
CONCEBER
DE QUE ESSA AVE, DO NASCER NA
DATA
TRAZ O NENÊ ENVOLTO EM MEIGA
BATA,
NOS HOSPITAIS OU NAS CASAS A
DESCER.
PORQUE É PEQUENO E FRÁGIL E
PRECISA
DE MAIS CUIDADOS QUE ANIMAL OU
AVE:
MAIOR SE FOSSE, LHE PESARIA
DEMAIS.
MAS REPETINDO A VERDADE MAIS
CONCISA,
É A NEGRA NIX QUE DA IMENSA CAVE
DE UM NOVO ANO TRAZ-NOS VINHO
SEMPRE MAIS!
ANO NOVO III
POIS JÁ NA ESPERA DESSA NOITE
ESTÁ O ANCIÃO
ESMAECIDO POR TRABALHO CANSATIVO,
VELHO DE DIAS, DE ANDAR QUASE
INATIVO,
ENSURDECIDO PELOS FOGUETES DA
OCASIÃO.
ELE RECEBE EM SEUS BRAÇOS, COM
PAIXÃO,
ESSE PRESENTE DE UM ANO REDIVIVO
E LHE MURMURA MIL SEGREDOS,
INCISIVO,
JÁ DO INFANTE A BANIR TODA
ILUSÃO...
FEITO CIENTE DE QUAL MALDADE IRÁ
ASSISTIR
E LOGO A NOITE, AO VER QUE JÁ
CRESCEU,
LHE ENTREGA O FACHO QUE DEVERÁ
ACENDER
TÃO LOGO A AURORA VIR NO ORIENTE
RELUZIR
E O ANO VELHO COM A NOITE JÁ
ASCENDEU,
ANTES QUE O NOVO SE RECUSE A
SUCEDER!
ANO NOVO Iv
TENHO CERTEZA DE NÃO SER O
PRIMEIRO
QUE VIU A NOITE TRAZENDO O ANO
NOVO,
SEM CONFUNDIR DO CÉU QUALQUER
RENOVO
QUE CONSERVASSE DOS HOMENS O
LUZEIRO.
MAS NÃO RECORDO QUALQUER VERSO
LIGEIRO
QUE DESCREVESSE TAL DESCER QUE
AGORA LOUVO
E ENTAO A NOITE DENUNCIASSE A
TODO O POVO
COMO CULPADA POR BEM OU MAL
PARCEIRO
QUE ASSIM RESULTE DO COMUM
MILAGRE,
MAS QUE ESTA NOITE EM PROFETA ME
CONSAGRE
A REVELAR SEUS MISTICISMOS
SIDERAIS.
DESTARTE, QUANDO EM NOVO ANO
INGRESSO,
MELHORES CONDIÇÕES AO MUNDO PEÇO
E SE POSSÍVEL... UM DINHEIRINHO A
MAIS!
PÉROLAS MORTAS I – 2 JAN
2017
Porém, durante a noite, é a
vez do dia
encontrar-se com ela, atrás
do manto;
essas estrelas são lágrimas
de pranto,
porque o dia com sua ama
adormecia
após o amor e só os astros
são vigia,
por que ninguém espie sob o
canto
desse lençol azul que
esconde o encanto
do amor da noite e do dia
em harmonia.
Nós apenas pensamos que
estão sós
e só se encontrem ao
crepúsculo ou na aurora,
porém passam todo o tempo
nos seus beijos,
entrelaçados por insolúveis
nós,
o dia e a noite em formação
de cada hora
mesclando a treva e a luz em
seus arpejos.
PÉROLAS MORTAS II
Afinal, se um ano novo nos
surgiu,
desde o ventre da noite foi
trazido,
não foi pelo ano velho
concebido,
mas de um orgasmo do Sol
que reluziu.
Após trezentos dias de amor
se produziu,
antes que a noite rasgasse
seu vestido
e então ao mundo entregasse
o desvalido
e recolhesse o velho irmão
que já assistiu
tanto desastre e maldade e
estupidez,
sem que os homens soubessem
escolher
como melhor tantos dias
empregar
e o ano velho em meteoro
assim se fez,
cuja imensa trajetória pude
ver,
enquanto a mãe para os céus
o ia levar...
PÉROLAS MORTAS III
Trezentas e sessenta e
cinco pérolas levava
em seu manto encardido e
esfarrapado,
perdido o brilho de cada
dia incendiado
que em seus trapos sem luz
ora engastava.
Dias não tornam, mas não se
os descartava,
pouco a pouco encolhia o
seu legado
que por humanos se fez
desperdiçado,
sem saberem se um melhor
fulgor guardava.
Mas essa estrela cadente
que subia.
carregada por sua mãe em
negras asas,
levava as pérolas que
haviam sido um dia,
já transformadas de um
cometa em brasas,
nessa ascendente estrela
que zunia,
na sideral exploração de
novas casas...
PÉROLAS MORTAS IV
Naturalmente, estrelas não
se tornam.
Se cada dia numa estrela se
tornasse
ou mesmo um ano em estelar
se condensasse
ou em novéis constelações
que ali se amornam
não haveria, nesse cosmos a
que adornam
lugar bastante para que
todas guardasse
e a noite em dia talvez se
transformasse
pelas miríades de estrelas
que se formam.
Vão mais além esses dias
esquecidos,
o tecido a constituir das
nebulosas
ou do mistério da “matéria
escura”,
os cósmicos espaços
expandidos
por tais ações gentis ou
temerosas
que a raça humana gerou com
ímpia jura!
Recanto das Letras > Autores >
William Lagos
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