domingo, 19 de fevereiro de 2017





A NOVA CRIAÇÃO E MAIS 
William Lagos 24/12/16 a 02/01/17


                          (ASHTORETH, ÓLEO DE ANTOINE JUDIT)

A NOVA CRIAÇÃO I

No princípio criou o homem o Disco Rígido
e a imagem no Monitor era sem forma e vazia,
da Microsoft o espírito em mil Pixels pairaria,
o Teclado a enriquecer em fluxo hígido. (*)
(*) Saudável, completo, sem defeitos.

Depois a luz se produziu no seio túrgido
de uma tela que em cada lar introduzia;
da tela em proteção seu logotipo reluzia,
bidimensionalidades furtadas ao sol fúlgido.

Então surgiram a Tela Plana e o Celular,
com a insistência  de mil Redes Sociais,
a vida humana já sem forma e mais vazia,

seus Teclados o teu tempo a devorar
em mundos falsos que te ocupam mais e mais
inclusão cega que tua mente alienaria.

A NOVA CRIAÇÃO II

Disse Bill Gates, portanto: “Haja dinheiro,
que assim recrie a formosura das paisagens,
que sobre a tela descreva as mil vantagens,
sendo esquecido o teu Remoto companheiro.”

“Aprenderás a digitar bem mais ligeiro
por tais botões a transmitir mensagens,
basta que apertes teu retângulo e miragens
digitais dominarás no mundo inteiro!...”

É o sacerdote que proclama a religião
da nova igreja entronizada em cada lar,
em que há canais de Deus e outros de sexo!

A teus caprichos dará qualquer satisfação,
da urbe e do orbe a vastidão a controlar, (*)
sem que precises fazer nada de complexo!
(*) Urbis et Orbis, alusão aos sermões dos Papas.

A NOVA CRIAÇÃO III

A antiga tradição, quer real, quer fantasia,
talvez metáfora orientada a analfabetos
ou realmente a descrever atos secretos,
da Divindade que assim comprimiria

todos os atos da Criação num breve dia,
criando o Sol e a Lua tão diletos,
as plantas e animais, peixes e insetos,
pingos de estrelas a que o Sol presidiria.

Sete períodos, sete eras geológicas,
em sucessão clara, que em nada contraria
a ciência humano ao que o Gênesis dizia.

Mas a Computação tem novas lógicas
que em sete dias jamais se limitaram:
há quantos anos as suas garras se espalharam?

A NOVA CRIAÇÃO IV

Mas uma vez que não lhe bastam sete dias
para criar de novo o Sol, a Lua e Estrelas,
ou retirar dos Oceanos as Terras belas
e os Animais que em tantos sites vias

e as multidões dos Humanos, que assistias
transmogrifados nos pixels das telas,
sabe-se lá em teu porvir quais as mazelas
vão te afastar deste mundo em que vivias!

Hoje os tablets e os onipresentes celulares,
certas pessoas tendo chips inseridos
e marca-passos com controles digitais;

quem nos dirá que novos monstros singulares,
apocalípticos, aos  blue tooth substituídos
cartões de crédito descartando e tudo o mais!

A NOVA CRIAÇÃO V

Disse São João que o Número da Besta
seria seiscentos e sessenta e seis,
sendo “número de homem”, qual lereis
nas finais páginas da sacrossanta gesta.

Ainda é analógico o Evangelho que nos resta,
mas consultá-lo em digitais podeis;
em certos pontos da rede encontrareis
dois Testamentos em luminosa festa!...

Porém em muitos outros sites se acharão
as instruções para baixar novos programas;
não serão eles Seiscentos e Sessenta

e Seis, nas Plataformas que ali estão,
criados para o homem seus proclamas,
em qualquer atividade que o sustenta?...

A NOVA CRIAÇÃO VI

Antigamente, era só a televisão
que nos lares dos humanos penetrava
e já os costumes assaz influenciava,
olhar a dentro, em trepidante projeção.

Porém criou-se a digital computação
que em toda parte mais ainda se infiltrava
e suas mil possibilidades apregoava
nos notebooks de espantosa difusão!

Tornam-se agora universais os celulares,
aos videoguêimes devorando facilmente,
informações a burlar comércio e escola,

tecnológicos portentos singulares
que o homem julga usar tranquilamente,
sem perceber que o digital é que o controla!

MAIS UM NATAL 1 – 25 DEZ 16

“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Nos indagou Assis, o “Machadão”,
Mestre de todos quantos hoje estão
Trilhando as sendas antigas que nos deu.

Já muita gente o Natal nos descreveu,
Alguns tomados de amor no coração,
Outro na crítica da comercialização,
Na literária alternativa que escolheu.

Em mim não encontro originalidade
Em percorrer assim igual vereda,
Por mais que venha solicitação.

Pois eu mesmo redigi, na mocidade,
Alguns hinos de louvor, música leda
E também críticas à presente situação.

MAIS UM NATAL 2

O que se espera que se afirme, enfim?
Que se tornou apenas alvo de ambição
Pelo lucro que se aufere na ocasião,
Claras vitrinas a se enfeitar assim?

Já escrevi sobre as ovelhas, quando vim
A descrever sua hesitante posição.
Teria o jumento realmente exaltação
Na longa estrada até o Egito Sefardim.

Mas o boi que tantas vezes se menciona
Uma vaca talvez fosse, realmente,
Dando ao leite de Maria um complemento.

Mas uma ovelha de qual prêmio faz-se a dona?
Seria, por certo, degolada simplesmente,
Sacrificado assim seu sangue bento...

MAIS UM NATAL 3

Teriam ouvido mensagem de esperança
Vinda do céu, com o fim do sacrifício?
Pobres bichinhos, do churrasco o benefício,
A quem perdão divino nunca alcança!

Sua carne ensinam a comer desde criança,
Um holocausto a mascarar o vício,
Nunca de fato para Deus tal malefício,
Só para a gula de assar sua carne mansa!

E se na Páscoa perdoaram-se os pecados,
Uma só vez, de toda a humanidade,
Perdão não houve para quaisquer ovinos...

Pela ilusão teriam sido arrebatados,
Expectadores de tal Natividade
De protegerem da degola os seus destinos?

MAIS UM NATAL 4

Mas até isso eu já falei um dia!
Falei também do Menino Carpinteiro,
Ou do Messias, que rejeitou ligeiro
O povo de Israel que O recebia... 

Já mencionei que esta data lembraria
O festival de Mitra e o fogo arteiro
Do solstício indo-europeu, um tal luzeiro
Que a luz do dia novamente ampliaria...

Pois era a morte do Inverno que incendiavam,
Que fosse assim afastado lentamente,
Que todo o frio se descartasse eventualmente,

E assim cristãos ortodoxos recusavam
Esta data, em favor da Epifania,
Ao confirmarem que tal luz se alongaria...

MAIS UM NATAL 5

Já muita vez mencionei o Yule antigo,
No qual um deus revestido de azevinho
Afastaria um novo ano mais mesquinho,
Na primavera à semeadura dando abrigo.

Ou mesmo o mito de Adônis, Rei-Mendigo,
Por um ano a receber todo o carinho,
Quais vontades satisfeitas no caminho,
Para depois ser lançado em seu jazigo,

Seu sangue inteiro pelos campos derramado,
Das abundantes colheitas garantia
E outro mendigo como rei se escolheria...

Tal qual um dia foi também sacrificado
Esse Menino dado à luz nesse inicial,
Famoso dia a que chamaram de Natal!

MAIS UM NATAL 6

Mudou o Natal, é claro.  Nas igrejas
É celebrado com pompa e circunstância,
Ainda ovelhas a degolar em cada estância
Para a gula celebrar... que mais desejas?

Ou o peito de um peru, se acaso estejas
Influenciado também pela constância
Das tradições do norte... em pura ânsia
Beijas a carne e não ao Cristo beijas!...

Mas assim mesmo é a natureza humana:
É sempre o estômago que as gerações enlaça
E bem merece o comércio tal quartel...

Mas o Pinheiro do Natal ainda irmana,
Ainda há Presépios como símbolos da graça
Do nascimento desse bom Papai Noel!...

O SENHOR DOS ESPELHOS I – 19 NOV 2007

"Arquimedes" só podia ser um físico,
com esse nome; ou então, um matemático,
medindo os ares, brilhando-lhe um simpático
sorriso em comissuras de seus lábios...

Já "Marquimedes" podia ser um tísico,
seus foles cheios de pneumonia,
pelo mar que medira, ou pleurisia,
que provocam tal moléstia os alfarrábios...

 Talvez devera chamar-se "Terquimedes",
a Terra inteira medindo com seus números,
suportando a atmosfera nos seus úmeros...

[Ou deglutindo o mar, para acessá-lo!...]
Bem sei que um trocadilho não me pedes,
porém o sábio deu-me a honra de louvá-lo!...

O SENHOR DOS ESPELHOS II – 26 DEZ 2016
(Ideia inicial sugerida por Ludwig Gulda em seu poema Kriegsmärchen
[Conta de Fadas Guerreiro], traduzido e adaptado por William Lagos.)

Em seu castelo repleto de riqueza
que todas as terras dominava a seu redor,
vivia rainha de grandíssima beleza,
porém dotada de vaidade ainda maior!

Além de todos os dotes que possuía,
tinha em segredo um belo espelho mágico,
sobre o qual diariamente ela se via,
seu vasto orgulho até mesmo um tanto trágico.

Era um imenso espelho de cristal,
formado o fundo por óxido de prata;
Marianne, a bela, mirava-se no oval,
toda vaidosa de seu olhar de gata!

E ela indagava: “Espelho, espelho meu,
fólio de prata sob um vidro de cristal,
no mundo existe alguém mais bela do que eu?”
“Sois a mais bela!” – respondia o espelho oval...

Passados anos, já um tanto encanecida
e procurando quaisquer rugas e sinais,
se perguntava, já pouco convencida,
se a formosura não teria outras rivais...

E ela indagava: “Espelho, espelho meu,
fólio de prata sob um vidro de cristal,
no mundo existe alguém mais bela do que eu?”
“Sois a mais bela!” – respondia o espelho oval...

Logo depois, se desnudava inteiramente,
a examinar a sua elegância e a esbeltez,
ante o espelho a dançar vaidosamente,
cega aos defeitos que nele o tempo fez...

Um dia, porém, já bem entrada em anos,
repetiu ela a mesma indagação
e o espelho respondeu, meio em afanos:
“Ninguém na França vos tem comparação.”

“Mas num castelo que existe além do Reno,
mora Schneewittchen, a Branca de Neve,
que é décadas mais jovem e o rosto ameno,
mais do que o vosso, minha senhora, é leve...”

“Que quer dizer?  Ela é mais bela do que eu?”
O rosto mágico no espelho suspirou:
“Foi na Alemanha, senhora, que cresceu:
Em toda a França ainda ninguém vos superou...”

O SENHOR DOS ESPELHOS III

Era Marianne praticante de alquimia
e logo após de preparar forte veneno,
magicamente os ares percorria,
a procurar o tal castelo além do Reno...

E disfarçada em honesta vendedora
tentou fazer com que comesse a tal maçã
que envenenara, doce, rubra e loura,
porém a jovem desconfiou fosse malsã

e recusou-se a lhe dar qualquer mordida...
Voltou Marianne para o lar em frustração,
da formosura dessa jovem convencida,
assim forçada a seu espelho dar razão!

Ora, existia na Inglaterra um comerciante,
chamado John Bull, bastante rico,
mas avarento, a amealhar constante
novos tesouros, sua fortuna em pico!

Possuía ele uma Sala de Tesouro,
com ouro, jóias e diamantes empilhados
e bem guardado, num surrão de couro,
espelho mágico, protegido em mil cuidados!

E ele dizia: “Espelho, espelho meu,
fólio de ouro sob um vidro de cristal,
no mundo existe homem mais rico do que eu?”
“Ainda há muitos,” – replicava o espelho oval.

Mas tanto esforço John Bull realizou,
sem muito escrúpulo atrapalhando seus negócios,
que um certo dia o espelho concordou:
“Podeis agora aproveitar os vossos ócios.”

“De fato, o homem mais rico vos tornastes!”
De John Bull brilhou alegre o coração,
mas não deixou que a boa nova o afastasse
de mais negócios, ainda cheio de ambição.

De quando em vez ele abria o seu surrão,
tirando o espelho que protegia o couro
e indagava, ainda tomado de emoção:
“Alguém existe a possuir maior tesouro?”

E respondia então o espelho, inabalável:
“Não, meu senhor, ninguém tem igual fortuna!
Vossa riqueza é, de fato, incontestável,
mas não deixeis que a ambição vos puna...”

O SENHOR DOS ESPELHOS IV

Porém John Bull continuou a trabalhar,
cada vez mais ampliando o seu tesouro,
sem amizades e sem amor buscar,
de novo abrindo o seu surrão de couro...

Mas um dia, recebeu triste surpresa:
“Vós sois o homem mais rico da Inglaterra,
mas na Alemanha Siegfried, com certeza,
tornou-se o homem mais rico sobre a Terra!”

“Pois conquistou o vasto Ouro do Reno:
do Anão Alberich o conseguiu tomar
e tal tesouro conserva o dom ameno
de poder eternamente se ampliar!...”

John Bull, então, que também era alquimista,
afiada adaga encantou, bem facilmente,
e foi montado em unicórnio na conquista
desse tesouro de ampliação frequente!

Mas Siegfried era bravíssimo guerreiro
e nunca o gume de sua adaga o atingiu.
John Bull voltou, frustrado por inteiro
e ao espelho mágico então se dirigiu.

Disse-lhe o espelho: “Senhor meu, respeitado,
além do Reno está Branca de Neve
e Siegfried será seu Príncipe Encantado,
que em combate vencer ninguém se atreve.”

Ao mesmo tempo, Marianne consultava
seu próprio espelho e, por ato de magia,
por meio dele com John Bull já conversava:
terrível trama entre os dois se constituía!

Ela a figura de Schneewittchen imitaria,
perante Siegfried a aparecer
e John Bull ser Siegfried fingiria,
Branca de Neve nessa ilusão iria vencer!...

E com sua adaga a jovem mataria,
enquanto Marianne daria o seu veneno
a Siegfried! – E assim não mais existiria
o tal casal de rivais além do Reno!

E combinados os dois, então partiram,
pelos espelhos totalmente transformados,
para a Alemanha, onde fazer buscaram
os malefícios destarte planejados!...

O SENHOR DOS ESPELHOS V

Mas Arquimedes, senhor de cada espelho,
em Siracusa ainda a magia praticava,
o qual de mais de três milênios já era velho
e sob um nome modesto se ocultava.

Em seu espelho do bronze mais polido,
que refletia muito mais que os de cristal,
a trama viu que haviam resolvido
dois alquimistas voltados para o mal!...

E com um simples sorriso de desdém,
modificou o resultado de seus planos:
capturou os dois bruxos desde o Além,
no exercício dos poderes mais arcanos!

Como castigo, meio como diversão,
Os transformou em pequenos mamulengos! (*)
Logo no teatro de Stromboli eles estão,
manobrados por cordéis, fantoches rengos!
(*) Nome dado aos fantoches no Nordeste.

Ali Stromboli a velha história ainda encenava
dos Sete Anões e sua Branca de Neve,
que a boneca Marianne apresentava:
John Bull no Príncipe transformar-se deve!

E muitas vezes tais papeis interpretaram,
sem precisarem de água ou alimento
e então Pinóquio ali os dois acharam,
da Fada Azul assistindo a seu portento!

Comunicando-se pelo pensamento,
presos os dois por essa triste sorte,
entre ambos foi surgindo um sentimento:
queriam juntos continuar até a morte!

Mas não assim!  Não naquele Teatrinho
de Fantoches que só Stromboli movia!
De mamulengos um destino tão mesquinho!
Mas esperança enfim neles surgia!...

A Fada Azul a Pinóquio transformou,
realmente, num menino de verdade!
“E se o Mago Arquimedes nos perdoou
a Fada Azul nos concede a liberdade?”

E numa noite, os dois se concentraram,
por uma fenda do teto vendo a estrela
e com a máxima confiança suplicaram:
“Devolva nossos corpos, fada bela!”

O SENHOR DOS ESPELHOS VI

Dessa primeira vez, nada adiantou:
como fantoches, vários anos se passaram;
a mesma trama se representou
e os pobres presos ainda mais se amaram!

Mas finalmente, numa noite sem luar
a estreita fenda a um raio deu passagem.
“Oh, Fada Azul, a nós dois vem libertar!”
Suplicaram os dois bonecos com coragem...

“Será que os dois já têm merecimento?
Lembram por que foram trazidos para cá?”
“Senhora nossa, um arrependimento
maior que o nosso jamais encontrará!”

“Que me darão, a fim de os restaurar?
“Tudo o que temos, até o bem mais precioso!”
“O meu castelo, com suas terras e seu mar!”
“A minha mansão, com seu tesouro fabuloso!”

“Aceito a oferta, mas não é o suficiente!
Quero de fato o que possuem de mais precioso!”
“Dou meu espelho de prata reluzente!”
“Dou meu espelho do ouro mais formoso!”

“Também os aceito, mas não me basta ainda:
quero de fato o que possuem de mais precioso!”
“Tudo o que temos, senhora, já vos brinda!
Nada possuímos mais de valoroso!...”

“Cada um possui, bem sei, coisa mais linda:
feia já foi, mas tornou-se um bem precioso!”
“A minha Vaidade eu darei, que foi infinda!”
“A minha Ambição pelo ouro tão formoso!”

“Agora sim, o pagamento é adequado:
a sua Vaidade ora reluz como Safira;
a sua Ambição é um Topázio amarelado
que de Arquimedes afastarão a ira!...”

Então os dois, em aldeia da Toscana,
transformados em dois velhos camponeses,
viveram juntos nesse amor que já os inflama
por sete anos e ainda mais por sete meses!

Ah, e o Stromboli?  Foi pela fada transformado
num bigodudo e gordo bonequinho,
seu teatrinho sendo agora administrado
por Gepetto e por seu lindo garotinho!...

O SENHOR DOS ESPELHOS VII

E Arquimedes, de seu lar em Siracusa,
medindo o ar, como ainda costumava,
a bela aldeia da Toscana contemplava,
com seu sorriso irônico de escusa...

“Como essa gente da magia abusa,
pensando que aos arcanos controlava!
A sua maldade no astral não prosperava;
a iniquidade só esmaga a quem a usa!...”

“Mas aqui estou eu, aos poucos a ciência
inteiramente pela Terra distribuindo...
Diversos estudiosos a descobrindo,

“ao mesmo tempo, em aparente coincidência...
Meu espelho de bronze, espelho meu,
no mundo existe alguém mais sábio do que eu?”

TORREÕES I – 20 NOV 2007

Até muralhas se cansam quando a insídia
vai rompendo lentamente os alicerces...
Assim os sentimentos, quando invertes
ambos os polos, por combate contra a invídia... (*)
(*) Inveja.

Até o aço se entrega à ação da vídia
e se perfura.   Ao longo dos reversos,
corta-se a alma.  Pela tração dispersos
se curvam corações à ação da mídia...

Assim minha vida: biruta e maravalha
me são podadas pelo torno e enxó.
Eu não me quebro, só enxugo lentamente

os meus excessos, que a energia espalha
e, pouco a pouco, o cerne fica só
que, diverso da muralha, é permanente. 

TORREÕES II – 27 DEZ 2016

As beiradas dos móveis, lentamente,
se vão tornando em quinas afiadas;
as tuas mãos até podem ser cortadas
se ali se esfregam por demais frequente.

A tela branca te parece consistente,
mas é composta por Estruturas transformadas
em impulsos digitais.  São transportadas
por linhas místicas no espaço transcendente.

E assim como tuas mãos podes cortar,
esses mil Pixels se aguçam ante o olhar
e te podem cegar, sem ter maldade

ou te levar para o novo mundo alado
em que cada pensamento é transmutado
nessas partículas sem qualquer sensualidade.

TORREÕES III

E mesmo a alma cede à permanente
ação da corrupção que sempre a cerca,
até que a antiga honestidade ali se perca
nesse esmeril da esqualidez frequente.

A alma se torna, enfim, sobressalente,
enquanto a nevoa sobre ela se condensa
pela fosfórica emanação intensa,
tal qual tortura em um crisol ardente.

Aguda qual mefítica noosfera,
a sobrepor-se à índole inicial
nuances baças a revestir a idealidade,

que adormece, bem mais do que se altera,
sob esse manto de gás imaterial
imposto a ela por toda a sociedade.

TORREÕES IV

A pouco e pouco derruem-se os bastiões,
enche-se o fosso e se desgasta a levadiça,
à nobreza original impondo-se a sediça,
como as ameias vazias entre os merlões.

Já muita vez me alvejaram imposições,
a alma inteira amortalhando nessa liça,
adormecendo a antiga ética castiça
pelo constante esparzir das corrupções.

Mas consegui reerguer os meus torreões
e me tornar semelhante ao que antes fui,
mesmo trazendo na mente as cicatrizes

e te conclamo à avaliação das emoções,
quais sejam tuas e qual do externo flui,
antes que a alma seja lama em que deslizes!

COLATERAIS I – 20 nov 2007

Tu nunca me feriste.   Nem podias.
Para ferir-me, intenção era precisa,
desejo de punir, uma indivisa
atenção perante a meta que querias...

Não, nunca me feriste.  Conhecias
uma forma de agir mais insidiosa.
Quando os espinhos ferem, fica a rosa
tão bela e sem moral qual antes vias...

Não foi assim.   Foi veneno indiferente,
centrado em ti, de modo permanente:
nem sequer calculaste o que fazias...

E, de tal modo, foi a ação mais incisiva,
pensavas só em ti, foste abrasiva
e o mal foi feito porque nem me percebias...

COLATERAIS II – 28 DEZ 2016

Pois sempre me feriste.  Sem querer
e nem ao menos por sentires compaixão,
desdém, vingança, qualquer desilusão:
feriste apenas por não me conhecer.

Feriste apenas por jamais saber
a origem seres da mais vera emoção.
Por existires, criaste-me a paixão,
sem outra instância a que pudesse recorrer.

Pois assim foi essa longa maravilha,
a infatuação por sedução ideal,
pela mulher que na vida não se acha;

e em vão busquei seguir alheia trilha,
meu romantismo um patíbulo fatal,
sem que ao pescoço decepasse a acha.  (*)
(*) Machado.  Rima de um verbo com substantivo por convergência.

COLATERAIS III

Em torno abunda a feminilidade,
entre milhares de mulheres distribuída,
que a meu redor flutuam toda a vida,
com esplendorosa ou sutil sensualidade.

Algumas bem conscientes da vaidade,
de outras a alma em recato só envolvida,
mas bem ou mal, colaboraram na ferida
causada em mim por orgulho e veleidade.

Somente passam... trescalando seu perfume
ou se deixam em nudez fotografar,
sem compreender as possíveis consequências,

para os homens mais grosseiros simples lume
da excitação sexual a despertar,
colaterais de seus desejos e tendências...

COLATERAIS IV

Mas naquele a quem marcou o romantismo
e que o corpo da mulher julga sagrado,
elas despertam ardor mais encantado,
num componente apenas leve de sexismo.

Cada corpo desnudo um saudosismo,
cada semblante a seus anseios combinado,
pois certamente jamais será encontrado
o suprassumo de todo o feminismo...

É assim comigo, como em qualquer poeta,
sua paixão não sendo a fêmea, mas a musa,
que nem ao menos se esforça por possuir,

mas todas ama, em seu ideal de esteta,
corpos e rostos em uma só... Confusa
fada impossível por quem deixou-se seduzir.

RODA-VIVA I – 22 nov 07

Basta apenas que tenha mais um tempo,
que me sobrem minutos de atenção,
que diminua um pouco a sugação
diária de minha vida, em contratempo,

que não me exijam tanto, que não queiram
tirar de mim o sonho e o pensamento,
que não me esgotem todo o sentimento
ao ponto que do cerne se me abeiram,

para que os versos fluam, em torrente,
mais do que antes, ao me tornar forçado
à quota semanal [vinte sonetos]... (*)

E eis que agora me vejo até impotente
para limpar rascunhos, superado
por cornucópia de poemas insurretos...
(*) Esse foi o poema nº 29 dessa semana.

RODA-VIVA II – 29 dez 16

Não sei dizer se me gabei no rodapé
de vinte e nove sonetos ter escrito
nesse período de Novembro, circunscrito
na antiga década que hoje já não é

ou se apenas registrei, quem sabe até
como surpresa pespontada no infinito,
mais breve o tempo do derradeiro grito,
ao qual não temo, por força de minha fé,

quando minha vida tornar-se em Roda-Morta,
sem que os dedos das mãos possa mexer
e outros poemas só no espaço projetar,

nesse inconsciente coletivo que suporta
tantos anseios que nunca pude ler,
mas que recebo e ainda posso registrar.

RODA-VIVA III

Talvez exista ainda a Roda-Adormecida,
a quem consigo despertar com certo beijo
e que flutua pelos ares como adejo
dos lábios doces da princesa ali estendida.

Porém, se a despertar de novo à vida,
não mais à obra pretendida almejo;
terei de a acompanhar, em fiel cortejo,
minha poética assim comprometida...

Porque toda Adormecida é caprichosa
e então requer de seu Príncipe Encantado
toda a atenção e total fidelidade,

enquanto a musa da poesia é mais bondosa,
sem intenção de possuir em fatuidade
pois sabe bem ter ao Príncipe encantado.

RODA-VIVA IV

Claro que versos continuam a ser escritos,
que Adormecida em nova musa se transforma
e seus novos sentimentos molda e forma:
versos de amor satisfeito são bonitos...

Mas não são mais como aqueles circunscritos
pela ansiedade que o coração adorna
por musa antiga em sua auréola morna,
tão mais perfeitos quanto mais aflitos!

Enquanto amor impossível se procura
pelo prazer de traduzi-lo em versos,
seguem anseios sempre insatisfeitos,

enquanto o amor alcançado a dor nos cura
e a alma orbita ao redor de olhos dispersos
nesses caprichos que impõem como direitos!

ESGOTOS I – 23 nov 2007
(Caso o título já lhe cause desagrado, vá direto a DULCIDEZ.)

Escrevo até poemas no banheiro,
sentado sobre o vaso sanitário.
Mas o cheiro não te chega, sorrateiro,
mesmo que os versos mereçam tal fadário.

Igual ao "eu fecal" que, multifário,
derramo a cada dia, sem primeiro
examinar o valor de tal calvário
de sacrifício pleno e derradeiro...

Do mesmo modo que abandono fezes,
lanço ao mundo poemas em montões,
puxo a descarga e a água os impulsiona...

Sem me importar que, em todas essas vezes,
lance fatias de minhas ilusões
às cloacas de um mundo que ressona.

ESGOTOS II – 30 DEZ 16

Se estas imagens a mim mesmo repelem,
quando as releio, uma década depois,
e ainda perturbam, como posso, pois,
esperar que ao favor de ti apelem?

Mas os instintos ainda me compelem
a comentar, pelo menos a nós dois,
essas trilhas de versos, como os bois,
acorrentados, as suas mós impelem...

Percebo bem que pareça ser nojento
mencionar o despejo de excreções
e compará-lo ao descarte da poesia

mas não recordo ter lido, em algum momento,
referência a emunctórias dejeções,
salvo em quadrinhas da mais pura zombaria!

ESGOTOS III

Já não recordo o que foi que me impeliu
a empregar tal desusada imageria,
salvo um momento em que total descria
que algures lessem quanto o estro produziu.

Às ilusões o mundo não se abriu,
salvo em latrina para minha poesia;
naquela década talvez já saberia
todo o desprezo com que o mundo as viu.

Será que alguma certeza então nutria
de que pior que sofrer a zombaria
ou mesmo a crítica mordaz que sempre vêm

somente algum descaso encontraria
e igual que às fezes, minhalma sofreria
o desconforto e descarte do desdém?

ESGOTOS IV

Certa coisa, porém, posso afirmar:
mesmo que fossem as imagens aviltantes,
originais sempre foram nos instantes
em que à sua redação fui-me abalar.

E desta forma, não irei me desculpar,
as minhas cloacas sendo até insignificantes
ante os esgotos que hoje vejo dominantes
a meu redor e aos quais só posso desprezar.

Meus mil poemas têm ao menos conteúdo,
seguindo as normas de um perfeito estilo,
mais que os dejetos que vejo a meu redor,

que aplaudir vejo, qual se aplaude tudo
e que o medíocre se apraz em aplaudi-lo,
por mais vulgar que seja o seu teor!...

DULCIDEZ I – 23 NOV 2007

Doidas são as palavras que te digo:
doídas são; palavras que me escorrem
de uma artéria aberta, que recorrem
diretamente da aorta, sem perigo.

Porque à medida em que o sangue assim escoa,
o tutano de meus ossos cria mais...
Pois tal amor não se acabará jamais,
como o espaço é infinito e o tempo voa.

São doidas estas linhas que concebo:
são doídas, porque espalham o segredo
contido no meu líquido espinal...

São meus nervos que fluem, enquanto bebo
a taça amarga deste meu degredo,
num fulgor absíntico e final.

DULCIDEZ II – 31 DEZ 2016

Certamente o oposto aqui se impõe
ao tal soneto que despertou teu nojo;
só de sangue coagulado traz despojo:
é artéria aberta de versos que propõe.

Nessa metáfora doida que se opõe
é o nome “Dulcidez” que ao chão arrojo;
do coração já esvaziei frequente o bojo,
mas silencioso o conteúdo se repõe.

Onde a doçura nesse sangue derramado,
por mais que seja em versos transmutado?
Melhor seria lamentar sal e amargor!

Mas nessa linfa potente que me flui
ainda rubra esperança me reflui,
na insopitável pressão de seu rigor!

DULCIDEZ III

Na verdade, nunca são de minha escolha
os versos doces ou amargos que apresento;
solerte dor dá início a seu assento,
diariamente a preencher alguma folha,

pela poesia que a mim mesmo acolha,
em seus braços de puro assentimento;
nunca sou eu que peneiro qualquer vento,
mas é a brisa do céu que os dedos molha.

E quando afirmo tal escrita ser loucura,
estou de fato asseverando a escravidão
que aceito fácil, por ver nela a formosura

pois reconheço que só, minha mente impura
não poderia conceber tal perfeição
que em tantos versos reconheço que perdura!

DULCIDEZ IV

E quando falo assim em meu degredo,
nesse fulgor absíntico e final,
eu reconheço o poder desse fanal
ao qual a mente, sem protestos, cedo.

Dessa loucura poética o segredo
só conhecem as musas, afinal,
ante o riso estrondoroso e triunfal
de Dionyso, com quem eu me embebedo.

Desse veneno capitoso é seu licor
alcoólico, mas que bem maior tontura
provoca nos poetas a que inspira,

assim perdidos no verdadeiro amor
pelas quimeras de perfeita formosura
em que sua alma orbita e o mundo gira!

ANO NOVO I – 01 JAN 2017

NO MANTO NEGRO DE UMA DANÇARINA
CINTILAM LANTEJOULAS COMO ESTRELAS
NIX DEITOU-SE E DEIXOU QUE SUAS DONZELAS
DO MUNDO CONTEMPLASSEM CADA ESQUINA.

SÃO OS OLHOS LUMINOSOS DESSAS BELAS
PUPILAS QUE CONTEMPLAM CADA SINA
SEM JULGAR SEJA VÍTIMA OU ASSASSINA
APENAS OBSERVANDO TAIS SEQUELAS.

A NOITE SE COBRIU, PORQUE É DE DIA,
EM QUE PASSEIA DE MÃOS DADAS COM O SOL,
SENDO APENAS ILUSÃO QUE ESTEJA AUSENTE,

PORQUE É DE NOITE, APÓS A DIÁRIA ORGIA
QUE HÉLIOS DEIXA DESCANSAR O SEU FAROL,
DA MINHA RUA A SENTINELA REVERENTE.

ANO NOVO II

BEM MANSAMENTE, SEU FILHO VEM TRAZER
COM ASAS BRANCAS DE FORMOSA PRATA
QUE ENTÃO CONFUNDEM COM CEGONHA GRATA
QUANDO O BEBÊ DOS CÉUS VEEM DESCENDER.

POR ISSO A LENDA FEZ AO POVO CONCEBER
DE QUE ESSA AVE, DO NASCER NA DATA
TRAZ O NENÊ ENVOLTO EM MEIGA BATA,
NOS HOSPITAIS OU NAS CASAS A DESCER.

PORQUE É PEQUENO E FRÁGIL E PRECISA
DE MAIS CUIDADOS QUE ANIMAL OU AVE:
MAIOR SE FOSSE, LHE PESARIA DEMAIS.

MAS REPETINDO A VERDADE MAIS CONCISA,
É A NEGRA NIX QUE DA IMENSA CAVE
DE UM NOVO ANO TRAZ-NOS VINHO SEMPRE MAIS!

ANO NOVO III

POIS JÁ NA ESPERA DESSA NOITE ESTÁ O ANCIÃO
ESMAECIDO POR TRABALHO CANSATIVO,
VELHO DE DIAS, DE ANDAR QUASE INATIVO,
ENSURDECIDO PELOS FOGUETES DA OCASIÃO.

ELE RECEBE EM SEUS BRAÇOS, COM PAIXÃO,
ESSE PRESENTE DE UM ANO REDIVIVO
E LHE MURMURA MIL SEGREDOS, INCISIVO,
JÁ DO INFANTE A BANIR TODA ILUSÃO...

FEITO CIENTE DE QUAL MALDADE IRÁ ASSISTIR
E LOGO A NOITE, AO VER QUE JÁ CRESCEU,
LHE ENTREGA O FACHO QUE DEVERÁ ACENDER

TÃO LOGO A AURORA VIR NO ORIENTE RELUZIR
E O ANO VELHO COM A NOITE JÁ ASCENDEU,
ANTES QUE O NOVO SE RECUSE A SUCEDER!

ANO NOVO Iv

TENHO CERTEZA DE NÃO SER O PRIMEIRO
QUE VIU A NOITE TRAZENDO O ANO NOVO,
SEM CONFUNDIR DO CÉU QUALQUER RENOVO
QUE CONSERVASSE DOS HOMENS O LUZEIRO.

MAS NÃO RECORDO QUALQUER VERSO LIGEIRO
QUE DESCREVESSE TAL DESCER QUE AGORA LOUVO
E ENTAO A NOITE DENUNCIASSE A TODO O POVO
COMO CULPADA POR BEM OU MAL PARCEIRO

QUE ASSIM RESULTE DO COMUM MILAGRE,
MAS QUE ESTA NOITE EM PROFETA ME CONSAGRE
A REVELAR SEUS MISTICISMOS SIDERAIS.

DESTARTE, QUANDO EM NOVO ANO INGRESSO,
MELHORES CONDIÇÕES AO MUNDO PEÇO
E SE POSSÍVEL... UM DINHEIRINHO A MAIS!

PÉROLAS MORTAS I – 2 JAN 2017

Porém, durante a noite, é a vez do dia
encontrar-se com ela, atrás do manto;
essas estrelas são lágrimas de pranto,
porque o dia com sua ama adormecia

após o amor e só os astros são vigia,
por que ninguém espie sob o canto
desse lençol azul que esconde o encanto
do amor da noite e do dia em harmonia.

Nós apenas pensamos que estão sós
e só se encontrem ao crepúsculo ou na aurora,
porém passam todo o tempo nos seus beijos,

entrelaçados por insolúveis nós,
o dia e a noite em formação de cada hora
mesclando a treva e a luz em seus arpejos.

PÉROLAS MORTAS II

Afinal, se um ano novo nos surgiu,
desde o ventre da noite foi trazido,
não foi pelo ano velho concebido,
mas de um orgasmo do Sol que reluziu.

Após trezentos dias de amor se produziu,
antes que a noite rasgasse seu vestido
e então ao mundo entregasse o desvalido
e recolhesse o velho irmão que já assistiu

tanto desastre e maldade e estupidez,
sem que os homens soubessem escolher
como melhor tantos dias empregar

e o ano velho em meteoro assim se fez,
cuja imensa trajetória pude ver,
enquanto a mãe para os céus o ia levar...

PÉROLAS MORTAS III

Trezentas e sessenta e cinco pérolas levava
em seu manto encardido e esfarrapado,
perdido o brilho de cada dia incendiado
que em seus trapos sem luz ora engastava.

Dias não tornam, mas não se os descartava,
pouco a pouco encolhia o seu legado
que por humanos se fez desperdiçado,
sem saberem se um melhor fulgor guardava.

Mas essa estrela cadente que subia.
carregada por sua mãe em negras asas,
levava as pérolas que haviam sido um dia,

já transformadas de um cometa em brasas,
nessa ascendente estrela que zunia,
na sideral exploração de novas casas...

PÉROLAS MORTAS IV

Naturalmente, estrelas não se tornam.
Se cada dia numa estrela se tornasse
ou mesmo um ano em estelar se condensasse
ou em novéis constelações que ali se amornam

não haveria, nesse cosmos a que adornam
lugar bastante para que todas guardasse
e a noite em dia talvez se transformasse
pelas miríades de estrelas que se formam.

Vão mais além esses dias esquecidos,
o tecido a constituir das nebulosas
ou do mistério da “matéria escura”,

os cósmicos espaços expandidos
por tais ações gentis ou temerosas
que a raça humana gerou com ímpia jura!

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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