terça-feira, 7 de fevereiro de 2017





SINCRONICIDADE & MAIS – 9/18 DEZ 2016
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS

SINCRONICIDADE I – 13 nov 2007

Queria hoje te dizer que desejava
“ser imagem no fundo de teus olhos”...
Mas essa imagem que antes me imantava
já foi por outrem usada; e até nos molhos

de sonetos que já formam os escolhos
que estão sobre minha mesa assim cantava.
Fez-se imagem batida e sem antolhos:
não é possível retomá-la em seiva brava.

Esmaeceu-se essa imagem. Esbateu-se,
inutilmente, contra a tua vidraça
e, entre os caixilhos, vi um par de rostos

que se miravam; e em cujo olhar, sofreu-se,
pois refletiam somente os próprios gostos
olhos nos olhos, em imagem de pirraça...

SINCRONICIDADE II – 09 DEZ 2016

Talvez fora melhor que desejasse
te percorrer o côncavo da boca,
a que chamam de “céu”, imagem louca
e minha língua em aeronave transformasse

e que ao longo do Palato me lançasse
até as Amídalas, guardiãs da canção rouca
e que da “campainha”, da voz Úvula mouca,
qualquer salmo de amor eu retirasse,

que de tua língua fizesse um aeroporto
em que pudesse aterrissar com segurança,
língua na língua, no mais gentil desporto,

mas sem querer penetrar no teu hangar,
temendo arcada em súbita mudança
que rejeitasse a intromissão de meu planar.

SINCRONICIDADE III

Talvez fosse melhor que mencionasse
percorrer-te lentamente os Labirintos
que te conservam equilíbrios mais distintos
e em rodopios ardilosos patinasse

ou que nos Tímpanos teus tamborilasse
mensagens dos tantrismos mais sucintos, (*)
em que pendores de amor não são extintos
e nas membranas de teu sonho me infiltrasse
(*) Filosofia hindu centrada no sexo.

e ainda pudesse colocar em teus Estribos
lindos sonetos, sem que teus Martelos
contra as Bigornas pequenas esmagassem;

e finalmente, que galgasse os crivos
de tuas Cocleias em alexandrinos belos (*)
e sempre ali minhas paixões se conservassem.
(*) Núcleos nervosos da audição.

SINCRONICIDADE IV

Ou quem sabe, nalgum ponto das narinas,
tapeçarias de delicados pelos
pelas Papilas soprasse em meus desvelos
quais transparentes brisas matutinas

e sobretudo, nas horas vespertinas,
soubesse ali depositar os meus apelos,
que capaz nunca fosses de contê-los,
nem esternutasses em fúrias assassinas, (*)
(*) Espirrasses.

mas que aceitasses esse amor de olfato
como o doce sussurrar do catavento
e o aspirasses até os Alvéolos dos pulmões

e então ali me recebesses, sem recato,
sob o carinho da Pleura em acolhimento,
filtro de amores e de tantas emoções...

SINCRONICIDADE V

E o que mais resta para a imageria,
sem no fundo de teus olhos ser imagem?
No Humor Aquoso que nadasse com coragem,
que nas tuas Íris, enfim, me afogaria...

Teu Cristalino o meu suspiro aceitaria,
no Humor Vítreo deixaria minha mensagem
e em nervos óticos seguiria esta viagem
que em direção de tua mente marcharia;

seria inserido na rede do Quiasma (*)
que minha dupla imagem juntaria,
num amálgama de metálico esplendor,
(*) Núcleo nervoso da visão.

tal qual somente o verso brando orgasma
e num espelho de prata gravaria
o assinalar do mais sincero amor.

SINCRONICIDADE VI

Seria tudo feito assim em sincronia,
sem que existisse ali a defasagem,(*)
de teu próprio sentimento; e em vassalagem,
o meu preito de amor se ajoelharia,
(*) Desencontro de duas vibrações.

sem que surgisse qualquer diacronia,(*)
mas uma dança a dois, sem vacilagem,
tal como as rodas de uma só carruagem,
que de teu cérebro no cerne correria...
(*) Tempos diferentes.

Nestas imagens de fantasmagoria
que antes poucos se atreveram a usar,
amor fremente por medo de afastar,

minha esperança não se extinguiria:
mais do que imagem, estátua de marfim
que eternamente nos durasse assim!...

À MUSA DECADENTE I – 14 NOV 2007

Quando se ama, se espera que a mulher
abra as portas do mundo, em sua magia.
À vida toda traz enfeites de poesia
e ao futuro se antolha em bem-me-quer.

Quando se ama, então, por vez primeira,
se pisa em nuvens e a bênção fulgurante
se encharca sobre nós, nesse constante
chuvisco de pirita... E a alma inteira (*)
(*) Sulfato de ferro (dourado), o “ouro dos tolos”.

 considera que o mundo é sua colmeia,
que é só melar os dedos e lamber,
porque a mulher é a deusa da ilusão...

Não foi assim comigo, que essa deia
foi surda-muda: não conseguiu,sequer,
abrir-me as portas de seu coração...

À MUSA DECADENTE II – 10 DEZ 16

Para que possa esse órgão ser aberto
é preciso muito mais que bisturi;
em minha telinha operações eu vi
em que se enche de sangue um tal deserto,

mas não de amor, já que é muito mais incerto
abrir um coração ante o pairar de um colibri
que Eros enviou, razão por que sofri,
voando em torno, porém sem chegar perto.

Quando se abre um coração ao amor,
não é de sangue, mas se alaga de emoção
tudo tomado por brilhante hemorragia;

mas das costelas não possuí afastador
e só de longe percebi palpitação,
sem a abertura que a mim receberia...

À MUSA DECADENTE III

Quando à musa qualquer um expõe seu bem,
é que tal bem de si mesmo foi roubado,
envolto na ilusão, mesmo encarnado
no branco invólucro de cristal que tem;

e a musa sabe, por certo, que também
esse cristal em que o bem é transportado
de outro peito anterior foi raptado:
não é apenas dom gratuito que lhe vem.

E cabe à musa, desta sorte, decidir
sobre se vale se lhe expor, sobremaneira,
e então se abrir para tal fruto receber,

em cada instante do futuro a se exibir,
mortalha viva a tornar-se, qual esteira
do amor roubado que alguém veio lhe trazer.

À MUSA DECADENTE IV

Não é em vão que se diz “roubar um beijo”,
quando, de fato, é mais um beijo que se dá;
é um falso furto em que troca se dará,
no inesperado e subitâneo ensejo...

Roubar-se um beijo... Por força do desejo,
acanhamento de fato ali não há;
fingida ofensa talvez pretendam já,
ou bofetada a demonstrar que existe pejo!

Mas onde o roubo, se os lábios permanecem,
senão, talvez, de um pouco de saliva
que até castiguem por mordida violenta,

se nem mesmo as sensações jamais se esquecem,
enquanto for essa memória rediviva
de um breve instante de prazer que se lamenta...

À MUSA DECADENTE V

Mas por que a chamo de “Musa Decadente”?
Tal deveria ser minha plena inspiração,
já diluída desde a primeira negação
e mais nos roube por negação frequente...

O antigo brilho que a envolvia, potente,
fica a perder sua inicial coloração;
para um soneto de amor vai-se a razão,
restando canto de desdém, tão simplesmente.

Não que se torne em fantasma de si mesma,
pois continua a ser bela, que é mulher,
mas não se expande a sua faísca rosicler;

e de mulheres atraentes se acha resma,
que mesmo podem ser um alvo de conquista,
mas ao lirismo não deixando a menor pista.

À MUSA DECADENTE VI

Assim decai a antiga musa pouco a pouco,
mesmo que venha a tornar-se bela amiga;
talvez um beijo no futuro se consiga,
mas nunca o beijo daquele sonho louco.

No coração nosso estro se faz mouco, (*)
que algum amor pode fingir em falsa intriga,
sem mais valor que as palavras que se diga,
tal qual discurso imperfeito de algum rouco.
(*) A inspiração se torna surda..

Pode a mulher se tornar físico amor,
amante, companheira ou mesmo esposa,
mas decaiu de sua função de musa,

que ainda se pensa encontrar noutro setor,
em que se colha glicínia ao invés de rosa,
de outro perfume em transitória cruza...

PROTEIA I – 15 NOV 2007

Uma assembleia canina me persegue:
são cães de tantas raças, cães mestiços,
que me ladram nos ganidos mais castiços,
pelo alimento que me foi entregue.

E, porque ladram, são ladrões, não negue
a semântica do nome.  São roliços,
por tomarem dos outros.  Tem os viços
que somente o parasita mais consegue...

Não é só que desejem numerário:
querem prestígio e posição social,
esses galgos de fome, essa vermina,

de quem todo valor é secundário.
E eu... só encaro a inveja natural
dessa alcateia que destarte se encanzina!

PROTEIA II – 11 DEZ 2016

Tolo ditado a proclamar mediocridade:
“Cão que ladra, não morde.”  Mas depois
de ter latido, veem-se abrir os dois
maxilares – morde com voracidade!

É preciso dar motivo, na verdade,
que de ladrar eles não parem, pois
é no instante de silêncio que propões
que lhes permites morder com crueldade.

Assim, se sabes o quanto te invejaram,
não penses que a cessação de algum motivo
será razão para que encolha a inveja.

Bem ao contrário, é quando se calaram
que seu rancor se torna mais ativo
e te abocanham na fraqueza que se enseja.

PROTEIA III

Sempre fui alvo assim dos invejosos
e sabe Deus, sem um motivo verdadeiro;
não fui o galo dominante do terreiro:
deixei a cada um os seus despojos.

Não me meto nas disputas dos vaidosos,
da política afastado por inteiro;
nem em clube ou futebol fui parelheiro,
nem desses prélios que atraem os gananciosos.

Tão somente exerci virilidade;
fui no palco e nas artes criativo,
mas foi sempre limitada esta atuação;

e mesmo assim, fui alvo da maldade
de quem buscava ser mais competitivo
e via em mim alguma sombra de antemão.

PROTEIA IV

Linnaeus criou esse nome de “proteia”
para uma espécie de plantas variegada,
mostrando flores de beleza delicada,
individuais ou brotando em assembleia.

De fato, tão variada essa sua veia
que por Herman Boerhaafe apresentada (*)
havia sido, ao pretender classificada
em seis gêneros, em sua “Florileia”.
(*) Botânico sul-africano, precursor de Lineu.

Carl Linnaeus, também chamado de “Lineu”,
tendo estudado o seu predecessor,
que eram de um só gênero entendeu

e o batizou com o nome de “Proteu”,
entre os Helenos da natureza o protetor,
que em mil formas governava o reino seu.

PROTEIA V

De igual maneira, embora menos bela,
em muitas formas se apresenta a inveja,
algumas vezes na traição que beija
ou fingindo ser da luz brilhante vela;

pode mostrar-se reluzente como estrela
ou fervente nessa cólera que enseja
ou pelos cortes e golpes com que a aleija
ou quando a falsa acusação apela. 

“Flores do Mal”, deixou-nos a altaneira
obra de Baudelaire, de grão vigor,
na descrição detalhada desse espinho,

que no geral, usa calúnia sorrateira
ou obstáculos coloca no caminho
desse que teme ser seu superior.

PROTEIA VI

O que é certo é que, ao ter percepção
de qualquer um que considere seu rival,
o invejoso lhe buscará o mal,
escusamente ou por perseguição.

Assim, fui sempre um objeto de exclusão
quando tomado por inimigo natural,
qual obstáculo a seu passo triunfal:
quem não feriu, tampouco deu-me a mão.

Fui objeto de uma crítica ferina
ou de outras vezes ignorado, simplesmente,
sem para tal apresentar qualquer razão.

E é bem possível que conheças tal vermina
que já te haja caluniado, impunemente,
desde os medíocres cantinhos em que estão...

TAPETES ROTOS I – 16 NOV 2007

Quando passavam, as saias revoavam
e, a um golpe de vento, até me expunham
o quanto pretendiam; e supunham
se acreditasse assim que não mostravam,

senão por acidente, tais meninas,
esses joelhos e coxas escondidos,
depressa por olhares perseguidos...
E seu perfume chegava-me às narinas...

Mas, hoje em dia, é tão raro ver as saias
esvoaçantes dos tempos mais antigos...
São calças, são bermudas, religiosas

saias longas e justas, como baias...
E, ao ver pernas expostas, sem abrigos,
sinto menos sedução nas mais formosas...

TAPETES ROTOS II – 12 DEZ 16

Na adolescência, eu li A Pata da Gazela
de Machado de Assis, o romancista,
que não somente a obrigação insista
dos cursos de Letras, mas por obra bela.

Ali conta o narrador que uma donzela
ou quem sabe, já mais velha, dera pista,
ao descer de uma carruagem, quando avista
do tornozelo o torneado – qual procela... (*)
(*) Tempestade de emoção.

Somente a vista dessa articulação
ao narrador encheu de tal  paixão,
pelo breve insinuar de algum mistério

nas longas saias arrastadas pelo chão,
não mais que um pé perfeito na ocasião,
a lhe gravar no peito ardor tão sério...

TAPETES ROTOS III

Mesmo a nudez pictórica tão comum,
até mesmo nas folhas de um missal
ou Adão e Eva mostrados num vitral
ou na Capela Sistina, a olhar algum

se revelava ao contemplar nenhum
membro do corpo em sua nudez total,
da cintura para baixo, em natural
ocultação para o olhar de qualquer um,

embora os braços se mostrassem facilmente,
os ombros e o pescoço e até o rego
entre os dois seios, em mil trajos de gala,

nesse artifício da negação frequente,
púbis e nádegas ocultos em sossego,
que até seu nome a sociedade cala...

TAPETES ROTOS IV

Mas nada é impune à força do estilismo:
foram os corpos mostrados mais e mais,
vistas as pernas em modelos naturais,
cada vez menos ocultando tal modismo.

Mesmo mostrado, intermitente, algum nudismo,
em qualquer praia, quais despojos triunfais
de uma vaidade e orgulhos naturais,
numa atração que se quer naturalismo.

Os homens, em geral, a usar bermudas
até seus joelhos ou mesmo um pouco abaixo,
bem mais comum de seu torso a exposição,

mas as mulheres assim semidesnudas,
mostrando a senda da vagina em claro facho,
mesmo fingindo não possuir tal pretensão.

TAPETES ROTOS V

Pessoalmente, eu amo o corpo feminino,
no qual enxergo sempre um toque de sagrado,
sem recusar-me assim a um demorado
exame do que traz de fescenino... (*)
(*) Licencioso, libidinoso,  “sexy”.

Não por desejo grosseiro me fascino,
que a mãe enxergo no quadril apresentado
e à sua honra me tenho consagrado,
sem para o sexo recusar ser peregrino.

Mas o que assisto é haver diminuição,
mostrada a pele com tal facilidade,
do jogo antigo em sorrateira sedução.

Não há desejo desse oculto contemplar,
tudo já sendo apresentado por vaidade,
nenhum mistério restando a revelar...

TAPETES ROTOS VI

Deixou a mulher de ser tapeçaria
e transformou-se numa parede nua,
sem a orgulhosa sedução da Lua,
exposta a carne à radiação que a queimaria.

O imaginário se perdeu que seduzia,
vago o desejo ante estética tão crua;
só com esforço a libido ali flutua,
salvo talvez em quem há pouco a conhecia.

Assim me apiado de tais jovens de agora,
que tudo tocam e veem cedo demais,
perdida em breve quase toda a novidade.

Resta o formoso para mim, embora,
o toque místico dos contornos naturais,
que ainda me inspiram com vivacidade!...
.
Sem Safenas 1 – 17 NOV 07

As coisas tardam sempre e são falazes
quaisquer promessas que me venham de outrem.
Embora contas me facilmente encontrem,
as demoras a pagar-me são tenazes...

O que jamais não tarda, são impostos,
cobrados sempre de quaisquer dos lados
a que me volte...   São permanentes dados
no algoritmo destes meus desgostos...

Impostos sempre sendo os mais sinceros
e constantes amigos de minha vida:
haja o que houver, não me abandonarão.

São fiéis, esses números austeros
das taxas, que me tomam, sem medida,
gota após gota, o sangue da ilusão...

Sem Safenas 2 – 13 Dez 16

Posta de lado a persistência de um amigo
que só deseja de meu sangue algumas gramas
e mensalmente apresenta-me os proclamas
de um casamento com o dinheiro que consigo,

existem outros, quais lápide em  jazigo,
que sobre o peito pesam-me com ganas,
obrigações lambentes como chamas
que contra o próprio interesse ainda persigo.

Reconheço que tais escolhas prejudicam
até s rimas destes meus quartetos,
sem que consiga provocar sua ausência,

mas novamente, são obrigações que ficam
e no intermédio rascunhei versos completos,
em certo alívio para um peso na consciência...

Sem Safenas 3

Até o presente, meu ardente coração,
mesmo na vida tendo sido maltratado,
a todo embate tem sempre suportado,
sem ter de nada pedido demissão.

Dois enfartos meu pai teve de antemão
a seus quarenta anos, bem tratado
o duplo assalto que afinal depôs de lado
e sua vesícula já extraiu nessa ocasião.

Setenta e três, contudo, completei
e permanece meu cárdio ainda saudável,
só da vesícula também tive extração;

meu compromisso com a vida conservei,
embalde tanto percalço formidável,
inteiro o corpo e íntegra a razão.

Sem Safenas 4

Algumas vezes, a mim mesmo me surpreendo,
como se houvesse realmente proteção:
de potestade divina sob a mão,
a toda vez que a um novo dia atendo.

Pois nada fácil foi-me a vida, bem compreendo,
mas mesmo assim não busquei sua contração,
noite após noite recebendo em saudação,
quando aos fantasmas do sono então me rendo.

Como os impostos, que aceito de mau grado,
são essas horas ao repouso destinadas,
porque só durmo revoltado e com rancor,

no desperdício de um terço de meu fado,
ao invés das coisas que queria realizadas,
perdidas horas na impotência do torpor...

Sem Safenas 5

Lamento as horas que dedica às refeições,
tempos perdidos para tomar banho,
os dentes a escovar em tolo amanho
e os momentos que destino às abluções.

Lastimo o tempo de quaisquer operações
que realizo sem ver nelas qualquer ganho;
no meu teclado, cada pequeno lanho
que me atrapalhe nas preparações.

Não aprecio precisar de cortar unhas
ou de passar um pente na cabeça
ou as caminhadas até a padaria,

que de minha vida roubam tantas cunhas,
mesmo assistir a um noticiário que se esqueça
ao invés de estudos de que algo ganharia...

Sem Safenas 6

Contudo os vácuos com música eu adenso,
vinte e quatro horas por dia, se possível
e continuo a aprender o que é exequível:
leio em latim sem grande esforço tenso

e em várias línguas, realmente, eu penso
e nelas leio com furor inexaurível,
sem dicionários, tanto quanto é crível,
reunido delas vocabulário denso.

E mesmo cumpro a mais gentil obrigação,
vários poemas rascunhando diariamente,
mas aos quais passar a limpo me aborrece...

Pois quando faço no teclado a redação
ou quando os esparzo pelo mundo, finalmente,
lastimo o tempo que em tal labor se esquece!...

ANDARILHAS I – 18 NOV 2007

Por que andaria uma jovem seminua,
se não quisesse ver-se admirada?
Quando a vaidade no seu corpo estua,
embora traga no rosto aferrolhada

uma expressão de pura indiferença?
Certo é nem todo olhar causar-lhe agrado,
mas sabe bem que o corpo assim mostrado
atrairá cobiça e malquerença...

Desejo de uns, das outras, mais inveja,
que, às vezes, até sente a própria mãe,
ciosa estando da perdida mocidade...

Mas para "mãe" uma rima não se enseja...
Mãe é só uma, portanto, à "pátria-mãe"
eu agradeço por tal sensualidade...

ANDARILHAS II – 14 DEZ 2016

Sempre falei, com um toque de ironia,
que as mulheres, por certo, menos frio
sentem que os homens, ao mostrar com brio
as belas pernas no vestir que decrescia,

mesmo a queixar-se do vento que zunia...
As roupas justas dão vazão a calafrio
e os decotes lhe causam arrepio,
mas a assim vê-las, mais calor se sentiria...

Talvez sejam aquecidas por vaidade,
nativo orgulho a agitar seu coração,
algo que o homem só experimenta raramente,

mais em partilha da feminilidade,
se o próprio físico lhe traz bela emoção,
sem aos reflexos mostrar-se indiferente...

ANDARILHAS III

Não acredito que qualquer mulher
seja insensível ao provocado efeito;
mesmo meninas já adotam certo jeito
de sedução, como quem nada mais quer...

Não estão ainda despertadas ao mister
da tentadora; contudo, já há um trejeito
para atrair os meninos, um conceito
em que tais pares nem pensam sequer...

Não esqueçamos que todos os parentes
vão ressaltar-lhes a feminilidade:
pois são bonitas e amadas princesinhas...

Mas se trata em geral bem diferente
aos garotinhos, cuja masculinidade
é estimulada em competições e rinhas...

ANDARILHAS IV

Afinal, são os ventres, mães da raça
que uma nova geração irão nutrir,
mas claramente não pretendem iludir
a um rapazinho que possua a mesma graça.

Por certo espera-se que case e que se faça
bom provedor, um lar a constituir,
uma família a fundar e a construir,
mas lá no fundo, existe uma pirraça:

Se não for ele, poderá outro ser pai
com a menina que desperta sua paixão,
a sua missão realmente é engravidar;

mas no seu ventre só a semente cai
e proteger essa mãe é sua função,
pouco importando seu externo parecer.

ANDARILHAS V

Nos dias de hoje a força pouco importa;
outros fatores tornam o homem atraente,
mas da beleza ainda será um pretendente:
para a conquista da fêmea se comporta.

Sei muito bem que a sociedade aporta
valores novos nos dias do presente,
porém algo artificial se encontra assente
no comportamento recente que reporta.

Poderá haver bem maior promiscuidade,
pois na tevê e nas tais redes sociais
brilham mulheres igual homens a agir,

seja insistindo em sua libidinosidade
claro desejo pelas partes mais sexuais,
nessa insistência do material no novo urdir.

ANDARILHAS VI

Talvez revelem sua verdadeira natureza,
antes oculta por tantas convenções;
talvez ocultem as verdadeiras emoções,
disfarçadas em luxúria sem nobreza.

Contudo a ênfase em sua maior beleza,
que mostra ou esconde da pele ilustrações,
mui certamente favorece as seduções,
reconhecidas ou não com mais certeza.

E ainda prefiro as saias contemplar
que o vento agita em sua indiscrição,
sem que tudo já apresentem de antemão.

Que seja apenas para mim tal revelar
os seus favores e nunca à multidão,
que tanto vê e não mais sabe apreciar!...

canto de cristal i – 15 dez 16

CHAPAS DE VIDRO TRANSPARENTE SÃO TEUS OLHOS,
VITRINAS DOCES DE INTERIOR OPALESCENTE
SOB A GRADE DAS PESTANAS, CONTUNDENTE
ESPELHO REFLETOR DE MIL ESCOLHOS,

CHAPAS DE SONHO OCULTANDO TEUS REFOLHOS
E REVELANDO O QUE PENSO VER SOMENTE,
NÃO O QUE ÉS, O QUE SERIA SURPREENDENTE,
MAS O QUANTO em tI PROJETAM MEUS ANTOLHOS.

DE FATO, SE TE OLHAR BEM NAS PUPILAS,
COM O CUIDADO E DETALHES QUE SE ALCANÇA,
SERÃO MEUS OLHOS QUE A VISÃO REVELA,

O MEU DESEJO POR SOB AS BRANDAS FILAS
DE TEUS CÍLIOS, A MOSTRAR PERSEVERANÇA
COM QUE EU MESMO GEREI A ILUSÃO BELA.

CANTO DE CRISTAL II

CONTEMPLAREI EM TUAS ÍRIS TANTO AMOR
QUANDO ESTE QUE REVELAM MEUS DESEJOS;
ALI DIVISAREI ÂNSIA DE BEIJOS
NESSA IGUAL PROPORÇÃO DE MEU ARDOR.

SERÁ A QUIMERA APENAS DO ESPLENDOR
COM QUE MEUS OLHOS PROJETEI NESSES ARPEJOS,
ACORDES MEUS DE TODOS OS ENSEJOS
A CASCATEAR PARA TI FIRME VIGOR.

MAS NA VERDADE, NADA HÁ QUE ME GARANTA
O QUE SE ENCONTRA POR DETRÁS DAS VISTAS,
O AMOR QUE VEJO TALVEZ SEJA SÓ REFLEXO;

TALVEZ DESCUBRA ALI RANCOR QUE ESPANTA,
QUIÇÁ SOMENTE O ORGULHO DAS CONQUISTAS
OU UM FUNDO OPACO QUE NÃO MOSTRA O MENOR NEXO.

CANTOS DE CRISTAL III

COMO SABER SE ME ILUDO SIMPLESMENTE
OU SE VEJO O QUE SE ENCONTRA NESSA IMAGEM,
QUANTA TERNURA COMO EFEITO DE UMA ARAGEM
QUE PISCAR FAÇA A VISTA COMPLACENTE.

COMO SABER O QUE HÁ DE TRANSPARENTE
E O QUE SOMENTE NÃO PASSA DE VISAGEM?
COMO SABER O QUANTO EXISTE DE BAGAGEM,
SEM SENTIMENTO TER REAL SUBJACENTE?

DIZEM QUE OS OLHOS SÃO ESPELHOS DALMA
PORÉM DE FATO, ESPELHAM QUANTO HÁ FORA:
VITRINAS FOSSEM E A CALÇADA ESPELHARIAM,

POIS REVELAM SIMPLESMENTE A FRIA E CALMA
MERCADORIA GUARDADA DESDE O OUTRORA,
QUE SOMENTE EM FUNDO POÇO SE ACHARIAM.

Canto de cristal iv

Trazem os olhos nos cantos comissuras
Que se podem abrir ou apertar,
Dependendo se há razão de desconfiar
Ou se podem revelar reais ternuras.

A gente aprende a ler mensagens puras,
Quem sabe busca seus mistérios decifrar.
Estão teus olhos de amor a lampejar
Ou inversamente a mostrar vagas loucuras?

E quanta vez uma jovem ante o espelho
Pratica com cuidado as expressões
A fim de os homens poder mais controlar?

Não que algum moço não faça algo parelho,
Esses que buscam tão só compensações
Para um orgulho irrequieto alimentar!

CANTO DE CRISTAL V

SÃO OUTROS CANTOS QUE QUERO AQUI MOSTRAR,
ESSES QUE BRILHAM COM DOCE MELODIA
E QUE GARIMPAM QUALQUER NESGA DE POESIA,
CAÇANDO O BELO E O BEM EM CADA OLHAR.

CANTO OS CANTOS DE CRISTAL, SEM RENEGAR
O QUANTO NELES SE ENCONTRA DE MAGIA,
O MISTICISMO DE NOSTÁLGICA ELEGIA,
SAUDADE INGLÓRIA DO QUE NÃO PODE RETORNAR.

Que cada canto é lançado para o ar,
Reluzente como taça de cristal,
na chuva inversa de garoa em seu vibrar,

bruma que sobe em constante marejar
uma lágrima vestida em cor de cal
nessa vitrina fosca do sonhar.

CANTO DE CRISTAL VI

E SE AS METÁFORAS AQUI SE CONTRADIZEM
É QUE MAIOR QUE TODAS ELAS É TAL CANTO,
CRSITAL FORJADO DE COAGULADO PRANTO,
RASGANDO RUGAS ENQUANTO A FACE ALISEM.

SE FOSSE FEITO DE ALGUM TEOR MAIS SANTO
SUBIRIAM FACILMENTE ENQUANTO DIZEM
AS LITANIAS SOBRE AS PLAGAS EM QUE PISEM,
MAS SÃO CAQUINHOS DE CRISTAL EM BRANCO MANTO.

SÃO CANTOS FEITOS BEM MAIS DE SOFRIMENTO
E AS PENAS DO SOFRER NÃO SÃO SAGRADAS;
JÁ AS DE ALEGRIA SÃO MUITO MAIS ALADAS.

PARA OS CÉUS SOBEM O JÚBILO R O LOUVOT,
NA TRANSPARÊNCIA DE TAL CONTENTAMENTO
COMO AEROSÓIS DE UM CANTO DE VAPOR.

DOMICÍLIOS I – 16 DEZ 16

Antigamente, nas ruas em que andava,
as placas via com os nomes de pessoas,
com abstrações, em outros casos, boas:
muita rua de Esperança se chamava.

Ninguém mais de tais pessoas se lembrava,
não mais que nomes aos quais faziam loas,
sobre as placas a lançar de lama as broas
quaisquer moleques que a vida revoltava...

Meio século passado desde a infância,
as vias lavadas já por tantas luas,
placas roídas por ferrugem e traças...

Seus novos nomes contemplo sem ganância,
enquanto os conhecidos viram ruas,
ou colégios... ou mesmo algumas praças!

DOMICÍLIOS II

Tais conhecidos em outros pontos habitavam,
bem raramente nas ruas que lhes deram;
nalguns colégios, de fato, lecionaram,
mas essas praças nunca frequentavam...

Nos bairros periféricos que arruavam,
para um parquinho quadras reservavam
ou para a segurança destinavam,
mas nem marcas de seus pés ali se achavam...

Pois vereadores querem mostrar serviço
(que não se digam serem apenas parasitas,
muito ganhando, porém ser fazer nada!)

E quais sinais de denodado viço,
projetos mostram em inúteis fitas,
qualquer ruela que se abra designada!

DOMICÍLIOS III

Que não se diga sequer que desaprovo
ou que dessas homenagens tenha inveja,
que a algum antigo professor ali se enseja
ou a alguém político garanta-se o renovo.

Contudo sei quão inconstante é o povo
e igual que a troca dos velhos nomes vejo,
de heróis antigos renegação sem pejo,
pelo prazer de ali aplicar um nome novo,

sei bem que um dia haverá outra mudança
e os conhecidos no presente homenageados
para algum limbo no futuro enviarão,

no esquecimento que até lápides alcança,
quando nas tumbas forem outros enterrados,
novas memórias com que os substituirão...

DOMICÍLIOS IV

Só me admira não terem tido a ideia
(pelo menos ainda em minha cidade)
de na necrópole, com operosidade,
os nomes darem. com artificiosa veia,

a uma Alameda do Professor Esteia
ou uma Ruela do Padre Saudade,
ou à Vereda de Dona Liberdade
ou ao Caminho de Madame Ideia...

Mas não duvido que em qualquer outro lugar
já tenha sido essa prática adotada,
que um domicílio se torna definitivo

de um morto ilustre que ali foram enterrar.
Mas será certo para os defuntos a seu lado
subordinar-se a algum morto tão altivo?

DOMICÍLIOS V

Quanta gente que existe, na verdade
a quem nem deram lápide funerária,
ou por pobreza ou por razão atrabiliária
ou por simples descaso, em realidade?

E se o lugar desse repouso, sem maldade,
é esquecido por inconsistência vária,
não é, de fato, uma atitude perdulária
dar novos nomes às ruas da cidade?

Mas quando aos poucos se trocam moradores
dos onomásticos mal se sabem domicílios,
em cujas tumbas descansam já seus filhos,

pouco lembrados por bisnetos seus louvores,
pois certamente não os puderam conhecer,
lápides novas substituindo a bel-prazer?

DOMICÍLIOS VI

Se bem recordo esses meus velhos conhecidos
tais homenagens iriam tratar com ironia
dos pontos altos em que a alma flutuaria,
para esses corpos que prefeririam esquecidos.

Sabem que os mortos da vida são banidos.
que toda a farsa da homenageria
é mais efeito de supersticiosa via:
que não fiquem tais mortos ofendidos!

Porém nas praças vão os jovens namorar,
sem a menor recordação do homenageado
e nos colégios mal se lembram do padroeiro...

E em cada rua que preciso atravessar,
que a algum amigo teve o nome dedicado,
precisaria permissão pedir primeiro...?

MAZELAS E PROCELAS I – 17 DEZ 2016

Quando me vires, sentirás surpresa
por te mostrar não mais que indiferença,
depois de tanto ardor, tanta paciência,
ainda mais o tempo gasto que a despesa...

Então minhalma à tua esteve presa
nas fauces da esperança, nessa crença
de que afinal, após a busca intensa,
tua vida seria minha, inteira e ilesa...

Quando me vires, no fundo de meus olhos
verás como secou o antigo brilho:
não há tristeza, nem prazer, nem mágoa...

Tão somente imunidade a teus escolhos
contra os quais descarrilou meu velho trilho
concêntricos círculos ondulando em água.

MAZELAS E PROCELAS II

Por mim que seja marshmallow teu destino,
de alvura doce que o velho amor excreta
sobre tua língua e não mais se intrometa,
Trompas de Eustáquio feito um mudo sino. (*)
(*) Canais que conduzem aos ouvidos.

Não mais me afetas como o Sol a pino,
nossa conversa intercalada e bem discreta,
na eructação em que um sonho se completa,
vazio o antanho igual que um desatino.

O teu semblante tão só recordação
do que existiu e sofreu seu passamento,
não mais que algo que se considerou,

mas nem chegou direto ao coração,
vaga esperança sem mais discernimento
que uma leitura que não se completou.

MAZELAS E PROCELAS III

Que seja assim meu velho amor equipolente
ao que senti por ressecada flor,
que ainda guardo, em poético pendor
entre as páginas de algum livro, permanente.

Acupuntura entre as folhas, tão somente,
por grãos de pólen sem chance de viver,
levemente esmagados, sem morrer,
amortalhados sem razão premente...

E que algum dia, distante, no futuro,
se por acaso esse livro for cair,
abram-se as páginas, soltando-se seus restos,

que só venha a contemplar meio inseguro,
sem recordar qual motivo do iludir
que me inspirou a realizar tais gestos...

MAZELAS E PROCELAS IV

Caso alguém mais visse o velho livro aberto,
toda esquecida a emoção que abraça
só pensaria dar alimento a alguma traça
tal Rorschach de um passado incerto. (*)
(*) Imagens empregadas em psicologia.

Tivesse alguém seu coração deserto,
que em seu passado pouco ou nada enlaça,
um sacudir casual apenas faça,
lançando fora quanto restou, por certo...

Porém se fosse eu, mesmo esquecida
toda a razão de tal penhor guardado,
provavelmente o voltaria a recolher,

para em tais páginas de antanho dar guarida,
até que eu mesmo fosse ultrapassado
e um novo estranho as abrisse – sem querer!

EU NO ESPELHO 1 – 18 DEZ 2016

Era de se esperar que a longa mágoa
Escorresse sobre mim, em vã carícia,
Como um manto suave de malícia
Tal qual espuma de sabão e água...

Que uma onda de salsugem, como frágua
Me perturbasse, em vagas de sevícia
E te deixasse um sabor de impudicícia,
Tal qual a espuma formou Vênus dentro dágua.

Mas eram gotas de espuma, tão somente
Amareladas de luz em tal reflexo,
Conspirações de estética centelha,

Logo explodindo em borbulhar fremente,
No hipnotismo desse mesmo nexo
Que mil faces de ti na praia espelha.

EU NO ESPELHO  2

Não é que eu creia, mas é divertido
Pensar que existam presságios e avisos,
Um pio de pássaro, da cascavel os guizos,
Que em algum corisco meu futuro seja lido.

Teria mais coincidências percebido,
Seja um horóscopo acolhido com sorrisos
Ou que um ladrilho invertido de meus pisos
Proteção me propiciasse em gesto fido.

Mas quando as coisas dão certo, até parece
Que existe uma intenção em cada encaixe
E que eu viva submetido a influências

Ou quando tudo falha, mesmo a prece,
Tal qual um mau espírito baixasse,
Nessa tortura lenta das vivências...

EU NO ESPELHO 3

Tudo pensado, só há presságio verdadeiro
Nalgum cristal que espelha em reflexor:
Brilham os olhos na tristeza de um amor
A refletir os nossos rostos por inteiro.

Na juventude, há sinal alvissareiro,
Não que o futuro mostrará pleno vigor,
Mas de esperança e conquistas traz sabor
Que com saúde e esforços vêm ligeiro.

Mas depressa “eu no espelho” vejo a linha
Que se imiscui na face, sorrateira,
Ou percebo algum fio branco lampejar.

Novo futuro um tal presságio alinha:
Que a decadência é sutil, porém certeira,
Salvo se a morte primeiro me ceifar...

EU NO ESPELHO 4

Contudo vejo, nas palmas de minha mão
Que as velhas linhas em nada se mudaram...
Será que, realmente, me avisaram
Do que seria meu porvir, com perfeição?

Pois desde o ventre nessa palma estão
E nessas décadas em nada transmutaram,
Enquanto rosto e corpo amofinaram:
São linhas feitas para a vera previsão?...

E se não creio nos astros ou coriscos,
Se não me espanta o ulular de uma coruja,
Nem nunca fé coloquei num bem-te-vi,

De cada vez que a minha palma abri,
Reencontrei imperturbáveis os seus riscos,
Sem que tal previsão me falhe ou fuja...

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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Um comentário:

  1. Excelente seus textos poeta William Lagos,seu talento desponta em qualquer modalidade poética,
    aplausos!Um fraterno abraço,Liana.

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