SINCRONICIDADE & MAIS – 9/18 DEZ
2016
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS
SINCRONICIDADE
I – 13 nov 2007
Queria
hoje te dizer que desejava
“ser
imagem no fundo de teus olhos”...
Mas essa
imagem que antes me imantava
já foi
por outrem usada; e até nos molhos
de
sonetos que já formam os escolhos
que estão
sobre minha mesa assim cantava.
Fez-se
imagem batida e sem antolhos:
não é
possível retomá-la em seiva brava.
Esmaeceu-se
essa imagem. Esbateu-se,
inutilmente,
contra a tua vidraça
e, entre
os caixilhos, vi um par de rostos
que se
miravam; e em cujo olhar, sofreu-se,
pois
refletiam somente os próprios gostos
olhos nos
olhos, em imagem de pirraça...
SINCRONICIDADE
II – 09 DEZ 2016
Talvez
fora melhor que desejasse
te
percorrer o côncavo da boca,
a que
chamam de “céu”, imagem louca
e minha
língua em aeronave transformasse
e que ao
longo do Palato me lançasse
até as
Amídalas, guardiãs da canção rouca
e que da
“campainha”, da voz Úvula mouca,
qualquer
salmo de amor eu retirasse,
que de
tua língua fizesse um aeroporto
em que
pudesse aterrissar com segurança,
língua na
língua, no mais gentil desporto,
mas sem
querer penetrar no teu hangar,
temendo
arcada em súbita mudança
que
rejeitasse a intromissão de meu planar.
SINCRONICIDADE
III
Talvez
fosse melhor que mencionasse
percorrer-te
lentamente os Labirintos
que te
conservam equilíbrios mais distintos
e em
rodopios ardilosos patinasse
ou que
nos Tímpanos teus tamborilasse
mensagens
dos tantrismos mais sucintos, (*)
em que
pendores de amor não são extintos
e nas
membranas de teu sonho me infiltrasse
(*) Filosofia hindu centrada no sexo.
e ainda
pudesse colocar em teus Estribos
lindos
sonetos, sem que teus Martelos
contra as
Bigornas pequenas esmagassem;
e
finalmente, que galgasse os crivos
de tuas
Cocleias em alexandrinos belos (*)
e sempre
ali minhas paixões se conservassem.
(*) Núcleos nervosos da audição.
SINCRONICIDADE
IV
Ou quem
sabe, nalgum ponto das narinas,
tapeçarias
de delicados pelos
pelas
Papilas soprasse em meus desvelos
quais
transparentes brisas matutinas
e
sobretudo, nas horas vespertinas,
soubesse
ali depositar os meus apelos,
que capaz
nunca fosses de contê-los,
nem
esternutasses em fúrias assassinas, (*)
(*) Espirrasses.
mas que
aceitasses esse amor de olfato
como o
doce sussurrar do catavento
e o
aspirasses até os Alvéolos dos pulmões
e então
ali me recebesses, sem recato,
sob o
carinho da Pleura em acolhimento,
filtro de
amores e de tantas emoções...
SINCRONICIDADE
V
E o que
mais resta para a imageria,
sem no
fundo de teus olhos ser imagem?
No Humor
Aquoso que nadasse com coragem,
que nas
tuas Íris, enfim, me afogaria...
Teu
Cristalino o meu suspiro aceitaria,
no Humor
Vítreo deixaria minha mensagem
e em
nervos óticos seguiria esta viagem
que em
direção de tua mente marcharia;
seria
inserido na rede do Quiasma (*)
que minha
dupla imagem juntaria,
num
amálgama de metálico esplendor,
(*) Núcleo nervoso da visão.
tal qual
somente o verso brando orgasma
e num
espelho de prata gravaria
o
assinalar do mais sincero amor.
SINCRONICIDADE
VI
Seria
tudo feito assim em sincronia,
sem que
existisse ali a defasagem,(*)
de teu
próprio sentimento; e em vassalagem,
o meu
preito de amor se ajoelharia,
(*) Desencontro de duas vibrações.
sem que
surgisse qualquer diacronia,(*)
mas uma dança
a dois, sem vacilagem,
tal como
as rodas de uma só carruagem,
que de
teu cérebro no cerne correria...
(*) Tempos diferentes.
Nestas
imagens de fantasmagoria
que antes
poucos se atreveram a usar,
amor
fremente por medo de afastar,
minha
esperança não se extinguiria:
mais do
que imagem, estátua de marfim
que
eternamente nos durasse assim!...
À MUSA
DECADENTE I – 14 NOV 2007
Quando se
ama, se espera que a mulher
abra as
portas do mundo, em sua magia.
À vida
toda traz enfeites de poesia
e ao
futuro se antolha em bem-me-quer.
Quando se
ama, então, por vez primeira,
se pisa
em nuvens e a bênção fulgurante
se
encharca sobre nós, nesse constante
chuvisco
de pirita... E a alma inteira (*)
(*) Sulfato de ferro (dourado), o “ouro
dos tolos”.
considera que o mundo é sua colmeia,
que é só
melar os dedos e lamber,
porque a
mulher é a deusa da ilusão...
Não foi
assim comigo, que essa deia
foi
surda-muda: não conseguiu,sequer,
abrir-me
as portas de seu coração...
À MUSA
DECADENTE II – 10 DEZ 16
Para que possa
esse órgão ser aberto
é preciso
muito mais que bisturi;
em minha
telinha operações eu vi
em que se
enche de sangue um tal deserto,
mas não
de amor, já que é muito mais incerto
abrir um
coração ante o pairar de um colibri
que Eros
enviou, razão por que sofri,
voando em
torno, porém sem chegar perto.
Quando se
abre um coração ao amor,
não é de
sangue, mas se alaga de emoção
tudo
tomado por brilhante hemorragia;
mas das
costelas não possuí afastador
e só de
longe percebi palpitação,
sem a
abertura que a mim receberia...
À MUSA
DECADENTE III
Quando à
musa qualquer um expõe seu bem,
é que tal
bem de si mesmo foi roubado,
envolto
na ilusão, mesmo encarnado
no branco
invólucro de cristal que tem;
e a musa
sabe, por certo, que também
esse
cristal em que o bem é transportado
de outro
peito anterior foi raptado:
não é
apenas dom gratuito que lhe vem.
E cabe à
musa, desta sorte, decidir
sobre se
vale se lhe expor, sobremaneira,
e então
se abrir para tal fruto receber,
em cada
instante do futuro a se exibir,
mortalha
viva a tornar-se, qual esteira
do amor
roubado que alguém veio lhe trazer.
À MUSA
DECADENTE IV
Não é em
vão que se diz “roubar um beijo”,
quando,
de fato, é mais um beijo que se dá;
é um
falso furto em que troca se dará,
no
inesperado e subitâneo ensejo...
Roubar-se
um beijo... Por força do desejo,
acanhamento
de fato ali não há;
fingida
ofensa talvez pretendam já,
ou
bofetada a demonstrar que existe pejo!
Mas onde
o roubo, se os lábios permanecem,
senão,
talvez, de um pouco de saliva
que até
castiguem por mordida violenta,
se nem
mesmo as sensações jamais se esquecem,
enquanto
for essa memória rediviva
de um
breve instante de prazer que se lamenta...
À MUSA
DECADENTE V
Mas por
que a chamo de “Musa Decadente”?
Tal
deveria ser minha plena inspiração,
já
diluída desde a primeira negação
e mais
nos roube por negação frequente...
O antigo
brilho que a envolvia, potente,
fica a
perder sua inicial coloração;
para um
soneto de amor vai-se a razão,
restando
canto de desdém, tão simplesmente.
Não que
se torne em fantasma de si mesma,
pois
continua a ser bela, que é mulher,
mas não
se expande a sua faísca rosicler;
e de
mulheres atraentes se acha resma,
que mesmo
podem ser um alvo de conquista,
mas ao
lirismo não deixando a menor pista.
À MUSA
DECADENTE VI
Assim
decai a antiga musa pouco a pouco,
mesmo que
venha a tornar-se bela amiga;
talvez um
beijo no futuro se consiga,
mas nunca
o beijo daquele sonho louco.
No
coração nosso estro se faz mouco, (*)
que algum
amor pode fingir em falsa intriga,
sem mais
valor que as palavras que se diga,
tal qual
discurso imperfeito de algum rouco.
(*) A inspiração se torna surda..
Pode a
mulher se tornar físico amor,
amante,
companheira ou mesmo esposa,
mas
decaiu de sua função de musa,
que ainda
se pensa encontrar noutro setor,
em que se
colha glicínia ao invés de rosa,
de outro
perfume em transitória cruza...
PROTEIA
I – 15 NOV 2007
Uma
assembleia canina me persegue:
são
cães de tantas raças, cães mestiços,
que me
ladram nos ganidos mais castiços,
pelo
alimento que me foi entregue.
E,
porque ladram, são ladrões, não negue
a
semântica do nome. São roliços,
por
tomarem dos outros. Tem os viços
que
somente o parasita mais consegue...
Não é
só que desejem numerário:
querem
prestígio e posição social,
esses
galgos de fome, essa vermina,
de quem
todo valor é secundário.
E eu...
só encaro a inveja natural
dessa
alcateia que destarte se encanzina!
PROTEIA
II – 11 DEZ 2016
Tolo
ditado a proclamar mediocridade:
“Cão
que ladra, não morde.” Mas depois
de ter
latido, veem-se abrir os dois
maxilares
– morde com voracidade!
É
preciso dar motivo, na verdade,
que de
ladrar eles não parem, pois
é no
instante de silêncio que propões
que
lhes permites morder com crueldade.
Assim,
se sabes o quanto te invejaram,
não
penses que a cessação de algum motivo
será
razão para que encolha a inveja.
Bem ao
contrário, é quando se calaram
que seu
rancor se torna mais ativo
e te
abocanham na fraqueza que se enseja.
PROTEIA
III
Sempre
fui alvo assim dos invejosos
e
sabe Deus, sem um motivo verdadeiro;
não
fui o galo dominante do terreiro:
deixei
a cada um os seus despojos.
Não
me meto nas disputas dos vaidosos,
da
política afastado por inteiro;
nem
em clube ou futebol fui parelheiro,
nem
desses prélios que atraem os gananciosos.
Tão
somente exerci virilidade;
fui
no palco e nas artes criativo,
mas
foi sempre limitada esta atuação;
e
mesmo assim, fui alvo da maldade
de
quem buscava ser mais competitivo
e via
em mim alguma sombra de antemão.
PROTEIA
IV
Linnaeus
criou esse nome de “proteia”
para
uma espécie de plantas variegada,
mostrando
flores de beleza delicada,
individuais
ou brotando em assembleia.
De
fato, tão variada essa sua veia
que
por Herman Boerhaafe apresentada (*)
havia
sido, ao pretender classificada
em
seis gêneros, em sua “Florileia”.
(*) Botânico sul-africano, precursor de
Lineu.
Carl
Linnaeus, também chamado de “Lineu”,
tendo
estudado o seu predecessor,
que
eram de um só gênero entendeu
e o
batizou com o nome de “Proteu”,
entre
os Helenos da natureza o protetor,
que
em mil formas governava o reino seu.
PROTEIA
V
De
igual maneira, embora menos bela,
em
muitas formas se apresenta a inveja,
algumas
vezes na traição que beija
ou
fingindo ser da luz brilhante vela;
pode
mostrar-se reluzente como estrela
ou
fervente nessa cólera que enseja
ou
pelos cortes e golpes com que a aleija
ou
quando a falsa acusação apela.
“Flores
do Mal”, deixou-nos a altaneira
obra de
Baudelaire, de grão vigor,
na
descrição detalhada desse espinho,
que no geral,
usa calúnia sorrateira
ou
obstáculos coloca no caminho
desse
que teme ser seu superior.
PROTEIA
VI
O que é
certo é que, ao ter percepção
de
qualquer um que considere seu rival,
o
invejoso lhe buscará o mal,
escusamente
ou por perseguição.
Assim, fui
sempre um objeto de exclusão
quando
tomado por inimigo natural,
qual
obstáculo a seu passo triunfal:
quem
não feriu, tampouco deu-me a mão.
Fui
objeto de uma crítica ferina
ou de
outras vezes ignorado, simplesmente,
sem
para tal apresentar qualquer razão.
E é bem
possível que conheças tal vermina
que já
te haja caluniado, impunemente,
desde
os medíocres cantinhos em que estão...
TAPETES ROTOS I – 16 NOV 2007
Quando passavam, as saias revoavam
e, a um golpe de vento, até me expunham
o quanto pretendiam; e supunham
se acreditasse assim que não mostravam,
senão por acidente, tais meninas,
esses joelhos e coxas escondidos,
depressa por olhares perseguidos...
E seu perfume chegava-me às narinas...
Mas, hoje em dia, é tão raro ver as saias
esvoaçantes dos tempos mais antigos...
São calças, são bermudas, religiosas
saias longas e justas, como baias...
E, ao ver pernas expostas, sem abrigos,
sinto menos sedução nas mais formosas...
TAPETES ROTOS II – 12 DEZ 16
Na adolescência, eu li A Pata da Gazela
de Machado de Assis, o romancista,
que não somente a obrigação insista
dos cursos de Letras, mas por obra bela.
Ali conta o narrador que uma donzela
ou quem sabe, já mais velha, dera pista,
ao descer de uma carruagem, quando avista
do tornozelo o torneado – qual procela... (*)
(*) Tempestade de emoção.
Somente a vista dessa articulação
ao narrador encheu de tal paixão,
pelo breve insinuar de algum mistério
nas longas saias arrastadas pelo chão,
não mais que um pé perfeito na ocasião,
a lhe gravar no peito ardor tão sério...
TAPETES ROTOS III
Mesmo a nudez pictórica tão comum,
até mesmo nas folhas de um missal
ou Adão e Eva mostrados num vitral
ou na Capela Sistina, a olhar algum
se revelava ao contemplar nenhum
membro do corpo em sua nudez total,
da cintura para baixo, em natural
ocultação para o olhar de qualquer um,
embora os braços se mostrassem facilmente,
os ombros e o pescoço e até o rego
entre os dois seios, em mil trajos de gala,
nesse artifício da negação frequente,
púbis e nádegas ocultos em sossego,
que até seu nome a sociedade cala...
TAPETES ROTOS IV
Mas nada é impune à força do estilismo:
foram os corpos mostrados mais e mais,
vistas as pernas em modelos naturais,
cada vez menos ocultando tal modismo.
Mesmo mostrado, intermitente, algum nudismo,
em qualquer praia, quais despojos triunfais
de uma vaidade e orgulhos naturais,
numa atração que se quer naturalismo.
Os homens, em geral, a usar bermudas
até seus joelhos ou mesmo um pouco abaixo,
bem mais comum de seu torso a exposição,
mas as mulheres assim semidesnudas,
mostrando a senda da vagina em claro facho,
mesmo fingindo não possuir tal pretensão.
TAPETES ROTOS V
Pessoalmente, eu amo o corpo feminino,
no qual enxergo sempre um toque de sagrado,
sem recusar-me assim a um demorado
exame do que traz de fescenino... (*)
(*) Licencioso, libidinoso, “sexy”.
Não por desejo grosseiro me fascino,
que a mãe enxergo no quadril apresentado
e à sua honra me tenho consagrado,
sem para o sexo recusar ser peregrino.
Mas o que assisto é haver diminuição,
mostrada a pele com tal facilidade,
do jogo antigo em sorrateira sedução.
Não há desejo desse oculto contemplar,
tudo já sendo apresentado por vaidade,
nenhum mistério restando a revelar...
TAPETES ROTOS VI
Deixou a mulher de ser tapeçaria
e transformou-se numa parede nua,
sem a orgulhosa sedução da Lua,
exposta a carne à radiação que a queimaria.
O imaginário se perdeu que seduzia,
vago o desejo ante estética tão crua;
só com esforço a libido ali flutua,
salvo talvez em quem há pouco a conhecia.
Assim me apiado de tais jovens de agora,
que tudo tocam e veem cedo demais,
perdida em breve quase toda a novidade.
Resta o formoso para mim, embora,
o toque místico dos contornos naturais,
que ainda me inspiram com vivacidade!...
.
Sem
Safenas 1 – 17 NOV 07
As coisas
tardam sempre e são falazes
quaisquer
promessas que me venham de outrem.
Embora
contas me facilmente encontrem,
as
demoras a pagar-me são tenazes...
O que
jamais não tarda, são impostos,
cobrados sempre
de quaisquer dos lados
a que me
volte... São permanentes dados
no
algoritmo destes meus desgostos...
Impostos
sempre sendo os mais sinceros
e
constantes amigos de minha vida:
haja o
que houver, não me abandonarão.
São
fiéis, esses números austeros
das
taxas, que me tomam, sem medida,
gota após
gota, o sangue da ilusão...
Sem
Safenas 2 – 13 Dez 16
Posta de
lado a persistência de um amigo
que só
deseja de meu sangue algumas gramas
e
mensalmente apresenta-me os proclamas
de um
casamento com o dinheiro que consigo,
existem
outros, quais lápide em jazigo,
que sobre
o peito pesam-me com ganas,
obrigações
lambentes como chamas
que
contra o próprio interesse ainda persigo.
Reconheço
que tais escolhas prejudicam
até s
rimas destes meus quartetos,
sem que
consiga provocar sua ausência,
mas
novamente, são obrigações que ficam
e no
intermédio rascunhei versos completos,
em certo
alívio para um peso na consciência...
Sem
Safenas 3
Até o
presente, meu ardente coração,
mesmo na
vida tendo sido maltratado,
a todo
embate tem sempre suportado,
sem ter
de nada pedido demissão.
Dois
enfartos meu pai teve de antemão
a seus
quarenta anos, bem tratado
o duplo
assalto que afinal depôs de lado
e sua
vesícula já extraiu nessa ocasião.
Setenta e
três, contudo, completei
e
permanece meu cárdio ainda saudável,
só da
vesícula também tive extração;
meu
compromisso com a vida conservei,
embalde
tanto percalço formidável,
inteiro o
corpo e íntegra a razão.
Sem
Safenas 4
Algumas
vezes, a mim mesmo me surpreendo,
como se
houvesse realmente proteção:
de
potestade divina sob a mão,
a toda
vez que a um novo dia atendo.
Pois nada
fácil foi-me a vida, bem compreendo,
mas mesmo
assim não busquei sua contração,
noite
após noite recebendo em saudação,
quando
aos fantasmas do sono então me rendo.
Como os
impostos, que aceito de mau grado,
são essas
horas ao repouso destinadas,
porque só
durmo revoltado e com rancor,
no
desperdício de um terço de meu fado,
ao invés
das coisas que queria realizadas,
perdidas
horas na impotência do torpor...
Sem
Safenas 5
Lamento
as horas que dedica às refeições,
tempos
perdidos para tomar banho,
os dentes
a escovar em tolo amanho
e os
momentos que destino às abluções.
Lastimo o
tempo de quaisquer operações
que
realizo sem ver nelas qualquer ganho;
no meu
teclado, cada pequeno lanho
que me
atrapalhe nas preparações.
Não
aprecio precisar de cortar unhas
ou de
passar um pente na cabeça
ou as
caminhadas até a padaria,
que de
minha vida roubam tantas cunhas,
mesmo
assistir a um noticiário que se esqueça
ao invés
de estudos de que algo ganharia...
Sem
Safenas 6
Contudo
os vácuos com música eu adenso,
vinte e
quatro horas por dia, se possível
e
continuo a aprender o que é exequível:
leio em
latim sem grande esforço tenso
e em
várias línguas, realmente, eu penso
e nelas
leio com furor inexaurível,
sem
dicionários, tanto quanto é crível,
reunido
delas vocabulário denso.
E mesmo
cumpro a mais gentil obrigação,
vários
poemas rascunhando diariamente,
mas aos
quais passar a limpo me aborrece...
Pois
quando faço no teclado a redação
ou quando
os esparzo pelo mundo, finalmente,
lastimo o
tempo que em tal labor se esquece!...
ANDARILHAS
I – 18 NOV 2007
Por que
andaria uma jovem seminua,
se não
quisesse ver-se admirada?
Quando a
vaidade no seu corpo estua,
embora
traga no rosto aferrolhada
uma
expressão de pura indiferença?
Certo é
nem todo olhar causar-lhe agrado,
mas sabe
bem que o corpo assim mostrado
atrairá
cobiça e malquerença...
Desejo de
uns, das outras, mais inveja,
que, às
vezes, até sente a própria mãe,
ciosa
estando da perdida mocidade...
Mas para
"mãe" uma rima não se enseja...
Mãe é só
uma, portanto, à "pátria-mãe"
eu
agradeço por tal sensualidade...
ANDARILHAS
II – 14 DEZ 2016
Sempre
falei, com um toque de ironia,
que as mulheres,
por certo, menos frio
sentem
que os homens, ao mostrar com brio
as belas
pernas no vestir que decrescia,
mesmo a
queixar-se do vento que zunia...
As roupas
justas dão vazão a calafrio
e os
decotes lhe causam arrepio,
mas a
assim vê-las, mais calor se sentiria...
Talvez
sejam aquecidas por vaidade,
nativo
orgulho a agitar seu coração,
algo que
o homem só experimenta raramente,
mais em
partilha da feminilidade,
se o
próprio físico lhe traz bela emoção,
sem aos
reflexos mostrar-se indiferente...
ANDARILHAS
III
Não
acredito que qualquer mulher
seja
insensível ao provocado efeito;
mesmo
meninas já adotam certo jeito
de
sedução, como quem nada mais quer...
Não estão
ainda despertadas ao mister
da
tentadora; contudo, já há um trejeito
para
atrair os meninos, um conceito
em que
tais pares nem pensam sequer...
Não
esqueçamos que todos os parentes
vão
ressaltar-lhes a feminilidade:
pois são
bonitas e amadas princesinhas...
Mas se
trata em geral bem diferente
aos
garotinhos, cuja masculinidade
é estimulada
em competições e rinhas...
ANDARILHAS
IV
Afinal,
são os ventres, mães da raça
que uma
nova geração irão nutrir,
mas
claramente não pretendem iludir
a um
rapazinho que possua a mesma graça.
Por certo
espera-se que case e que se faça
bom
provedor, um lar a constituir,
uma
família a fundar e a construir,
mas lá no
fundo, existe uma pirraça:
Se não
for ele, poderá outro ser pai
com a
menina que desperta sua paixão,
a sua
missão realmente é engravidar;
mas no
seu ventre só a semente cai
e proteger
essa mãe é sua função,
pouco
importando seu externo parecer.
ANDARILHAS
V
Nos dias
de hoje a força pouco importa;
outros
fatores tornam o homem atraente,
mas da
beleza ainda será um pretendente:
para a
conquista da fêmea se comporta.
Sei muito
bem que a sociedade aporta
valores
novos nos dias do presente,
porém
algo artificial se encontra assente
no
comportamento recente que reporta.
Poderá
haver bem maior promiscuidade,
pois na
tevê e nas tais redes sociais
brilham
mulheres igual homens a agir,
seja
insistindo em sua libidinosidade
claro
desejo pelas partes mais sexuais,
nessa
insistência do material no novo urdir.
ANDARILHAS
VI
Talvez
revelem sua verdadeira natureza,
antes
oculta por tantas convenções;
talvez
ocultem as verdadeiras emoções,
disfarçadas
em luxúria sem nobreza.
Contudo a
ênfase em sua maior beleza,
que
mostra ou esconde da pele ilustrações,
mui
certamente favorece as seduções,
reconhecidas
ou não com mais certeza.
E ainda
prefiro as saias contemplar
que o
vento agita em sua indiscrição,
sem que
tudo já apresentem de antemão.
Que seja
apenas para mim tal revelar
os seus
favores e nunca à multidão,
que tanto
vê e não mais sabe apreciar!...
canto de cristal i – 15 dez 16
CHAPAS DE VIDRO TRANSPARENTE SÃO TEUS OLHOS,
VITRINAS DOCES DE INTERIOR OPALESCENTE
SOB A GRADE DAS PESTANAS, CONTUNDENTE
ESPELHO REFLETOR DE MIL ESCOLHOS,
CHAPAS DE SONHO OCULTANDO TEUS REFOLHOS
E REVELANDO O QUE PENSO VER SOMENTE,
NÃO O QUE ÉS, O QUE SERIA SURPREENDENTE,
MAS O QUANTO em tI PROJETAM MEUS ANTOLHOS.
DE FATO, SE TE OLHAR BEM NAS PUPILAS,
COM O CUIDADO E DETALHES QUE SE ALCANÇA,
SERÃO MEUS OLHOS QUE A VISÃO REVELA,
O MEU DESEJO POR SOB AS BRANDAS FILAS
DE TEUS CÍLIOS, A MOSTRAR PERSEVERANÇA
COM QUE EU MESMO GEREI A ILUSÃO BELA.
CANTO DE CRISTAL II
CONTEMPLAREI EM TUAS ÍRIS TANTO AMOR
QUANDO ESTE QUE REVELAM MEUS DESEJOS;
ALI DIVISAREI ÂNSIA DE BEIJOS
NESSA IGUAL PROPORÇÃO DE MEU ARDOR.
SERÁ A QUIMERA APENAS DO ESPLENDOR
COM QUE MEUS OLHOS PROJETEI NESSES ARPEJOS,
ACORDES MEUS DE TODOS OS ENSEJOS
A CASCATEAR PARA TI FIRME VIGOR.
MAS NA VERDADE, NADA HÁ QUE ME GARANTA
O QUE SE ENCONTRA POR DETRÁS DAS VISTAS,
O AMOR QUE VEJO TALVEZ SEJA SÓ REFLEXO;
TALVEZ DESCUBRA ALI RANCOR QUE ESPANTA,
QUIÇÁ SOMENTE O ORGULHO DAS CONQUISTAS
OU UM FUNDO OPACO QUE NÃO MOSTRA O MENOR NEXO.
CANTOS DE CRISTAL III
COMO SABER SE ME ILUDO SIMPLESMENTE
OU SE VEJO O QUE SE ENCONTRA NESSA IMAGEM,
QUANTA TERNURA COMO EFEITO DE UMA ARAGEM
QUE PISCAR FAÇA A VISTA COMPLACENTE.
COMO SABER O QUE HÁ DE TRANSPARENTE
E O QUE SOMENTE NÃO PASSA DE VISAGEM?
COMO SABER O QUANTO EXISTE DE BAGAGEM,
SEM SENTIMENTO TER REAL SUBJACENTE?
DIZEM QUE OS OLHOS SÃO ESPELHOS DALMA
PORÉM DE FATO, ESPELHAM QUANTO HÁ FORA:
VITRINAS FOSSEM E A CALÇADA ESPELHARIAM,
POIS REVELAM SIMPLESMENTE A FRIA E CALMA
MERCADORIA GUARDADA DESDE O OUTRORA,
QUE SOMENTE EM FUNDO POÇO SE ACHARIAM.
Canto de cristal iv
Trazem os olhos nos cantos comissuras
Que se podem abrir ou apertar,
Dependendo se há razão de desconfiar
Ou se podem revelar reais ternuras.
A gente aprende a ler mensagens puras,
Quem sabe busca seus mistérios decifrar.
Estão teus olhos de amor a lampejar
Ou inversamente a mostrar vagas loucuras?
E quanta vez uma jovem ante o espelho
Pratica com cuidado as expressões
A fim de os homens poder mais controlar?
Não que algum moço não faça algo parelho,
Esses que buscam tão só compensações
Para um orgulho irrequieto alimentar!
CANTO DE CRISTAL V
SÃO OUTROS CANTOS QUE QUERO AQUI MOSTRAR,
ESSES QUE BRILHAM COM DOCE MELODIA
E QUE GARIMPAM QUALQUER NESGA DE POESIA,
CAÇANDO O BELO E O BEM EM CADA OLHAR.
CANTO OS CANTOS DE CRISTAL, SEM RENEGAR
O QUANTO NELES SE ENCONTRA DE MAGIA,
O MISTICISMO DE NOSTÁLGICA ELEGIA,
SAUDADE INGLÓRIA DO QUE NÃO PODE RETORNAR.
Que cada canto é lançado para o ar,
Reluzente como taça de cristal,
na chuva inversa de garoa em seu vibrar,
bruma que sobe em constante marejar
uma lágrima vestida em cor de cal
nessa vitrina fosca do sonhar.
CANTO DE CRISTAL VI
E SE AS METÁFORAS AQUI SE CONTRADIZEM
É QUE MAIOR QUE TODAS ELAS É TAL CANTO,
CRSITAL FORJADO DE COAGULADO PRANTO,
RASGANDO RUGAS ENQUANTO A FACE ALISEM.
SE FOSSE FEITO DE ALGUM TEOR MAIS SANTO
SUBIRIAM FACILMENTE ENQUANTO DIZEM
AS LITANIAS SOBRE AS PLAGAS EM QUE PISEM,
MAS SÃO CAQUINHOS DE CRISTAL EM BRANCO MANTO.
SÃO CANTOS FEITOS BEM MAIS DE SOFRIMENTO
E AS PENAS DO SOFRER NÃO SÃO SAGRADAS;
JÁ AS DE ALEGRIA SÃO MUITO MAIS ALADAS.
PARA OS CÉUS SOBEM O JÚBILO R O LOUVOT,
NA TRANSPARÊNCIA DE TAL CONTENTAMENTO
COMO AEROSÓIS DE UM CANTO DE VAPOR.
DOMICÍLIOS I – 16 DEZ 16
Antigamente, nas ruas em que andava,
as placas via com os nomes de pessoas,
com abstrações, em outros casos, boas:
muita rua de Esperança se chamava.
Ninguém mais de tais pessoas se lembrava,
não mais que nomes aos quais faziam loas,
sobre as placas a lançar de lama as broas
quaisquer moleques que a vida revoltava...
Meio século passado desde a infância,
as vias lavadas já por tantas luas,
placas roídas por ferrugem e traças...
Seus novos nomes contemplo sem ganância,
enquanto os conhecidos viram ruas,
ou colégios... ou mesmo algumas praças!
DOMICÍLIOS II
Tais conhecidos em outros pontos habitavam,
bem raramente nas ruas que lhes deram;
nalguns colégios, de fato, lecionaram,
mas essas praças nunca frequentavam...
Nos bairros periféricos que arruavam,
para um parquinho quadras reservavam
ou para a segurança destinavam,
mas nem marcas de seus pés ali se achavam...
Pois vereadores querem mostrar serviço
(que não se digam serem apenas parasitas,
muito ganhando, porém ser fazer nada!)
E quais sinais de denodado viço,
projetos mostram em inúteis fitas,
qualquer ruela que se abra designada!
DOMICÍLIOS III
Que não se diga sequer que desaprovo
ou que dessas homenagens tenha inveja,
que a algum antigo professor ali se enseja
ou a alguém político garanta-se o renovo.
Contudo sei quão inconstante é o povo
e igual que a troca dos velhos nomes vejo,
de heróis antigos renegação sem pejo,
pelo prazer de ali aplicar um nome novo,
sei bem que um dia haverá outra mudança
e os conhecidos no presente homenageados
para algum limbo no futuro enviarão,
no esquecimento que até lápides alcança,
quando nas tumbas forem outros enterrados,
novas memórias com que os substituirão...
DOMICÍLIOS IV
Só me admira não terem tido a ideia
(pelo menos ainda em minha cidade)
de na necrópole, com operosidade,
os nomes darem. com artificiosa veia,
a uma Alameda do Professor Esteia
ou uma Ruela do Padre Saudade,
ou à Vereda de Dona Liberdade
ou ao Caminho de Madame Ideia...
Mas não duvido que em qualquer outro lugar
já tenha sido essa prática adotada,
que um domicílio se torna definitivo
de um morto ilustre que ali foram enterrar.
Mas será certo para os defuntos a seu lado
subordinar-se a algum morto tão altivo?
DOMICÍLIOS V
Quanta gente que existe, na verdade
a quem nem deram lápide funerária,
ou por pobreza ou por razão atrabiliária
ou por simples descaso, em realidade?
E se o lugar desse repouso, sem maldade,
é esquecido por inconsistência vária,
não é, de fato, uma atitude perdulária
dar novos nomes às ruas da cidade?
Mas quando aos poucos se trocam moradores
dos onomásticos mal se sabem domicílios,
em cujas tumbas descansam já seus filhos,
pouco lembrados por bisnetos seus louvores,
pois certamente não os puderam conhecer,
lápides novas substituindo a bel-prazer?
DOMICÍLIOS VI
Se bem recordo esses meus velhos conhecidos
tais homenagens iriam tratar com ironia
dos pontos altos em que a alma flutuaria,
para esses corpos que prefeririam esquecidos.
Sabem que os mortos da vida são banidos.
que toda a farsa da homenageria
é mais efeito de supersticiosa via:
que não fiquem tais mortos ofendidos!
Porém nas praças vão os jovens namorar,
sem a menor recordação do homenageado
e nos colégios mal se lembram do padroeiro...
E em cada rua que preciso atravessar,
que a algum amigo teve o nome dedicado,
precisaria permissão pedir primeiro...?
MAZELAS E PROCELAS I – 17 DEZ 2016
Quando me vires, sentirás surpresa
por te mostrar não mais que indiferença,
depois de tanto ardor, tanta paciência,
ainda mais o tempo gasto que a despesa...
Então minhalma à tua esteve presa
nas fauces da esperança, nessa crença
de que afinal, após a busca intensa,
tua vida seria minha, inteira e ilesa...
Quando me vires, no fundo de meus olhos
verás como secou o antigo brilho:
não há tristeza, nem prazer, nem mágoa...
Tão somente imunidade a teus escolhos
contra os quais descarrilou meu velho trilho
concêntricos círculos ondulando em água.
MAZELAS E PROCELAS II
Por mim que seja marshmallow
teu destino,
de alvura doce que o velho amor excreta
sobre tua língua e não mais se intrometa,
Trompas de Eustáquio feito um mudo sino. (*)
(*) Canais que conduzem aos ouvidos.
Não mais me afetas como o Sol a pino,
nossa conversa intercalada e bem discreta,
na eructação em que um sonho se completa,
vazio o antanho igual que um desatino.
O teu semblante tão só recordação
do que existiu e sofreu seu passamento,
não mais que algo que se considerou,
mas nem chegou direto ao coração,
vaga esperança sem mais discernimento
que uma leitura que não se completou.
MAZELAS E PROCELAS III
Que seja assim meu velho amor equipolente
ao que senti por ressecada flor,
que ainda guardo, em poético pendor
entre as páginas de algum livro, permanente.
Acupuntura entre as folhas, tão somente,
por grãos de pólen sem chance de viver,
levemente esmagados, sem morrer,
amortalhados sem razão premente...
E que algum dia, distante, no futuro,
se por acaso esse livro for cair,
abram-se as páginas, soltando-se seus restos,
que só venha a contemplar meio inseguro,
sem recordar qual motivo do iludir
que me inspirou a realizar tais gestos...
MAZELAS E PROCELAS IV
Caso alguém mais visse o velho livro aberto,
toda esquecida a emoção que abraça
só pensaria dar alimento a alguma traça
tal Rorschach de um passado incerto. (*)
(*) Imagens empregadas em psicologia.
Tivesse alguém seu coração deserto,
que em seu passado pouco ou nada enlaça,
um sacudir casual apenas faça,
lançando fora quanto restou, por certo...
Porém se fosse eu, mesmo esquecida
toda a razão de tal penhor guardado,
provavelmente o voltaria a recolher,
para em tais páginas de antanho dar guarida,
até que eu mesmo fosse ultrapassado
e um novo estranho as abrisse – sem querer!
EU NO ESPELHO 1 – 18 DEZ 2016
Era de se esperar que a longa mágoa
Escorresse sobre mim, em vã carícia,
Como um manto suave de malícia
Tal qual espuma de sabão e água...
Que uma onda de salsugem, como frágua
Me perturbasse, em vagas de sevícia
E te deixasse um sabor de impudicícia,
Tal qual a espuma formou Vênus dentro
dágua.
Mas eram gotas de espuma, tão somente
Amareladas de luz em tal reflexo,
Conspirações de estética centelha,
Logo explodindo em borbulhar fremente,
No hipnotismo desse mesmo nexo
Que mil faces de ti na praia espelha.
EU NO ESPELHO 2
Não é que eu creia, mas é divertido
Pensar que existam presságios e avisos,
Um pio de pássaro, da cascavel os
guizos,
Que em algum corisco meu futuro seja
lido.
Teria mais coincidências percebido,
Seja um horóscopo acolhido com sorrisos
Ou que um ladrilho invertido de meus
pisos
Proteção me propiciasse em gesto fido.
Mas quando as coisas dão certo, até
parece
Que existe uma intenção em cada encaixe
E que eu viva submetido a influências
Ou quando tudo falha, mesmo a prece,
Tal qual um mau espírito baixasse,
Nessa tortura lenta das vivências...
EU NO ESPELHO 3
Tudo pensado, só há presságio verdadeiro
Nalgum cristal que espelha em reflexor:
Brilham os olhos na tristeza de um amor
A refletir os nossos rostos por inteiro.
Na juventude, há sinal alvissareiro,
Não que o futuro mostrará pleno vigor,
Mas de esperança e conquistas traz sabor
Que com saúde e esforços vêm ligeiro.
Mas depressa “eu no espelho” vejo a
linha
Que se imiscui na face, sorrateira,
Ou percebo algum fio branco lampejar.
Novo futuro um tal presságio alinha:
Que a decadência é sutil, porém
certeira,
Salvo se a morte primeiro me ceifar...
EU NO ESPELHO 4
Contudo vejo, nas palmas de minha mão
Que as velhas linhas em nada se
mudaram...
Será que, realmente, me avisaram
Do que seria meu porvir, com perfeição?
Pois desde o ventre nessa palma estão
E nessas décadas em nada transmutaram,
Enquanto rosto e corpo amofinaram:
São linhas feitas para a vera
previsão?...
E se não creio nos astros ou coriscos,
Se não me espanta o ulular de uma
coruja,
Nem nunca fé coloquei num bem-te-vi,
De cada vez que a minha palma abri,
Reencontrei imperturbáveis os seus
riscos,
Sem que tal previsão me falhe ou fuja...
Recanto das Letras > Autores >
William Lagos
Excelente seus textos poeta William Lagos,seu talento desponta em qualquer modalidade poética,
ResponderExcluiraplausos!Um fraterno abraço,Liana.