(JANE TARZAN)
JANE TARZAN &+ -- 21-30 ABRIL 2017
Novas Séries de William Lagos
JANE TARZAN I – 21 ABR 17
Jane Tarzan queria ser atleta,
as Olimpíadas vencer quadrianuais,
e até obteve sucessos corporais,
pretendendo virar campeã completa,
a vencer qualquer disputa em que se meta
e o fez nos jogos intercolegiais;
a universidade recebeu-a mais
por tal capacidade física que a afeta.
Ela vencia em luta livre e até em judô,
no atletismo os resultados excelentes,
ganhou medalhas mesmo em natação;
as Olimpíadas, porém, não conquistou,
foi superada por atletas mais potentes
nos pódios nunca a alcançar exaltação!...
JANE TARZAN II
Ela treinou com um afinco verdadeiro,
ganhando vários campeonatos estaduais,
jogos olímpicos a exigirem muito mais,
nenhum recorde conseguiu quebrar inteiro!
Nunca em corridas conseguiu chegar primeiro,
por já ser grande e pesada por demais;
dos treinadores as decisões bem consensuais:
“Ela é excelente, mas encontra um mais ligeiro!”
Sofreu assim só desapontamento,
medalha olímpica nunca conquistou,
porém um corpo muito belo modelou,
quase uma estátua de olímpico portento,
e aceitando algum convite, nua posou,
para escultor a trazer contentamento!
JANE TARZAN III
Conforme é praxe, nos anos mais recentes,
foi por ele muita vez fotografada
para a melhor pose ser selecionada,
mais uma vez, com resultados excelentes!
Ele a esculpiu em escalas surpreendentes,
imagens feitas com resina bem sovada,
como atleta fisicamente consagrada,
mas sem troféus por sucessos mais potentes...
Nova carreira então lhe propuseram:
ser modelo de revista masculina,
dessas que expõem cada parte nua e crua!
E como um bom dinheiro ofereceram,
aos tais vendeu a sua aparência feminina,
a sua vaidade assim expondo toda nua!
JANE TARZAN IV
Mas por tornar-se muito forte e musculosa,
foi preferida para o fisioculturismo,
vasto sucesso alcançando em tal modismo,
cada triunfo a torná-la mais ditosa...
E por sua robustez bem poderosa,
“Jane Tarzan” adotou, com preciosismo,
para seu Nome de Combate no atletismo,
um justo nome por ficar tão vigorosa!
As suas fotos hoje correm mundo,
até em série se mostrou como guerreira,
seios expostos de amazona em bege argila!
Porém despeito causou demais profundo
e nem Tarzan a escolheu por companheira,
sendo obrigada a se casar com um gorila!...
VATICÍNIO SEM VALOR I – 22 ABRIL 2017
Canto a explosão do prazer inexorável
que se obtém na conquista da mulher
a quem na vida se quis e mais se quer,
depois detê-la nos braços, incansável!...
De todo amor, este é o mais formidável,
que não se abrande o desejo e nem sequer
se o veja adiado por ocupação qualquer,
mas permaneça, dia a dia, inquebrantável.
Mas nunca inconquistável, por ser tido
nesse prazer de dois corpos engastados,
sem por qualquer outro alvitre superados,
apogeu novo a cada orgasmo conseguido,
sem que nada ultrapasse essa atração,
enquanto ainda nos bata o coração!...
VATICÍNIO SEM VALOR II
Não é apenas esse amor de um ano só,
que se costuma associar à lua de mel;
segue o dedo bem firme nesse anel,
oito membros em firmeza de cipó,
sem da inveja de um alheio sentir dó,
rodando a mó em faina diária no ariel,
por toda a vida sem achar outro quartel,
espirais doces igual que um pão-de-ló.
Nem o cuidado dos filhos no intermédio
corta essas horas reservadas para o amor,
puro desprezo e desdém por cada assédio,
novas vidas a produzir com abandono
nos mais aflitos instantes de estertor,
olhos nos olhos a despistar o sono.
VATICÍNIO SEM VALOR III
Por tanta gente é proferida a profecia
de que não possa amor assim durar,
que ainda se queira inteiramente o par,
ano após ano, em conubial orgia...
Nenhum de nós no vaticínio, porém, cria,
e repetiu-se essa experiência singular,
um contra a outra a repetir igual cantar,
sem que as décadas retalhassem a harmonia.
E não se diga, num impulso de descrença,
ser isto apenas romantismo em afirmação,
não mais que espasmos desta imaginação,
já que isto ocorre bem mais vezes que se pensa,
quando o amor supre a falta de desejo
e ainda explode tal e qual primeiro beijo!...
ESCULTOR
DO VENTO I – 23 ABR 17
Não é
poesia apenas frase redigida
a macular
qualquer folha de papel,
nem
pensamento, seja doce ou fel
que se
recolha em ocasião perdida.
Não passam
esses da marca recolhida
do
raciocínio mais intenso que ouropel,
caleidoscópico,
um arcano cromatel, (*)
reverberando
no talhar dessa ferida.
(*)
Multiplicação cromática.
Papel
algum jamais pôde registrar
a
infinidade de quanto nele é escrito,
quer seja
um lindo som ou quer maldito,
na
humildade pura e simples de aceitar
a humana
alma que cada um expressa
e
conservá-la como um guardião sem pressa.
ESCULTOR
DO VENTO II
Mas a
poesia não se prende nessa imagem:
são apenas
os caprichos do cursivo
ou em
letras de forma, redivivo
esse
primeiro encontro na passagem
das letras
do alfabeto, cada qual a simples pajem
para as
ordens receber, ou arauto altivo,
a
proclamar às claras ou em furtivo
registrar
manso das formas da paisagem.
Das
palavras não são mais do que elementos,
mas cada
termo não é mais que a sugestão
dessas mil
coisas que em tua mente estão.
Registra a
página os teus sonhos desatentos,
que de
outro modo seriam esquecidos
e quando
lidos, raras vezes compreendidos.
ESCULTOR
DO VENTO III
O que se
escreve, por mais bem elaborado,
não é mais
que um marca-passo de ilusão,
veias safenas
reativando o coração,
o tempo
morto em mortalha assim guardado.
Um
sentimento em algo real falsificado,
que não se
pode desenhar uma emoção,
mesmo no
instante de sua palpitação
algo se
perde – e o racional é o registrado.
Mas pouco
importa o que sentiu o escritor
quando as
folhas perfurou, ato imperfeito,
mas sim
aquilo que de tais folhas brotará;
não vem da
mão, mas da retina do leitor,
que à
emoção de seu momento está sujeito
e tão
somente o quanto sente entenderá...
ESCULTOR
DO VENTO IV
Cada
estrofe é um sopro só de vento,
feito
umidade em sua expiração,
na
fumarola de cada inspiração,
hálito
apenas, não mais que seu alento,
pois tanta
coisa se sente em tal momento
que as
palavras nem sequer registrarão!
Não existe
tempo para tal compensação,
teias de
brisa em seu gentil contentamento!
Caso um
escultor ataque a pedra fria,
com essa
imagem que pretende registrar,
para trás
deixará sempre o resultado;
o
interpretar essa figura esgotaria:
mesmo que
outrem ali fosse algo enxergar
a partir
do próprio ego atribulado.
ESCULTOR
DO VENTO V
Porém
palavras não dependem de um buril
ou de um
escopro em seu talho compassado,
que a
escultura na pedra é o resultado
de uma
paciente bordadura varonil.
Mui
lentamente esse granito vil
cede ao
escultor registrar seu sonho airado,
mas nada
muda do que ali foi conservado,
salvo a
pátina que lhe flui de olhares mil;
contudo a
estrofe é muito mais volúvel,
pois sendo
vento, escorre como aragem,
não é
questão de paciência e nem de pressa,
antes que
voe para o imponderável,
capturada
com reticular coragem
dessa
corrente que de fluir não cessa!...
ESCULTOR
DO VENTO VI
Assim
percebo ser do vento um escultor,
sendo a
esfera da caneta o meu cinzel,
o vento um
monge envolto em seu burel,
um
testemunho, afinal, de seu pudor.
Porém do
vento eu roubo o seu ardor,
ao menos
quanto guardar posso no papel,
marcha
perene sem retorno a meu quartel,
sobre mim
paira em artimanha de condor!
Contudo, a
escultura é imprevidente,
nessa
esperança de obter o teu olhar
sobre esse
pouco que aqui posso registrar;
sem ser
poeta, nada mais que um impaciente
pela
poesia revelar que existe em ti,
ressuscitada
em tua passagem que eu nem vi!...
EUFÓRICA
I – 24 ABR 17
Eu
preferia que houvesse só outono,
esse
tempo que desperta mais virtude,
quando
um resto de verão ainda ilude,
sem
que o calor se imiscua no meu sono.
A
primavera me traz outro abandono,
um
módico até mesmo de inquietude,
sendo
a promessa de um verão mais rude,
em
que a canícula domine sobre o trono.
Ao
invés, o outono me anuncia o inverno,
um
tempo que me traz maior estímulo,
gotas
de névoa, de geada e de granizo,
embora
o outono pareça-me mais terno,
que
é nesse época que encontro o simulo
de
um futuro bem mais firme que hoje piso.
EUFÓRICA
II
Hoje
sinto que o outono se anuncia
nos
derradeiros espasmos destes abril,
minha
garganta a abrir como um buril,
dela
forçando o inesperado da harmonia.
De
fato, sempre o calor me contraria
e
quando ouço como encara o inverno vil
tanta
gente, em seu terror tão feminil,
os
seus lamentos fico a olhar com ironia...
Naturalmente,
se parado, eu me enregelo,
porém
basta que me ponha em movimento
e
de minha testa já brota algum suor...
Assim
do outono é que sinto mais apelo,
sem
revestir-me de algum grosso integumento,
que
após descarte por sentir calor...
EUFÓRICA
III
Mas
quando chega o final de cada ano,
justo
na época em que o bom Papai Noel
vê-se
obrigado a envergar rubro burel,
com
bainhas de algodão, por puro afano
de
imitar um setentrional arcano,
cujo
gélido esplendor é mais cruel;
e
lhe requerer escutar essa babel
de
pedidos de crianças, sem engano,
é
quando broto suor igual que o ator,
obrigado
a gargalhar riso cordial,
na
indumentária de seu cerimonial;
mas
por sorte, ligo meu ventilador,
com
um alívio que me dá certa euforia,
de
meus dedos a escorrer tão só poesia!...
CIMITARRAS DE
MARFIM I – 25 ABR 17
NÃO HÁ MOTIVO PARA
SE NUTRIR PAIXÃO
E O TRANSITÓRIO BEM
QUE ATRAIRÁ,
QUE BEM DEPRESSA SE
DISSIPARÁ
NA NÉVOA PÁLIDA DA
DESILUSÃO;
MOTIVO EXISTE PARA
TEU CORAÇÃO
AMAR A QUEM AMANDO
O BUSCARÁ,
QUEM PELO AMOR QUE
DÁS O SEU DARÁ,
NUMA PARTILHA DE
LONGA DURAÇÃO.
PORÉM É GRANDE A
MARAVILHA DO MOMENTO,
POR MAIS QUE
TRANSITÓRIO ASSIM NOS SEJA,
EM QUE A PAIXÃO NOS
ESCOA PELOS DEDOS,
COMO ÁGUA E SANGUE,
ETERNO MOVIMENTO,
SEMANA OU MÊS
APENAS QUE SE ENSEJA,
NESSA CADÊNCIA
INCONSÚTIL DOS SEGREDOS.
CIMITARRAS DE
MARFIM II
TEU AMOR PARA MIM
FOI INSTIGANTE,
FOI A AGULHA DE
OURO QUE MINHALMA
IMPELIU PARA A
FRENTE, FOI A PALMA
QUE TRANSFORMOU-ME
A VIDA EM UM INSTANTE,
TEU AMOR A REFLETIR
NO MEU SEMBLANTE
A PURA EXALTAÇÃO, A
LUZ QUE EMBALMA,
DO GÉLIDO SUDÁRIO A
ESTRANHA CALMA
E ROMPEU-ME AS
LIGADURAS EM ELEGANTE
INSPIRAÇÃO SONORA
DE UM MOMENTO:
MESMO FORÇADO AO
EMPUXE DA CARRUAGEM,
ROMPEU-SE A
CALMARIA E ASSIM CONSIGO
MANIFESTAR O MEU
DESLUMBRAMENTO
NESSA IMENSA
COVARDIA DA CORAGEM
DE REVELAR AO MUNDO
O QUANTO DIGO.
CIMITARRAS DE
MARFIM III
PARTE CONSTANTE DA
POESIA SÓ A INCONSTÂNCIA,
QUALQUER OLOR,
LAMPEJO OU MOVIMENTO,
O FARFALHAR DE
FOLHAS SECAS SOB O VENTO,
A ÁGUA QUE BORBULHA
NESSA INSTÂNCIA
EM QUE SE PISA A
SERAPILHEIRA QUE BALANÇA,
DE UMA POÇA A
OCULTAR O IMPEDIMENTO,
OS PÉS MOLHADOS EM
BREVE DESALENTO,
FUGAZ FRIOR QUE ATÉ
A ESPINHA ALCANÇA.
QUALQUER COISA
INESPERADA NOS ATIÇA
E DE ALGUM PONTO DO
CORAÇÃO NOS TIRA
UM FRÁGIL VERSO
PARA NOVA LIÇA...
E QUE DIZER, ENTÃO,
DE UMA EMOÇÃO
QUE O OLHAR PERFURA
E A MENTE NOS DELIRA,
NO ESPECTRAL
ARREMEDO DA PAIXÃO?
CIMITARRAS DE
MARFIM Iv
TEM CORTE AGUDO,
FEITO CIMITARRA,
MAS NÃO SE ATÉM A
ABRIR FERIDA ASSIM,
QUE AMOR PAIXÃO É
FEITO DE MARFIM
E NÃO DE UM AÇO
FRIO DE FINA GARRA;
MAIS QUE CORTAR O
PEITO, ELA SE AMARRA,
RASGANDO EM VOLTA
AS FLORES DO JARDIM,
NUM AMOR
QUADRICULADO DE ARLEQUIM
QUE SE DISSOLVE EM
CANÇÃO DE PURA FARRA!
MAS AI DE QUEM SE
ENTREGA A TAL DELÍRIO,
ALGUM PERFUME
RESTANDO SOBRE A PELE,
PORÉM NA ALMA SE
INSTAURANDO A CICATRIZ,
EM BREVE EXTINTO,
IGUAL QUE RUBRO LÍRIO,
FERIDA FUNDA QUE O
PENSAMENTE GELE
TODA A ESPERANÇA
QUE ALI DEPOR SE QUIS!
VENTANIA I – 26 ABR 2017
Se houvesse amor em cada sentimento
que por preguiça é assim classificado,
seria o mundo um vale alcandorado,
no qual só felicidade teria assento.
Mas esse termo, “amor”, esse portento
que os olhos enche e o coração sagrado
deixa de luz e som, condecorado
desses troféus de desvario e encantamento,
é apenas máscara para o facho de emoção
desencontrado e vário; até o ódio,
por mais contraditório na aparência,
por mais que te enegreça o coração,
encontra seu lugar no alto do pódio,
no espocar de champanha da impudência.
VENTANIA II
Não deveria ser assim; contudo
o amor é um sentimento bem egoísta;
quando amor-próprio no coração se enquista
é para si que envida por ter tudo;
e quando é amor por outrem, não me iludo,
por maior o assanhamento quando avista,
pouco mais é que o assombro da conquista,
seja aleatória ou angariada com estudo.
E quando amor com outro amor se paga,
serão dois contra o mundo, indiferentes
ao que desejem os outros que os rodeiam,
que amor apenas em outro amor se afaga,
amortalhado em róseas nuvens transparentes,
sem se importar com os ódios que incendeiam.
VENTANIA III
Pois já foi dito – e com excesso de frequência
que quando a dois o amor torna felizes,
a seu redor se multiplicam infelizes,
ao menos um! -- a sofrer dessa impotência.
Não tens então para ti a redolência,
nem o olhar de amor que mais precises,
movediça toda a areia que assim pises,
na tentativa de o tomar em vã ardência.
No real amor não coexiste caridade:
só dois se amam e nem a deve haver,
que a natureza prendeu-os em armadilha,
sem que a possamos esperar, em ingenuidade,
que amor é egoísta e descarta outro dever,
aos mais deixando para trás na trilha...
VENTANIA IV
E sempre existe essa possibilidade
de que não seja verdadeira a sua tristeza,
não mais que inveja em toda a sua vileza
do que parece alheia ser felicidade.
Se te abalanças a demonstrar piedade,
teu próprio amor sofrerá certa incerteza,
quem te acompanha a mostrar menor beleza,
em seu olhar algum despeito e até saudade
dessa certeza de seu amor egoísta,
amarfanhada em parte a sua conquista,
vendo alguém mais em teu peito ter lugar,
nessa tolice disfarçada de bondade,
sem tornar o outro feliz, na realidade,
ao ver a mágoa de quem quis te acompanhar.
VENTANIA V
Que seja assim, portanto, amor egoísta,
o seu dever é obedecer à natureza;
os animais no cio vão, com certeza,
travar combate em sua ânsia de conquista.
Mas entre nós, quando um casal se avista,
é de esperar-se que um da outra seja a presa,
não que a reparta por estranha gentileza,
nem matar outrem que em interferir insista,
que o amor egoísta apenas se reparte
com o certo resultado desse amor,
da natureza satisfeitas as exigências,
cada filho a receber do amor a parte
que lhe compete, em seu ninho de calor,
dos pais ganhando alimento e conveniências.
VENTANIA VI
Mas admito que, em certas sociedades,
que a morte ronda sem menores dós,
tal como era entre os antigos esquimós,
partilha possa haver de intimidades,
força buscando nessas variedades,
nos seus iglus, em isolamento sós,
algum instinto atando ali seus nós,
valor nos gens de diversas validades;
ou como hoje, ainda em plagas africanas,
imposta a cada mulher circuncisão,
para que o sexo não lhe dê prazer,
alugadas por suas práticas levianas,
sem amor, não mais que obrigação,
a que a mulher se entrega por dever.
SÃO BARTOLOMEU 1 – 24 AGO 1981
Nascido de mulher,
igual como tu és,
Eu tenho teus
suores, teus medos, teus receios,
Sou vesgo como tu:
zumbaias, devaneios
Compõem-me a
liturgia das mais perdidas fés.
Nascido eu sou do
esperma, nascida és tu também,
E o mesmo ovulejar
repete a nossa vida
Falópico trajeto,
na trompa adolescida
Ao útero saltar, em
nosso amor que vem
Tanger-se de
placenta em plena madurez,
Nutrir-se em alheio
sangue, de alheia fluidez.
Nos anos que
assemelham, em seu nutrir de feto,
O mesmo sonho
humano fervido no embrião,
Que a nós nos
refecunda, em tangencial afeto
E à morte nos
expulsa ao fim da gestação.
SÃO BARTOLOMEU 2 –
27 ABR 17
Esta data fatídica
evoca maus eventos.
Talvez de todas a
maior carnificina,
Ocorrida na França,
por razão beneditina,
Massacre impuro
desses dias turbulentos.
Conforme
registrado nos históricos assentos,
O
Almirante Coligny ali enfrentou sua sina,
Traiçoeira
morte da adaga que assassina.
Com
milhares de huguenotes em tais momentos,
Quando
essa igreja de católica chamada
Pretendeu
exterminar os protestantes,
Pelo
perigo à sua riqueza e a seu poder,
Sem
religião de fato ali invocada,
Mas só
desculpa para os atos infamantes,
Cobiça
e inveja no mais puro malquerer.
SÃO
BARTOLOMEU 3
Também
entre nós a tragédia aconteceu:
De
Getúlio Vargas assinala a morte,
Oficialmente
por um suicídio o corte,
Mas na
verdade, outra coisa sucedeu,
Que ao
interesse dos corruptos ofendeu,
O que
lhe acarretou a dita sorte,
Pela
mão de apaniguado que lhe aborte
A vida
ínclita pelo rancor que o acometeu.
Tal
qual se afirma, o velho Presidente
Não
estava implicado em Mar de Lama,
Como
foi então chamada a roubalheira;
E a
tal carta, que se reproduziu frequente,
Foi
pela mão de sua filha, se proclama,
Escrita
um dia pela vez primeira!...
SÃO
BARTOLOMEU 4
Contudo
ocorre, em São Bartolomeu,
Igual
que em todos os demais dia do ano,
Esse
massacre que vem do tempo arcano,
Nessa
explosão de cada esperma que verteu,
A cada
vez que algum orgasmo sucedeu,
Tantos
milhões a ser lançados em afano
Os
soldadinhos da vida em jato humano,
Dos
quais, com sorte, apenas um sobreviveu!...
Os
nossos gêmeos morreram nascituros,
Sem
receberem túmulos nem preces,
Sonhos
lançados ao esgoto, simplesmente,
Talvez
perdidos nossos gens mais puros;
Talvez
por causa disso ainda padeces
Pelo
remorso a afligir sobrevivente...
SÃO BARTOLOMEU 5
Esta a razão para a
escolha deste santo,
Que como mártir
realmente padeceu:
Morte terrível que
a tradição nos deu,
Sendo esfolado
vivo, em algum recanto
Da terra asiática
do Daguestão, um tanto
Discutido por quem
tal lenda descreveu,
Pois foi a Europa
Oriental que converteu,
Antes de a vida
perder com o carnal manto.
Horrível morte, por
certo, e dolorosa,
Porque obrigavam a
correr o esfolado,
Até seu sangue ser
inteiro derramado,
Mesmo a lama mais
macia a ser penosa
(E em certa igreja
afirmavam ter guardado
Seu pele inteira,
qual relíquia tenebrosa!...)
SÃO BARTOLOMEU 6
Não é, pois, de
espantar que este martírio
A portentosas
tragédias desse origem,
Se bem que tantas a
humanidade afligem,
Em seu tétrico
registro de delírio.
Quantos infantes
pereceram como um lírio
Pelas moléstias que
nos berços os afligem!
Quantas crianças ao
sepulcro se dirigem,
Vidas mais breves
que a chama de algum círio!...
Segundo afirmam,
ele é o Natanael
De que registra a
longa conversação
Tida com Cristo, o
Evangelho de São João,
Enquanto outros lhe
atribuem vida fiel
Por ser o cego
Bartimeu, que foi curado,
Tornado apóstolo
pelo dom que lhe foi dado.
A ÚLTIMA RIMA I -- Wm. Lagos, 28 AGO 96
O velho ergueu-se e acendeu sua lâmpada
Por entre as sepulturas; toma a enxada
E lentamente move a espinha arqueada
E a terra fende, expondo a campa da
Mulher que um dia fora desejada;
E agora jaz imersa sob a tampa da
Morada última, derradeira rampa da
Vida enfim, ao gozo consagrada;
E, pá a pá, a terra é retirada,
Expondo os restos quase inexistentes:
Um crânio alvo e as tranças comoventes
A superpor-se às órbitas vazias;
E, num suspiro, as guarda em salmodias
Do amor que já se foi e agora é nada.
A ÚLTIMA RIMA II – 28 ABR 2017
Talvez quisesse de si guardar mais perto
Esses restos pelos vermes devorados,
Que exumados, seriam então lavados
De qualquer resto de terra mais incerto.
Que não lhe fora permitido é quase certo.
Por que à noite os páramos assombrados
Iria enfrentar, vinte espíritos penados,
Na escuridão, a percorrer solo deserto?
Por que não o fazer durante o dia,
Assistido nesse afã pelo coveiro?
Ao esqueleto não possuiria direito?
Qual o drama de amor que o levaria
Da sepultada a perturbar o paradeiro,
Em seu gentil, porém macabro feito?
A ÚLTIMA RIMA III
Decerto a morta a algum outro pertencia
E nesse desventrar da terra fria
Queria ter o que em sua vida não podia,
Nessa morte que a ossamenta permitia...
Nesse triste cemitério de campanha,
Corpos deixados à sempiterna sanha
Desse barro que, afinal, nos acompanha,
Que tanto sangue coagulado banha...
Depois dos olhos verem tanta morte,
Ou a morte velha ou inesperado corte,
Nessa certeza da mais incerta sorte,
Superstição seu medo não arrima,
Guardada apenas a ânsia peregrina
Desse arcabouço em derradeira rima...
A ÚLTIMA RIMA IV
Este ritual, por romântico que fosse,
Seria impossível, caso houvesse cremação,
Roubada a urna, sem haver confirmação
De realmente das cinzas tomar posse;
Da madeira, carvão, óleo que a engrosse
Encontraria bem maior composição;
Assim no Ganges se faz a projeção
Que lega ao mar o pó que ao mar adoce.
Mas há poesia nesta farsa benfazeja
Que ouvi contar enquanto adolescente
Sobre o amor de um peão pela senhora,
A quem possuir somente a morte enseja,
Em redondilha de um esquecer crescente
E que aqui busco resgatar de meu outrora.
CASAIS I – 17 fev 1981
Não basta a meu cantar de mariposas,
falenas ou libélulas vibrantes.
Cantar de grifos vou, de cintilantes
acoplares dos ventos -- por esposas
as mágicas doçuras das florestas,
o sibilar das ondas por madeixas,
por olhos de estertores, duas ameixas,
faunos e ninfas, nas mais doces festas.
Na cópula dos ventos, sem segredos,
Na cópula dos montes, frescos dedos,
da geada sobre as fendas dos penhascos;
priápicos coqueiros em degredos,
E a natureza toda, quase em ascos,
pela estéril pureza dos penedos...
CASAIS II – 29 abril 2017
“Crescei e multiplicai-vos!” – é o que diz
o mais antigo de tantos mandamentos
que Jehovah proclamou nos versos lentos
daquele Gênesis que Moisés redigir quis.
“Enchei a Terra e sua plenitude!” – som feliz,
recolhido algum dia nos portentos
da sarça ardente ou nos fulgores bentos
sobre o Monte de Sinai a explodir giz.
Por isso a vida se expandiu do mar
para nas praias acoplar róseas areias,
depois subindo, a pouco e pouco, pelas dunas,
as algas contribuindo para o ar
tornar viável para as verdes veias
e para o sangue vermelho em que te enfunas.
CASAIS III
Eventualmente os priápicos coqueiros
as suas estipes ergueram desde o solo,
novas mudas a brotar de cada colo,
para seus brotos vegetais hospitaleiros.
As gimnospermas, quais gigantes altaneiros,
os seus estróbilos dissipando sem consolo; (*)
de coníferas s chamam e sem dolo
são os pinhões cozinhados nos terreiros.
(*) Cones.
As angiospermas, com multidão de flores
para mais fácil difundir as suas sementes
e mais os frutos de polpas deliciosas;
plantas casais ou plantas sem amores,
perante o pássaro e a abelha onipresentes,
enchendo a Terra com mil verdes, caudalosas.
CASAIS IV
E em seu devido tempo, os animais,
igualmente oriundos desde o mar,
seus casais já preparados para amar,
sem o egoísmo brotativo dos corais.
Alguns se expandem de formas naturais,
após o ovo mole ou duro se mostrar,
ao macho apenas a função de derramar
sobre as ovas seus espermas seminais.
Depois, enfim, da cópula a invenção,
algum probóscide a desvendar receptáculo,
lançando o sêmen direto em seu lugar,
vermes e ofídios, dos insetos profusão,
então as aves em arco-írico espetáculo,
batráquio e sáurio sobre a Terra a dominar.
CASAIS V
E de repente, em nova mutação,
já encontramos dos mamíferos a coorte,
a partilhar dos vegetais a sorte,
ao devorá-los, nova vida em gestação,
nesta intrincada e ecológica função
que os pessimistas encaram como a morte,
mas na qual quem devora é só consorte,
novos esporos a espalhar em profusão.
E bem no fim, exsurge o ser humano,
mediante inesperado encadeamento,
formando o cérebro de cinza cortical,
para tornar-se sobre todos soberano,
através de longo esforço e sofrimento,
para cumprir o mandamento consensual.
CASAIS VI
E assim se expande, até pelos penedos,
pelas areias inconstantes dos desertos
e pelos campos de neve, sempre abertos
do vento ao sopro gélido dos dedos.
Hoje proclamam alguns, talvez com medos,
quiçá por pura malícia recobertos,
a inveja firme em corações incertos,
que o ser humano provocou vastos enredos,
não somente ocasionando as extinções,
porém a interferir no próprio clima,
na pretensão de um desconhecimento.
sem haver humanos a extinguir mil gerações,
a que a tribo dos sáurios já se inclina,
pelas periódicas oscilações do aquecimento.
MURMÚRIO I – 26 FEV 1981
Teu púbis é uma flor de negras
alcatifas
Forjadas em botão, de carnação rosada
E as frases que murmuras, aos beijos
apressada,
São hera e musgo azul, nessa imortal
carícia.
A mim se me afiguram raízes, castas
hifas
A trescalar aromas, vingança
delicada,
Que faz por demonstrar ternura
consagrada
Na mesma e verde ausência, em
triunfal malícia.
Não sabes como o beijo a mim
transtorna e dói,
Talvez melhor me fora que beijo algum
gozasse,
Que ter os teus apenas tão raros e
roubados;
Que o gosto de teus beijos ao coração
me rói,
Pois tanta vez quisera nos braços te
enlaçasse,
Quão raras são as vezes quedamos
enlaçados...
MURMÚRIO II – 30 ABRIL 2017
Guardo memórias de um arcano
romantismo,
Que para outros ser tolice pareciam:
Qualquer abraço casual que os lábios
viam,
Que outros diriam não ser mais que
lascivismo.
Mas cada amplexo ainda recordo em
saudosismo,
Especialmente os que bem pouco
repetiam,
Hoje impossíveis, pois os fados já
atingiam
Em corte firme, os velhos corpos por
que cismo.
O tempo passa e a cada dia o dealbar
Nos traz noticias que preferiríamos
não ter,.
Das companheiras ouvir contar o
falecer,
Outras vivendo hoje em asilo ou
lar...
Mas não consigo os velhos beijos
esquecer,
Mesmo os que sei nunca mais poder
buscar.
MURMÚRIOS III
E quantas foram as rosas delicadas
Que a mim se abriram sem pudor nem
pejo!
Ventres macios em cem dotes
benfazejos,
Porém de mim tão brevemente
separados!
Outros talvez até chamassem de
pecados
A tantos atos de amor de tais
ensejos,
Mas as lembranças me retornam em
adejos
E se pecados foram no antanho
praticados
Foram somente por não haver
repetição,
Que os corpos amorosos dessas flores
De minha abelha não guardassem o
ferrão
Em algum escrínio, para repetir
amores
Ou que eu mesmo descartasse outra
ocasião
De novamente desfrutar de seus
ardores.
MURMÚRIO IV
Mas se os chamo de murmúrio é que hoje escuto,
Contra os lóbulos da orelhas sussurrado
Esse convite a repetir-se alado,
De que não posso conseguir novo usufruto.
Apenas lembro do mandamento arguto
Que toda a vida busquei ter respeitado;
Mesmo que algum cumprimento haja falhado,
Seus beijos guardo no meu peito hirsuto...
Bem mais perdi pela falta de ocasião
Ou pelo medo de assumir um compromisso
De que por ver no amor algo de errado.
Pelas raízes que lancei em brotação
Somente posso me orgulhar e atiço
Ainda a alma em cada verso terminado...
ASSOMBRO I – 05 set 1979
EU DESTRUÍ UMA VIDA NA RATOEIRA:
UM POBRE CAMUNDONGO ACINZENTADO,
CUJO SANGUE POR MIM FOI DERRAMADO
NUM SEM-RAZÃO CRUEL, POR BRINCADEIRA.
TÃO LOGO ME DESFIZ DO CORPO QUENTE
INDA PULSANDO QUASE DE UMA VIDA,
NA CASUAL BUSCA DE OUTRA DESVALIDA,
ARMEI DE NOVO O ARDIL INDIFERENTE.
FICO A PENSAR: SERÁ QUE NÃO TE
OCORRE?
A TI E A MIM IDÊNTICA ARMADILHA
ARMARAM-NOS OS DEUSES, NA PARTILHA
INDIFERENTE À SORTE DE QUEM MORRE:
ISCA CHEIROSA É O SONHO QUE
REBRILHA
E AMOR SENTIR É O RISCO QUE SE
CORRE!...
REPASTO I - 20 SET 78
A MASSA SEM TEMPERO, TÃO SINGELA,
FEIJÃO COZIDO À MODA BRASILEIRA,
GERADO LENTAMENTE NA PANELA,
EM GESTAÇÃO DIÁRIA E CORRIQUEIRA.
ARROZ UNINDO TUDO QUAL FERMENTO,
DO BANQUETE FRUGAL MEIGO OPERÁRIO,
QUE A ESPOSA COM TERNURA E SENTIMENTO
PREPARA DA COZINHA NO SANTUÁRIO.
ALFACE VERDE A MIM PREDESTINADA,
DA HORTA COM CARINHO TRANSPLANTADA
E MISTURADA A AZEITE E CONDIMENTO,
REGADA A VINHO E PRESTES OLVIDADA,
IGUAL À COMUNHÃO, HÓSTIA SAGRADA,
QUE A ALMA DEVORA E ESQUECE NUM MOMENTO.
A MASSA SEM TEMPERO, TÃO SINGELA,
FEIJÃO COZIDO À MODA BRASILEIRA,
GERADO LENTAMENTE NA PANELA,
EM GESTAÇÃO DIÁRIA E CORRIQUEIRA.
ARROZ UNINDO TUDO QUAL FERMENTO,
DO BANQUETE FRUGAL MEIGO OPERÁRIO,
QUE A ESPOSA COM TERNURA E SENTIMENTO
PREPARA DA COZINHA NO SANTUÁRIO.
ALFACE VERDE A MIM PREDESTINADA,
DA HORTA COM CARINHO TRANSPLANTADA
E MISTURADA A AZEITE E CONDIMENTO,
REGADA A VINHO E PRESTES OLVIDADA,
IGUAL À COMUNHÃO, HÓSTIA SAGRADA,
QUE A ALMA DEVORA E ESQUECE NUM MOMENTO.
SIDDHARTA I – 22 set 78
Que o verso descreva a visão do
Mandala!
Foi sonho de um dia, avatar
delirante,
Olvidado o Nirvana e, no ardor
palpitante,
Apegado a esta carne que aroma trescala.
Que Durga e Parvati curvassem-se a
Kali!...
E exaltado e sublime este pobre
saddhu (*)
Se entregasse à visão triunfal deste
nu
E perfeito exemplar -- dançarina de
Bali!...
(*) Asceta no hinduísmo ou
janainismo.
Kundaline ressurge e em suas curvas
me prende (*)
E o mesmo derviche o chamado já
atende,
Desatento do Buddha, esquecido do
Brahma.
(*) A serpente da vida.
E na arcana espiral, ele é tudo, ele
é Shiva!...
E ela freme de ardor, mahadeo!... -- ela é diva,
Num mandala de sangue esguichado na
cama!...
INSIGHT I –
10 fev 2006
There were
reasons involved that shouldn't
Allow a
friendship into romance
To develop,
as she rather well wouldn't
Let herself
asked again to dance
The same old
tune from her grievous past.
The same
sorrows wake, yes, the same
Wounds reopen
that once had messed
So much with
her mind, all that blame,
All that
guilt, all her self-reproach,
The lack o'
self-esteem, the bitterness
Of
abandonment, unhealthy approach
To an early
life... and yet, above all,
That other
love enwreathed in sadness
Whose sweet
moments were best in her recall.
Recanto das Letras > Autores > William Lagos
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