OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES &+
(Mitologia helênica compilada
por Hesíodo em sua Teogonia, versão poética de
William Lagos, 29 ago / 3 set
2017) -- 1ª Parte
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES –
29 AGO 2017
IRONIA CAPILAR - 30 AGO 2017
REGIMES – 31 AGO 2017
REPRESSÃO – 1º SET 2017
ROUBO DE AMOR – 2 SET 2017
MENESTREL – 3 SET 2017
PRÓLOGO
Há vários anos, fiz “Coroa de
Sonetos”,
com os trabalhos de Hércules
completos,
mas sem
grandes descrições
e por capricho, volto agora ao
mesmo tema,
mas envolvido, destarte, num
dilema
de
variadas mutações!...
Para modelo, tomei versos
castrinos,
de Castro Alves, hemistíquios
pequeninos,
em
vasta pretensão!
E sou forçado a confessar,
agora,
quão difícil foi a escolha
desta hora,
esforço
de paixão!
Naturalmente, para mim natural
sendo
o formato de soneto recebendo
completa
minha atenção
o atual formato mais
perturbador,
mas que aos “Trabalhos” dará
maior sabor
em sua
aplicação.
Assim espero que os leias com
paciência,
no meu esforço de uma leve
inconsequência
e de
mais atrevimento!
E com Hesíodo assim os
deixarei;
é dele o mérito, não o
contestarei,
não meu
merecimento!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES I
Um dia Zeus por mortal se
apaixonou:
doce Alcmena, que ligeiro
conquistou:
promíscuo
era esse deus!
A linda jovem sentiu-se muito
honrada
quando Zeus a pediu por
namorada,
entre
suspiros seus!...
Qual mulher rejeitaria a corte
alada
do pai dos deuses? Facilmente conquistada
a jovem
bela!
E assim gozaram ambos tais
amores,
sem Alcmena perceber que seus
pendores
não
eram dela!...
Zeus não mais era que um
conquistador,
sobre centenas derramando o seu
amor
e
foi-se embora,
nela deixando o fruto do
prazer,
filho gerado no ventre da
mulher,
terrível
hora!...
Assim foi esse o destino de
Alcmena,
da gravidez a suportar,
sozinha, a pena:
Zeus
logo se cansou!
Já se afastando para outros
carinhos,
que percorrendo alado os seus
caminhos,
a
muitos mais gerou!...
Cumprido o tempo, dois gêmeos
lhe nasceram:
dois belos filhos que rápido
cresceram
de seu
materno leite,
um demonstrando ter poderes,
realmente,
mas o outro sendo humano
inteiramente:
duplo
deleite!...
Um deles foi Hérakles, o forte,
o irmão chamado Ifikles, tendo
um porte
muito
menor;
no mesmo berço os dois irmãos
dormiam,
enquanto os fados aos poucos se
cumpriam,
sem
estridor.
Por uma vez, Zeus mostrou-se
como homem;
em cem disfarces houve outras
que o tomem,
sabendo
ou não;
sobre Dânae desceu em chuva de
ouro
e sobre Leda foi cisne,
estranho agouro:
vasta
paixão!
Sabe-se bem qual foi o
resultado:
violentamente tomou-a o cisne
alado,
em tal
surpresa;
mas seu marido, ao saber do
acontecido,
logo a tomou, para ver-se
garantido,
não por
vileza!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES II
Foi mais em prova de real
veneração,
que os próprios filhos
alcançassem a proteção,
que o
rei ansiava;
passados meses, a dois ovos
gigantes
a meiga Leda deu à luz e
instantes
depois
chocava!...
E teve assim quatro filhos
encantados:
pelo deus haviam dois sido
gerados,
semidivinos,
já os outros dois completamente
humanos,
dos mesmo ovos saindo, sem
enganos,
esses
meninos!...
Assim, Helena foi de todas a
mais bela,
filha de Zeus, brilhante como
estrela:
mulher
fatal!
E Clitemnestra, sua irmã, audaz
e forte,
porém seus traços sem qualquer
divino porte:
mulher
mortal!
Clitemnestra e Castor foram
humanos,
Póllux e Helena semideuses
soberanos:
Zeus os
gerara!
Porém os seus irmãos eram
mortais,
mas Póllux pediu a Zeus fossem
iguais:
prece
preclara!
E aos dois irmãos deu Zeus
imortalidade,
assim os transformando, sem
maldade,
numa
constelação!
Que no Zodíaco como signo se
apresente,
foram os Gêmeos, muito
certamente,
do
horóscopo atração!...
Contudo Hérakles, também ser
semidivino,
não demonstrou igual gesto
peregrino
de
Ifikles em favor,
que desta forma, não se tornou
imortal,
mas teve morte bastante
triunfal,
segundo
o narrador!...
O fato é que Hera, esposa
ciumenta,
sempre do Olimpo observando
atenta,
aos
dois meninos descobriu;
cheia de ódio, duas serpentes
enviou,
porém a Zeus nem um pouco
incomodou,
que
sorrateiro riu!
Ifikles, vendo as cobras,
assustado,
pulou do berço e por terror
levado,
fugiu
engatinhando!
Porém Hérakles aos ofídios
agarrou
e com as duas mãos, os sufocou,
apenas
apertando!
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES III
Outros autores dizem ter sido
Anfitrião,
pai de Alcmena, que, nessa
ocasião,
mandou
as duas serpentes,
para saber qual dos dois era
seu neto,
experimento que não foi nada
discreto,
porém
de resultados eficientes!
Cresceu Hérakles, realizando
mil proezas,
nem todas elas perfeitas em
belezas,
e
algumas bem brutais!
Quis a conquista de Esparta
realizar,
quando de Ifikles foi a morte
provocar,
sem
intenções reais.
Este morreu pela mão de
Hipocoonte,
o rei dessa cidade, ou seu
arconte,
em
combate singular,
não permitindo que o irmão
interferisse,
Eu também sou valente! – o infeliz disse,
querendo-o
impressionar!.
Naturalmente, o forte Hérakles
o vingou
e os ritos fúnebres por ele
celebrou,
em
honrada cremação;
mas essa culpa sempre o
perseguiu,
pois no combate de então não acudiu,
a
Ifikles seu irmão!
De outra feita, a Etiópia
percorria,
esse nome com que a Grécia
referia
a terra
ao sul do mar.
(Depois província criaram os
Romanos,
chamada África, após seus
soberanos
a
Cartago derrotar).
E aconteceu-lhe chegar à cordilheira,
no deserto erguendo-se,
altaneira,
altíssima montanha,
ali a encontrar um dos titãs,
o velho Atlas, que com palavras
vãs,
porém de vasta manha,
o convenceu a lhe dar certo
descanso,
enquanto ia banhar-se num
remanso
e
Hérakles aceitou,
nos fortes ombros tomando o
vasto céu,
enquanto Atlas malandreava ao
léu,
quase
tal peso o esmagou!
É bem possível que o titã não
retornasse,
se essa esfera dos céus não
balançasse,
provável
a desgraça!
Aos próprios ombros a carga
retornando,
quando Hérakles percebeu
periclitando,
ao peso
dessa massa!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES IV
E de outra feita, a Anteu
desafiou,
outro gigante, a quem por horas
enfrentou,
sem
conseguir vencer!
Ele era filho de Géia, a
Deusa-Terra,
a mesma Gaia – a energia que
ela encerra,
constante
a lhe ceder!,
Pois cada vez que o herói o
derrubava,
renovado, do chão se levantava,
e a
luta continuava!...
Até que Hérakles o ergueu em
pleno ar,
sem na Terra conseguir os pés
tocar
e assim
o estrangulou!...
Contudo Hera, inclemente, o
perseguia,
mais que a outros filhos de
Zeus o malqueria.
por ser
o mais famoso!
Chegou um dia, depois de o ver
casado,
que em acesso de loucura – por
ela provocado,
cometeu
crime horroroso!
E os próprios filhos o semideus
assassinou,
que monstros eram a deusa o
enganou.
pura
maldade!
Que não deixasse de si a
descendência:
netos seriam de Zeus – vasta
indecência,
um ato
de impiedade!...
Quando Hérakles despertou de
sua loucura
a deusa Nêmesis o perseguia e
já o tortura,
e ele
mesmo não podia se perdoar!
A própria Hera determinou o seu
castigo:
doze trabalhos do maior perigo
deveria
realizar!...
Mas veja bem como foi
contraditória
a deusa-mãe, que potente na sua
glória,
a
loucura lhe enviou
e pelos atos que inconsciente
praticara,
em vasto escárnio também o
condenara
e assim
dele zombou!...
Tinha então Hera um fervente
adorador,
Euristeu, de Argólida o senhor
e a
este encarregou
de as doze penas ao herói
determinar
e assim por anos pôde em
Hérakles mandar
o juiz
que ela indicou!...
Euristeu aproveitou-se da
ocasião,
para de um monstro se livrar,
sem compaixão,
que a
Argólida assolava!...
Pois no pântano de Lerna uma
serpente,
com sete cabeças, cada qual
delas diferente,
aos
homens devorava!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES V
E se o rei vítima ali não enviasse,
em cada aldeia por onde
passasse
causava morte e horror.
pois cada qual que a cobra
assim mordia
nas mais terríveis dores
perecia,
venenoso o seu ardor!
Pensou Euristeu que, se
Hérakles vencesse,
porém que a Hidra no combate
ainda o mordesse.
seria duplo o resultado!...
Pois caso fosse uma cabeça
assim cortada,
outra brotava da garganta
decepada,
em combate prolongado!...
E até o perigo continuava pelo
chão,
pois as cabeças ainda mordiam
sem perdão.
se não fossem esmagadas!
Chamou Hérakles a Yolau,
valente amigo,
que muitas tochas carregou
consigo,
aos pescoços destinadas!...
Assim Hérakles cortava uma
cabeça
e dava um pulo para trás, com
pressa,
no chão a esmagá-la!
Então Yolau suas tochas
aplicava,
cada garganta assim
cauterizava,
mais ágil que uma bala!...
Pouco a pouco destruiu todas as
sete,
seu sangue impuro a respingar
como confete,
deixando a Hidra morta!...
Hérakles então desabotoou a sua
aljava,
pontas das flechas no sangue
mergulhava,
que a cabeça ainda comporta!...
Deixou suas setas assim
envenenadas,
mesmo as mais leves feridas
condenadas
à morte dolorosa!
Seriam vítimas quantas
alvejasse,
caso em batalhas Hérakles
ingressasse,
até a mais corajosa!
Ele mesmo dos respingos se
curou,
mas Yolau, coitado! -- então
matou,
mas poupá-lo de tanto sofrimento...
Seu bom amigo o final golpe
agradeceu;
mesmo no reino dos mortos,
prometeu
ajudá-lo em algum momento...
Hérakles o corpo da Hidra
carregou,
e para o rei então o entregou:
a tarefa foi cumprida!
Para Yolau cumpriu os santos
ritos,
vertendo lágrimas dos olhos
aflitos,
durante a despedida!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VI
Constrangido, afirmou ser a
fumaça
que no canto de suas vistas fez
trapaça
e seu choro provocou...
Não pôde Hera ver cumprida sua
vingança,
porém seu ódio perpétuo não se
cansa
que tanto o condenou!...
Contra a Argólida enviou ela um
Leão,
determinando a Euristeu, então,
que a Hérakles mandasse
até a Nemeia, contra o leão
invulnerável.
mesmo por golpes de clava ainda
intocável,
pensando assim que o condenasse...
Contra seu pelo as flechas se
quebravam
e os duros golpes somente o
abalavam:
de novo ele atacava!...
Mas então Hérakles no chão o
derrubou,
montou-lhe às costas e então o
estrangulou
e já não respirava!...
Sua pele invulnerável esfolou
com as próprias garras e ao sol
a colocou:
em breve ele a curtiu!
Uma túnica a pouco e pouco
costurou
com as grossas tripas que de
ventre retirou
e com ela se vestiu!...
Tornou-se assim, em parte,
invulnerável,
um lucro assim a ganhar
considerável
após cada castigo!...
Euristeu cada vez mais
assombrado,
ao descobrir qual fora o
resultado:
a vitória do perigo!...
Cada vez mais ficou Hera
despeitada,
em suas más intenções assim
frustrada
e ao herói fortalecendo!...
Pois via Zeus em seu trono sorridente,
muito embora se fingisse
indiferente,
a seu filho protegendo...
E de igual modo, em segredo, o
auxiliou
quando a Corça de Cirene ele
caçou,
que então, de astúcia usando,
pensou Hera que só por força
ele vencia,
mas que essa corça matar não poderia,
tão só capturando!...
Porque era a Corça a Ártemis
consagrada,
e desse modo não poderia ser
magoada,
sem ofensa à Caçadora,
que de fato, protegia a
Natureza.
perpetua virgem, por maior a
sua beleza:
para si só ela entesoura!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VII
Ficava o templo no Monte de
Cirene,
cascos de bronze a manter-lhe o
passo indene
de pedras ou de espinhos;
Por um ano, caçou-a Hérakles em
vão,
que Ártemis Diana lhe dava
proteção
ao longo dos caminhos...
Finalmente, Zeus cansou do
esconde-esconde,
enviando Hermes para explicar
aonde
lançar uma armadilha,
sem deixar Hera a par desse
segredo;
Zeus prometera não meter sequer
um dedo
de Hérakles na trilha...
Por Mercúrio ou Hermes de tal
sorte instruído,
prendeu Hérakles fina teia de
tecido
quase invisível
contra as colunas do pórtico do
templo,
que à deusa Ártemis, de Arakne
no exemplo. (*)
seria imperceptível!...
(*) A
deusa Aranha, que pretendem introduzir no Horóscopo.
Já outras redes a Corça
destroçara;
com suas patas de bronze
estraçalhara,
fugindo inalcançada;
covas ocultas e cordas em
alçapé
ela evitara, com malícia até,
correndo inabalada...
Porém na nova teia se enredou
e as quatro patas Hérakles lhe
atou
levando-a a Euristeu
e à deusa Ártemis, movido por
temor,
após sua Corça libertar, com
breve ardor,
holocausto ofereceu!...
A Ártemis Diana assim se
propiciou
e a Hérakles facilmente ela
perdoou.
pois a culpa fora de Hera,
a deusa Juno venerada por
Romanos
assim movida por ciúmes
soberanos,
qual besta-fera!
E novamente, com malícia
extrema,
a Euristeu inspirou mais uma
pena,
que julgou ser impossível!...
O rei da Élida, Áugias,
estrebaria
possuía imensa, na qual ele
acolhia
seu gado, já quase intransponível...
Ao invés de se limpar, ele
ordenava
erguer os tetos, quando o
esterco acumulava,
sólida massa,
Cujo fedor o próprio ar
envenenasse:
talvez a Hérakles esse odor
matasse:
feia pirraça!...
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VIII
Contra a tarefa rebelou-se o
semideus:
"Não sou escravo dos
caprichos seus!"
porém submeteu-se;
Chegado à Élida, porém,
desacorçoou,
mas novamente Zeus a Hermes
enviou:
conselhos desse!...
Então o herói abriu um vasto
canal,
de dois rios desviando o seu
caudal:
Alfeu e Paineu;
a muralha às correntes
represou,
mas com golpes de clava as
derrubou,
e o galpão inteiro encheu!
A força da água com cuidado
dirigida
contra o esterco então foi
conduzida,
em blocos o arrancando,
É bem verdade que abalou a
cavalariça,
mas retirou o resultado da
preguiça,
cinco décadas lavando!
Primeiro Áugias seu rebanho
retirou;
por sorte, vaca alguma se
afogou,
contudo o cheiro
o ar empestou de sua cidade
inteira,
pois boa parte da enxurrada
derradeira
cobriu todo o terreiro!
Aos poucos, retornaram os rios
ao curso,
todo o esterco carregando no percurso,
real fertilizante,
que pelas margens, tal qual um
novo Nilo,
de uma semente fez nascer um
quilo:
bênção gigante!...
A seu colega aviso Áugias
enviou;
com grande pompa Euristeu o
visitou
e convenceu-se
de que a tarefa fora inteira
realizada;
a deusa Hera, outra vez
desapontada,
mais ofendeu-se!...
E arrepanhando as dobras de seu
manto,
transportou até as florestas de
Erimanto
um terrível Javali!...
Devia Hérakles outra fera assim
caçar,
todavia abstendo-se de a matar,
o animal em breve achando ali.
E o Javali, ao vê-lo, se
escapou,
por mais enorme, ao herói não
enfrentou,
quiçá por medo,
por indolência sem querer luta
travar,
mas o pôde Hérakles finalmente
capturar,
sem mais segredo.
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES IX
Nele montado, levou-o até
Euristeu;
como um churrasco o rei o
recebeu,
mandando-o abater,
mas das amarras ele se
libertou,
da capital as ruas assolou,
todos postos a tremer!...
Euristeu escondeu-se num
barril,
acometido do terror mais vil
e o Javali na praça
fruta e legumes se pôs a
devorar,
grave prejuízo chegando a assim
causar
dos pobres a desgraça!
Mais uma vez foi Hérakles
chamado
e novamente o Javali foi
derrotado:
virou churrasco!...
Porém do rei o prestígio foi
ferido
e a deusa Hera soltou grande
gemido,
de puro asco!...
Mandou Euristeu a seguir o
enviar
ao Lago Estínfale, para dali
expulsar
as Aves horrorosas;
tinham de bronze suas garras e
suas asas;
em altos picos faziam ali suas
casas,
famintas, perniciosas,
que devoravam as carnes dos
rebanhos
e agricultores que ali faziam
seus amanhos,
ferozes canibais!...
Quando as asas sacudiam, as
suas penas,
iguais que adagas, embora mais
pequenas,
soltavam-se, fatais!...
Com precisão suas vítimas
atingiam
e com vagar, quais abutres, as
comiam
e iam aumentando!
Mesmo envolto em sua pele
invulnerável,
percebeu Hérakles ser quase
irrealizável
um trabalho assim nefando!...
De que modo tais picos escalar,
enquanto as Aves o viriam
atacar?...
Missão secreta
desta vez Zeus a Minerva
designou:
Pallas-Athena, que de noite o
visitou,
trazendo uma corneta!...
Assim o herói até o lago se
achegou
e o instrumento com vigor
soprou:
forte estridor!...
Os pássaros de Estínfale,
assustados,
alçaram vôo, então desalojados,
com guinchos de pavor!
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES X
Então Hérakles as alvejou, uma
por uma,
e o veneno da Hidra, que as
consuma,
em suas pontas se achava;
e mesmo alguma, só ferida de
raspão,
estrebuchava, logo vindo ao
chão
e não mais se levantava!...
Então o herói, seguro da
vitória,
aos poucos completou a missão
inglória,
subindo aos ninhos,
em que, sem pressa, cada ovo
esmagou
e nem sequer uma cria ali
deixou,
matando os passarinhos...
(De suas tarefas foi a menos
ecológica!...)
Outra versão existe,
mitológica,
que eram as Hárpias, na verdade,
que com o som da corneta
revoaram
e para os picos de origem
retornaram,
em tal necessidade!...
Claro que Hérakles não as
poderia matar;
servas de Nêmesis, funções a
realizar,
quando enviadas...
Mas para o norte então se
retiraram,
não mais os arcádicos rebanhos
perturbaram:
feras aladas!...
Ora, um Minos, um certo rei de
Creta,
promessa fez a Netuno, certa
feita,
de um grande sacrifício;
e um Touro branco, da força
mais terrível,
foi preparado... mas achou ser
impossível
causar-lhe um malefício...
Este mito se relaciona,
certamente
ao Minotauro, que Teseu,
valente,
matou no Labirinto;
a ilha de Creta era prestigiosa
por seus rebanhos de carne
deliciosa:
coincidência talvez pinto.
Usava o Minos o seu belo Touro
como forma de beneficiar o seu
tesouro:
rebanho belo!
Porém Posêidon, sua promessa
não cumprida,
o Touro libertou de sua
guarida,
veraz flagelo!...
Atacava os pastores e a seguir
matava;
cada outro touro que por ali se
achava!
Minos em vão
muitas rezes sacrificou de seu
rebanho,
porém o estrago continuou,
tamanho,
desesperando, então.
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES XI
Foi a Micenas, solicitando a
Euristeu
que o aceitasse qual problema
seu
e a Hérakles o atribuísse;
Foram trocados, assim, ricos
presentes,
as condições dessa caçada
assentes,
que Hérakles cumprisse!...
E lá se foi, satisfeito, o
semideus:
seria o mais fácil dos
trabalhos seus,
pois o Touro dominou,
por força bruta, igual que mais
gostava
e já nas costas a besta
carregava,
que ao Minos entregou!...
Porém o rei, pensando agradaria
a Posêidon, a quem muito temia,
deu-lhe certa liberdade
e o animal, estando atarantado,
foi para a praia do mar sendo
levado,
como ato de piedade...
Tocaram muitas trompas e
tambores
os sacerdotes de Posêidon
servidores,
até a beira-mar!
Mas o animal na maré se
libertou
e até ao Istmo de Corinto então
nadou,
pensando se escapar!...
E enveredou então por Maratona,
planície de que Atenas era a
dona,
comendo seus trigais!
Mas como touro novamente foi
caçado
e a Posêidon, enfim,
sacrificado;
esta uma história a mais!...
Já o rei da Trácia, um certo
Diomedes,
criava quatro éguas e seus
hóspedes,
depois de embriagados,
os dava àquelas, como ímpia
refeição,
acostumadas a comer carne que
estão
de escravos e criados!...
Chamou Hérakles a alguns de
seus amigos
e à Trácia foram, a enfrentar
perigos,
ao longo da viagem;
ficava ao norte da Grécia, nos
confins,
montanhas ásperas, duros seus
afins,
pastores de coragem!...
Mas Diomedes por todos era
odiado;
por montanheses foi Hérakles
guiado
até a capital,
que conquistou, sem maior
dificuldade,
venceu Diomedes com facilidade,
destinando-o a fim igual.
OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES XII
Para suas éguas o rei serviu de
refeição,
sem ser, contudo, embriagado
então,
terrível seu terror!
E ao ver as quatro feras
satisfeitas,
com pesados grilhões foram
sujeitas,
arrastadas sem temor.
Hérakles apresentou-as a
Euristeu
e foram soltas, por mandado
seu,
nas faldas de montanha,
em que lobos e ursos habitavam
que já as quatro, prontamente,
devoravam,
maior sendo sua sanha!...
Já sem ter monstros para o
enviar,
Euristeu conseguiu imaginar
mais uma armadilha
e o enviou para distantes
zonas,
em que moravam as ferozes
Amazonas:
difícil a partilha!...
Mandou Euristeu que lhe trouxesse
o cinturão
carregado de jóias da rainha,
para então
oferecê-lo a Hera,
vendo que a deusa se encontrava
desgostosa,
pois fracassava a sua vingança
tenebrosa,
após tão longa espera...
De novo Hérakles reuniu os seus
amigos,
para enfrentar do Mar de
Mármara os perigos,
chegando à atual Turquia,
da qual a Frígia ficava no
nordeste...
Que trouxe o cinto não existe
quem conteste,
só a forma em que o faria.
Dizem alguns que à Hipólita
venceu
em combate singular e o cinto
recebeu
como um tipo de resgate;
já dizem outros que o combate
foi parelho
e que Hérakles trocou o cinto
por espelho,
após esse combate.
Dizem também que os dois se
apaixonaram,
que muito tempo juntos ali
quedaram
e que Hipólita concebeu,
tendo uma filha de força
singular,
Pentesileia, que Aquiles iria
matar
na luta em que a venceu.
Mas esta lenda já se refere a
Tróia
e o certo é que tal cinto, rica
jóia,
Hérakles conseguiu;
Existe ainda um relato mais
sereno,
que ela casou, ao invés disso,
com Tereno,
um amigo que o seguiu.
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