TRISTES SINAGOGAS & MAIS – WILLIAM LAGOS, 8/17 FEVEREIRO 2018
Tristes sinagogas – 8 fev 2018 – Pág. 1
Indivíduos – 9 fev 2o18 – Pág. 2
Degraus – 10 fev 2018 – Pág. 4
Fogo-fátuo – 11 fev 2018 – Pág. 5
Canibal – 12 fev 2018 – Pág. 6
Eunuco – 13 fev 2018 – Pág. 7
Beijo de mim – 14 fev 2018 – Pág. 9
Alter-ego – 15 fev 2018 – Pág. 10
Artimanha – 16 fev 2018 – Pág. 11
Almas abertas – 17 fev 2018 – Pág.13
TRISTES SINAGOGAS I – 8 FEV 2018
Vem,
meu santo teclado, minha lira,
E me
permite transformar-te num poema,
Cada
tecla transmutada em açucena,
Barra de espaços de
versos meiga tira.
Que
este teclado a alma alguma fira,
Salvo
no suave aspergir de uma verbena;
Que
mente alguma seu conteúdo tema,
Que não ofenda a
Jeová nem Pomba-Gira.
Que
dizer possam Bismillah os muçulmanos
e que
sussurrem B’seder os judeus,
Graças a Deus que afirmem os cristãos.
Nesta
época de atentados desumanos
que
curativos se revelem versos meus
E
sonhos fluam das palmas de minhas mãos.
TRISTES
SINAGOGAS II
Não são
meus versos a branda aceitação
De
ensinamentos das Santas Escrituras,
Nem do
Talmude declarações mais duras,
Nem do
Alma-Gesto a irônica lição,
Nem que
me atenha à búdica lição,
Do
Bhâgavat às predições futuras,
Não
sejam runas de nórdicas agruras
E nem
da Wicca tão só conformação.
Não me
dominem de Aristóteles acervos
E nem
de Zoroastro a voz altiva,
Tomás
de Aquino guarde a Summa para si:
Meus
pensamentos de ninguém são servos,
Mas
tudo eu li que o imaginário criva
E as
próprias sendas para mim abrí.
TRISTES
SINAGOGAS III
Minha
real crença é nesta humanidade
Que
tantos males a si mesma causa,
Mas que
em certos momentos de mais pausa
Dá
breves passos para a eternidade.
Que
seja a arte da poesia a divindade,
Artes
visuais para meus olhos salva,
Seja a
ciência sobranceira malva,
Justa
conquista de toda a imensidade.
As
teclas a tanger deste teclado,
A
transmitir mensagem de esperança,
Que
seja um dom de suor e não de fúria,
Para as
estrelas sem orgulho e nem pecado,
Mas
manifesto destino que se alcança,
Sem
dominar-nos a contrição espúria!
INDIVÍDUOS
I – 9 FEV 18
Não há
duas zebras com listras iguais,
Só
assim parecem perante o olhar casual,
Cada
uma mostra desenho individual,
Cem
labirintos de sinuosas verticais.
Essa
pergunta já foi feita por demais:
Se eram
negras a listrar em branco aval,
Se
brancas eram, listras negras afinal,
Dos
ventres níveos partindo em espirais.
Segue a
questão apresentada em idiotia,
Qual
inexiste o Triângulo das Bermudas
Ou a
tolice sobre o ovo e a galinha,
Já que
o ovo certamente já existia,
Com
suas cascas grossas e desnudas,
Antes
que ave qualquer deles provinha.
INDIVÍDUOS
II
De
forma igual se encaram os humanos,
Tão
similares em suas diferenças,
Muito
mais o resultado de suas crenças
Que de
parâmetros reais e soberanos.
Se bem
que iguais não somos, convenhamos,
Alguns
existem com inteligências densas,
Diversidades
nesta área sendo imensas,
Mais do
que em outro critério que exponhamos.
Também
variadas são as oportunidades,
Tal
qual diversas são as exposições
Às
formas de critério ou de cultura,
Pontos
distantes na feira das vaidades,
Nesse
mediocre aplauso de ilusões
Em que
as listras nos demarcam sem lisura.
INDIVÍDUOS
III
Fisicamente,
porém, pouco diferimos
E nem
se pode afirmar que existam raças;
Contemples
só o cãozinho ao qual abraças
A um
São Bernardo ou Dinamarquês que vimos.
Assim
parecem realmente ser racimos
De
espécies diferentes em suas jaças;
É
necessário um esforço que assim faças,
Reconhecendo
o Chihuahua de teus mimos
Como o
irmão de um Buldogue ou Labrador!
Mas se
contemplas os humanos ao redor
É bem
difícil negar sermos iguais,
Só no
alicerce de arraigado preconceito,
Na
melanina concentrada esse conceito,
Sem
sequer listras diferenciar-nos dos demais!...
DEGRAUS
I – 10 FEV 18
Busca-se
em vão a miragem de um ideal
Em
nosso companheiro ou companheira
E a
frecha nunca atinge bem certeira
A
variegada realidade do total...
Sempre
se encontra semelhança tal
Com
essa imagem forjada por inteira,
Mas
breve a falha estala nessa esteira,
Que o
imaginário não se encontra no real.
Sonhos
são sonhos, um meigo desatino,
Gotas
de ouro que nos correm pela mão
E os
desapontos são mais um figurino,
Nesses
talhos através do coração,
Que
essa mulher, sem saber, o meu destino
Evaporou
em langorosa agitação...
DEGRAUS
II
Essa
estátua que se esculpe na memória
Não é
igual a qualquer que se encontrou;
Alguma,
é certo, até se assemelhou,
Outras
refletem breve esplendor de glória.
Nenhuma
imagem pode ser peremptória
Reprodução
do ideal que se criou;
Só a
ilusão nossa mente avassalou,
Só o
feromônio fez conquista persuasória.
Mas
toda a carne em si difere por degraus,
Em
alguns casos piramidal escadaria,
Já em
outros bem menor essa escalada...
E
sopesamos os traços bons e maus,
Nessa
busca incessante que creria
Que tal
figura ideal fosse alcançada...
DEGRAUS
III
Mas
quaisquer sonhos e ideais são vaporosos,
Enquanto
a vida nos impõe a realidade
Concreta
e material em densidade,
Até
aceitarmos padrões mais preguiçosos...
Não que
os ideais permaneçam rancorosos,
Que a
companheira ou companheiro, na verdade,
Também
teve os seus ideais e, sem maldade,
Degraus
escala de nossos jeitos defeituosos.
Melhor
mesmo é que o sonho se evapore
E que
se aceite, com maior maturidade
A
criatura que nos brindou sua vida,
Humana
como nós... e que o amor doure
Esses
degraus de equânime bondade,
Por
mais incerta tenha sido essa ferida...
FOGO-FÁTUO
I –11 FEVEREIRO 2018
Na
mocidade, o brilho se irradia,
Fácil
parece ser o mundo conquistar,
Por bem
ou mal ao estranho conquistar
Pela
excelência que nossa mente cria.
Ou pela
força e vigor que transmitia
Cada
célula do corpo, a arrebatar
Pelo
esporte ou no trabalho se afirmar
Tal
excelência em que a carne se confia.
Mas
vão-se os anos e, por maior sucesso,
Aos
outros vê-se também a triunfar
E a
cada dia se contempla um novo ingresso.
E o
espavento chega um dia a me assaltar,
No
constatar dessa certeza que me assombra
De não
ser mais que um acidente na penumbra.
FOGO-FÁTUO
II
O
vagalume tem o instante da vaidade,
Por
breve seja o triunfo que conquista
E sobre
a grama as luciérnagas se avista,
Em seus
desenhos de estranha claridade.
Já o
fogo-fátuo tem maior perenidade,
Se a
qualquer pantanal olhar se insista,
Fantasmagórico
o brilho de sua pista!
E que
nos possa perseguir, na realidade,
Muitos
afirmam, tal qual Fogo de Santelmo
Circuncidando
a ponta de uma lança,
De um
arpão ou de um mastro de bandeira,
Verde
centelha em transitório elmo,
Que
guardar entre os dedos não se alcança
Na
incandescência que se avista por inteira.
FOGO-FÁTUO
III
Assim
podemos escolher ser vagalumes
Ou
fogos-fátuos para ter breve sucesso,
Dos
outros inconsútil seu ingresso,
Na
fumaceira esverdinhada dos tapumes.
Mas
pouco importa para que lado rumes,
Nesse
tempo passageiro que hoje meço
Ou na
impressão que provoca o teu apreço,
Centelhas
são, galgando breves cumes.
O
vagalume só se acende após o sol
E o
fogo-fátuo não se vê na claridade,
São
filhos da penumbra, todos dois.
E teu
crepúsculo terá breve farol,
Pouco
impacto a causar na humanidade,
Nem nos
que possam-te lembrar depois.
CANIBAL
I – 12 FEVEREIRO 18
Por
longo tempo devorei antepassados;
Agora é
tempo de ser novo alimento;
Fiz o
que fiz com todo o meu alento,
Mas
quanto fiz pertence a mil passados
E após
setenta anos bem contados
Aos que
se foram de mim contemplo atento;
A
alguns do que fizerem dou assento,
Outros
me olham sem jeito, envergonhados.
Certamente
construíram quanto eu sou,
Mas não
somos os mesmos desses dias
Chamados
de Ontem. Todos já viveram,
Esses
antanhos de mim e sei que vou
Ser um
espectro também, em noites frias
Se me
lembrarem os que me sucederam.
CANIBAL
II
É certo
que assim seja. Já não digo
Que
seja bom. Que proveito tem Platão
Em ser
banquete dos que hoje estão,
Já devorado
desde o tempo antigo?
É bom
que seja assim. Que algum amigo,
Reduzido
à lembrança dos que são.
Seja o
festim da mente e coração,
Restos
da obra protegidos do perigo.
Pouco
servem os bilhões dos esquecidos,
Sem que
suas sombras mastigue ninguém,
(de
certo modo, aos heróis estimularam),
Indiferentes,
bem ou mal havidos,
Sempre
puderam contracenar com quem
Às
novas gerações alimentaram.
CANIBAL
III
Talvez
eu venha a alguém estimular,
Através
de meus poemas ou de ações.
Que
permaneça entre as novas gerações
Como um
exemplo a seguir ou rejeitar.
Mas
preferia ser eu mesmo a influenciar,
Que
estes versículos de tantas mutações
Se
estilhaçassem dentro aos corações
E assim
pudessem neles rebrotar.
Não que
eu anseie meu nome ser lembrado;
Se
assim fora, nada teria digitado,
Mas
acredito ter valor cada mensagem.
E não
por mim, mas por seu conteúdo,
Que
algo devorem ou que devorem tudo,
Minhalma
e sangue distribuindo na paisagem.
EUNUCO
I – 13 de fevereiro de 2018
Pensei
um tempo que te pudesse amar
Para
sempre e mais um dia. Prosseguir,
Sentir
na mente teu nome a reluzir,
Sentir
na língua o sabor do corpo amado.
Pensei
um dia que te pudesse odiar,
Cada
minuto de uma hora. Retinir,
Com meu
ressentimento a percutir
Todo o
rancor do perdão que foi negado.
Mas os
humores passam, certamente.
Hoje
recordo as ocasiões que amei
E inda
relembro as horas em que odiei.
A
emoção, porém, é só aparente;
Lembro
que houve, porém sentir não posso,
Não
mais que sombra que de passagem roço.
EUNUCO
II
Quando
um humano é inteiro e conservado,
Consegue
orgasmo e desejo experimentar;
Porém
se um dia for emasculado.
Só
poderá de tais gestas relembrar.
Enquanto
um sonho é inteiro e marchetado,
Consegue
o ideal e a esperança conservar,
Mas
quando o elan foi dele retirado,
Consegue
apenas seu fantasma acompanhar.
E o
tempo vai castrando, lentamente,
Essas
lembranças de um passado mais viril;
Mesmo
que o corpo ainda possa ser potente,
Sem
ereção conserva-se a memória,
Irresponsiva
a cada efeito mais sutil,
Jóia com
jaça no vazio dessa vitória.
EUNUCO
III
Torna-se
eunuco o sonho assim desfeito,
Engorda
apenas na fome de sua orgia;
Busca
emoção e só encontra desvalia,
Busca o
rancor e nutre apenas o despeito.
Mas o
amor de algum dia satisfeito
Permanece
na memória em fantasia
E se
imagina um espasmo de folia
Poder
tornar-se na mente ainda perfeito.
Mas
ai! que amor sentido no passado
Jamais
nos pode ser pleno recordado,
Mesmo
guardada sua continuação.
É o
amor de agora que hoje nos aquece,
Que
amor guardado já não reverdece,
Por
mais que busque na alma exultação.
BEIJO
DE MIM I – 14 fev 18
O duplo
do poeta é o fantasma da poesia
Enquanto
dorme. Que sejam poucas horas,
Os seus
impulsos se acendem a desoras
E
qualquer aparição seus versos cria.
Assenta-se
à sua mesa e quem o via
Julga
ser ele mesmo, sem emboras,
Pois
senão, ele devolve o que devoras
E vara
a madrugada, até que o dia
Vem
atenuar-lhe a forma. Agora os dedos
Não
podem mais a pena segurar
(ela me
olha de esguelha e sem inveja).
Meu
duplo se aproxima em mil segredos,
Deita
no leito em que me acho a ressonar
E me
penetra nesse instante em que me beija.
BEIJO
DE MIM II
E não
se trata de acolher-me num espelho,
Para
puxar-me ao estender da mão,
Que
este fantasma me deixou em posição
Jacente
sobre a cama em que me esguelho.
E
deslizou, qual estranho escaravelho,
Sobre o
tapete, em breve flutuação
Até
encontrar-se no teclado e, com paixão,
Versos
traçar que não são de meu conselho.
Quando
levanto, encaro ali novos rascunhos,
De um
fraseado elegante e singular,
Mas com
ideias que não lembro ter nutrido.
Que
resta agora, senão repor os punhos
Sobre o
teclado e, de novo, me beijar
Nesse
fantasma de mim absorvido?...
BEIJO
DE MIM III
Até que
ponto serão de minha autoria
Essas
miríades que a noite assim nutriu?
Bem sei
que meu consciente então dormiu,
Para o
inconsciente legando sua elegia.
Porém,
relendo os traços de euforia
Com que
minhalma ao beijo consentiu,
Como
posso desfilhar o que surgiu,
Sem que
meu corpo lhe percorresse a via?
Não é
de admirar que, se algum dia,
Reler
os versos dos anos anteriores,
Não
consiga quaisquer linhas relembrar.
Foram
frases da luz que se esvaía,
Alheios
ódios, migrantes tais amores,
Sem que
a fronteira pudessem transpassar.
ALTER-EGO
I – 15 fev 18
Talvez
um dia eu me acorde em meio à noite
E me
contemple a digitar em meu teclado.
(Quem
sabe pense até haver sonhado
E vá
até o banheiro, em que me afoite,
Para
aliviar-me, enfrentando o frio açoite
Da
madrugada, o calor abandonado
Das
cobertas, em que me havia consolado,
Sem
enxergar a mim mesmo.) E assim me
acoite.
Porém
meu Duplo estará bem acordado
E me
olhará com desgosto e até desdém,
Por
ocupar esse corpo que queria,
Por
usurpar-lhe o tempo designado
Nas
poucas horas em que se sustém
E volte
a mim, a contragosto, nesse dia.
ALTER-EGO
II
E se,
de fato, um dia me acordasse
E me
mirasse sentado ante o teclado
Ou
rabiscando um verso amarfanhado
Nesse
retalho de papel que ali deixasse?
E se,
de fato, esse outro me encarasse,
Sem
disfarçar seu pendor mal-humorado,
Por
tê-lo visto assim atarefado
E para
dentro de mim então se alçasse?
Ou
quiçá fosse ele então que me puxasse,
Meu
corpo para si em azedo beijo
E me
lançasse nas brumas do inconsciente?
Seria
então que em combate me afincasse,
Qual de
nós o material, qual o adejo,
Até que
um desfalecesse de repente?
ALTER-EGO
III
Talvez
fosse o teclado que arbitrasse
Ou a
caneta arvorasse-se também,
Qual um
juiz injusto de desdém
E às
profundas digitais me condenasse.
Quem
mais seria, então, que assim narrasse
O
resultado dessa pugna a alguém,
Quando
a forma que então de mim provém
Aos
báratros, total me condenasse?
Esse
alter-ego serei eu ou então já fui,
Minhas
paredes do antigo impregnadas,
Forte o
bastante para de novo retornar.
Fantasmagoria
ardente que me flui
Por
essas linhas de elegância perfilhadas,
Que me
viessem sem piedade devorar.
ARTIMANHA
I – 16 FEV 18
Tem
constrição de torno, mas escorregadio,
Esse
teu corpo que tanto me consola;
Todo me
prende em sua rosada gola,
Dá-me
calor, se o coração resfrio.
Pois me
apresento no torniquete esguio,
Lixa de
carne que a carne não esfola,
Movendo
contra mim ardente mola,
Talvez
como ilusão de sonho e cio.
Os meus
duendes, de ardor perseverantes,
Nessa
agonia febril de alguns instantes,
Em que
os espectros se fazem mais reais;
Torno-me
íncubo e súculbo sinérgico,
Em cada
impulso tornado mais enérgico,
Até que
a força se perca no ademais.
ARTIMANHA
II
Quiçá
desdenhem por pornografia
A
descrição dessa paixão dileta,
Mas o
rancor de outrem não me afeta,
Somente
espelho quanto então sentia.
Pois
são momentos de amor que descrevia
(Mas
sem palavras de maldade abjeta)
Toda
poesia fazendo-se incompleta
Se o
sacramento não se celebraria.
É o
momento final e derradeiro
Desse
clímax experimentado tantas vezes
Pelos
milhares que a mim me precederam,
Em tal
momento concebido por inteiro
Tudo o
que louves em mim ou que desprezes,
Nesse
apogeu em que os avós me conceberam.
ARTIMANHA
III
E não
havendo esse esplendor no sexo,
Iniciado
por olhar, cheiro e desejo,
Pele
tocada de leve, antes do beijo,
Torso
no torso em busca desse amplexo,
Não
existindo a armadilha desse nexo,
O
feromônio conquistando em leve adejo,
A
solidão propiciando cada ensejo,
Na
dança antiga de perpassar complexo,
Não
estaríamos aqui, nem me lerias,
Nem eu
tampouco qualquer gozo narraria,
Por
mais que possa esse termo te arrepiar,
Nem
doravante alguém mais conceberias,
Salvo
em bancadas de branca assepsia
De
qualquer laboratório sem altar.
ALMAS
ABERTAS I – 17 FEVEREIRO 2018
Vi, de
repente, minha caligrafia
Assumir
um novo aspecto inclinado
Nesse
título acima assinalado;
Mais
ousada também me parecia...
Não sei
ainda quanto tempo levaria
Para
tornar este texto digitado;
Talvez
em breve tenha sido completado,
Quiçá
dos séculos a poeira beberia.
Sei tão
somente que, aberta a alma,
A linfa
e o sangue fluem, desordenados,
Cada
soneto por um outro apressurado,
Sem que
consiga recobrar a calma,
Nem
estancar meus leucócitos lançados
Para
este mundo, em seu voo condenado.
ALMAS
ABERTAS II
Que não
se pode escrever real poesia
Sem na
alma provocar algum rasgão,
Correndo
as unhas em tal dilatação,
Mordendo
os dentes a artéria que fluía.
A obra
d’arte que inerte ali jazia
Em
sinalefa se aproxima do portão,
A
escorrer pelas ruas com paixão,
Contida
apenas por certa sinafia.
E
certamente não existe transfusão,
Salvo
da seiva que Dyoniso sopra
(Sempre
há o perigo de haver hemofilia).
A alma
inteira em exsanguinação,
Vazia a
mente, a pouco e pouco alopra,
Até que
a alma inteira exangue ficaria.
ALMAS
ABERTAS III
Não sou
o único. Sei disso certamente.
Outros
partilham da mesma hemorragia,
O seu
espírito desgastado na harmonia,
Enquanto
verso após verso se apresente.
Talvez
exista alguém que se apoquente
E
manifeste tão só verborragia,
Em
rimas pobres, sonambúlica magia,
Com que
consegue mesmerizar alguma gente.
Mas só
quem abre a alma, realmente,
Consegue
dar o fruto proibido,
Sem
sequer dele primeiro ter mordido.
Ali seu
próprio coração se faz presente,
Sem o
veneno da cúpida serpente
Que tem
o fruto da vida lhe escondido.
Recanto
das Letras > Autores > William Lagos
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