quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019



TRISTES SINAGOGAS & MAIS – WILLIAM LAGOS, 8/17 FEVEREIRO 2018
Tristes sinagogas – 8 fev 2018 – Pág. 1
Indivíduos – 9 fev 2o18 – Pág. 2
Degraus – 10 fev 2018 – Pág. 4
Fogo-fátuo – 11 fev 2018 – Pág. 5
Canibal – 12 fev 2018 – Pág. 6
Eunuco – 13 fev 2018 – Pág. 7
Beijo de mim – 14 fev 2018 – Pág. 9
Alter-ego – 15 fev 2018 – Pág. 10
Artimanha – 16 fev 2018 – Pág. 11
Almas abertas – 17 fev 2018 – Pág.13

TRISTES SINAGOGAS I – 8 FEV 2018
Vem, meu santo teclado, minha lira,
E me permite transformar-te num poema,
Cada tecla transmutada em açucena,
Barra de espaços de versos meiga tira.

Que este teclado a alma alguma fira,
Salvo no suave aspergir de uma verbena;
Que mente alguma seu conteúdo tema,
Que não ofenda a Jeová nem Pomba-Gira.
Que dizer possam Bismillah os muçulmanos
e que sussurrem B’seder os judeus,
Graças a Deus que afirmem os cristãos.
Nesta época de atentados desumanos
que curativos se revelem versos meus
E sonhos fluam das palmas de minhas mãos.

TRISTES SINAGOGAS II

Não são meus versos a branda aceitação
De ensinamentos das Santas Escrituras,
Nem do Talmude declarações mais duras,
Nem do Alma-Gesto a irônica lição,

Nem que me atenha à búdica lição,
Do Bhâgavat às predições futuras,
Não sejam runas de nórdicas agruras
E nem da Wicca tão só conformação.

Não me dominem de Aristóteles acervos
E nem de Zoroastro a voz altiva,
Tomás de Aquino guarde a Summa para si:

Meus pensamentos de ninguém são servos,
Mas tudo eu li que o imaginário criva
E as próprias sendas para mim abrí.

TRISTES SINAGOGAS III

Minha real crença é nesta humanidade
Que tantos males a si mesma causa,
Mas que em certos momentos de mais pausa
Dá breves passos para a eternidade.

Que seja a arte da poesia a divindade,
Artes visuais para meus olhos salva,
Seja a ciência sobranceira malva,
Justa conquista de toda a imensidade.

As teclas a tanger deste teclado,
A transmitir mensagem de esperança,
Que seja um dom de suor e não de fúria,

Para as estrelas sem orgulho e nem pecado,
Mas manifesto destino que se alcança,
Sem dominar-nos a contrição espúria!

INDIVÍDUOS I – 9 FEV 18

Não há duas zebras com listras iguais,
Só assim parecem perante o olhar casual,
Cada uma mostra desenho individual,
Cem labirintos de sinuosas verticais.

Essa pergunta já foi feita por demais:
Se eram negras a listrar em branco aval,
Se brancas eram, listras negras afinal,
Dos ventres níveos partindo em espirais.

Segue a questão apresentada em idiotia,
Qual inexiste o Triângulo das Bermudas
Ou a tolice sobre o ovo e a galinha,

Já que o ovo certamente já existia,
Com suas cascas grossas e desnudas,
Antes que ave qualquer deles provinha.

INDIVÍDUOS II

De forma igual se encaram os humanos,
Tão similares em suas diferenças,
Muito mais o resultado de suas crenças
Que de parâmetros reais e soberanos.

Se bem que iguais não somos, convenhamos,
Alguns existem com inteligências densas,
Diversidades nesta área sendo imensas,
Mais do que em outro critério que exponhamos.

Também variadas são as oportunidades,
Tal qual diversas são as exposições
Às formas de critério ou de cultura,

Pontos distantes na feira das vaidades,
Nesse mediocre aplauso de ilusões
Em que as listras nos demarcam sem lisura.

INDIVÍDUOS III

Fisicamente, porém, pouco diferimos
E nem se pode afirmar que existam raças;
Contemples só o cãozinho ao qual abraças
A um São Bernardo ou Dinamarquês que vimos.

Assim parecem realmente ser racimos
De espécies diferentes em suas jaças;
É necessário um esforço que assim faças,
Reconhecendo o Chihuahua de teus mimos

Como o irmão de um Buldogue ou Labrador!
Mas se contemplas os humanos ao redor
É bem difícil negar sermos iguais,

Só no alicerce de arraigado preconceito,
Na melanina concentrada esse conceito,
Sem sequer listras diferenciar-nos dos demais!...

DEGRAUS I – 10 FEV 18

Busca-se em vão a miragem de um ideal
Em nosso companheiro ou companheira
E a frecha nunca atinge bem certeira
A variegada realidade do total...

Sempre se encontra semelhança tal
Com essa imagem forjada por inteira,
Mas breve a falha estala nessa esteira,
Que o imaginário não se encontra no real.

Sonhos são sonhos, um meigo desatino,
Gotas de ouro que nos correm pela mão
E os desapontos são mais um figurino,

Nesses talhos através do coração,
Que essa mulher, sem saber, o meu destino
Evaporou em langorosa agitação...

DEGRAUS II

Essa estátua que se esculpe na memória
Não é igual a qualquer que se encontrou;
Alguma, é certo, até se assemelhou,
Outras refletem breve esplendor de glória.

Nenhuma imagem pode ser peremptória
Reprodução do ideal que se criou;
Só a ilusão nossa mente avassalou,
Só o feromônio fez conquista persuasória.

Mas toda a carne em si difere por degraus,
Em alguns casos piramidal escadaria,
Já em outros bem menor essa escalada...

E sopesamos os traços bons e maus,
Nessa busca incessante que creria
Que tal figura ideal fosse alcançada...

DEGRAUS III

Mas quaisquer sonhos e ideais são vaporosos,
Enquanto a vida nos impõe a realidade
Concreta e material em densidade,
Até aceitarmos padrões mais preguiçosos...

Não que os ideais permaneçam rancorosos,
Que a companheira ou companheiro, na verdade,
Também teve os seus ideais e, sem maldade,
Degraus escala de nossos jeitos defeituosos.

Melhor mesmo é que o sonho se evapore
E que se aceite, com maior maturidade
A criatura que nos brindou sua vida,

Humana como nós... e que o amor doure
Esses degraus de equânime bondade,
Por mais incerta tenha sido essa ferida...

FOGO-FÁTUO I –11 FEVEREIRO 2018

Na mocidade, o brilho se irradia,
Fácil parece ser o mundo conquistar,
Por bem ou mal ao estranho conquistar
Pela excelência que nossa mente cria.

Ou pela força e vigor que transmitia
Cada célula do corpo, a arrebatar
Pelo esporte ou no trabalho se afirmar
Tal excelência em que a carne se confia.

Mas vão-se os anos e, por maior sucesso,
Aos outros vê-se também a triunfar
E a cada dia se contempla um novo ingresso.

E o espavento chega um dia a me assaltar,
No constatar dessa certeza que me assombra
De não ser mais que um acidente na penumbra.

FOGO-FÁTUO II

O vagalume tem o instante da vaidade,
Por breve seja o triunfo que conquista
E sobre a grama as luciérnagas se avista,
Em seus desenhos de estranha claridade.

Já o fogo-fátuo tem maior perenidade,
Se a qualquer pantanal olhar se insista,
Fantasmagórico o brilho de sua pista!
E que nos possa perseguir, na realidade,

Muitos afirmam, tal qual Fogo de Santelmo
Circuncidando a ponta de uma lança,
De um arpão ou de um mastro de bandeira,

Verde centelha em transitório elmo,
Que guardar entre os dedos não se alcança
Na incandescência que se avista por inteira.

FOGO-FÁTUO III

Assim podemos escolher ser vagalumes
Ou fogos-fátuos para ter breve sucesso,
Dos outros inconsútil seu ingresso,
Na fumaceira esverdinhada dos tapumes.

Mas pouco importa para que lado rumes,
Nesse tempo passageiro que hoje meço
Ou na impressão que provoca o teu apreço,
Centelhas são, galgando breves cumes.

O vagalume só se acende após o sol
E o fogo-fátuo não se vê na claridade,
São filhos da penumbra, todos dois.

E teu crepúsculo terá breve farol,
Pouco impacto a causar na humanidade,
Nem nos que possam-te lembrar depois.

CANIBAL I – 12 FEVEREIRO 18

Por longo tempo devorei antepassados;
Agora é tempo de ser novo alimento;
Fiz o que fiz com todo o meu alento,
Mas quanto fiz pertence a mil passados

E após setenta anos bem contados
Aos que se foram de mim contemplo atento;
A alguns do que fizerem dou assento,
Outros me olham sem jeito, envergonhados.

Certamente construíram quanto eu sou,
Mas não somos os mesmos desses dias
Chamados de Ontem.  Todos já viveram,

Esses antanhos de mim e sei que vou
Ser um espectro também, em noites frias
Se me lembrarem os que me sucederam.

CANIBAL II

É certo que assim seja.   Já não digo
Que seja bom.  Que proveito tem Platão
Em ser banquete dos que hoje estão,
Já devorado desde o tempo antigo?

É bom que seja assim.  Que algum amigo,
Reduzido à lembrança dos que são.
Seja o festim da mente e coração,
Restos da obra protegidos do perigo.

Pouco servem os bilhões dos esquecidos,
Sem que suas sombras mastigue ninguém,
(de certo modo, aos heróis estimularam),

Indiferentes, bem ou mal havidos,
Sempre puderam contracenar com quem
Às novas gerações alimentaram.

CANIBAL III

Talvez eu venha a alguém estimular,
Através de meus poemas ou de ações.
Que permaneça entre as novas gerações
Como um exemplo a seguir ou rejeitar.

Mas preferia ser eu mesmo a influenciar,
Que estes versículos de tantas mutações
Se estilhaçassem dentro aos corações
E assim pudessem neles rebrotar.

Não que eu anseie meu nome ser lembrado;
Se assim fora, nada teria digitado,
Mas acredito ter valor cada mensagem.

E não por mim, mas por seu conteúdo,
Que algo devorem ou que devorem tudo,
Minhalma e sangue distribuindo na paisagem.

EUNUCO I – 13 de fevereiro de 2018

Pensei um tempo que te pudesse amar
Para sempre e mais um dia.  Prosseguir,
Sentir na mente teu nome a reluzir,
Sentir na língua o sabor do corpo amado.

Pensei um dia que te pudesse odiar,
Cada minuto de uma hora.  Retinir,
Com meu ressentimento a percutir
Todo o rancor do perdão que foi negado.

Mas os humores passam, certamente.
Hoje recordo as ocasiões que amei
E inda relembro as horas em que odiei.

A emoção, porém, é só aparente;
Lembro que houve, porém sentir não posso,
Não mais que sombra que de passagem roço.

EUNUCO II

Quando um humano é inteiro e conservado,
Consegue orgasmo e desejo experimentar;
Porém se um dia for emasculado.
Só poderá de tais gestas relembrar.

Enquanto um sonho é inteiro e marchetado,
Consegue o ideal e a esperança conservar,
Mas quando o elan foi dele retirado,
Consegue apenas seu fantasma acompanhar.

E o tempo vai castrando, lentamente,
Essas lembranças de um passado mais viril;
Mesmo que o corpo ainda possa ser potente,

Sem ereção conserva-se a memória,
Irresponsiva a cada efeito mais sutil,
Jóia com jaça no vazio dessa vitória.

EUNUCO III

Torna-se eunuco o sonho assim desfeito,
Engorda apenas na fome de sua orgia;
Busca emoção e só encontra desvalia,
Busca o rancor e nutre apenas o despeito.

Mas o amor de algum dia satisfeito
Permanece na memória em fantasia
E se imagina um espasmo de folia
Poder tornar-se na mente ainda perfeito.

Mas ai!  que amor  sentido no passado
Jamais nos pode ser pleno recordado,
Mesmo guardada sua continuação.

É o amor de agora que hoje nos aquece,
Que amor guardado já não reverdece,
Por mais que busque na alma exultação.

BEIJO DE MIM I – 14 fev 18

O duplo do poeta é o fantasma da poesia
Enquanto dorme.  Que sejam poucas horas,
Os seus impulsos se acendem a desoras
E qualquer aparição seus versos cria.

Assenta-se à sua mesa e quem o via
Julga ser ele mesmo, sem emboras,
Pois senão, ele devolve o que devoras
E vara a madrugada, até que o dia

Vem atenuar-lhe a forma.  Agora os dedos
Não podem mais a pena segurar
(ela me olha de esguelha e sem inveja).

Meu duplo se aproxima em mil segredos,
Deita no leito em que me acho a ressonar
E me penetra nesse instante em que me beija.

BEIJO DE MIM II

E não se trata de acolher-me num espelho,
Para puxar-me ao estender da mão,
Que este fantasma me deixou em posição
Jacente sobre a cama em que me esguelho.

E deslizou, qual estranho escaravelho,
Sobre o tapete, em breve flutuação
Até encontrar-se no teclado e, com paixão,
Versos traçar que não são de meu conselho.

Quando levanto, encaro ali novos rascunhos,
De um fraseado elegante e singular,
Mas com ideias que não lembro ter nutrido.

Que resta agora, senão repor os punhos
Sobre o teclado e, de novo, me beijar
Nesse fantasma de mim absorvido?...

BEIJO DE MIM III

Até que ponto serão de minha autoria
Essas miríades que a noite assim nutriu?
Bem sei que meu consciente então dormiu,
Para o inconsciente legando sua elegia.

Porém, relendo os traços de euforia
Com que minhalma ao beijo consentiu,
Como posso desfilhar o que surgiu,
Sem que meu corpo lhe percorresse a via?

Não é de admirar que, se algum dia,
Reler os versos dos anos anteriores,
Não consiga quaisquer linhas relembrar.

Foram frases da luz que se esvaía,
Alheios ódios, migrantes tais amores,
Sem que a fronteira pudessem transpassar.

ALTER-EGO I – 15 fev 18

Talvez um dia eu me acorde em meio à noite
E me contemple a digitar em meu teclado.
(Quem sabe pense até haver sonhado
E vá até o banheiro, em que me afoite,

Para aliviar-me, enfrentando o frio açoite
Da madrugada, o calor abandonado
Das cobertas, em que me havia consolado,
Sem enxergar a mim mesmo.)  E assim me acoite.

Porém meu Duplo estará bem acordado
E me olhará com desgosto e até desdém,
Por ocupar esse corpo que queria,

Por usurpar-lhe o tempo designado
Nas poucas horas em que se sustém
E volte a mim, a contragosto, nesse dia.

ALTER-EGO II

E se, de fato, um dia me acordasse
E me mirasse sentado ante o teclado
Ou rabiscando um verso amarfanhado
Nesse retalho de papel que ali deixasse?

E se, de fato, esse outro me encarasse,
Sem disfarçar seu pendor mal-humorado,
Por tê-lo visto assim atarefado
E para dentro de mim então se alçasse?

Ou quiçá fosse ele então que me puxasse,
Meu corpo para si em azedo beijo
E me lançasse nas brumas do inconsciente?

Seria então que em combate me afincasse,
Qual de nós o material, qual o adejo,
Até que um desfalecesse de repente?

ALTER-EGO III

Talvez fosse o teclado que arbitrasse
Ou a caneta arvorasse-se também,
Qual um juiz injusto de desdém
E às profundas digitais me condenasse.

Quem mais seria, então, que assim narrasse
O resultado dessa pugna a alguém,
Quando a forma que então de mim provém
Aos báratros, total me condenasse?

Esse alter-ego serei eu ou então já fui,
Minhas paredes do antigo impregnadas,
Forte o bastante para de novo retornar.

Fantasmagoria ardente que me flui
Por essas linhas de elegância perfilhadas,
Que me viessem sem piedade devorar.

ARTIMANHA I – 16 FEV 18

Tem constrição de torno, mas escorregadio,
Esse teu corpo que tanto me consola;
Todo me prende em sua rosada gola,
Dá-me calor, se o coração resfrio.

Pois me apresento no torniquete esguio,
Lixa de carne que a carne não esfola,
Movendo contra mim ardente mola,
Talvez como ilusão de sonho e cio.

Os meus duendes, de ardor perseverantes,
Nessa agonia febril de alguns instantes,
Em que os espectros se fazem mais reais;

Torno-me íncubo e súculbo sinérgico,
Em cada impulso tornado mais enérgico,
Até que a força se perca no ademais.

ARTIMANHA II

Quiçá desdenhem por pornografia
A descrição dessa paixão dileta,
Mas o rancor de outrem não me afeta,
Somente espelho quanto então sentia.

Pois são momentos de amor que descrevia
(Mas sem palavras de maldade abjeta)
Toda poesia fazendo-se incompleta
Se o sacramento não se celebraria.

É o momento final e derradeiro
Desse clímax experimentado tantas vezes
Pelos milhares que a mim me precederam,

Em tal momento concebido por inteiro
Tudo o que louves em mim ou que desprezes,
Nesse apogeu em que os avós me conceberam.

ARTIMANHA III

E não havendo esse esplendor no sexo,
Iniciado por olhar, cheiro e desejo,
Pele tocada de leve, antes do beijo,
Torso no torso em busca desse amplexo,

Não existindo a armadilha desse nexo,
O feromônio conquistando em leve adejo,
A solidão propiciando cada ensejo,
Na dança antiga de perpassar complexo,

Não estaríamos aqui, nem me lerias,
Nem eu tampouco qualquer gozo narraria,
Por mais que possa esse termo te arrepiar,

Nem doravante alguém mais conceberias,
Salvo em bancadas de branca assepsia
De qualquer laboratório sem altar.

ALMAS ABERTAS I – 17 FEVEREIRO 2018

Vi, de repente, minha caligrafia
Assumir um novo aspecto inclinado
Nesse título acima assinalado;
Mais ousada também me parecia...

Não sei ainda quanto tempo levaria
Para tornar este texto digitado;
Talvez em breve tenha sido completado,
Quiçá dos séculos a poeira beberia.

Sei tão somente que, aberta a alma,
A linfa e o sangue fluem, desordenados,
Cada soneto por um outro apressurado,

Sem que consiga recobrar a calma,
Nem estancar meus leucócitos lançados
Para este mundo, em seu voo condenado.

ALMAS ABERTAS II

Que não se pode escrever real poesia
Sem na alma provocar algum rasgão,
Correndo as unhas em tal dilatação,
Mordendo os dentes a artéria que fluía.

A obra d’arte que inerte ali jazia
Em sinalefa se aproxima do portão,
A escorrer pelas ruas com paixão,
Contida apenas por certa sinafia.

E certamente não existe transfusão,
Salvo da seiva que Dyoniso sopra
(Sempre há o perigo de haver hemofilia).

A alma inteira em exsanguinação,
Vazia a mente, a pouco e pouco alopra,
Até que a alma inteira exangue ficaria.

ALMAS ABERTAS III

Não sou o único.  Sei disso certamente.
Outros partilham da mesma hemorragia,
O seu espírito desgastado na harmonia,
Enquanto verso após verso se apresente.

Talvez exista alguém que se apoquente
E manifeste tão só verborragia,
Em rimas pobres, sonambúlica magia,
Com que consegue mesmerizar alguma gente.

Mas só quem abre a alma, realmente,
Consegue dar o fruto proibido,
Sem sequer dele primeiro ter mordido.

Ali seu próprio coração se faz presente,
Sem o veneno da cúpida serpente
Que tem o fruto da vida lhe escondido.

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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