VELHICE
SOCIÁVEL E MAIS
WILLIAM
LAGOS, 1º/10 MAR 2018
VELHICE
SOCIÁVEL I – 1º MAR 2018
Dona
Velhice veio visitar-me
e
convidar-me para seu casamento,
com
Dón Ciático, natural de Inflamamento:
seria em
breve e deveria apressar-me...
Na
cerimônia, quando me fiz presente,
Unha
Encravada veio acompanhar-me,
Joanete,
seu irmão, veio abraçar-me,
Sarcopenia
também veio, de repente! (*)
Dona
Calvície chegou, toda lampeira;
e
Seu Careca, primo-irmão, chegou depressa,
com
Dona Prótese Dentária, tão gentil!...
Beijou-me
a barba Dona Caspa, bem certeira;
Dor
nos Quadrís longa amizade me confessa:
“Sou
meio torta, mas vou votar pelo Brasil!”
(*)
Queima da massa muscular.
VELHICE SOCIÁVEL II
Logo chegou o Tornozelo Frouxo,
de braço dado com Joelho Dolorido;
Calo no Pé logo insiste em ser ouvido;
veio o Hematoma, que me deixa roxo!
E a Dor nas Costas, que me torna coxo,
a Miopia, que sempre tenho tido,
da Tosse e Rouquidão sendo vencido,
chega o Pigarro, com guincho de mocho!
E finalmente, me abraça a Disritmia,
bem apertado, contra o coração:
Terceira Idade, sempre bem sociável...
Porém coisa pior sempre haveria,
que a Surdez não se aproxima da audição
e o paladar ainda hoje é bem saudável...
VELHICE SOCIÁVEL III
Tristes Achaques acompanham a Velhice,
mas não me impedem, afinal, de caminhar
e só uma vez foi preciso me operar:
foi-se a vesícula, que breve adeus me disse...
A Displasia está bem longe, nunca quis-se (*)
aproximar de mim, mas reclamar
é certo que não vou, nem do afastar
de algum Enfarto ou de AVC a má ledice!
(*) Crescimento celular desordenado, câncer.
Ficam lá juntos, do outro lado do salão
e só de longe percebo os dois doutores,
Parkinson e Alzheimer, sentados em sua mesa,
trocando brindes em tal celebração,
a competir entre si por mais horrores,
com que deixar de alguém a mente lesa!..
VELHICE
SOCIÁVEL IV
Mas
houve outras que não foram convidadas,
a
Chikungunya de te deixar perrengue;
chegou
a Zyka, braço dado com a Dengue
e
até a Ebola quis dar suas espiadas!...
Febre
Amarela com as outras rejeitadas;
e
Paralisia, disfarçada de merengue,
Esquistossomose
encolhida e meio rengue,
com
Leptospirose, nas sarjetas agachadas!...
E
de fato, entrar aqui até tentaram,
porém
as Seguranças, as Vacinas,
em
sendo Faixas-Preta essas meninas,
nenhuma
delas penetrar deixaram:
“Não
sois doenças de velhos, certamente,
fiquem
nas ruas, afetando a toda a gente!”
NA CASA DA MORTE
I – 2 MAR 18
Quando criança,
meu pai quis-me mostrar,
Talvez pensando
generoso ser comigo,
Algum crânio que
a mente dera abrigo
E foi então ao
cemitério me levar!...
Com um coveiro
conhecido conversar,
Uma gorjeta
entregando a tal amigo.
“Ali no ossário
não há qualquer perigo,
Ossos antigos
somente a conservar...”
Com uma sovela
separou a tijoleta
Que separava do
mundo um esqueleto,
Ali apertado em
quadrangular espaço
E nessa expedição
meio secreta
Foi retirando
dali certo objeto,
Amarelado, sem
trazer de carne o traço...
NA
CASA DA MORTE II
Não
recordo exatamente o que senti:
Tinha
quatro ou cinco anos, pouco mais.
Ossos
humanos sendo coisas naturais
Não
acredito ter gostado do que vi,
Mas
na testa da caveira então bati
Com
a ponta dos dedos, tal qual vais
Tocar
em porcelana preciosa, sem jamais
Algo
quebrar do que se encontra ali.
Após
ter minha curiosidade satisfeita
Ou
talvez a curiosidade de meu pai
De
simplesmente sondar minha reação,
A
pobre máscara de osso contrafeita
Retorna
logo ao nicho de onde sai;
De
volta a casa fui levado pela mão.
NA
CASA DA MORTE III
No
consultório de um oftalmologista
Havia
outra caveira, mas de gesso.
Não
acredito que tivesse o meu apreço;
Não
me encarava, porque não tinha vista...
Qualquer
lembrança que na mente minha exista.
A
que examinar com cuidado nunca cesso,
Dessa
caveura algum olhar eu meço,
Macabra
ideia de que conservo a pista...
Se
de afastar o medo fosse a ideia,
Saiu
pela culatra. No cinema,
A
cada vez que aparecia um esqueleto,
Fechava
os olhos, protegido na plateia.
Passou-se
o tempo, transmutou-se o lema,
Mas
nos gibis algo ainda via em desafeto...
NA CASA DA MORTE
IV
Desde esse tempo,
já fiz exumações,
De meus parentes
vi restos mortais
E nenhum deles
ora me assombra mais,
Nem as caveiras
das televisões...
Já esperava o
teor dessas visões,
Ossos humanos
sempre coisas naturais,
Meu pai, minha
mãe, amigos ademais,
Sem pesadelos nem
quaisquer perturbações...
Mas certa vez,
confesso me assustei:
Quando montava um
museu escolar
Chegou em pacote
casco de tartaruga...
Ou assim julguei,
até desembrulhar;
Com outro crânio
então me deparei,
Sua testa lisa e
límpida de ruga!...
NA CASA DA LUZ I – 3 MAR 2018
Ah, Sol Nascente, senhor de meu futuro,
Lua prateada, senhora do presente,
Ah, Sol Poente, do passado permanente,
Ah, mil Estrelas de meu destino duro,
que me contemplam com seu brilho puro,
como alfinetes, fulgor inconsequente,
diademas sobre o altar onipresente,
a outros céus dando acesso cada furo...
Jamais me espanta que os antigos
adorassem
as entidades desse firmamento,
nas longas noites sem eletricidade
e como deuses Sol e Lua contemplassem,
no ouro e prata o seu olhar atento,
sua gratidão por deles terem
claridade...
NA CASA DA LUZ II
É bem difícil esperar que
peregrinos
ou nômades seguindo seus
rebanhos,
ou agricultores a tratar
de seus amanhos
não duvidassem serem
guardas dos destinos,
pois se até hoje em
horóscopos divinos
tanta gente acredita! Muitos ganhos
são auferidos dos
espíritos tacanhos...
Doze animais tangendo
vidas como sinos!
E não me digam os que
creem em signos
que não se tratam apenas
de animais,
Gêmeos e Virgem
constelações fatais...
Porém antes dos Romanos,
Gregos dignos
humanizaram dos Babilônios
tais sinais
para tornar alguns deles
mais benignos!...
NA CASA DA LUZ III
Sendo o Zodíaco dos Animais Caminho,
nunca pude aceitar, naturalmente,
que as pobres bestas controlassem
gente!...
A Tartaruga, sendo algo mais mesquinho,
em Libra a transformaram, com carinho:
seria Balança meu signo atualmente...
Contudo Scorpio é, às vezes, mais
presente,
constelações a se mover, devagarinho...
Não obstante, aprecio o Sol do Inverno,
abominando, contudo, o do Verão;
tenho prazer em contemplar a Lua...
E aos velhos deuses sorrio com olhar
terno,
sem neles crer, mas com a veneração
dessa poesia que dentro dalma estua!...
NA CASA DA VIDA I – 4 MAR 2018
Hoje meu filho faz quarenta e
seis
e minha irmã sessenta e seis
completa.
Voam os anos da vida mais
dileta,
se vão os miseráveis, vão-se os
reis,
os criminosos e quem cumpre
quaisquer leis,
que o tempo a todos nós
constante afeta.
Encarai Chronos com olhar de
esteta
e a luz da vida nele
encontrareis!...
Alguns defendem voltar à
Natureza:
só trinta anos viviam os
primitivos,
nossas vidas se acresceram nas
cidades
e embora o tempo desgaste tua
beleza,
Terceira Idade ainda é prêmio
para os vivos,
sempre capazes de novas
veleidades...
NA CASA DA VIDA II
Setenta e cinco espero ainda fazer,
em outubro deste ano. Se aproxima
a data célere que para mim se inclina,
de um século três quartos perfazer.
Mas não será um ano mais que irei ter,
somente um ano a menos de minha sina.
Cada dia me acrescenta nova rima,
que para os pósteros pretendo recolher.
A minha própria idade não me abala,
mas a dos outros me espanta muito mais,
esses qie ocupam agora as mesmas casas
que já preenchi em minha antiga fala,
que para mim já pertencem ao jamais,
translúcidos tais dias feitos gazas!
NA CASA DA VIDA III
Reconhecendo anos menos ser embora
desses que tenho ao futuro destinados,
guardo seus dias para mim acumulados,
cada minuto escoimando cada hora.
Alta pilha a acumular-se, sem demora,
anos perdidos, anos consagrados,
anos malditos, anos abençoados,
certas ações ante as quais minhalma cora,
outras ações que só me dão orgulho,
por mais que desconfie da vaidade
e nem espere aqui no mundo perdurar.
E finalmente, alguns anos de esbulho,
mesmo encarados sem muita ansiedade
de pouco a pouco me ver apequenar.
NA CASA DO SOM I – 5 MAR 18
Errado posso estar,
mas desconfio
que este ano me será
interessante;
não que eu aguarde que
seja deslumbrante,
mas que não venha
degradar-me o brio.
Espero que assim seja
e então vigio:
melhor que o anterior
e mais vibrante;
de minha discoteca o
ouvir constante
das melodias que mais
aprecio.
A remar contra a maré
eu permaneço
e nada busco baixar
dessa Internet,
que me serve tão
somente de canal;
meus versos ponho ali
e então me esqueço,
na barafunda de
serpentinas e confete:
são para os outros que
acendo este fanal.
NA CASA DO SOM II
Só meu rádio eu
escutei por longos anos,
sintonizado na
Argentina ou no Uruguay;
toda a música que
apreciava dali vai
consolar-me do labor e
desenganos.
Contudo a vida
modificou-me os planos:
minha nova residência
agora cai
na parte baixa da
cidade e já não sai
um som igual de tempos
mais tempranos.
Não obstante, descobri
haver um Sebo
com muitos discos de
segunda mão,
tendo preços
acessíveis por demais
e é dessas fontes que
agora bebo,
meus eruditos a
aquecer-me o coração,
dia e noite a escutar
seus cabedais...
NA CASA DO SOM III
Posso afirmar e sem
errar o tom
que nas estantes de
minha biblioteca
ou do escritório, a
grande discoteca
é para mim, afinal,
Casa do Som.
Poucos dispõem,
afinal, do acervo bom
que amealhei para
formar minha própria Meca;
do exterior o barulho
mal me peca,
quando o suplanto com
a força desse dom.
Vinte e quatro horas
por dia o aparelho
vou alternando com CDs
e com vinil
e alguma fita gravada,
eventualmente.
Um igual procedimento
te aconselho,
por conservar tua
longa vida juvenil:
basta escutares boa
música frequente!
NA CASA
DA SOMBRA I – 6 MAR 2018
Não aprendi a ler
nessas mofadas
salas de aula que
frequentar eu tive,
pois já sabia ler
quando lá estive,
na carceragem dos
mestres enrugados...
Porém a meu redor vi
ser geradas,
nos mentais ventres em
que a memória vive,
de meus colegas autoridade
e aclive,
ali ficando dos
docentes impregnadas.
Foi assim que numa
inteira geração
floresceu a gestação de
preconceitos,
na aceitação da
imaturidade,
o nosso mundo alucinado
então
foi pelos mesmos que a
ele estão sujeitos
talvez só eu me excluí
dessa inverdade.
NA CASA DA SOMBRA II
Pouco a pouco fui
formando minha cultura,
através dos muitos
livros que escolhi,
sem jamais crer em tudo
o quanto li,
mas só extraindo a
informação mais pura.
Nenhuma influência
sobre mim perdura
de autoridade a que me
submeti;
só documentos, aos
poucos, recolhi,
dos preconceitos a mais
perfeita cura.
Nunca busquei riquezas
materiais
e mesmo agora aceitando
ser poeta,
não vou empós qualquer
louvor ou fama;
só acumulei os tesouros
perenais,
a mente cheia da
ciência mais completa
e dessa arte que a
emoção proclama.
NA CASA DA SOMBRA III
Mas vi crescente a
sombra a meu redor,
sendo engolidos por ela
todos mais,
influenciados por
doutrinas infernais,
servindo apenas ao que
obtinha mais louvor.
Muito em particular, recente
vi o temor
de ver perdidos os
sonhos triunfais
de antepassados mais
originais
nessa maré de digital
fervor...
Porém vislumbro agora a
reação,
sendo entre os jovens
boa leitura propagada,
para que possam, por
si, raciocinar
e não apenas fazer
pesquisas de ocasião,
não mais que Pasta do
PC copiada,
e enfim aprendam por si
mesmos a pensar.
NA CASA DOS
ESPELHOS I – 7 março 18
Dizem que Freud,
viajando em algum trem,
Enxerga, logo após
um solavanco,
Sua própria imagem,
sentada em outro banco,
Com as exatas
características que ele tem.
Seria interessante
se eu, também
(me foge a rima),
viajasse em carro
E sobre um quebra-molas
quando esbarro
Deparasse de mim um
outro alguém.
Muito embora tantas
vezes já falasse
De encontrar os
fantasmas de mim mesmo,
No percorrer das
ruas, nunca os vi;
Se o imaginário,
porém, desencadeasse,
Um súbito empurrão,
um golpe a esmo,
Quiçá minhas mágoas
tomasse sobre si.
NA CASA DOS ESPELHOS II
Talves Freud tivesse tido acesso
De paranoia ou de esquizofrenia;
Em seu estudo, afinal, ele vivia,
Pelos meandros da mente a ter apreço.
Naturalmente, seria apenas um processo
Que, com curiosidade, estudaria;
Talvez sexo em tal imagem buscaria,
Masturbação mental em seu ingresso.
Esses fantasmas de mim eu só imagino,
Provavelmente grande susto sofreria
Se de fato, algum de mim se aproximasse!
E me encarasse um corpo de menino
Ou como adulto com ele me encontrasse
Ou com meu Ego já ancião eu conversasse!
NA CASA DOS ESPELHOS III
Há muitos anos não viajo mais de trem
E até de ônibus apenas raramente;
Cobrir a pé meu trajeto é mais frequente
Ou de táxi poderei andar também,
Se muito peso das comprs que me vêm
Tiver de carregar. Mas, impotente,
Se da janela visse imagem mais ingente,
Olhos notando que a encarar me veem.
Por serem meus talvez os reconheça!
Mas não sou tipo, afinal, tão diferente
E é bem possível essa espécie de ilusão,
Na egolatria que algum outro assim pareça,
Substituido pela imagem aferente
Que em puro egoísmo criou meu coração!
NA CASA DOS ESPELHOS
IV
Talvez tu mesma um
dia imaginaste
Ver a tua sombra se
arrastando na calçada,
Longe de ti,
infeliz, desamparada;
E por instantes, ali,
alucinaste,
Que com tua próproa
sombra deparaste.
Não é impensável,
coisa fácil explicada:
Pela Gestalt, é a imagem
figurada
De algum conjunto
de pontos que avistaste.
É bem comum alguma
imagem se formar
Na comissura dos
olhos, inquietante,
Tuas pestanas
figurando algum fantasma!
Freud gozava de tal
visão orbicular,
Para ele divertida
e interessante,
Por um instante
conservando a mente pasma!
DELEGAÇÃO I – 8 MAR 18
E se tomassem meus duplos essas mágoas
e me aliviassem de todo o sofrimento,
tornado puro para o julgamento
que enfrentarei ante o júri de mim mesmo.
Se minhas tristezas se esvaíssem em águas,
só me restando o alegre e bom momento,
até que ponto seria vácuo o sentimento
que tantos versos já despejou a esmo?
Será que eu quero sentir o solavanco
que me separaria do Outro Eu?
Que levará de quanto eu chamo meu?
Por isso um tal desejo sempre estanco,
embora não refute, mesmo assim,
que há muitas coisas de que não goste em mim.
DELEGAÇÃO II
Ou quiçá fiquem melhor adormecidos
esses caracteres e no papel permanecer.
Alguns deles já cansaram de se ver
rememorados e noutras mentes acolhidos.
Talvez melhor sejam deuses esquecidos,
sem mais adoradores, a viver
suas sagas mágicas, a cochilar sem ver,
nas longas sestas dos ideais perdidos.
Nunca sei. Há muitos duplos em minha mente,
alguns cópias dos heróis de antigamente
ou das imagens que eu mesmo deles fiz,
porque me identifiquei constantemente
com tais protagonistas, que somente
foram os amigos que tive e sempre quis.
DELEGAÇÃO III
Pois bom seria ter duplos. Se os tivesse,
com eles compartiria meus trabalhos,
responsáveis por tantos atos falhos
e a mim mesmo das culpas me eximisse,
deixando os crimes para quem pudesse
suportar muito mais golpes desses malhos,
invulneráveis, sem sofrer profundos talhos
dos castigos que a mim mesmo eu atribuísse.
Para nós só ficariam os elogios,
os tristes duplos nem seriam mencionados,
embora os pobres, de fato, os merecessem.
Gentis contigo, sem mostrar seus brios,
sempre fiéis e sempre dedicados
e até felizes pelo serviço que prestassem...
DELEGAÇÃO IV
Por certo não é assim. É até melhor,
que criaturas bem inúteis nós seriamos!
Só fraqueza e despudor demonstraríamos:
que coisa torpe, da escravidão pior!
Assim só brinco com a ideia. Tal louvor
atribuindo a esses tais que não veríamos.
Elogios por humildade então teríamos,
ninguém creria nesses duplos de palor.
De certo modo, me assombra essa temática
e a ela, com frequência, revisito,
sempre que os versos me escorrem facilmente,
embora tenha certeza quase enfática
de que estes duplos que ainda aqui concito,
vivam apenas nas sombras de minha mente.
aceitação I – 9 mar 2018
“é coisa inútil pensarmos sobre a
Morte,
porque ela pensa sobre nós o
suficiente,”
nos disse Anthemios, poeta
consequente,
em hino a Apollo, deus de grande
porte.
há dois mil anos viveu e quis a
sorte
que do poema restasse tão somente
esta frase de cunho tão pungente,
em minha memória deixando um leve
corte.
aos Helenos, Thanatos mais
preocupava;
muitos Romanos adotaram o
estoicismo
e desejavam simplesmente morrer
bem;
só a maior dignidade se buscava,
encarada marcialmente ou com
lirismo,
sem o medo pueril que hoje se
tem.
aceitação II
de fato, era até mesmo voz
corrente
que jamais algum de nós encontre
a Morte
enquanto vivos, não sofremos o
seu corte,
quando ela chega, já nos fomos,
realmente.
nas vidas se pensava, mais
frequente:
era bem curta para eles no seu
porte;
morrer em guerra ou de doença era
sua sorte
e o importante era viver
intensamente.
talvez somente satisfazer o corporal,
talvez dando maior ênfase ao
mental,
pensar na morte seria morrer duas
vezes,
como o covarde que teme algum
castigo,
mil vezes repassando o seu
perigo,
envolto assim no odor das
próprias fezes.
aceitação III
esse Anthemios é bem pouco
conhecido,
por seus coevos apenas referido,
um citaredo pelos ricos acolhido:
foi um poeta, afinal, mas bem
menor.
ou não seria assim? talvez maior
tivesse sido sua fama e superior,
se superviessem seus versos de
louvor
ao Deus-Sol, Hélios-Febo ali
contido.
e lá se sabe quantos dos Romanos
ou dos Helenos grande mérito
tiveram,
sem dos modernos ser nunca
relembrados!
ou dos Egípcios, dos quais
somente soberanos
os seus nomes nas estelas
escreveram
ou quais poetas dos Sumérios
conservados?
aceitação IV
na verdade, foi só após o
Romantismo,
dos hieróglifos a decifração,
dos cuneiformes traduzidos pela
mão
de Gravesend, dos Hititas em
mutismo,
que mais nomes se gravou. Até do Judaismo
quantos poetas se relembrarão?
poucos mais do que David e
Salomão
ou o Magnificat de Maria em
saudosismo.
quantos dos merlins celtas se
recorda,
quantos autores das nórdicas
sagas?
é um punhado, quando muito, de
poetas...
porém de Anthemios o nome ainda
se aborda,
seus versos arrepanhados pelas
vagas,
olvidadas suas estrofes mais
diletas...
HERANÇA I – 10 MAR 2018
Eu nunca quis dos mortos
usar vestes,
Se bem que existe uma
lenda do Talmude,
À qual, bem raramente,
alguem alude,
Que aos antepassados
acolhida destes
No interior de ti mesmo.
Incontestes
Seus interesses na
sobrevivência rude
De seus descendentes,
que não mude
O seu abrigo, caso te
molestes.
Especialmente, caso
sejas derradeiro
Dos que partilham de seu
DNA,
Nenhum lugar terão para
imigrar.
Se este caso for, de
fato, bem certeiro,
No teu corpo vestes só
para eles há
E não suas roupas que
poderias herdar.
HERANÇA II
Se for assim, os meus
antepassados
Em mim habitam e sou a
sua roupagem;
Na minha mente habitam,
sou carruagem
Que para eles me tornei,
sem mais cuidados.
Até imagino, em momentos
perturbados,
Que sejam eles que pagam
a hospedagem,
Criando versos de
límpida mensagem
E os apresento, tais
quais pombos alados.
Pois é do meu
inconsciente que eles fluem,
Nunca um produto da
vaidade a produção
E assim envergo as suas
vestimentas;
Talvez pressinta que
alguns argúem,
Dentro de mim, em vasta
agitação,
O alagamento de tais
palavras lentas...
HERANÇA III
E novamente vem o
contraditório:
São meus avós a escrever
por mim?
Indiretamente, sei bem
que é assim:
De seus talentos sou o
depositório.
Gravado em mim por força
do esponsório
De tantas gerações,
neste festim,
Que nao devoro, mas que
se encontra, enfim
Nos gens dos quais sou
apenas o envoltório.
Não vai nisto humildade,
antes orgulho
Do espólio puro de meus
ancestrais,
Vivendo em mim,
inquietos ou contentes,
Recebedor glorioso desse
entulho
De camponeses,
menestreis e generais,
Que bem ou mal, em mim
estão presentes!
Recanto
das Letras > Autores > William Lagos
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