sexta-feira, 22 de maio de 2015







TRIGO E HULHA
William Lagos

TRIGO E HULHA I – 10 MAI 15

“Remir o tempo, porque os dias são maus”.
Não posso me queixar da equalidade;
não há saber sem exercer tenacidade
e apenas sei o quanto vejo nos jornais.

Se tropecei da vida nos calhaus,
não passei fome em concreticidade:
girei no fuso bom da eternidade,
meus dias se foram, mas existem muitos mais.

Contentei-me em ver o filme, na verdade,
nas poltronas assentado ou em sofás,
mui raramente contracenei na tela;

quiçá por isso me poupei muita maldade,
mas ao inventariar tempos atrás,
pouca coisa me restou que fosse bela.

TRIGO E HULHA II

Mas transformei a escassez de minhas bondades
em um campo revestido de trigais;
e descobri valiosa hulha no ademais
dos largos dias em que aspirei maldades...

Nunca invejei as personalidades
que se acham hoje adormecidas no jamais;
amei algumas, respeitei a muitas mais,
que enfrentaram com lhaneza as tempestades.

E de meu trigo fiz farinha e pão
que a muitos hoje distribuo com prazer:
são agridoces frutos da poesia,

com reverência a quem guiou-me a mão,
fosse quem fosse e assim cumpri o meu dever,
sem me importar se alguém me lembraria.

TRIGO E HULHA III

E de minha hulha distribuí calor,
nesses meus versos de vaga adstringência,
na maioria com alguma competência,
mui raramente o diamante de um ardor

que merecesse realmente algum louvor.
São versos limpos, eivados de eloquência,
feitos às pressas e sem qualquer paciência
a voz oculta que ministra tal pendor.

Apenas sei que se os faço, é para ti
e espero que consigas devorá-los,
que ser o seu autor não me iludi;

a ti pertencem que me lês aqui
e que soubeste no coração plantá-los,
mesclando o sangue teu ao que verti.

TRIGO E HULHA IV

O louro e o negro em mim emulsificou,
na longa díade de preconceito isenta;
cada palavra que hoje a ti contenta,
bem certamente, a ti se destinou.

Eu sou apenas aquele que semeou,
no campo de hulha o trigo que sustenta;
sob o restolho, carvão que o corpo esquenta;
porém não fui aquele que ceifou.

Minha autoria é apenas nominal,
que Dionyso canta a meus ouvidos;
só redijo esses versos perseguidos

por tantos outros, em marcha triunfal,
sem sobre as hastes pesado passo alçar
que no futuro te irão alimentar...

TRIGO E HULHA V

E não se trata em absoluto de humildade;
por muito tempo, nem assinei tais versos,
que apenas quis pelo mundo ver dispersos
os pensamentos de banal dignidade,

registrados com tanta intensidade,
uns de outros mostrando-se os inversos,
que nem sei se os belos ou os perversos
quiçá reflitam-me a personalidade.

Somente escrevo quando a ventania
chamada tempo, por um breve instante,
me conceda um período de valia,

ao mundo revelando uma harmonia
que não revela qualquer problema delirante
que nesse tal momento me afligia.

TRIGO E HULHA VI

Somente espero que alguém os leia,
qual verdadeiro e real destinatário
e superponha a turbilhão tão vário
a carne e o sangue que sua alma permeia.

Cada verso um restolho que incendeia
a emoção e o carinho multifário
de quem ceifou o seu destino agrário,
de quem cavou a hulha em negra veia!

E tão somente eu olharei, agradecido,
que apesar de minha própria insuficiência,
de algum modo, por ele ou ela reunido,

seja o tempo em meus dias já perdido
e que sua alma lhe empreste uma excelência
que só por mim jamais teria existido!...

NOITES MORTAS I – 10 MAI 15

Vejo o presente a escorrer por entre os dedos,
gesso e azinhavre em momentos de razão;
meus pensamentos concentrados são,
pois só o presente dispersa seus segredos.

Momentos do presente, enganos ledos,
jamais existe um presente na paixão;
vivem passado e futuro em turbilhão,
precipitando a busca de teus medos...

E ainda recomendam que se viva
de cada vez, um dia...  Como o posso,
quando esse dia é como um catavento,

que nunca imóvel fica, mesmo lento;
dorme o futuro na sombra mais esquiva
e do passado mantém-se aberto o fosso...

NOITES MORTAS II

Já muita vez falei na incoerência
dos que pretendem o tempo conhecer,
nessa esteira veloz sempre a correr,
a nós levando, sem qualquer paciência.

Apenas corre o obscuro da impotência
desse futuro em eterno refazer,
para o escuro do passado conhecer,
como uma flor em perpétua deiscência. (*)

Explode a antera em milênios de sementes,
cada uma delas um segundo a assinalar,
a maioria dos quais não brotará,

porquanto as mil escolhas inconscientes
os dias matam, sem sequer pensar,
empós porvir que de nós tão só rirá!
(*) Explosão das sementes de uma flor.

NOITES MORTAS III

O presente nem sequer é um dia breve,
em que fiquemos sob a luz de um holofote,
que nos acende qualquer um que nos adote:
adivinhar quem seja, quem se atreve?

Tantos aceitam que a autoridade os leve,
nessa escolha social do convescote,
magra migalha só nos dada por escote,
enquanto quem a dá melhor se ceve...

Porém mesmo quantos sejam mais conscientes
parar não podem o jorro desse tempo,
mas tão somente as catadupas escolher,

cada segundo em cristais arborescentes,
a peneirar fractais em seu destempo, (*)
a carne e a alma em eterno desfazer...
(*)  Estruturas que se repetem em toda a Natureza.

NOITES MORTAS IV

Cada momento do presente inalcançável,
muito mais breve do que a luz do dia;
enquanto as tristes linhas escrevia,
já foi-se o início para o imponderável;

resta somente aquele grão friável (*)
que tomo nos meus dedos, nostalgia
do instante em que o tomei, pura elegia
de outros grãos passados ao incontável.
(*) Quebradiço.

Como viver, portanto, o claro dia,
se nunca o temos entre nossas mãos?
Somente o brilho fugaz das ilusões

a que o porvir ferozmente perseguia,
nessa escolha perene ou desistência,
com que passa a provar nossa impotência...

NOITES MORTAS V

O que vivemos, portanto, é a escuridão
caleidoscópica do fluxo marchetável,
mesclado sempre ao presente desgastável,
sem que o possamos prender em nossa mão.

Só nos resta da memória a prontidão
e o que lembramos não é mais confiável,
pois lembramos a lembrança do inefável,
sem nada sólido na memorização...

Neste dédalo, embaraço de negrume,
restam as noites de teor silente,
uma que outra estrela de perfume,

este que aquele sabor subjacente,
que evoca um quadro doce ou de azedume
ou o rosto já olvidado de um parente.

NOITES MORTAS VI

Tais noites vivas sendo também mortas,
no preto de carvão do esquecimento,
mil recortes transportados de um momento
em que passaram por velhas retortas,

aquecidas na alquimia, luzes tortas,
que nos fazem oscilar, no pensamento,
entre escuro e obscuro julgamento,
dentro do qual em vão tu te confortas.

Nosso presente as gotas de suor
que, distraídos, secamos com um lenço,
enquanto outras faz brotar novo calor,

na inconsistência de um consentimento,
nessa exaustão, na qual julgo que penso
em tal corrente achar contentamento...

VULGARIDADES I – 5 jan 07

Nunca gostei desta palavra "transa":
sabor me mostra antinatural.
Não tenho para ela a rima mansa:
as mesmas letras, mas não soa igual.

Desse modo, por mais que a testa franza,
o verso é impuro e de valor virtual.
Não me flui fácil e brevemente cansa
buscar-lhe assim o seu sexor final.

Pois o pior é que seu significado
o sexo vulgariza em transação
comercial ou em troca de mercado.

Qual se exilasse inteira minha razão;
não é apenas um corpo penetrado:
eu faço amor com mente e coração!...

VULGARIDADES II – 12 MAI 15

Outros empregam até “esculachado”,
sem saber seu significado em italiano;
vocabulário pobre e sem arcano
de quem só pensa que havia poetado...

Na minha trincheira encontro-me isolado:
busco o artístico, por mais seja profano,
o que melhor encontro em cada humano,
não o que vejo nas mídia proclamado!  (*)
(*) Mídia é um plural copiado do inglês {medium = media}.

São poucos os que encontro do meu lado,
mas a tais eu acolho com prazer,
pelo respeito ou por seu belo escorço;

e ainda procuro converter um isolado,
que pense ser poeta, sem o ser,
na luta inútil de louvar-lhe o esforço!...

VULGARIDADES III

E jamais rimarei “ama” com “cama”,
em rima feia e eivada de miséria;
descrevo o sexo de uma forma séria,
até quando o verso gráfico o proclama.

Sem o obsceno, a própria alma conclama
a achar frescor onde outros acham léria,
a ver nobreza onde outros fazem féria,
os mercenários ou quem busca a própria fama.

Não que pretenda ser um professor:
não mais transmito que a antiga chama,
que desde o antanho em vincha foi legada,

no mais comum encontrando algum valor,
os versos a torcer em pura rama,
sem religião ou ideologia apaixonada!...

VULGARIDADES IV

Pois nem eu sei se sou eu que, realmente,
sinto atração pelo gentil, pelo elegante
ou que seja nessas linhas delirante
em minha defesa de tal ideal presente;

pois tão somente capino a horta ardente,
ervas daninhas a erradicar constante,
os versos podres contrariando meu talante,
durante todo esse tempo interveniente.

Mesmo que siga os modelos do passado,
um novo veio descubro na temática
que outrem não tenha muitas vezes explorado,

somente escrevo o que me cai no peito,
sem pretender uma injunção didática,
a que, afinal, sei bem não ter direito...

AMOR DE CÂMARA IX

O vento sopra agudo e a voz do sino
se espalha, em tom plangente, na alvorada.
E eu mal dormi, não me conduz a nada
esse tinir dolente em meu destino...

O que eu escuto são apenas sons da noite:
um trem ao longe, um galo, uma zoada
de pássaros despertos...  A revoada
das luzes da cidade, em claro açoite...

Mas no instante em que tomo entre meus braços
um corpo cálido de mulher amada
e derramo meus olhos em seus traços,

tudo demuda em dulcíssima alvorada:
o vento canta e brando o sino tine,
fazendo amor aos acordes de Puccini.

AMOR DE CÂMARA X

Amor pequeno e raro, amor distante,
Amor de ária singela, orquestração
eventual de cavatina, sem brilhante,
a reluzir tão só no coração...

Amor de pobre, amor bem pequenino,
que apenas de relance satisfaz...
E após deixa um ressaibo, um travo fino,
dramático em sua dor, sem trazer paz...

Amor assim, baseado em melodia,
na pureza da voz, rouca elegia,
que o peito alegra, em tal desesperança...

Amor de longe, enfim, que mal se alcança,
Amor de carnaval, amor confete,
fazendo amor ao som de Donizetti...

CASULA I [Thanks to James Branch Cabell.]

Amor conjectural, amor romântico,
amor que só se alcança ao se não ter...
Amor pelo impossível de esquecer,
amor em vasto orgasmo oniromântico... (*)
(*) Adjetivo referente a adivinho ou intérprete de sonhos.

Que desdenha da posse: antes prefere
não ter a substância da mulher,
para melhor imaginar qualquer
sonho dourado que a alma refrigere...

Amor assim: isento de promessas,
sem pensamentos vãos, sem alianças,
que os dedos prendem e as almas deixam soltas...

Vivendo essa ilusão, vivendo dessas
migalhas consumidas de esperanças,
porém fiel no ardor que as traz envoltas...

CASULA II – 13 MAI 2015

Reconheçamos...  Não existe essa mulher
que corresponda ao sonho inteiramente;
nem fada, nem demônia, apenas gente,
traz os defeitos e os dotes que trouxer...

Reconheçamos...  Homem não há sequer
que seja Príncipe Encantado reluzente;
cada um dos seus ideais é diferente
desses que a Jovem Encantada quer...

Mas que fazer?  Felicidade sempiterna
sequer existe nos contos de fadas,
é tão somente um fecho imemorial...

Ainda mais na sociedade hodierna,
separações pela morte desprezadas
em favor de nova escolha conjugal.

CASULA III

Mas o poeta se reveste de casula,
igual que fosse frade num mosteiro,
sem um voto de amor interesseiro,
em que o amor do amor se coagula.

Assim se enrola nos versos da cogula (*)
com os três nós do deus mais verdadeiro,
amarrados no cíngulo, embora o amor primeiro
possa o Papa desfazer com uma só bula...
(*) Túnica larga monacal.

Possuem cíngulos as plantas diatomáceas,
em faixa dupla que a célula percorre
e existem cíngulos nos cérebros humanos,

uns protegendo as formações herbáceas,
outros os Corpos Calosos, onde ocorre
a brotação de velhos sonhos inumanos...

CASULA IV

Mas eu só penso no amor subjacente
ao orgásmico ansiar reprodutivo,
esse amor velho, que se torna redivivo,
nessa pequena auréola reluzente,

a que chamas de amor, jato presente,
como um impulso humano coercivo;
e quando o posso, em alma alheia o ativo:
que surja o amor como élan luminescente!

Amor do amor e não amor por mim,
pouco mais que a consciência inexaurível
de que possa a humanidade, permanente,

reproduzir-se em meus ideais, enfim,
como a fiel domadora do impossível,
perante o Pluriverso indiferente...

AMOR DE CÂMARA XI 

Eu nem me esforço por teu amor concreto.
Abstrata, és mais real.   Posso forjar-te
segundo a síntese de meu ideal secreto.
Enquanto a substância, ao contemplar-te,

Se escapa a tal prazer sob as pupilas...
E, no entretanto, quando enfim te abraço
E nesse teu ardor, por mim cintilas,
Teu dom carnal preenche todo o espaço...

Como endorfinas então o meu marasmo!
Tal como a música, teu corpo me consola,
Durante os dias bons e os dias maus...

Pois me renovo em ti, em tal orgasmo:
Sempre é um antídoto, nesta vida tola,
Fazer amor com a música de Strauss...

NOVILÚNIO I (MERCI, AZNAVOUR!)

EU PREFERIA QUE SAÍSSES DE MINHA VIDA,
DO QUE TE VER, SEMPRE DISTANTE, ASSIM...
APENAS RETORNANDO, INADVERTIDA,
QUANDO POUCO TE ESPERO E JÁ NO FIM

DE MEU AMOR POR TI ATÉ ME ACHAVA...
AO TE VER LONGE, ENFIM, TÃO AGASTADA,
QUAL UMA SOMBRA INCONSÚTIL QUE SONHAVA
EM SER SOMBRA DE SOMBRA ENSIMESMADA.

MAS QUANDO ME RETORNA, INESPERADO,
O TEU SORRISO EM TUA VOZ, ANTES OMISSO,
EU NÃO CONSIGO TE ESQUECER JAMAIS...

SABENDO BEM QUE OUTRA VEZ SERÁ AFASTADO,
SEM QUE ENTENDA O MOTIVO.  E É SÓ POR ISSO,
QUE ATÉ QUERIA, QUIÇÁ, NEM TE VER MAIS...

NOVILÚNIO II – 14 MAIO 15

TALVEZ JÁ TENHAS PARTIDO E NEM NOTEI
QUE FOSTE O ÚNICO E VERDADEIRO AMOR;
OU QUEM SABE, DESPERDICEI O MEU ARDOR
NA BUSCA VÃ DE QUEM NUNCA ENCONTREI.

AMOR ETERNO, CERTAMENTE, EU TE JUREI;
QUEBRADAS FORAM JURAS, COM FRAGOR,
MAS DE QUE SERVEM AS JURAS COM FERVOR
SENÃO PARA QUEBRAR, QUAL EU QUEBREI?

A TI, MULHER, QUE HOJE NÃO VEJO, JURAREI
O AMOR ETERNO AONDE QUER TE ENCONTRES;
E A TI, HOMEM IRMÃO, IGUAL DAREI

MEU CORAÇÃO EM REAL PERPETUIDADE,
POR QUE DE MIM PERPETUAMENTE DESENCONTRES,
POIS SÓ TE ENCONTRAREI NA HUMANIDADE.

NOVILÚNIO III

O PLENILÚNIO DA ARGENTINA LUA CHEIA
ENCHE OS POEMAS DE VASTA DURAÇÃO;
PORÉM EU ABRIREI MEU CORAÇÃO
AO NOVILÚNIO QUE A ESCURIDÃO PERMEIA.

MEU HERÓI, CATULO, CANTOU DESDE O SERTÃO
ESSE LUAR QUE AS SELVAS INCENDEIA
E A PRÓPRIA ONÇA CONTEMPLA, EM MANSA VEIA,
LAMBENDO OS SEUS BIGODES DE EMOÇÃO...

MAS EU CANTO ESSA LUZ QUE NÃO SE ENXERGA
A TODO AQUELE QUE ME DER OUVIDOS,
A TODA AQUELA QUE AS PESTANAS PARPADEAR,

QUE SÓ O ESCURO VERDADEIRO ALBERGA
E NOS CONSOME, PERMEADOS E SOFRIDOS,
O CORAÇÃO TÃO SOMENTE A PERPETUAR...

NOVILÚNIO Iv

E PODERIA FALAR EM CRESCENTELÚNIO,
QUE HOJE ABENÇOA OS IDEAIS DO ISLAMISMO;
OU PODERIA DEFENDER O CIENTIFICISMO,
SOB A BANDEIRA DO MINGUANTELÚNIO.

MAS ME REFREIO DE LOUVAR O PLENILÚNIO,
A QUE TANTOS JÁ LOUVARAM EM MODISMO,
DOU À LUZ FANTASMAGÓRICO OSTRACISMO,
ANTE ELA IMPONHO, FREMENTE, O NOVILÚNIO.

DESSA DEUSA SELENE, TÃO MULHER,
QUE DIARIAMENTE NOS MOSTRA NOVA FACE,
A QUEM DEVO ATENÇÃO DIUTURNAMENTE,

SUA FACE OCULTA QUE SÓ VÊ QUALQUER
EM CUJO PRÓPRIO ROSTO SE ESTAMPASSE
A LUZ FURTIVA DO AMOR CIRCUNJACENTE.

AMOR DE CÂMARA XII
[Hommage a Ethelbert Nevin.)

Teus beijos, para mim, são como pérolas
ensandecidas no fado dos desejos...
São colares de preces, esse beijos,
intercalados de ausência, como férulas,

que me azorragam e me deixam pálido,
inconsequente, mesmo em vezo permanente.
Teus beijos são sonidos, são fremente
cintilação de carne, nesse inválido

fulgor.  Que em tais momentos, feitos loucos,
todo o concreto se transmuta em ilusões,
por mais me agrade teus gemidos escutar,

misturados aos meus.   Suspiros roucos,
que para mim ressoam quais canções,
fazendo amor com Schubert no ar...

AMOR DE CÃMARA XIII

Eu sinto a solidão como a palpável
parede de sorrisos de indulgência
com que encaro o mundo, essa paciência
de longanimidade imponderável

e vejo o mundo assim, tal qual miragem
de demiurgo talvez...  Em que me insiro (*)
como observador...  Em que me inspiro
ao descrever dos outros a passagem,
(*) O gerente do mundo, segundo a antiga Gnose.

nesse favor com que a mim mesmo acorro
e beijo a própria imagem, que me beija,
nos permanentes amores transitórios,

que então me levam a buscar certo socorro
nos braços de quem sei que me deseja,
amor fazendo aos acordes de Praetorius...

AS JOVENS DE ROMA LVI
URBICA

MEU SANGUE É CLEPSIDRA AO FLUXO DO AMOR
PERCORRIDO NO TEMPO: ARTÉRIAS, CAPILARES,
AS VEIAS, ARTERÍCOLAS, OS DUCTOS BILIARES,
AS HORAS MARCHAM DIÁRIAS AO SOM DE TEU CALOR.

MINHA MENTE É QUAL GNÔMON, AO TOQUE DO SORRISO,
QUE BROTA DE TEU ROSTO, CAMBIANTE COMO O SOL:
AS MARCAS QUE PERCORREM NEURÔNIOS DE ARREBOL
ATÉ DO OCASO AS SOMBRAS E À LUZ FEITA DO SISO,

QUE ÉS ORA PARA MIM, EM TAL SIGNIFICADO
DE VIVER MARCHETADO DA FÉRULA DE ANTANHO,
SEM VALOR, APAGADO NA SAGA ROTINEIRA,

EM QUE AVENTURA É UM TOQUE, APENAS COMPORTADO
NAS PÉTALAS DOS SINOS, NO CARRILHÃO DO AMANHO,
DA PRÓPRIA CARNE EM DOBRE NA HORA DERRADEIRA.

AS JOVENS DE ROMA LVII
FELICITAS

À NOITE A VEJO, AGUANDO SEU JARDIM:
FALTA ÁGUA EM ROMA E SÓ NOS VEM À NOITE.
ELA SE ABRIGA BEM, DO VENTO TEME O AÇOITE
E APENAS DE RELANCE ACENARÁ PRA MIM.

MIL VEZES PREFERIA DEIXASSE-ME REGÁ-LA,
AO INVÉS DE QUE ME ACENE UM GESTO INDIFERENTE.
BEM CERTO QUE ESSE AMOR JÁ SE SONHOU FREQUENTE
E HÁ MUITO JÁ NÃO É PAIXÃO QUE ME AVASSALA.

MAS POR CERTO A QUERO, SEMPRE JUNTO ASSIM,
COMO UMA FLOR ABERTA, COMO UM IDEAL CORIMBO,
EM QUE PUDESSE DE NOVO LEVAR O AMENTILHO

E SOPRAR EM SUAS TROMPAS E BATER O MARIMBO,
QUE RESSOA A MINHA VOZ E ME REPLICA, ALFIM,
NUM MULTICOR AGUAR DE PURPURINO BRILHO.

AS JOVENS DE ROMA LVIII
VETTIA

SE OS DEUSES ME AJUDAREM E ME DEREM
O QUANTO LHES PEDI (E DIZEM DO PERIGO:
ENTRE OS ROMANOS É UM DITADO ANTIGO,
DE FAZER UM PEDIDO ENQUANTO ESPEREM

PELAS NUVENS ANELADAS QUE O ÉTER EMACULAM,
A COCHICHAR SEGREDOS ENQUANTO NOS ESCUTAM
E A ATENDER AS PRECES, RIDENTES, NÃO RELUTAM,
POR MAIS QUE BEM E MAL CONJUNTOS NOS ANULAM).

ELES RIEM, OS DEUSES E AS PRECES NOS ATENDEM:
FOMOS NÓS QUE PEDIMOS DESEJOS INSENSATOS,
EXTREMA E ARDENTEMENTE, SEM SOPESAR QUALQUER

EFEITO NEGATIVO... E TODAVIA, COMPREENDEM
QUE ESTOU PRONTO A PAGAR POR TAIS PESOS INEXATOS,
SE APENAS CONSEGUIR GUARDAR ESSA MULHER...

JOVENS DE ROMA LIX
LAETITIA

SEU NOME JÁ TRAZIA A BÊNÇÃO E A PROMESSA
DE TAL ERUPÇÃO QUE AO PEITO BROTARIA,
DE INCONTIDO PRAZER, NA FORÇA DA ALEGRIA
QUE ME TRARÁ, SE APENAS SEU ROSTO NÃO ESQUEÇA.

E SE ME RESPONDESSE, EM SIDERAL VAIDADE,
A CADA VEZ QUE A PENA CORRESSE EM PERGAMINHO,
QUE MEU FOSSE O DESEJO, QUE MEU FOSSE O CARINHO
E REBROTAR FIZESSE EM MIM FECUNDIDADE,

FELICIDADE, ENFIM, É QUANTO ME DARIA,
SE AO MENOS SEU OLHAR FUGAZ ME RELUZISSE,
NUM MOMENTO DE AMOR, UM SÓ MOMENTO APENAS.

E ENQUANTO INDA VIVESSE, JAMAIS A ESQUECERIA,
SEU NOME APAGARIA MINHAS DORES E MINHAS PENAS,
SE POR UM SÓ MOMENTO SEU ROSTO ME SORRISSE...

FEROMONIA I

Foi dito que moedas lançássemos na urna,
neste primeiro ano de nosso amor recente,
sempre que amor fizéssemos e a musgosa furna
visitada se achasse por regato ardente...

Foi dito que a seguir, nos anos posteriores,
moeda retirássemos a cada encontro novo.
Que por mais que vivêssemos abraços ulteriores,
jamais se esvaziaria tal vaso, que o renovo

de tal amor se torna mais escasso,
na medida em que o tempo nos corra indiferente...
Sempre me estranha foi a tal afirmativa,

pois os anos se passam e sinto-me devasso
a cada vez que vejo o meu amor crescente
e a ânsia de cópula permanece rediviva...

FEROMONIA II – 15 MAI 15

Passam-se os anos e tal economia
permanece intocada em seu barril;
conservo a ânsia pelo vaso feminil,
ainda que tenha de convencer minha guia,

o que bem mais facilmente conseguia
nos verdes anos de meu amor viril,
desperdiçado o brilho varonil,
sem moedas guardar na almotolia.

Contudo o vaso cheio de moedas
conserva-se até hoje e não lembrei
de retirar como prêmio qualquer delas;

basta-me o trigo acumulado em medas, (*)
que tal cínico conselho desprezei,
já enferrujadas as correntes nas cancelas.
(*) Montes de trigo reunido após a colheita.

FEROMONIA III

Não são somente os hormônios da cobiça,
quando a mulher está fértil e predisposta:
um outro hormônio sobre mim se acosta
e intersticia, quais grãos de caliça,

de permeio às moedinhas dessa liça,
hormônio limpo em que a carne não se tosta,
que se fareja somente em quem se gosta,
por quem a própria alma assim se eriça.

Existe um feromônio nessa trança
que nos envolve sempre, mutuamente,
sem veloz busca por satisfação;

e se esse hormônio produz qualquer criança,
será um filho espiritual inteiramente,
em que o espanto supera a tua razão.

FEROMONIA IV

E se antes mencionei devassidão
é que esse amor, metade nostalgia,
metade sincretismo e nevralgia,
sempre requer por mais renovação.

Não há cansaço após satisfação,
mas tão somente gera-se poesia,
nas linhas apressadas que se cria,
escutadas ao bater do coração.

Porque há um coito do corpo e outro da mente;
um se restringe apenas no carnal
e mesmo repetido, em triunfal

cadência, não se compara, realmente,
a esse coito que envolve o canto e a alma
e mansamente a mente nos embalma...

A FILHA DE APOLLO XIII

Tu te afastaste e sinto qual se o peito
tivesses me arrancado.  Os eixos de uma roda
são minha cabeça, pernas, braços, um perfeito
círculo vazio, em que circula toda

a linfa que me resta, preenchendo,
em esguichos ambarinos esse espaço,
porque meu sangue, por ti removendo,
já se esvaiu e nem me resta um traço

do amor que tive outrora.  Sou apenas
esses membros de palha, ligados por arame.
em pentágonos inscritos. O ventre me palpita

e não tenho pulmões.  O coração se agita
aos pés de ti e assim, de longe, me condenas
ao sibilar do vento que a alma me reclame.

INQUÉRITO I

Acaso existe vida após se ejacular?
Não a vida dos outros... Digo, a nossa.
Para uns é semimorte; e descansar
é necessário, antes que a gente possa

abrir de novo os olhos, quanto mais
erguer-se e retomar a atividade...
Em mim é diferente, sem me cansar jamais,
faz-me desperto, tranquilo e sem vaidade.

Fazer amor é meigo... ou violento.  Espero
encontrar alegria...  Nem sei o que é depressão
pós-coital, qual mencionam, sua voz cheia de pasmo.

Pois quando os olhos abro, suspiro e apenas quero,
depois desse desmanche, depois dessa explosão,
saber se existe vida após um tal orgasmo...

INQUÉRITO II – 16 MAI 15

Já muita vez ouvi que até na morte
surge um orgasmo em cintilação,
nesse enforcado que não tem perdão,
no acidentado a sofrer da vida o corte!...

Mãe Natureza nos dotou com a sorte
de procurar novel reprodução
até no instante da final respiração:
que magnífico mistério nesse porte!...

Entre os antigos bem mais necessário,
quando era escassa a pobre raça humana,
constantemente decepada em violência;

mas neste mundo urbano e ainda nefário,
de restrição feroz que nos irmana,
só se busca coibir nossa potência!...

INQUÉRITO III

Até me dizem que em malfadado parto,
com um último esforço se expelia
para o mundo a criança que nascia,
qual suspiro exalado num infarto!...

De tais histórias se acha o mundo farto,
não sou obstetra que tal parto assistia,
nem o carrasco que a alguém enforcaria
para fazer observação que após comparto.

Talvez se encontre, em manuais de medicina,
algum registro de tal confirmação:
não sei, não vi, não me encontrava lá!...

Mas essa vida ou a corda que assassina
não me respondem a inicial indagação
sobre se há outra vida, algures, acolá!...

INQUÉRITO IV

Muita vez ouvi falar em “pequena morte”,
que induz ao sono e mesmo a algum torpor
aqueles que praticaram o ato de amor
e nem tampouco partilhei da mesma sorte.

Findo o amor, conservei o mesmo porte,
deitado apenas por carinho e a dar calor,
enquanto via a passagem do estertor,
por esse corpo que contra o meu se entorte.

Mas só falo de mim – e nem devia!
Quem se interessa pelas minhas proezas?
Só imagino se uma alma que adormece

para fora de seu corpo sairia,
nesses instantes feitos de incertezas
em que um descanso, afinal, sobre ela desce...

DENERVAÇÃO I

Pela medula me escorrem fios de ouro
de mielina; trazem mais versos para ti.
São os meus nervos frágeis que esqueci
de resguardar em câmaras de couro.

E assim derretem, em paralítico desdouro,
meu corpo sem controle, no esgar que pressenti
representando apenas o ardor com que sofri
das fibras escorreitas, esgotando seu tesouro 

em direção a ti, pois querem te prender
em cefalorraquiano conquistar,
para que nunca mais fujas de mim...

São minhas meninges neste percorrer:
a Pia e a Dura-máter vêm assim,
para a própria Aracnoide desfiar...

DENERVAÇÃO II – 17 MAI 15

Vê bem: poesia é coisa perigosa,
uma teia pegajosa a te soprar,
cem pensamentos para te assombrar,
por mais que pura sendo, venenosa

a fiação simpática e sedosa,
o coração primeiro a conquistar,
depois a alma querendo dominar,
igual da aranha a presa saborosa...

Escuta bem: não tenho má intenção.
Se assim não fora, não te preveniria,
pois sei que versos te podem penetrar

e introduzir-se pelos olhos, em roldão,
até que a mente inteira gemeria
com as mesmas mágoas que busquei compartilhar!

DENERVAÇÃO III

Por que razão as deverias aceitar,
se as tuas mágoas já te ferem o bastante?
Por que tal gentileza delirante,
a se deixar assim contaminar...?

Talvez porque, as minhas a encontrar,
se combinassem, de forma penetrante
e até de antídoto servissem nesse instante
para tuas próprias mágoas aliviar...

Pois quanto te falei e até repito
que os versos não são meus, mas de quem lê?
Então as mágoas tampouco serão minhas...

E essas que percebes, num aflito
abraçar de cada verso que se vê,
serão somente aquelas que já tinhas...

DENERVAÇÃO IV

De minhas meninges deixei de ressaltar
a Pia-máter, ou seja, “a mãe piedosa”,
que protege, feito pétalas de rosa
esse meu cérebro rotundo de agitar...

Muito mais na Aracnoide fui falar.
na Dura-máter, não menos dadivosa,
criando a símile bem mais poderosa
do aracnídeo que te busca devorar...

Por despertar em ti o malquerer
dos pensamentos, em desusado pulo,
sob o disfarce heptacromo da poesia,

até que nasçam, como flores de alegria,
porque, de fato, teu tempo apenas quer,
e essas tuas mágoas proteger no seu casulo...

AMOR DE CÂMARA XIV

Sempre que estou contigo, dentro em mim
ressoa o acorde de estranha melodia.
Por vezes, nem recorda uma harmonia...
Por vezes sei, quando a escuto assim...

É como se teu rosto, se teus olhos
criassem pentagramas em meu ser.
Ao te beijar, escuto a reviver
sabor de onda a esbater escolhos...

E retorno tal música a escutar
e nela encontro singular abrigo,
porque sinto de ti tremenda fome...

Ela me leva ao passado e a pensar
só no prazer de, quando estou contigo,
fazer amor ao som desse Albinoni...

PERSISTÊNCIA I
(ao Pastor Iblecy Skilhan Martins)

Estranha coisa é nossa vida humana:
quando parece menos merecermos,
encontramos o mal.  E, se nos dermos
à rebeldia ante a mente soberana,

seremos entre os infiéis contados,
pois cedemos à revolta, sem pensar,
para a vontade divina recusar,
sempre que formos por ela maltratados.

Mas nela encontrarás bênção também,
no próprio ato em que te provará,
que vencer poderás quando te esforças!

Pois da promessa sabeis muito bem:
“Deus é fiel e não permitirá
sejais tentados além de vossas forças.” 

PERSISTÊNCIA II – 18 MAI 2015

Porque, de fato, somos ferramentas
a ser usadas pelo lavrador,
uvas podadas por viticultor,
de joio cheias nossas mentes lentas.

Imperfeitos esses ferros que lhe aventas,
quem dá direito ao escopro do escultor
ou ao pincel reclamar do seu pintor?
Mas com preces de rancor tu mesmo o tentas!

Porém Deus é onipotente e não escravo;
dos teus desejos não é nem nunca o foi;
bem ao contrário, deves tu servi-Lo,

no escavar da mina sempre bravo,
sem relutar se o braço assim te dói,
nem pretensão de poderes dirigi-Lo!

PERSISTÊNCIA III

A cada dia percebo menos ser poeta
e encaro a multidão com ceticismo
de tantos versos distribuídos em lavismo, (*)
mais ou menos consoante ideal de esteta.
(*) Generosidade.

Cada vez mais o duvidar se locupleta (*)
contra a autoestrutura, a vaidade em ostracismo.
Talvez devera, novamente, em cataclismo,
a outrem atribuir a obra completa!...
(*) Se satisfaz em excesso.

Só que não sei a qual outrem poderia,
lançar o peso de tal responsabilidade,
meus ombros largos suportam esse peso,

porque então a um outro culparia,
no sopro vasto da versatilidade
por tantas versos que eu mesmo já desprezo.

PERSISTÊNCIA IV

E sendo apenas ferramenta persistente,
diariamente vou ao eito da poesia,
sem a expectativa sequer do que viria,
na humildade poética obediente.

Eu sou o servo e o Senhor o onipotente,
enquanto o Espírito sobre mim descia;
a ninguém mais meu labor desgastaria,
senão meus dedos de operário ardente.

Quer na poesia ou em qualquer outro mister
eu me percebo apenas como atuado
e meu futuro não me assombra no final;

não sou melhor escriba que qualquer
e meu presente enfrento descuidado,
ante o fantasma de seu próprio mal.

INCUNÁBULO I (*)

Para ficar contigo, abdicar posso
da condição humana e até da vida
animo-vegetal, na qual guarida
presumo apenas, compartilhando nosso

espírito vivaz em movimento grosso.
Posso fazer-me objeto de tua lida
por tua presença talvez compadecida,
junto de ti, na meiguice de um molosso. (+)

Meu coração a bater descompassado,
submetido ao feitiço desconforme
do encantamento contido em alfarrábios.

E eu me vejo, assim, transmogrifado
em baccarat, em taça sediforme,
que mal alcança a comissura de teus lábios.  
(*) Por incunábulo me refiro a um livro antigo, em geral impresso ou manuscrito antes de 1500, mas também é um termo para fraldas de bebê e ainda se refere ao início remoto de qualquer objeto, ser ou evento.]  (+) Cão de caça de grande porte.

INCUNÁBULO II – 19 mai 2015

Bem certamente abriste o teu grimório (*)
e declamaste um arcano encantamento,
acorrentando meu inteiro sentimento
nesse estranho cintilar de um esponsório,
(*) Livro de bruxaria.

no rebrilhar furtivo do ostensório,
na eucaristia pagã do alheiamento,
na servidão que vejo em tal portento
da antiga Wicca guardada em populário.

Assim me dominaste e permaneço
perfeitamente consciente, em sortilégio,
gentil escravo sujeito a tuas sevícias;

nenhum anseio de liberdade ora conheço,
na aceitação do submisso sacrilégio,
pela eventual concessão de tuas carícias...

INCUNÁBULO III

Mas não esqueças que, no fundo, sou molosso
e não sujeito por qualquer elo hipnótico,
mas voluntário a teu poder despótico
ou à tua voz, erguida em alvoroço...

E se aceito tal coleira no pescoço,
sei muito bem cuidar-me desse fótico
feitiço antigo, de pendor mitótico:
não me divido, dominado por retoço.

Mas baixo a crista somente por amor;
por longos anos me submeterei,
até que sinta a chegada do limite,

quando então revelarei o meu ardor
e contra ti me então revoltarei,
por mais que sortilégio ainda me incite.

INCUNÁBULO IV

Mas enquanto esse amor em mim perdura,
como Merlin, sujeito-me à caverna,
enquanto a ânsia de Nimue for eterna,
conquanto seja falsa a minha loucura.

Pois me acorrentas com laços de ternura,
porém tua alma de um lado a outro aderna;
eu me contento a beber de tua cisterna,
em tuas facetas de maior doçura...

Nem foi o sortilégio do incunábulo
que assim me encarcerou em teu estábulo,
porém encanto muito mais antigo;

e embora leias os teus palimpsextos,
mantenho apenas da submissão os gestos,
enquanto amor conservar ainda consigo.


William Lagos
Tradutor e Poeta
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com


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