CARRUAGENS DE CRISTAL & PLUS
WILLIAM LAGOS, 27 AGO/5 SET 15
CARRUAGENS DE
CRISTAL I – 27 AGO 15
Espero apenas
que esse amor antigo
que tanto me
inspirou e me atingiu,
que tantas
vezes junto a mim dormiu
não se
converta tão só em meu castigo.
Que outra vez
se torne em meu abrigo
esse amor que
a viver me conduziu,
que alma e
sexo atendeu e que nutriu,
mas que nem
sempre mostrou-se meu amigo;
que retorne
com a força da impressão
que me causou
um dia ao coração
e que me
ampare quando eu precisar,
que não seja
a bengala a se quebrar
nesse
instante de minha solidão,
mas se
mantenha risonho a me aguardar.
CARRUAGENS DE
CRISTAL II
Tem pés
pequenos, mas não de Cinderella,
que
antigamente era a Gata Borralheira...
Embora seja
gentil e companheira
e sua figura permaneça
bela,
não tem
sapatos de cristal igual que estrela,
sempre de
couro ou de algodão em sua ladeira,
tampouco um
príncipe encontrou em sua esteira,
mas deixam
brilho no assoalho os passos dela.
É sua
carruagem de arco-íris e cometas,
entremeada de
ametista e turmalina,
quando
percorre do céu constelações,
conservando
suas veredas bem secretas,
até que a
veja retornar, luz pequenina,
nessa
carruagem rosicler de minhas paixões.
CARRUAGENS DE
CRISTAL III
E ainda
espero que após tantos caminhos
da galáxia no
distante terciopelo,
queira
trazer-me de volta seu desvelo,
no apeluciado
modesto dos carinhos.
Somente
espero que tiaras de azevinhos
traga
entremeadas nos cachos dos cabelos
e finalmente
atendendo a meus apelos,
dê-me seus
frutos vermelhos pequeninhos
e que me
aceite ao menos como o auriga
de sua
carruagem rebrilhante em furtacor
e que levá-la
aonde quiser consiga,
sem mais
querer-lhe meu desejo impor,
mas que
restaure plenamente a liga,
no corrupio
caleidoscópico do amor!...
QUINETOSCÓPIO I – 28 AGO 15
eu nunca disse que o poema fosse
meu;
pertence a quem inspiração me deu:
pertence àquelas,
centenas delas,
mil damas belas,
belas donzelas
que num relance amei sem que o
soubessem.
eu nunca disse que o poema fosse
meu,
mas afirmei cem vezes que era teu,
que tua visão
lhe dê razão,
interpretação
sem convulsão,
por tudo aquilo que ao ler
acreditares.
pois uma página jamais é de quem a
fez,
como o alimento pertence a quem o
come.
serve-te então
de tua porção
na firme ação
da própria mão,
que o levará à tua boca para assim
o devorares sem pensar duas vezes.
QUINETOSCÓPIO II
contudo existe certamente relação
entre o que escreve e aquela que
interpreta:
liga secreta,
quimera afeta,
amor excreta,
vida concreta,
sem que jamais se houvessem
encontrado.
pois no momento em que lês o que
escrevi
e lhe atribuis tua própria vida e
alma
talvez na calma,
frescor de palma,
canto vem dalma,
verso que embalma,
sobre minha testa derramando pura
unção.
e nesse instante vago me coroas
com teu suspiro e sensação gentil
e os sonhos vis,
mas varonis,
que tanto quis,
porém não fiz,
mesmo aqueles de maior impudicícia
purificados são por tua carícia.
QUINETOSCÓPIO III
inicialmente se fingia o movimento
nos artifícios do quinetoscópio,
falho poema,
veio o cinema,
na nova arena
diversa a pena
que o reduziu a peça de museu.
do mesmo modo, os versos que te
escrevo
são apenas arcabouço passageiro:
colocas cor,
pões luz e dor,
o som de ardor
do teu frescor
quando imaginas o que de fato são.
e mesmo que jamais te encontre, ó
bela,
por estes versos te amei e sou
amado,
vasta incerteza,
nessa surpresa,
surge a nobreza
que não despreza
as derradeiras palavras de ilusão
cujas raízes tens no coração.
OLHO DA
TEMPESTADE I – 29 AGO 15
A vida humana
é um vasto turbilhão
Ao qual
jamais podemos nos furtar;
O tempo
escorre contra o agasalhar,
Bate
depressa, mais que o coração!
Pois flui o
tempo vazio, sem emoção,
Indiferente
ao humano desejar;
Nenhum minuto
podemos conservar,
Por mais
desesperada esteja a mão!
Alheio a toda
a humana decisão,
Apenas corre
em sua veloz paciência:
Passa
somente, sem segunda instância;
Mas com a
idade traz feroz constatação:
Jovens e
moças de tua adolescência
Se
transformaram nos velhos de tua infância!
OLHO DA
TEMPESTADE II
Frequentemente
já foi observado
Que existe
calma após vasto furor;
O ciclone em
gume duplo e constritor
Certo
descanso te concede, debochado,
Pois quando pensas seu ódio ter passado,
Com
zombeteiro sorriso de estridor
Retorno o
vento a causar-te mais palor
E desta vez
serás por ele devastado!
Assim o tempo
traz no centro calmo olho:
Durante anos,
pouco ou mal notas a idade;
Ele te cobre
cada vista com antolho,
Para depois
te assolar com impiedade
E te lançar
da senectude ao escolho,
Quando
esperavas alcançar longevidade...
OLHO DA
TEMPESTADE III
Carpe diem! Já diziam os Romanos:
Aproveita
esse dia que te deram
Os deuses,
sem que amor de fato queiram
Demonstrar a
quaisquer seres humanos.
E não te
deixes levar por teus afanos:
Somente
enfrenta os males que se abeiram,
Sem
pensamento naqueles que se geram
Nesse futuro
coberto em véu de enganos.
Pois como
sabes qual a cor de teu porvir?
Ou qual o tom
de cada dia avante
Ou quantos
sejam a surgir-te no horizonte?
Aprende então
a cada dia sorrir
E a enfrentar
cada problema com descante
Pois só teu
coração do bem é a fonte!
LUZ SECRETA I
– 30 AGO 15
VI UMA RÉSTIA
DE LUZ SOLTA NO CHÃO
E A FUI
PEGAR, ACHANDO PRECISASSE
OU TALVEZ SEU
AMARELO ME ENCANTASSE,
EM AMOR
ETERNO APENAS DE OCASIÃO.
ERGUI A
RÉSTIA DE LUZ EM CONTRIÇÃO,
TEMENDO QUE
MEU DEDO REQUEIMASSE,
MAS VI SER
MORNA E ENVOLVENTE ME ABRAÇASSE
E SE
ENROSCASSE A MEU REDOR COM DEVOÇÃO.
NA VERDADE,
EU PRETENDIA COLOCÁ-LA
EU UMA
PRATELEIRA; OU SE A DOBRASSE,
GUARDÁ-LA COM
CUIDADO NA GAVETA;
MAS
INSINUOU-SE EM MIM E FUI AMÁ-LA,
TAL QUAL SE
TAL CALOR COMPARTILHASSE,
NA CADÊNCIA
SUTIL DA LUZ SECRETA.
LUZ SECRETA
II
CONFIDENCIOU-ME
NÁO SER A LUZ DO SOL
E NEM SEQUER
DE LÂMPADA COMPRADA,
INCANDESCENTE,
DE ALMOTOLIA GERADA (*)
OU
FLUORESCENTE RETORCIDA QUAL ANZOL.
(*) LÂMPADA
DE AZEITE.
NÃO ERA LUZ
DE FOGO E NEM FAROL
QUE POR MEUS
DEDOS, EM FAIXA COMPILADA,
SE FEZ
COLHER, EM TAL MANHÃ GELADA,
PORÉM DIVERSA
A MEIGA LUZ DE ESCOL.
POIS
REALMENTE DE UM CORAÇÃO BROTARA
E FORA ALI
DEIXADA EM RAMALHETE,
NA ESPERANÇA
DE ENCONTRAR ALGUM POETA
QUE GENTIL
FOSSE O BASTANTE E A RECLAMARA
PASSANDO OS
DEDOS NESSA FAIXA QUE PROJETE
DA DELGADA
SOLIDÃO A ÂNSIA SECRETA.
LUZ SECRETA
Iii
A CONVIDAR,
COM SEU PÁLIDO FULGOR,
QUANTOS
PASSARAM ALI, A PISOTEÁ-LA,
ALGUNS
CHUTANDO DA CALÇADA PARA A VALA
ENQUANTO
OUTROS A SACUDIAM COM RANCOR.
BEM QUE
TENTARA FULGIR COM MAIS ARDOR,
MAS POR
REFLEXO DE CARRO OU DE UMA SALA
AS PESSOAS A
TOMARAM, A AFASTÁ-LA,
TAL QUAL SE
POEIRA FOSSE OU ATÉ BOLOR.
E REUNINDO
TODA A FORÇA, ELA CANTOU,
COM UMA VOZ
QUE SÓ EU PUDE ESCUTAR
E
TRANSMITIU-ME A LUZ DE SUA SAUDADE
E FUGINDO-ME
DOS DEDOS, PENETROU
PELOS MEUS
OLHOS, EM SIMPLES CINTILAR,
SÓ EM
MINHALMA A ACHAR FELICIDADE.
VERSOS SEM DONO I – 31 AGO 15
Vou colocar meus ossos em um saco
e minha caveira usar como chapéu;
algumas vértebras no bolso do casaco
e mais artelhos, para lançar ao léu.
Em dias passados, senti-me muito fraco,
meu coração perfurado por arpéu,
ao invés de bater, um triste caco,
ele apanhava sempre, como um réu!...
São pesados os meus ossos nessa senda,
o coração trago às costas, qual mochila;
num arame uso os olhos como venda;
o sangue e a linfa como vestimenta,
tingida a carne, sem sequer senti-la,
enquanto a vida sigo em marcha lenta...
VERSOS SEM DONO II
O que fazer, virado hoje pelo avesso,
após artelhos lançar pelas calçadas,
minhas falanges percorrendo breves
nadas,
pois quanto mais descarto, mais eu
cresço.
Assim me espalho como um gás e nada
peço,
senão vagar ao redor de encruzilhadas,
sem encontrar as multidões fanadas,
branca minha carne, transformada em
gesso.
Não acreditas neste estranho sortilégio?
Mas como posso meus ossos descartar
ou linfa usar para minhas vestes
colorir?
Pois contra o corpo faço leve
sacrilégio,
esse templo divino a profanar
na vasta pena de meu triste perquirir.
VERSOS SEM DONO III
Mas eu te digo que até já me assististe,
caso meus versos já leste alguma vez:
não são espessos qual amargo pez,
mas destilados em fino canto triste.
Neles meus ossos usei qual lança em
riste
e o galhardete incolor que neles vês
é o que sobrou de meu sangue, quando lês
esses poemas nos quais alma persiste.
Já não se expressa qual ama e senhora,
mas feito vértebras espalhadas como
cacos;
tenho minhas rótulas consumidas de
poesia,
pois dono não têm mais. Mandei embora
mais de mil partes de mim, rasgões e
nacos
por alimento para alguém que então
recolhia...
VERSOS SEM DONO IV
A grande parte do espírito esvaziei;
já não guardo para mim sequer tristezas;
já revelei meus segredos e proezas
e os pensamento mais secretos dei;
por todo o mundo o sêmen meu lancei,
na busca vã de ventres de belezas;
foi pelas nuvens tragado em fortalezas
e como chuva para o solo retornei.
Mas que fazer com tais ossos moídos,
já despidos de carne e de medula,
nessa partilha das forças derradeiras?
Pois lanço agora o final dos estampidos,
igual receitas de uma bula nula,
a enfrentar as gargalhadas sobranceiras!
BISTURI I – 30 ABR 07
é só me predispor, que à tona
sobeM.
nessa cascata, que jorra aos
borbotõeS,
contrária à gravidade dos sertõeS,
que conformam minha lida e que
recobreM
com plenitude a Terra e assim
descobreM
os lençóis enxovalhados de ilusõeS
e apresentam os esgarços e os
rasgõeS
que se formam na mente e mal se
podeM
estender, sem que maus ventos
esfarrapeM
essas mortalhas de vida engazopadA
na malícia dos versos, nessa
fontE,
que nem sequer pretende ser
a pontE
entre minha vida e a
tua destiladA,
mas que deixo que das veias se me
escapeM.
BISTURI II – 1º SET 15
diariamente, eu provoco a hemorragiA
exsanguinante das linhas a brotaR
meu sangue não tem cor nesse
jorraR
apenas flui, em cascata serodiA
(*)
(*) Atrasada,
fora de tempo.
escorre pela esfera, a marchetaR
quinze sentenças que a caneta criA
algum cartão empoeirado acumpliciA
livre de culpa, qualquer coisa a
aceitaR
às vezes, digo que a mim mesmo
esgoteI
e meço os dedos, pensando estar
menoreS
mas que medidos têm o mesmo
comprimentO
somente as unhas que curtas apareI
não dilaceram estes sonhos
sedutoreS
na vida escassa que tem qualquer
momentO.
BISTURI III
porque esses versos brotam
fragilmentE,
são alvo fácil para o corte do
esporãO
mas se defendem, assim que fora estãO:
contra as cutículas se defletem
ferozmentE
e como quem a manicures vai
frequentE
meus dedos limpos de qualquer
sujeira sãO
não estão “de luto”, nem quando
esfrego o chãO
buscando amores perdidos pela
gentE.
quando os encontro, pego um
escalpelO
e então recorto tais amores da
calçadA
e os vou guardando dentro da
mochilA
na qual coalescem todos, sonho
belO,
alimentando minha poesia
desvairadA
enquanto escorrem no papel em
longa filA.
BISTURI IV
então eu deixo num aquário os
alevinS
misturados às larvas e aos
girinoS,
observando indiferente os
desatinoS,
mesclados todos aos que lhes são
afinS.
antigamente, na China, os
mandarinS
faziam concursos e confiavam seus destinoS
a poemas caprichosos nos seus
tinoS
tendo sucesso alguns, outros maus
finS.
contudo eu sorvo essa fantástica misturA
que retirei do mundo, em corte
aladO
e a recomponho em minha própria
investidurA,
novas palavras num luzir mais
afiadO
de volta ao mundo, desafiando sua
posturA
quando as despeço num beijo
atribuladO.
DANOS I – 02 SET 2015
Quando
livros de poesia eu adquiro
de sebos ou em briques desterrados,
dedicatórias epitáfios desolados,
de seu destino para o
final giro,
de certo modo meu
coração eu firo,
ao reler esses sonhos apagados,
seu pudor e expectativa destroçados,
inspiração em seu
final suspiro...
Algumas vezes,
custaram, certamente
de um pretendente toda a economia,
na esperança de um
futuro que luzia,
porém que se apagou
inteiramente
ou, quem sabe, financiados por quem cria:
um amante, um amigo,
algum parente...
DANOS II
É bem
verdade que, em sua maioria,
não valeram a despesa da impressão,
porém são de suas veias coração:
quem
escreveu, qualquer sucesso esperaria...
E no
entretanto, o lançamento atrairia
tão só de amigos e parentes a atenção;
pouca gente da descrente geração
se interessa
hodiernamente por poesia...
Na verdade, até o
ponto que percebo,
só se interessa, realmente, quem escreve
e aceita
os de outrem com certa nostalgia...
E algum
desdém nos elogios bebo
e quem os censurar hoje se atreve,
nesse
ressaibo de sua própria desvalia?
DANOS III
E vou
juntando, na minha biblioteca
esses retalhos de orgulho e de emoção,
pois pena sinto de cada coração
ferido
assim, qual descartada beca;
tímida
glória de um dia que resseca,
a formatura não mais que introdução
para um mercado de feroz competição,
e assim
palavras a girar de seca em meca.
Submetidos,
enfim, à reciclagem,
quando não sofre destino ainda pior
a vasta
pilha de cópias bolorentas
ou no
aterro sanitário em traquinagem,
no triste mundo da espera, sem ter cor,
nesse vão
crepuscular que nem atentas!
DANOS IV
Por que, então,
publicar eu deveria,
melhor que fosse a qualidade de meus versos?
Em bibliotecas um punhado a ser dispersos,
capas
cerradas que ninguém mais abriria...
Antigamente,
valor davam à poesia,
com todo o zelo por ideais conversos;
mas os parâmetros de hoje são inversos,
nos
videoguêimes repetidos de agonia...
Só
imagino se Bilac ou se Corrêa
encontrariam hoje em dia um editor
que os
publicasse sem nada lhes cobrar!
Pois
mesmo de concurso a vasta veia
ideais políticos impõe para premiar
sem à
arte pela arte dar valor!...
PREDADORES
I – 30 abr 2007
Quando
disseres: "paz e segurança",
cuida o
perigo que aparece então.
Nunca dês
paz ao manso coração,
que
desfrutar possa então, em sua pujança,
o
inesperado, que assalta sem tardança,
quando
menos se aguarda uma invasão.
É adverso
esse mundo, sem razão,
e
indiferente a teu mal ou tua bonança.
Prepara-te,
portanto, e sai de lado:
transforma
em bem os golpes do mortal
destino...
Sempre pronto a machucar.
Eu não
me iludo em dia sossegado:
são apenas
morcegos de cristal,
que me
contemplam, antes de atacar!...
PREDADORES
II – 03 SET 15
Eu os
enxergo, perigos transparentes,
dentes
agudos de afiado vampirismo
e nem me
iludo sequer por narcisismo:
vaidade e
orgulho espelhos translucentes...
Como afirmou
Danton, são permanentes
tão só
aqueles que vivem em quietismo
e nunca
buscam destacar seu preciosismo,
ignorados
pela inveja de outras gentes.
Existem,
sim, estranhos predadores:
um que te
rouba teus dias, a pretexto
de
amizade ou de honrarias te legar;
outros
que são claramente malfeitores,
canibais
de teu sonho e cada gesto:
gulosa a
ânsia de tua vida mastigar!
PREDADORES
III
Quem se
julga ao abrigo da cobiça
pode ser
alvo, contudo, de acidente
e não se
pense que seja indiferente
o
malefício que contra ti se eriça!
Os
acidentes são causados por cediça, (*)
maligna
influência, realmente;
sempre a
doença um predador potente,
que teus
pulmões reveste de caliça!
(*) Estagnada, corrompida.
E se não
crês em outros malefícios,
lembra
que és pasto de vírus incontáveis
ou
bactérias que te assaltam como gado!
Fungos
tua pele a tornar terras aráveis,
ampla
coorte de externos precipícios,
que hoje
te cercam e por quem és devorado!
PREDADORES
IV
Assim,
encara o mundo com firmeza,
pois não
sabes de que lado chegará
o golpe
inesperado e causará
mil danos
fortes contra a tua defesa!
A vida é
assim: teu corpo é fortaleza;
só teu
sistema imunológico dirá
se o
assediante não te derrotará,
vindo do
ar ou do que tens à mesa!
Mas os
piores inimigos não se veem:
conselhos
dados por falsos amigos,
os
comerciais de teu televisor
e outros
seres invisíveis, que contém
o vasto
mundo; e para tais perigos,
mantém
tua mente alerta e com valor!
A DAMA
DOS ELÉTRONS – 30 abr 2007
[para
Marilene Zimmer]
Conheço e
não conheço. Sei que é bela,
pelo que
me escreveu. Não vi seu rosto.
Já lhe
fiz um soneto, mal sei onde foi posto.
Bem sei
quanto é formosa, porque dela
Palavras
de coragem escutei: que a vela
da luta
pela vida ergue a seu gosto.
Por mais
tenha sofrido, em seu desgosto,
sua face
assoma, à luz desta janela
que tenho
no escritório. Nesta tela,
eu leio
seu ardor e vejo a simpatia:
mulher
desconhecida que já conheço tanto.
Por tudo
que escreveu, que me revela,
seus
dotes multifários e seu pranto
por
um filho que não teve e que queria...
LIBERTAÇÃO
I [Colossenses 2: 6-15)
[para
Iblecy Skilhan Martins]
Se
recebestes já Cristo Jesus,
andai
Nele, confirmados nessa fé.
crescendo
em ações de graças, sempre em pé,
na
certeza da vitória de sua cruz.
Não vos deixeis
enrolar em sutilezas
de
tradições e vãs filosofias.
As teias,
rompeu todas o Messias,
que
trocou as leis humanas por certezas.
Deste
modo, o documento desta dívida:
espólio
do pecado original,
que dizem
ao nascer teres herdado,
foi
rasgado na cruz da morte vívida;
e às
potestades do mundo pôs final,
no
próprio instante em que foi Crucificado.
LIBERTAÇÃO
II [Colossenses 2: 6-15)
[para
Iblecy Skilhan Martins]
A quem
vos diz que herdastes transgressões,
lembrai
que, no batismo, sepultados
fostes
com Cristo; e então, ressuscitados,
despidas
para sempre as criações
da mente
humana, em suas ilusões,
de
ordenanças tão só prejudiciais,
de
mandamentos tão só tradicionais,
da
exigência de tais circuncisões.
Na morte
viva, demonstrou desprezo
por todo
o labirinto construído
nas leis
humanas de tantos principados.
E um
mundo novo foi, desde então, aceso.
E
o mundo velho inteiro redimido,
nesta
cruz: em que pregou os teus pecados.
O JOVEM
RICO [Mateus 19: 24-30]
[para
Iblecy Skilhan Martins]
Um jovem
de Jesus aproximou-se um dia
e lhe
indagou sincero: "Oh Mestre, que farei,
para
herdar dos céus o reino?" E respondeu-lhe o Rei:
"Sempre
os preceitos que a lei de ti exigia
Cumpriste?"
E o jovem respondeu, sem fantasia:
"Sigo
os Dez Mandamentos, os que Moisés à grei
transmitiu;
e mais ainda, os ditames dessa lei
que nos
dão os fariseus. Cumpro, à porfia."
Respondeu-lhe
o Senhor: "Se queres ser perfeito,
vende
tudo o que é teu e aos pobres distribui.
E,
depois, segue-me, que um tesouro tens
recolhido
nos céus, ao qual terás direito..."
E o outro
entristeceu-se. E a intenção lhe flui,
que o
jovem era rico... E herdara muitos bens.
EMBARALHAR
I – 1º mai 07
Quando em
desejo os teus olhos eram guizos,
me
refluía a luz do seu piscar:
caleidoscópio
indolente o teu olhar,
em seus
lampejos tão claros quanto esquivos...
Quando vi
nos teus olhos os granizos,
que já
sabia iriam estraçalhar
as
vidraças de meu rosto e recortar
meus
sonhos, com seus golpes decisivos,
já sabia
que tais guizos, em pandeiros
estavam
presos... Não mais que percussão,
que nem
sequer se prenderia ao meu trenó...
E
descobri que teus guizos mais brejeiros
lançaste
a um outro, sem hesitação,
seguindo
em frente... E me deixando só.
EMBARALHAR II – 04 SET 15
Quando em desejos teus lábios eram sinos,
meus pensamentos senti embaralhar,
a saliva nas comissuras a brilhar:
fiel auriga para os meus destinos... (*)
(*) Condutor, guia.
Quando ouvi os teus sussurros sibilinos,
leves convites somente a me insinuar,
nesse dédalo busquei sobrenadar:
vasta eclosão de sonhos pequeninos...
Mas desconfiava que tais sinos só dobrassem
dos meus amores para o funeral;
não obstante, ansiei que desejassem
mais que confete e ouropéis de carnaval
e que meus próprios lábios osculassem,
em franco ardor alheio ao bem e ao mal.
EMBARALHAR III
Quando em desejo teus cabelos oscilavam,
ventos eólicos de ardente palpitar,
doces serpentes sem ter o frio olhar
dessa Medusa antiga que narravam...
Não esperava sentir que me picavam
senão no coração e em meu sonhar;
eram cabelos de vivo navegar
que sobre juntas de meus dedos se espalhavam.
Não foste para mim Medusa ou Esteno,
porem Euríale, a górgona traiçoeira, (*)
sem cobras nos cabelos, mas veneno
(*) Das três górgonas, Euríale mantinha beleza
extrema.
nessa pureza da face mais fagueira,
sem suspeita de traição ou fé brejeira
e nesse engano somente a mim condeno.
EMBARALHAR
IV
Quando em
desejo teus seios palpitavam,
rentes,
trançados no meu coração,
suas
lianas penetrando em meu pulmão,
firmes
gavinhas que meu peito dominavam...
Quando
teus seios só em mim tocavam,
esquecidos
de qualquer velha emoção,
promessa
apenas, sem me dar visão,
que os
tecidos que os cobriam disfarçavam...
Tornei-me
escravo em tal labirintino
embaralhar
de todos os meus sentidos,
sempre em
tuas mãos as cartas a vibrar.
Amei os
guizos, amei o som do sino
e os
ofídicos venenos pressentidos,
sem que
pudesse jamais nada olvidar...
O L O R I – 1990
Eis-me aqui, pois ainda de teus beijos,
recendendo a saliva, em doce afeto,
envolto em teu perfume, tão completo,
quanto é total a entrega em teus desejos...
Eis-me aqui, pois ainda de teus braços,
acarinhado por cabelos cintilantes,
esparsas gotas d’ouro e triunfantes,
a rebrilhar em mim seus meigos traços,
numa cascata etérea e fugidia,
que recobriu-me, em plena luz do dia,
em teu candor de lua e ardor de lume...
Fulgor real e ruivo de quimera,
que a carne exsuda e a carne minha altera,
permanecendo em mim, no teu perfume...
O L O R II – 05 SET 15
Eis-te ali, ao alcance de meus braços,
mas distante do fragor sentimental,
amortecido o velho instante divinal
em que mesclaste aos meus teus lindos traços.
Eis-te ali, sem fulgor nos olhos baços,
quando me olhas sem desejo consensual;
e quando busco tais memórias, afinal,
vejo de musgo cobertos os velhos laços.
Como era belo esse olor que me prendia
num coquetel de bolhas e sabores:
que gigantesca a saudade que hoje sinto!
Cada carícia já descrita em minha poesia,
em mil palavras a lembrar meus estertores,
que recordar mansamente ainda consinto...
O L O R III
Há quantos anos escrevi o primeiro
soneto desta lavra de tesouro!...
Nem sei se a data, para meu desdouro,
eu coloquei correta em meu abeiro
destas palavras de espanto derradeiro,
meu coração empedrado neste couro,
as emoções rebrotando num estouro,
irrompendo em clamor alvissareiro!
Há quantos anos parei de adormecer
entre teus braços, concluído o amor,
cada detalhe pretensamente esmaecido!
Mas no meu peito os posso ainda conhecer,
ao rever este poema percutido,
o meu olfato a recordar teu doce odor!
O L O R IV
Eis-nos então, dois fantasmas ambulantes
nesse passado que não quer morrer,
em mim, ao menos, sem querer ceder,
nessa vitória dos momentos rebrilhantes,
mais do que isso, perfeitos tais instantes,
quando em tua carne ia a minha se esquecer,
quando em tua alma via a minha desfazer
constelações de orgasmos cintilantes!...
Pois reconheço não mais ser o que te amou
e que não mais permaneces minha amada,
amor e sedução tão transitórios!...
Mas meu fantasma ao teu ainda abraçou,
sentindo o faro em qualquer noite estrelada
dos velhos sonhos de perfumes peremptórios!...
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