ESOPIANA E MAIS – 17-25 AGO 15
Novas séries de William Lagos
ESOPIANA
I – 17 AGO 2015
Aesopos,
nosso Esopo, em português,
é o autor
de apólogos sem conta,
alguns
famosos, outros tendo menor monta;
aqui
decido referir-me a três...
Sobre o
Lobo e o Cordeiro, sempre lês,
que em
variadas opiniões o povo aponta
e contra
nossos políticos reponta,
por mais
diversa de sua bandeira a tês!...
Outro que
todos referem é o da formiga
trabalhadora
e com rancor da farra
estridente
da colega que cantava;
todos a
ouviram e são cativos dessa intriga,
em que
alimento negou à tal cigarra,
morta de
fome enquanto ainda dançava!
ESOPIANA
II
Claro que
apólogos são só moralidades,
na
natureza sem achar correspondência,
mas
noutros casos em real tendência,
assim
descrita pelo autor como verdades!
Um enxame
de abelhas exerce atividades
bastante
úteis, embora essa potência
não seja
a real intenção de sua cadência:
néctar
buscam para o mel de suas cidades
e se com
isso muitas flores polinizam,
do mesmo
modo que as árvores frutíferas,
esse é um
efeito tão só colateral,
que a
cera é para os favos que cultivam
e não se
pode afirmar que tais melíferas
mel nos
fabriquem por bondade natural!...
ESOPIANA
III
Assim um
homem que possuía uma parreira
achava,
às vezes, uma feroz competição:
sugar
suas uvas tais abelhas vão
e sua
picada é dolorosa e bem certeira!
Pois
conta Esopo que sob sua videira
esse
homem instalou, por proteção
algumas
jarras em que mel e água estão
como
recurso contra a praga zumbideira...
E
atraídas pelo odor do próprio mel,
as
abelhas se enfiaram nas vasilhas,
sem
conseguir sair, em quantidade!...
E assim o
homem das uvas seu farnel
encheu
depressa, com alguidar e bilhas,
sem se
importar com tão grande mortandade!
ESOPIANA
IV
E havia
um lobo a encurralar um cabritinho,
correndo
empós, para o bichinho devorar;
mas
quando estava já prestes a alcançar,
parou a
certa distância o animalzinho!...
“Por
favor, Senhor Lobo,” – suplicou, baixinho
“Notei
que é mais veloz e vai logo me pegar,
mas eu
queria que deixasse-me dançar
antes que
eu morra – eu vou ficar pertinho!”
“Mas
toque para mim em sua linda lira,
que
melhor ritmo com melodia irei mostrar!”
E o lobo
concordou, em sua vaidade...
Destarte,
contra ele a sorte vira:
os cães
ouviram e vieram-no atacar,
para o
matarem com grã voracidade!...
ESOPIANA
V
Mas
enquanto a matilha o perseguia
e já sua
hora derradeira avista,
pensou o
lobo: Por que quis ser musicista?
Fosse açougueiro, bem melhor eu comeria!
Ou se o cabrito matasse, assim que o
via,
não estariam estes malvados na minha
pista!
Na correria em que, por mais que
insista,
sei que no fim minha pobre vida
perderia!
E de
fato, no mesmo dia, pereceu,
sem lhe
sobrarem os ossos nem o pelo;
mais do
que o lobo, o cão é bem feroz!
Fez
grande troça o cabritinho, mas perdeu,
pois veio
a cozinheira e no seu zelo
fez dele
assado, também destino atroz!...
ESOPIANA
VI
Esopo,
para mim, foi velho austero,
querendo
aos moços ensinar a trabalhar,
sem dança
ou música, só o néctar a buscar,
artes
zurzia com seu ânimo severo!
E esta
poesia que diariamente gero,
mui
certamente ele iria condenar!...
Eu
deveria ir meu pátio capinar,
me
afirmaria, com um tom de voz sincero!
Mas a
cigarra, ao morrer, já pôs seus ovos
e as mãos
do lobo não permitem tocar lira;
cumprem
abelhas tão somente a sua função...
E quanto
a mim, estes versos sempre novos
quero
espalhar enquanto o mundo gira,
sem
pretender qualquer apólogo ou lição!...
BERENICE E A ARANHA I – 18 AGO 15
Foi minha irmã cuidar de meu sobrinho,
Na casa antiga que então este alugava
E enquanto em tal morada se encontrava
Foi lavar a sua roupa com carinho...
Foi então que viu a teia, espalhada num cantinho
Dessa peça em que a máquina se achava...
E se aranha fosse uma dessas que picava,
Durante a noite, quem dormia bem quietinho?
Aproximou-se do aracnídeo, devagar,
E desferiu-lhe tremenda vassourada!
A teia desmanchou-se e ela sumiu,
Mas seu cadáver não conseguiu achar...
Acreditava acertar bem acertada
A pobre aranha, no instante em que a atingiu!
BERENICE E A ARANHA II
Sentiu um certo remorso pela aranha:
Moscas devora e também outros insetos,
Mas que fazer?
Instintos bem concretos
Nos levam a temer a sua artimanha
E a matar qualquer visita estranha
Que nos invada os ambientes mais diletos;
Não se compartilha de bom grado os tetos,
Perante o medo ancestral a mente acanha...
Não cabe Ahimsa no pensar ocidental, (*)
Mas era a aranha criatura prodigiosa:
Em poucos dias restaurada fora a teia!
(*) Preservação de qualquer vida, matar nunca.
Berenice se achegou, é natural:
Faltavam patas nessa aranha vigorosa,
Mas de seda o canto inteiro se permeia!...
BERENICE E A ARANHA III
Chegou à tona o instinto maternal
De minha irmã, que de culpa foi ferida:
Mil emoções a tomaram de vencida,
Superara a adversidade o animal!...
Ela venceu a repugnância natural,
Chegou bem perto de sua vítima sofrida
E lhe falou, com voz bem comovida:
“Aranha, eu juro nunca mais te fazer mal!”
“Se prometeres não tomar qualquer vingança
Contra meu filho, durante a madrugada...
Em represália até talvez tenhas direito,
Mas me recordas do luto e da esperança;
Remorsos sinto por te deixar aleijada,
Fininha a culpa, mas a sinto no meu peito!”
BERENICE E A ARANHA IV
E assim vários dias se passaram...
Em nova tarde, viu que tinha companhia:
Uma outra aranha com a “sua” ali vivia
Com certo medo, inquietações surgiram...
Noites depois, seus problemas a ocuparam:
Foi tomar banho, a cabeça já vazia
E lá no box,
viu a “outra” que a acolhia!
O que fazer? Os
seus instintos dominaram!
Mais que depressa, golpeou-a com o chinelo
E centenas de aranhinhas se espalharam!
Abriu a térmica e as cobriu de água fervente!
Feito o holocausto, foi limpar o seu castelo:
Num saco plástico cem cadáveres ficaram
E só depois seu juramento veio à mente!...
BERENICE E A ARANHA V
A aleijada nessa manhã não apareceu,
Nem no outro dia, parecendo estar com medo:
Dos juramentos humanos via o segredo:
Que já não valem se o interesse se perdeu!
Três dias depois, contudo, sob o véu
De teia ainda maior, de seu degredo
Ela havia retornado, desde cedo,
Perneta embora, mas ao vê-la, se encolheu!
De certo modo, parecia um desafio,
Fiara a teia muito maior que dantes
E estava bem em baixo a tecelã,
Sua armadilha aumentando em grande brio,
Talvez pensando conseguir novas amantes,
Forjando um ninho com sua cinérea lã...
BERENICE E A ARANHA VI
Berenice chegou perto, lentamente:
“Aranha velha, não quebrei meu juramento:
Não te ataquei de novo um só momento;
Matei a outra, mas defensivamente...”
Não respondeu a aranha, infelizmente,
Sem se dispor a novo pacto dar assento:
Por que confiar no agressor do antigo evento?
Mas não ampliou mais a sua teia, realmente,
Pois Berenice só a via de relance:
Quando a outra a pressentia, se escondia,
Havia uma fresta bem no canto da parede.
Depois, mudou-se e saiu de seu alcance,
Hoje ainda pensa nessa aranha que sofria,
Mas que perante a adversidade nunca cede!...
AFECÇÕES
I – 19 ago 2015
Certas
pessoas apresentam acatisia
e
não conseguem parar em um só lugar.
Vem
do grego, kathizien, ou “sentar”,
quase
impossível para quem disso sofria.
Inquietação
constante que se cria,
certa
ansiedade, movimento sem cessar,
que
certas vezes tratamento vem causar
de
antipsicóticos em que o clínico confia....
Mas
em geral, surge mais naturalmente:
não
é questão de não ficar sentado,
mas
como efeito de seu corpo atribulado
viajam
sem parar, rapidamente;
e
alguns deles são os exploradores
ou
alpinistas, das vastidões senhores...
AFECÇÕES
II
Pessoalmente,
eu também sou afetado;
não
que não possa parar em um só lugar,
mas
não consigo jamais me conformar
com
um só poema, por mais seja alongado;
e
assim os vou amontoando, lado a lado,
sofrendo
assim do Mal de Poetar,
com
Nove Musas sempre a me puxar,
por
Dionyso e Apollo disputado;
e
nem consigo parar, pois já tentei:
da
Acatisia Poética nas garras,
embora,
no geral, só mova o braço!
Quis
ser dos versos o senhor e rei,
mas
eles me controlam em suas farras
e
se paro de escrever, eu me desgraço!
AFECÇÕES
III
Andei
doente, bem recentemente:
ganhei
remédios para o coração,
que
me fizeram bem, mas na ocasião
a
atividade me podaram, certamente...
Foi
bradicinesia, é-me evidente,
meus
movimentos lentos, sem paixão
e
mesmo as coisas que perto de mim são
causavam-me
cansaço, incontinenti...
Tomava
banho devagar e caminhava
com
certo esforço, só de ficar em pé
e
nem sequer me queria alimentar,
pelo
labor que erguer o garfo me cobrava,
a
lentidão a consumir-me a fé
a
um nível que mal quero recordar!
AFECÇOES
IV
Contudo,
mesmo em meus piores dias,
à
poética acatisia me dobrava
e
três ou quatro sonetos rascunhava,
já
meio exausto por tais linhas fugidias...
Se
por acaso em meu leito então me vias,
sem
ler os livros que à cabeceira acumulava,
enquanto
o maço de cartões mais ampliava,
que
algo escrevesse direito nem crerias...
Mas
versejava entre bradicinesia,
quando
qualquer movimento me cansava
e
até no chão caí, sem levantar!
E
para tudo o mais, tinha abulia,
porém
rascunhos afinal garatujava,
em
lento instante, depois de me acordar...
AFECÇÕES
V
Também
existe a galactorreia,
só
a umas poucas mulheres peculiar,
em
que seu leite acaba por brotar,
sem
um nenê que lhes sirva de plateia...
E
até na adolescência surge a ideia
de
tal “leite de bruxa” a se escapar
de
meninos e meninas, pelo atuar
dos
hormônios a provocar tal epopeia...
Sem
tê-lo visto, encontrei fotografias
que
mostravam tal leite coagulado
sob
os mamilos de certos rapazinhos,
mas
que passava por si, quais alergias,
sem
deixar qualquer efeito demorado:
eram
as bruxas que lhes vinham dar beijinhos!
AFECÇÕES
VI
E
cada vez que Zeus perdia a teta
de
Amalteia, cabra que foi a sua nutriz,
o
seu leite esguichava, por um triz,
formando
estrelas, ou mesmo algum cometa!
Por
isso a grande nuvem, que se afeta
de
“Caminho do Leite” e ainda se diz
ser
a Via Láctea, essa cósmica raiz
que
a luz da Lua em vastidão completa! (*)
(*)
Galactos é “leite” em grego, daí a Galáxia; mas de Lacteus, ou
“leitoso”
em latim, deriva o nome da Via Láctea.
Galactorreia
assim, igual eu tenho,
não
nos mamilos, mas nas pontas de meus dedos
e
o leite jorra em forma de sonetos!
E
nesta confissão, agora eu venho
partilhar
bisonhamente meus segredos,
que
hoje me traem, por serem indiscretos!
GLADIADORES
I – 27 abr 07
Conversa
com ti mesma... Segue a alma
por
seus meandros que não têm repouso.
Analisa
os pensamentos que têm pouso
sobre
a consciente aceitação da calma.
Pois
tens desejos que nem sequer são teus.
Até
parecem, por serem costumeiros:
noite após noite
os escutas, derradeiros...
E,
na alvorada, ao sol rasgar seus véus,
estão
de volta. Mas são alheios predicados
que
não pertencem à tua mente mais profunda
e se,
para atingi-los, te esforçares,
algo
te faltará. São resultados
de
raciocínio estranho, que te inunda,
e se
desfazem no momento em que os tocares.
GLADIADORES
II – 20 AGO 15
Alguns
afirmam ter vida o pensamento,
passeando
por aí, com a intenção
de
penetrar em tua mente e coração
e
desse modo afetar teu julgamento.
Se é
verdade, só com teu consentimento
dominar
os teus pendores poderão;
vem
pelos ares, ardilosos, em que estão
ou
pelas telas de TV em tal momento.
São as
“mimas”, da imitação as unidades
que
ouves das amigas, quando a moda
se
impõe, para forçar-te a mais despesas,
os costumes,
nessa “feira de vaidades”
modificando,
pois “a moda não incomoda”,
por
mais te possa induzir a mil vilezas!
GLADIADORES
III
Examina,
portanto, os que são teus
e não
aqueles que de fora te impuseram
ou que
nas redes sociais te apareceram,
a noosfera
dos modernos fariseus!
Também
te envio pensamentos que são meus,
que
por teus olhos, talvez, já penetraram,
quando
meus versos em tua alma se encontraram,
mas
não transmito tais ideias dos ateus!...
Abertamente
eu transmito minhas mensagens
que a
ti mesma poderão fortalecer,
nessa
contemplação do que já és!...
Gladiadores,
por certo, e das miragens
dentro
da mente bem te podem defender
pela
razão, contra essas falsas fés!...
GLADIADORES
IV
Mas
não te deixes por mim influenciar,
embora
aqui te revele meu segredo:
talvez
os tenha deflagrado por meu medo,
mas te
pertencem os que sabes apreciar!
Minha
intenção é só servir fino manjar
que
fortaleça tuas defesas, não por credo,
mas
por força da razão, escudo ledo:
gladiadores
nessa arena a pelejar!
Contra
as ideias com que buscam te “emprenhar
pelos
ouvidos”, como diz velho ditado;
falsas
amigas, não mais do que embusteiras,
que só
buscam de algum modo te explorar
e com
tua queda alimentar o seu pecado,
que
então destrói mesmo as almas verdadeiras!
ESTRATÉGIAS
SIBILINAS I – 28 abr 07
O
vento que revolve teus cabelos
não é
o vento que faz flutuar teus dedos,
que te
sibila ao ouvido teus segredos,
sem
serem teus, de fato, tais desvelos.
Porque
esses sonhos que ora julgas tê-los,
são
nada mais do que mimas, pelos ventos... (*)
E os
cantos que te expressam sentimentos
melhor
te fora soubesses esquecê-los...
Todavia,
sempre existe a recompensa;
É como
se, ao saberes expressá-los,
os
teus fantasmas te abrissem os caminhos.
Para
que possas, nessa trama densa,
continuar,
de bom grado, a escutá-los,
sem te
prenderes aos sonhos mais mesquinhos.
(*) Mimas são unidades de
imitação, o que se vê ou escuta com
frequência e se
acaba por repetir.
ESTRATÉGIAS
SIBILINAS II – 21 AGO 15
Eram
as Sibilas as adivinhas dos romanos,
mais
herbanárias, de fato, e curandeiras
do que
fossem realmente feiticeiras
ou
profetizas desvendando cem arcanos.
Foi a
Sibila de Cumas, sem enganos,
a mais
famosa dessas enredadeiras
e com
suas profecias embusteiras
mais
que ajudá-los, só lhes causou danos!
Tais
quais as Pitonisas dos helenos,
frases
confusas somente murmuravam,
na
dependência de sua interpretação,
que
não traziam significados plenos,
dependendo
de quais as estudavam,
frequentemente
para final lamentação!
ESTRATÉGIAS
SIBILINAS III
E com
tão desfavoráveis resultados,
(que o
Cristianismo logo as condenou)
“sibilino”
em adjetivo se tornou,
motivos
a mostrar desencontrados
e
muitas vezes mal intencionados,
significado
que já se coagulou,
estratégia
que frequente transformou
o
mundo inteiro por atos bem malvados.
Partes
da mente te sussurram estratégias
com
que podes os adversos enfrentar,
enquanto
outras bem astutamente
a
prometer-te recompensas régias...
Mas
vêm de fora para te derrotar,
em
fantasia de pureza, certamente...
ESTRATÉGIAS
SIBILINAS IV
Por
isso, cuida bem se isso que pensas
vem de
teu próprio interesse, realmente,
ou vem
do externo, malignamente,
a te
assombrar com intenções bem tensas.
E
mesmo ideias com as quais te incensas,
se não
brotarem de tua própria mente,
buscam
teu mal e conseguem-no, frequente:
peneira-as
bem e vê o que dispensas!...
É bem
mais fácil aceitar passivamente
o que
a sibila te sussurra em artifício,
que
algumas vezes agradável te parece,
bem
mais difícil o expulsar perpetuamente,
pela
delícia contumaz de qualquer vício
a que
te rendas, mas que apenas te enfraquece!
REGRAS
DA VIDA XXXI
Acima
de tudo, importa a dignidade
em
tudo conservar. Não a honraria
que
este mundo confira, mas a que pertencia,
desde
o começo, à tua personalidade,
que
geraste em ti mesmo. É em tal combate
que a
tua autoestima sobrevive
e o
respeito por ti mesmo em ti revive,
a cada
passo que a solidez acate.
Pois
se mostrares a ti mesmo tal respeito
logo
perceberão. E a contragosto,
ou de
bom grado – respeitarão também
a tua
integridade. E não serás sujeito
a
perder o controle por ti imposto,
no
decoro e decência que em ti veem.
SORRINDO PARA
MIM I –28 ABR 2007
Aquele que
mais busca uma atenção
não é quem
mais recebe. Existe alguém,
que somente
por ser, ganha também
o respeito e
a simpatia em cada ação
que material
pratica, porque tem
plena
consciência de sua projeção
e não se
esforça em produzir clarão
mas ilumina
ao seu redor, tal quem
possui no
próprio olhar magnetismo,
confia em si
e espera, no que faz,
sempre fazer
melhor quanto possível.
E não se
esforça por quebrar o ceticismo,
mas,
simplesmente, o seu dever perfaz,
sem lamentar
o que é inatingível.
SORRINDO PARA
MIM II – 22 ago 15
Mas é bem
raro que o mereça assim
quem é mais
louvado pela sociedade;
há interesses
ocultos, na verdade,
os quais se
impõem como um toque de clarim.
E por serem
reiterados, têm seu fim
aceito, nesse
impulso da vaidade,
que procura
alcançar, em saciedade,
igual
respeito e aceitação, enfim!,,,
Sempre é
melhor sorrisos se enxergar
que rostos a
expressar má catadura:
poucos
suportam tal reprovação,
falsos ídolos
facilmente a aceitar,
seja no
esporte ou na literatura,
buscando em
seu rebanho a proteção!
SORRINDO PARA
MIM III
Assim as
mídia se aproveitam mais, (*)
de tantos
meios à sua disposição,
a fim de
impor pela repetição
um artista ou
seus produtos materiais.
(*) Mídia é um anglicismo, plural do
inglês medium,
ou meio de comunicação, tomado do latim,
medium,
media
e deve ser, portanto, também plural entre nós.
Na moda feminina os principais
dos estilistas embusteiros que aí estão,
criando modas através da negação
do estético em seus ridículos fatais...
No efetivar total do consumismo,
provocando, afinal, somente gasto
e de suas bolsas a locupletação,
mesmo costumes mudando em seu modismo:
e as ovelhas seguem, mastigando o pasto,
não que concordem, mas por pura
imitação!...
SORRINDO PARA
MIM IV
Quanto a mim,
sempre fui indiferente
á derrota e
ao triunfo, acompanhando
os conselhos
que Kipling vem mostrando (*)
há mais de
século, em seu soar contente.
(*)
Veja o famoso poema de Rudyard Kipling, SE (If).
Mesmo que o
desaponto, bem frequente,
se insinue,
em seu furor nefando,
na minha
própria mente, desgastando
as minhas
defesas, com veneno tão potente!
Porém
conservo minha autenticidade:
sou o que sou
e o mundo que se dane,
se não quiser
aceitar a minha mensagem,
que nem
mensagem é, só minha verdade,
sem que
insista com outrem que a proclame,
embora saiba vivenciá-la
com coragem!
REDATOR – 29
ABR 07
Eu quis
poder, da vida a meio e ao longo,
acreditar no
que canto e no que prego.
E me
disponho, feito um tolo cego
a
redigir, no compassado gongo
que assinala
minha vida, nesse bongo
tão ritmado,
em que poemas lego,
o que me vem
à mente e nisso entrego,
pedaços de
meu ser, nesse regongo,
inútil
estrugir de alheias mágoas,
que eu mesmo
não as tenho. Indiferente
muitas vezes
me percebo ante essas fráguas,
que até
parecem de tão fundo me subir...
Mas tão
somente escrevo, diligente,
o que em
meus dedos se desfaz... a reluzir.
NO
OLHO DO SOL I – 23 AGO 15
Tal
qual o Semeador, saí a semear
as
minhas palavras, igual que clara fonte,
brotando
da nascente, pura ponte
entre
o vasto subsolo e o paisagear;
as
minhas palavras em sonetos a mostrar,
a
sua vasta multidão neste reponte,
feitas
em versos mil que mal se conte,
fluindo
sempre, crescendo sem parar;
mas
muitos passam sem ver o meu regato;
gotas
somente a respingar na boa terra,
que
frutificam nos mais meigos corações
ou
se escondem das mentes, em recato,
desses
que temem mostrar o que se encerra
no
incessante turbilhar das emoções!
NO
OLHO DO SOL II
Há
muitos anos digito os meus poemas
e
certamente alguns já tens contigo;
atravessaram
da rede algum perigo,
mas
corações assaltaram às centenas;
muitos
mais houve, porém, em graves penas,
que
nunca leram meu trabalho antigo
ou
quando o leram, não lhe deram seu abrigo:
não
eram para eles tais verbenas...
Igual
que o Semeador, na boa terra,
caem
apenas muito poucos grãos;
muitos
secaram sob a luz do sol,
porque
a palavra guarda em si o quanto encerra,
até
ser fecundada, em compaixões,
por
um olhar que a ilumine qual farol.
NO
OLHO DO SOL III
Pois
que já disse e vou somente repetir:
não
são meus os poemas que te escrevo;
são
um arcabouço frágil que te levo
e
cabe a ti fazê-lo ressurgir...
A
semente hás de tirar do seu dormir,
com
tuas emoções, em vasto frevo;
só
te darei as pistas que te devo,
mas
o caminho tu mesmo irás abrir...
Toda
mensagem em teu peito alastra
e
lhe dás tua carne e sangue a revestir;
dás-lhe
carinho, dás-lhe sentimento
e
o que escrevi só te serve de pilastra
para
esse templo que hás de construir,
fiel
e sacerdote em um só momento.
NAVEGADOR I
– 24 AGO 15
Sob a areia
da praia, em seu reverso,
estão
miríades de pequenas vidas;
perante os
pés humanos são vencidas,
mas
constituem seu próprio universo.
Sob as ondas
do mar escorre o verso,
tantas
loucuras sobre as vagas tidas,
mas
barreiras se abrem, incontidas,
e escorre a
frase em seu fragor disperso.
Nem tudo o
que reluz na praia é areia:
há cacos de
vidrilho, bolha e espuma,
olhos
minúsculos sob a planta de teus pés;
recolhe a
concha o raio que a incendeia
e reflete em
madréporas, uma a uma,
centelhas
tristes das mais antigas fés.
NAVEGADOR II
Para cada
naufrágio, algum destroço
sobrenada e
flutua na voragem;
talvez um
mastro com resto de cordagem,
talvez um
náufrago, desfeito em pele e osso;
talvez quase
invisível no retoço
das vagas,
em capelos de miragem,
algo que
dance, garrafa de mensagem,
algo perdido
nesse imenso poço;
porém um
maremoto, um cataclisma
pode
arrancar da vaza até um anel,
seu dedo há
longos anos devorado
por seu
cálcio e carbono, a longa cisma
das novas
vidas, rejeitando o ouropel,
seu
nutriente apenas apreciado...
NAVEGADOR
III
Certamente
esse anel não sobrenada,
mas pode ser
engolido, simplesmente,
por
crustáceo ou tubarão, que vorazmente
tudo devora
em sua vida atribulada,
na qual não
pode descansar por nada,
porém nadar
precisa sempre à frente,
as suas
brânquias acionadas totalmente
por
movimentos, igual que alma penada...
E quando o
elasmobrânquio se aproxima
das águas
próximas de algum continente,
será alvo de
pistola ou agudo arpão,
sua carne e
ossos retirados nesse clima
e para dedo
surpreendido se apresente
o pobre anel
que deglutira sem razão!...
NAVEGADOR IV
Já o mais
comum são apenas fragmentos
dessas
velhas cidades detonados,
que não são
pelas amêijoas devorados (*)
e entre teus
dedos possam ter assentos;
(*) Pequenos moluscos bivalves comuns
nas praias.
a maré os
revolveu, em movimentos
pelas dunas,
no final, localizados,
de sua
matéria orgânica separados
por muitos
seres, famintos como ventos...
E apesar de
toda a sua presença
e dos corpos
sobre a areia reclinados,
os vestígios
humanos não perduram;
micro-organismos,
em peleja tensa,
tuas células
e emunctórios assimilados
durante a
noite, enquanto a praia curam...
alfajores I – 25 ago 15
um dia a amei, desesperadamente.
a ponto
de esquecer de tudo o mais,
sentia
os dias como dons fatais,
a cada
vez que dela estava ausente.
quanto fazia me era deprimente,
quando
pensava que, talvez, jamais
voltasse
a vê-la, antinaturais
as
minhas relações com toda a gente.
assim, tudo deixei por amor dela,
sem
sopesar a nódoa ou consequência:
queria
apenas beijar-lhe o rosto amigo;
por mais que tola fosse, foi singela
a
decisão que tomei; tinha inocência:
fiquei
com ela a despeito do perigo!...
alfajores II
tudo na vida tem um preço, realmente;
assim a
alimentação que é conseguida
e se destina
a nos manter com vida,
foi da
terra arrancada, em esforço ardente;
caso prefiras esse alimento deprimente
que
causa a morte de vítima sofrida,
foi
batizado por tal morte em acolhida:
preço
de sangue cobrado ao pobre ente.
bem raramente podes de graça te manter
e é bem
melhor pagar por refeição
do que
ficares a alguém algo dever,
que cedo ou tarde, te saberá cobrar,
senão
em prata, a preço de emoção,
muito
mais caro do que um simples financiar!
alfajores III
e nada nesta vida tem mais preço
que um
momento de amor só para dois,
que o
pagamento há de chegar depois,
sempre
encontrando de ti o endereço...
felicidade de amor só traz apreço
para
quem a usufruir, que ao redor, pois,
sempre
há aqueles que em tristeza róis,
seu
próprio amor quebrado como gesso.
e cedo ou tarde, também tu te cobrarás
por
tais momentos de tua felicidade;
nada na
vida traz haver gratuito
e o pagarás com tristeza ou
incompreensão,
que
todo amor tem momentos de impiedade,
a te
ferir com um aguilhão fortuito!
alfajores IV
e se tudo abandonei, por amor dela,
são
alfajores os momentos de prazer:
mastigas,
comes, para enfim nada mais ter
e da
delícia só a lembrança se encastela...
sempre algum preço cobrará esta procela
que
crismaste de amor no teu viver;
nada
perdura, exceto o esquecer
e a
esperança é, afinal, casta donzela!
passados tempos, os aljôfares da vida
deixaram
de ser doces, mas azedos:
pequenas
rixas, em ressaibo encaminhadas!
e a alternativa é a memória esvanecida
de
outros amores lançados em degredos,
visões
tardias não mais do que esboçadas!
VIRADA DO SÉCULO I – 26 AGO 15
O tempo humano é só convencional:
nós o medimos arbitrariamente;
há dia e noite, em caráter
permanente,
mas a semana já é pouco natural
e mais ainda o mês, vago caudal,
que não atende ao Sol, nem
finalmente
às fases da Lua obedecendo
lealmente;
também varia dos dias seu total
e nessa convenção, períodos planos
nos atormentam somente no final;
não cabe aos astros governar o
nosso ser;
por mais tempo a chorar seres
humanos,
ao pôr do sol, melancolia fatal,
enquanto as flores choram de
prazer.
VIRADA DO SÉCULO II
Nós dependemos do chamado
Gregoriano
Calendário, que tantos dias podou
e ao curso do Sol mais se adequou,
substituindo o anterior, Juliano,
que antigamente, bem mais largo
engano
havia enfrentado, pois dois meses
se cortou;
na fundação de Roma se baseou,
calculada por escribas com afano.
Mas quando se adotou o
Cristianismo,
um diferente calcular foi
empregado:
partiu do ano em que Jesus havia
nascido,
na rejeição feroz do paganismo,
secretamente por muitos
conservado;
mas certo número de anos foi
perdido!
VIRADA DO SÉCULO III
São quatro a seis a menos ou a
mais!
Não admira que outros povos
rejeitassem
e seus próprios preconceitos
conservassem,
sem que, de fato, aceitassem-no jamais,
pois zomba o ano de nós, em
naturais
oscilações do Sol, que assim
passassem
e os movimentos da Galáxia
imitassem,
sem se importar com histórias dos
mortais
e quando surgem tais milenarismos
de fim de mundo ou as vãs
festividades
da virada de um século em afoite,
do Ano Velho e do Novo nos
modismos,
riem os anos de tais futilidades,
como se um século passasse numa
noite!
Gostei imensamente. Ler teus sonetos e poemas é encanta-se e ver-se.
ResponderExcluirBeijos, Poeta!