AMOR
DE CÂMARA XI
Eu
nem me esforço por teu amor concreto.
Abstrata,
és mais real. Posso forjar-te
segundo
a síntese de meu ideal secreto.
Enquanto
a substância, ao contemplar-te,
Se
escapa a tal prazer sob as pupilas...
E,
no entretanto, quando enfim te abraço
E
nesse teu ardor, por mim cintilas,
Teu
dom carnal preenche todo o espaço...
Como
endorfinas então o meu marasmo!
Tal
como a música, teu corpo me consola,
Durante
os dias bons e os dias maus...
Pois
me renovo em ti, em tal orgasmo:
Sempre
é um antídoto, nesta vida tola,
Fazer
amor com a música de Strauss...
AMOR
DE CÂMARA XII [thanks, Nevin!...]
Teus
beijos, para mim, são como pérolas
ensandecidas
no fado dos desejos...
São
colares de preces, esse beijos,
intercalados
de ausência, como férulas...
Que
me azorragam e me deixam pálido,
inconseqüente,
embora em vezo permanente.
Teus
beijos são sonidos, são fremente
cintilação
de carne, nesse inválido
fulgor.
Que em tais momentos, feitos loucos,
todo
o concreto se transmuta em ilusões,
por
mais me agrade teus gemidos escutar...
Misturados
aos meus. Suspiros roucos,
que
para mim ressoam quais canções,
fazendo
amor com Schubert no ar...
AMOR
DE CÃMARA XIII
Eu
sinto a solidão como a palpável
parede
de sorrisos de indulgência
com
que encaro o mundo, essa paciência
de
longanimidade imponderável.
E
vejo o mundo assim, tal qual miragem
de
demiurgo talvez... Em que me insiro
como
observador... Em que me inspiro
ao
descrever dos outros a passagem.
Nesse
favor com que a mim mesmo acorro
e
beijo a própria imagem, que me beija,
nos
permanentes amores transitórios...
Que
então me levam a buscar certo socorro
nos
braços de quem sei que me deseja,
amor
fazendo aos acordes de Praetorius...
AMOR DE CÂMARA XIV
Sempre que estou contigo, dentro em mim
ressoa o acorde de estranha melodia.
Por vezes, nem recorda uma harmonia...
Por vezes sei, quanto eu escuto assim...
É como se teu rosto, se teus olhos
criassem pentagramas em meu ser.
Ao te beijar, escuto a reviver
sabor de onda a esbater escolhos...
E retorno tal música a escutar
e nela encontro singular abrigo,
porque sinto de ti tremenda fome...
Ela me leva ao passado e a pensar
só no prazer de, quando estou contigo,
fazer amor ao som desse Albinoni...
AMOR DE CÂMARA XV – 30 out
2007
Já na minha vida o coração
se agita
em ritmo diferente dos de
outrora...
Desejos permanecem, muito
embora
a forma em consumá-los,
esta aflita
espera por um bem mais
ardiloso
do que o simples fruir de
um dom concreto
queira algo mais suntuoso e
mais discreto:
que seja humilde, mas
revista de orgulhoso
este anseio transitório e
duradouro:
amor de barro envolto em
fólio de ouro,
fama obscura e estética
assimétrica,
austera e sibarítica,
serpentina ética.
E enquanto faço amor, meu
coração se move
perante a música de
Rimsky-Korsakov.
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