O REI DO CORPO I – 7 MAIO 2018
Esta anedota já é bastante antiga,
mas não perdeu a sua atualidade,
alegoria também para a humildade
e importância de quem menos consiga
honra obter como o maior auriga (*)
na condição da corporealidade,
de modo idêntico que na sociedade,
para os pobres mais ou menos inimiga.
(*) Cocheiro, condutor.
Pois se reuniram os membros do
organismo
a se queixarem do excesso de
importância
que aos aparelhos se dá reprodutores...
“Está em tempo de agir com realismo
e escolher em perfeita concordância
quem reinar possa sobre tais
senhores!...”
O REI DO CORPO II
Disse então, muito importante, o
coração:
“Não existe dúvida de quem deva ser o
rei,
meus batimentos proclamam santa lei,
governo a vida, a garantir locomoção!
“se, por minutos, houver a cessação
do diuturno trabalho que farei,
o corpo inteiro assim condenarei
à morte, sem haver ressurreição!...”
“Por isso não,” obtemperou o pulmão;
se,´por minutos eu parar de respirar,
o corpo inteiro irá se sufocar;
“Não pode haver qualquer objeção:
o rei do corpo eu devo me tornar,
pela importância que tem respiração!”
O REI DO CORPO III
“Eu não concordo,” o fígado falou.
“Eu que produzo das enzimas maioria;
sem meus hormônios nada funcionaria,
sem mim o corpo depressa se acabou!”
“Por isso não, mais necessário eu
sou,
ou somos nós,” protestou com energia
um dos rins. “Filtramos toda a porcaria
que ainda no sangue esse pulmão
deixou!
“Deve haver uma dupla monarquia.
governaremos eu e meu irmão,
sendo perene nossa colaboração,
“já que a bexiga não protestaria:
como vizir terá nossa aceitação
e o corpo inteiro melhor
funcionaria!”
O REI DO CORPO IV
E assim por diante. A visão se
apresentou,
a pele alegou sua proteção,
mesma honra reclamando a audição,
cada órgão merecer mais afirmou!...
Então o ânus na disputa entrou:
“Sou eu que devo trazer firme na mão
o cetro do corpo e sua governação.”
Todo o organismo, a uma, protestou!
“Mas logo tu, seu bicho fedorento?
Serves só para eliminar o excremento,
não há trabalho mais nojento que esse
teu!”
Disse o ânus: “Pois então, me
fecharei!”
Houve um silêncio. E unânime essa grei,
maugrado seu, ao ânus escolheu!
Disse São Paulo: aquele que dentre
vós tiver
menos honra, receba esse a maior
dignidade!
PODOLATRIA I – 8 MAI 18
Existe homem que se apaixona por um
pé!
Até escreveu, em sua A Pata da
Gazela,
Machadão de Assis, sem se saber se
ela
do escritor foi paixão,
semi-escondida até...
Podolatria é esse amor à pata bela,
“podos”, em grego, originando o
rapapé;
eu cá prefiro fazer um cafuné,
melhor agrado causando à minha
donzela!
Podologia é a mística ciência
de quem tratar dos pés é
especialista,
(pedofilia a conotar outra
tendência)
se bem que a pedicure, com paciência,
mexa nas unhas e se o chulé
persista,
água em bacia diminui a sua
potência!
PODOLATRIA II
Mas quem pensar que a pé-dofilia
seja o amor por extremidade feminina
a ledo engano seu pensar se inclina,
do mesmo modo que na pé-diatria;
E ainda existe essa pé-dagogia,
sendo menor o erro nesta sina:
conduz o pé-dagogo e a alma ensina,
sem recair em qualquer demagogia!
Mas ao careca chamaremos de pé-lado?
Fazer fogueira será alguma pé-tição?
Ofender a Santa Igreja é um pé-cado?
Badminton jogar será pé-teca?
E para completar a pé-roração,
uma bela sapinha é a pé-rereca!
PODOLATRIA III
Tem algo a ver podolatria com podar?
Talvez quando se for unhas cortar!
Ou a mulher a quem dá-se tal poder
talvez de comichão vá padecer!
Tem algo a ver podolatria com pomar?
Igual que frutas os artelhos a
beijar!
Ou quiçá se relacione com porão,
quando no escuro se presta a
adoração!
Certamente será a mulher empoderada
perante a qual alguém se curve com
delírio,
sola lambendo até mesmo se
empoeirada...
E até minha vida chegou a ser
podolatrada,
sem me causar tal ação qualquer
martírio,
pois certamente os pés beijei de
minha amada!
DESCONHECIDA
I – 9 MAI 2018
Aqui
agradeço à mulher que me sorriu
na
fila da lotérica, gentil,
tão
delicada a curva do quadril
e aparecendo,
sob a roupa que vestiu
as
pernas bem torneadas. Não me seduziu,
foi
tão somente tratativa bem sutil;
de
forma alguma a abordei de modo vil
e
ela em nada para mim se introduziu.
Saí
a ver se o sistema funcionava
e
ao final da fila já voltava,
quando
ela me chamou, discretamente,
para
ficar de novo do seu lado:
“O
seu lugar é aqui, foi bem guardado,
não
há motivo para um ponto diferente...”
DESCONHECIDA
II
E
como dois ou três não discordassem,
retornei
à posição que abandonara
e
agradeci por que me conservara,
embora
outros já na fila se postassem.
E
foi só isso. Talvez outros mesmo achassem
que
o convite algo mais significara,
mas
tal mulher nunca antes encontrara
e desde então não mais se deparassem
nossos
olhares. Foi incidente breve:
fiquei
calado, com meu livro aberto,
volta
e meia por mim alguém passava,
sem
me pedir licença, nem de leve!
De
derrubar meu livro passou perto
um
“cavalheiro” que me acotovelava!
DESCONHECIDA
III
Pois
nao chegamos sequer a conversar;
aguardei
no meu lugar, pacientemente;
já
não mais jovem, percebia claramente,
no
seu pescoço quaisquer rugas a notar,
quando
o rosto, de perfil, vinha a mostrar;
sabe-se
lá se algo mais ingente
poderia
acontecer mais casualmente,
se
começássemos apenas a falar...
Mas
nada houve e nada entabulamos,
só
o breve espaço ali compartilhamos;
fora
minha idade a despertar sua gentileza,
que
vinte anos ou mais nos separavam
e
nem seus olhos pelos meus buscavam,
nem
abordá-la os meus nessa incerteza...
DESCONHECIDA
IV
Mas
pelo próprio fato de existir
meu
coração deixou acalentado,
por
um instante apenas consagrado,
por
ser mulher, que sabe seduzir,
sem
intenção, somente no fruir
da
educação como algo já esperado;
não
percebi que houvesse suspirado,
num
leve assomo de vaidade a reluzir.
Chegamos
juntos nas caixas da lotérica;
saiu
primeiro e, de novo, agradeci
a
gentileza que na fila demonstrara;
de
novo ela sorriu, visão feérica,
depois
se foi... Porém nao esqueci
esse
momento em que no ombro me tocara.
PLURICÍDIO I – 10 MAIO 2018
Hoje há a mania do feminicídio,
qual se a mulher fosse de um genus diferente
e o triste homem apenas seu parente...
Matar macaco se chama pongicídio!
Eu só confesso o diptericídio,
muito mosquito assassinei, valente!
E com veneno, igual que muita gente,
matei formigas, num mirmecocídio!
Se um pedófilo é que molesta uma criança,
quem mata alguma comete pedocídio?
Toda mulher alberga a esperança
de que surja definitivo blatacídio,
que as baratas extermine, sem tardança,
muito melhor que um vulgar inseticídio!...
PLURICÍDIO II
Esta expressão denota
mais modismo.
Bem mais antigo é o
uxoricídio,
quando uma esposa é
alvo de homicídio
pelo marido, por ciúme
ou nihilismo...
Já foi descrito este
crime em romantismo,
muita vez havendo após
um suicídio,
como no Othello,
talvez visto no seu vídeo,
intrigado por Iago a
tal abismo...
Bem mais terrível será
o matricídio,
outro crime cometido
ao feminino;
matar um filho ou
filha é um filicídio,
não importa se é
menina ou for menino;
matar a sogra será
socericídio,
talvez até comum este
destino!...
PLURICÍDIO III
Ora, se existem tantos
termos, quando o alvo
é uma mulher, para quê
nova palavra?
De um assassino em
série tem a lavra,
de sua tara, no geral,
o homem é salvo.
Como chamar a morte de
homem calvo?
Logo haverá diverso
termo se for magra
essa mulher ou se
adiposa se consagra!
Descreveremos a morte
de um papalvo (*)
(*) Bobalhão,
ignorante.
por palavra diversa de
homicídio?
De fato, nem ficaria
admirado,
se a agricultra já é
acusada de ecocídio!
E um pescador, comete
um ictericídio?
E quem destrói,
afinal, sonho encantado
será enquadrado num
oniricídio?
PLURICÍDIO IV
Claro que existe já o etnocídio,
para um massacre por questão racial;
será então bastante natural,
de um afrodescendente chamar melanocídio!
No fim de contas, talvez cometa um versicídio,
por mais que siga o modelo bem normal,
mas proclamar uma república, afinal,
se qualifica como um regicídio?
Quiçá me acusem de um soneticídio,
versos usando para argumentar
e não a prosa ou discursos costumeiros,
pois é de fato politicamentecorreticídio
contra exageros que desejo condenar,
cometidos por terceiras ou terceiros!
FINAL
ABRUPTO I – 11 MAIO 2018
Algo
de trágico na vida humana existe,
sempre
que ocorre a inesperada reversão;
que
os pais morram é a natural visão,
antes
que um filho seu final aviste...
Já
um aborto natural é coisa triste,
mais
lamentável que haja aceitação
de
pôr um fim à vida, em decisão
deliberada,
quando em provocar consiste.
Por
muitos séculos, a infantil mortalidade
foi
bem comum, sem deixar de ser desgraça,
por
doença ou da fome a iniquidade.
Diziam
alguns que o exigia a Natureza,
outros
que Azrael ou Lilith é que perpassa,
as
jovens vidas ceifando em sua crueza.
FINAL
ABRUPTO II
Falso
consolo nos dava a religião,
proclamando
ser de Deus doce vontade
levar
um anjo para a eternidde,
sem
ter sofrido a social corrupção...
Fraco
consolo nos médicos de então,
a
medicina a afirmar com autoridade:
“A
natureza o bem não quer, nem tem maldade,
somente
os fortes alcançam a criação!
Mesmo
sendo difícil sustentá-los,
durante
os tempos da agricultura familiar,
eram
bem-vindos com suas pequenas bocas;
após
um ano ou dois a ampará-los,
já
qualquer leve tarefa a executar,
mesmo
chorando com suas vozinhas roucas.
FINAL
ABRUPTO III
Mas
iniciada a permanência nas cidades,
em
que a vida se alongava muito mais,
ao
invés de serem ajudantes naturais,
traziam
gastos de especificidades.
E
muito mais por adversidades,
quando
a pobreza exigia por demais;
eles
morriam quais pequenos animais,
ao
esgotarem-se as possibiliddes...
Com
o progresso da civilização
e
o portentoso avançar da medicina,
ficou
mais fácil essas vidas conservar;
baixos
os níveis de mortalidade são,
caso
os preceitos que a higiene ensina
essa
família se disponha a observar.
FINAL
ABRUPTO IV
Contudo,
as guerras exigiram muitas vidas
ou
eclodiram entre nós epidemias,
os
pais seguindo do cemitério as vias,
as
esperanças de décadas falidas!
E
em nossa época, doenças suprimidas,
localizadas
as guerras que temias,
a
morte chega em novas agonias,
por
acidente ou pelas drogas distribuídas.
E
quantos jovens são assassinados,
Talvez
por tênis apenas ou celular!
Os
pais, de fato, nunca descansados,
se
à noite voltarão para seus lados,
independentes
em seus planos airados
ou
até mesmo depois de trabalhar!
FINAL
ABRUPTO V
E
quanta vez, após perder um filho,
mesmo
sabendo não o poder substituir,
vai
essa mãe de algum modo conseguir
iniciar
da gravidez um novo trilho!
Igual
que filhos meus sonetos eu empilho
para
que um dia sejam lidos me iludir,
que
se espalhem pelo ar sem impedir,
cem
outros tenho, amarrados com atilho!
Porém
me assombra contemplar jamais,
por
doença, acidente ou assassinato,
o
passamento de quaisquer filhos carnais;
embora
creia nos dons espirituais,
é
meu desejo ser um dia cremado,
pelos
meus sobreviventes naturais!
DRÁGEAS I – 12 MAIO 18
Personalizo os comprimidos de um tubinho,
como se fossem tristes prisioneiros,
esperando ser devorados por terceiros,
num capricho de cruel canibalismo!
Algumas vezes encontrei, no meu caminho,
as descrições de episódios verdadeiros,
um a um a transportar os carcereiros
para a morte ou tortura, por sadismo!
Por entre grades a assistir fuzilamentos
ou escutar no pátio as marteladas,
o patíbulo a erguer de enforcamentos;
pior ainda, terminados os alimentos,
tirando a sorte por quaisquer cartas
marcadas,
para escolher que proverá os nutrimentos!
DRÁGEAS II
E se essa ideia te parece doentia,
recorda as vezes em que o dinheiro escasso
tiveste de escolher, em triste laço,
para atender à excessiva zombaria
de imposto e taxa que o governo exigiria,
entre os calçados desgastados pelo passo
e os alimentos exigidos pelo abraço
de tua família, a quem tua mão nutria!
Ou se foste de tal miséria preservada,
como escolher atenção a qual despesa?
Pagar primeiro as contas do cartão
ou adquirir aquela bolsa desejada,
ou ir comprar novos produtos de beleza,
até o dinheiro se acabar, sem previsão?
DRÁGEAS III
De modo inverso, atender a um compromisso
ou escutar música enquanto um livro ler,
quando esse tempo que supões te pertencer
derrete breve, como um sorriso omisso?
Pobres minutos, à espera de ser gastos,
um no trabalho, um outro no lazer,
mui breve o tempo que podes escolher,
em que gastá-lo, mil eventos vastos!
És prisioneiro dos segundos de tua vida,
que se podem escoar em desatino;
talvez atrases, com cuidado, a despedida,
a empregá-los de forma precavida,
muito embora o carcereiro do destino
todos degole, sem anistia concedida!
MEU
COLEGA I – 13 maio 2018
a hora
chegou de ao cérebro agradecer
pelo
trabalho que realiza diuturno;
de
bater meu coração assume o turno,
por mim
respira, se distraído me esquecer!
talvez
o cerebelo tais funções a preencher,
mas um
poema, alegre ou bem soturno,
ele
executa num perpassar noturno
ou a
cada simples momento do viver!
há
muitos anos, uma historinha li,
em que
um cérebro, apelidado Miolinho,
saía da
cabeça, com vantagem,
para
ajudar da história o personagem.
o meu,
de fato, jamais eu conheci,
porém
me ampara como um bom vizinho...
MEU COLEGA II
de fato
o cérebro sou eu ou só resido
desses
túneis neurais no emaranhado?
em que
lobo ficará localizado
esse
fulcro de meu ser assim contido?
muito
experimento modernamente conduzido
alguns
segredos dali tem desvendado;
o centro
da visão foi encontrado,
o
centro duplo da visão já perceido;
mas
muito além das cocleias e o quiasma,
se
encontra o centro da locomoção,
de
hormônios fonte a controlar-nos a emoção;
sobre a
origem dos comandos não se pasma,
saem
elétricos impulsos comandados,
por
eles órgãos a ser bastante controlados.
MEU
COLEGA III
já se
conhecem escaninhos da memória
e os
mil comandos que acionam as praxias,
já
desvendadas as numerosas vias
a que a
carne obedece, peremptória;
mesmo
os instintos que vêm da pré-história,
no hipotálamo
sobrevivendo o que sentias
e o
poder de compreender as sinfonias
não se
discute em ação contraditória.
mas
tudo isso são meus atributos,
dos
ancestrais guardo recordações,
do
meio-ambiente as lições que se aprendeu,
envolvimentos
mais gentis ou brutos,
a
compreensão do tempo e de estações,
mas
nisso tudo, onde me encontro eu?
MEU
COLEGA IV
será
que ali sou apenas habitante
ou honrado hóspede a ser bem-recebido
ou esse
cérebro, que é por mim nutrido
é um
servo meu fiel e bem constante?
e nesse
caso, o esforço delirante
que em
mil poemas tenho contraído
devo
alforriar do labor longo concebido
em seus
meandros de formação gigante?
ou sou
o escravo, imaginando que dirijo,
para
que o verso possa germinar;
o meu
cérebro sou eu ou é companheiro
e nesse
esquema de produção tão rijo,
que
diariamente vejo rebrotar,
minha
alforria eu já recebo por inteiro?
ALTERNÂNCIA I – 14 MAIO 2018
JÁ MUITAS VEZES MENCIONEI O SONHO
COMO ELEMENTO MOTRIZ DE MINHA VIDA,
MAS POR QUE LEMBRO ESTA VISÃO PERDIDA
QUE A MIM MESMO, SÓ A DORMIR, IMPONHO?
ENTRE OS ANTIGOS, SEU PENSAR SENDO BISONHO,
PREMONIÇÃO PELA MENTE CONCEBIDA
OU, TALVEZ, PELOS DEUSES CONCEDIDA,
DA IMINÊNCIA DE UM ATAQUE ATÉ MEDONHO!
PASSOU-SE O TEMPO, NÃO A INTERPRETAÇÃO,
A SER AVISO AFIRMANDO OS SACERDOTES,
DA MÃO DIVINA A MANIFESTAÇÃO,
DO SANTO ESPÍRITO UM CONSELHO AMIGO,
CONFIRMAÇÃO DOS MAIS CELESTES DOTES,
A FIM DE O CRENTE PROTEGER DE ALGUM PERIGO.
ALTERNÂNCIA II
MUITOS SONHOS EU RECORDO INTEIRAMENTE
E TAL FENÔMENO, COM FREQUÊNCIA, MENCIONEI,
GRANDES CIDADES A QUE MUITO REGRESSEI,
TANTAS PESSOAS QUE ENCONTRO NOVAMENTE,
SEM NADA VER COM OS SONHOS QUE SONHEI,
QUE DESEJAVA VER CUMPRIDOS, REALMENTE,
SEM PERSEGUI-LOS DE FORMA MAIS INGENTE
OU AQUELES EM QUE, DE FATO, ME EMPENHEI,
DOS QUAIS FORMEI MEUS PLANOS E PROJETOS,
QUE DE MANHÃ, ANTES DE LEVANTAR,
FICO PENSANDO EM QUAL TRECHO A REALIZAR,
DE CERTO MODO, TODOS INCOMPLETOS,
MAS QUE INSISTO EM EXECUTAR A CADA DIA,
SALVO UM EVENTO QUE MOS IMPEDIRIA.
ALTERNÂNCIA III
MAS TUDO ISSO SE ENCONTRA NA CONSCIÊNCIA,
CADA SUCESSO A COORDENAR, CADA FRACASSO,
DE QUE MANEIRA CONDUZIR MEU PASSO,
CIRCUNVENTANDO AS MALHAS DA IMPOTÊNCIA?
MAS ESTES SONHOS QUE REFIRO TÊM VALÊNCIA
MUITO DIVERSA DE TAIS PLANOS QUE FAÇO
OU DOS PROJETOS QUE NO DIA ABRAÇO,
COM MAIS OU MENOS PAZ OU VIOLÊNCIA.
POIS ESSES SONHOS SÃO COISAS MULTIFORMES,
COM UMA LÓGICA PLENA DE SENTIDO,
MAS BEM DIVERSA DAQUELA QUE DETENHO,
SEM NUNCA TER PESADELOS DESCONFORMES;
CAMINHO OU ANDO EM VOO DESABRIDO
E MIL OUTRAS RELAÇÕES AGUARDO OU TENHO.
ALTERNÂNCIA IV
E TAL QUAL SE MARCHASSE EM OUTRO MUNDO,
BEM DIVERSO, MAS EM TUDO SEMELHANTE,
NUNCA ME VEJO A MONTAR NUM ELEFANTE,
NÃO ENCONTRO DEUS NEM QUALQUER DEMÔNIO IMUNDO;
NÃO FREQUENTO CASTELOS, NÃO HÁ PROFUNDO
CONHECIMENTO A RECEBER VIBRANTE,
NÃO VOGO POR UM MAR BELIGERANTE,
MAS HÁ MOMENTOS DE PRAZER JOCUNDO;
E ME DIVIRTO COM MEUS AMIGOS REENCONTRADOS,
PERCORRO VASTOS CAMPOS E AVENIDAS
(SEM CONSULTAR AQUELA ARCANA BIBLIOTECA!),
POIS É UMA VIDA PARALELA
DESTES LADOS,
NA QUAL DESCUBRO COISAS ESQUECIDAS,
MEU CORPO URINA E ATÉ MESMO DEFECA!
ALTERNÂNCIA v
NAS REFEIÇÕES, SINTO O SABOR DOS ALIMENTOS,
DA UVA OS FRUTOS, COM TODO O SEU PERFUME,
OS OLHOS PISCO PARA UM VAGALUME,
ANIMAIS MANSOS A ME FITAR, ATENTOS.
SINTO NOS DEDOS O TOQUE, EM TAIS MOMENTOS,
VOU À LAREIRA E ALI ACENDO RUBRO LUME,
CARVÕES EM BRASA COM POEIRA DE AZEDUME,
NO CHEIRO DE QUEIMADO OS FOGOS LENTOS;
E CERTAMENTE, HÁ MOMENTOS BEM FREUDIANOS;
EM INSTRUMENTOS OU NO CANTO EU INTERPRETO,
SENDO APLAUDIDO COM ATENCIOSO AFETO;
O MUNDO É MEU, SEM LHE SOFRER OS DESENGANOS...
OU HAVERÁ CERTA ONÍRICA CENSURA
QUE ME IMPEÇA RECORDAR COISA MAIS DURA?
ALTERNÂNCIA Vi
E HÁ VÁRIAS CASAS PARA AS QUAIS SEMPRE RETORNO,
LEITOS VAZIOS OU COMPANHEIRAS ME RECEBEM;
COMIGO TRAGO AS CHAVES QUE CONCEDEM
FÁCIL ACESSO A CADA LEITO MORNO!
E ALGUMAS VEZES, TRABALHO DE PEDREIRO,
SOU EM OUTRAS CUIDADOSO CARPINTEIRO,
NOVO QUARTO ADICIONANDO A UMA MANSÃO...
E SOBRE OS MONTES ME VEJO PEGUREIRO,
DAS CAVERNAS A EXPLORAR ESTALAGMITES,
MESMO EM SONHO A EXPANDIR OS MEUS LIMITES!
VAGA PROMESSA I – 15 MAIO 2018
Hoje lembrei que esquecera este
soneto
Que me pediste. Não foi o tempo apenas,
As dores dos quadris e outras penas
Que me tornaram um pouco mais
discreto.
Talvez por me olvidar de qual secreto
Desejo inspiraria minhas verbenas,
Pois mais recorda o corpo dessas
cenas
Em que teu corpo me fora tão
dileto...
Certamente não se põem os pés na
estrada
Quando correm fincões pernas abaixo,
Dores nas costas e rompidos ligamentos,
Mas o desgaste dos joelhos não é
nada,
Pois os desprezo, que a tais dores
não me abaixo,
Bem mais difícil os desgastados
sentimentos...
VAGA PROMESSA II
Já nem recordo quanto tempo faz
Que algum amor me pediu este soneto,
Nem a que ponto este amor tornou-se inquieto,
Nem a menor recordação o tempo
traz...
Achei o original no fundo, atrás
De tantos outros, amarfanhado
inseto...
Qual o motivo do rascunhar secreto,
Qual foi a dor que senti ainda rapaz?
Quem me dirá se não foi amor tardio,
Aconchegado ao ombro de meu braço,
Nas noites férteis de longas
madrugadas,
Reumática pressão causando o frio,
Pela dormência provocada pelo abraço,
Nessa recusa de ter suas faces
afastadas...
VAGA PROMESSA III
É tão incrível como o passado vai
Amolecendo na memória do real...
Seria, de fato, bem mais natural
Que só murchasse qual botão que cai.
É só dos sonhos que a lembrança não
me sai,
Na realidade desse amor espiritual,
Enquanto encontros de existência
material
São apagados em seu constante vém-e-vai...
Assim de quem eu prometi este soneto
Não consigo nem os olhos relembrar,
Por quantas vezes a fui acompanhar...
Quantas vezes apresentou-se em dom
secreto,
Nem quantas vezes os meus versos leu
Sobre outro amor que a memória já
esqueceu!
Verde é o Sorriso 1 – 16 MAIO 2018
Se esmeralda e rubi é o teu sorriso,
Por cintilante e belo que pareça,
Por que meu sonho assim tanto enriqueça,
Na vida sendo marmóreo como um friso?
Do diadema que cerca o crânio liso
Qual estátua de deusa, não me esqueça,
Não das jóias coloridas que se desça
Às minas frias desse limoso piso.
Não afirmo que teus lábios sejam verdes,
Nem por rubi a cor de tuas gengivas,
Mas à riqueza que teu sorriso me transmite,
E se me olhas sem sorrir, ao desdenhardes
De minhas frases de amor por mais altivas,
Assim me negas a presença de um convite.
Verde é o Sorriso 2
Talvez fossem de topázio e de safira
A cabeleira tal sorriso a emoldurar
Os olhos puros em vítreo lampejar...
Saberá ela o porquê que me ferira...?
Mais que o topázio nessa noite perseguira,
Mais que safira o meu inteiro desejar,
Quase sem crer de a esmeralda conquistar
Após o beijo rubro qual rubi que conseguira!
Essa turquesa de anil tonalidade,
Essa ametista qual cova profunda,
Oculta em ganga de aparente asperidade,
A um crisopraso não amando, na verdade,
Nem ao bdélio da garganta rubicunda:
À água-marinha de perfeita claridade!...
Verde é o Sorriso 3
Lápis-lazuli que somente imaginei
Em contraste com o jade acastanhado
Desse olhar com que fiquei acostumado,
Na cor de amêndoa dos cabelos que beijei...
Mas que espécie de poeta então serei,
Se não puder tornar mais encantado
Este amor longamente consagrado,
Concreto em tudo, salvo o que sonhei?
E que importa, neste amor de joalheiro,
Caso a esmeralda se vire em turmalina,
Quando o fulgor de seus olhos é diamante?
Se nesta vida o amor que quis primeiro
Era de âmbar, coral e cornalina,
Em seu sorriso de Pandora triunfante?
Recanto
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