Um dia, o diabo desafiou Jesus:
“Eu já criei muito mais do que você!
Toda a maldade do mundo, já se vê.
Você somente se esvaiu na cruz!...!
“Satanás, muito mais coisa reluz,
no céu e na terra do que você crê...”
(*)
“Abra um livro de história e você lê
só guerras e doenças, dor e pus!...”
(*) Glosa de Shakespeare, sobre o
monólogo de Hamlet.
“Agora que surgiu o computador,
é muito fácil fazer teste profundo:
por uma hora, vamos digitar...
“Quem descrever muito mais de seu
labor
basta imprimir, coisa fácil de
provar,
fica sozinho a governar o mundo!”
SALVAÇÃO II
Pois Jesus Cristo concordou com esse
teste;
hora e lugar já foram os dois marcar;
mas São Tomé não queria acreditar:
“Como caíste no truque dessa peste?”
“Tua incredulidade já antes me deste,
meu bom Tomé e precisei forçar
a tua descrença, fazendo-me tocar...
Não existe dúvida que ao coração me
reste...”
“Mas, Senhor, isto agora é diferente!
Tanta maldade neste mundo existe!
E se o diabo conseguir ganhar...?”
“Caro Tomé, deixa de ser descrente,
quantos milagres em tua vida viste?
Não é possível o mal me derrotar!”
SALVAÇÃO III
Tomé calou-se e a hora combinou-se:
seria anunciada por trombeta celestial...
Por uma hora a descrever o mal
Satanás, bem rápido, afoitou-se...
Jesus ao seu computador sentou-se;
só digitava o que tinha por ideal,
tudo apagando da página ao final,
em golpes secos, qual da morte a foice!
Mas Belzebub escrevia sem parar,
a incluir cada roubo e assassinato,
marés e terremotos, cada fato
que à humanidade fora prejudicar,
das invenções a fazer desvirtuação,
nunca cessando sua cruel inspiração!
SALVAÇÃO IV
Quando faltavam dez minutos já.
São Pedro começou a se arrepiar:
“Irmãos,” suplicou, “vamos rezar,
ou Jesus Cristo este teste perderá!”
Também Judas já bem inquieto está,
mas disse a Pedro para não se preocupar;
foi do salão, devagarinho, se afastar,
arquitetando, decerto, coisa má!
Então chegou até o painel de luz,
a chave geral, num impulso, desligando!
Contou nos dedos a passagem de um minuto.
Ao menos desta vez,
salvei Jesus,
quem sabe Ele acabe me
perdoando?
E ligou a chave outra vez, em gesto abrupto.
SALVAÇÃO V
“Só Jesus salva!” – muito alegre
comentou,
mas percebeu, para seu total espanto,
dos olhos a brotar-lhe um certo
pranto,
que do diabo linha alguma se apagou!
“Mas como assim?” – o desgraçado
protestou.
Satanás tirara caixa de seu manto
e com olhar matreiro e nada santo,
“O no-break eu inventei!” – ele
afirmou.
Iscariotes se ajoelhou, num
desespero,
enquanto o texto do Maligno ainda
aumentava
e Jesus Cristo o que escrevia, já
apagava!
André lhe disse: “Jesus é mais
sincero,
por sua artimanha não vai querer
ganhar:
só a honestidade é que pode triunfar!
SALVAÇÃO VI
De Jesus São João aproximou-se enfim:
“Bom Mestre, faltam só cinco minutos!
Quinhentas páginas seus demônios
brutos
já empilharam de sua impressora
assim!”
“Querido João, eu não cheguei ao fim,
por que os apóstolos estão gemendo em
lutos?
Sou do Caminho, da Verdade e Vida os três condutos,
ninguém vai ao Pai senão por mim!...”
Então Jesus, com um sorriso alegre,
um botão no seu teclado pressionou:
de uma impressora em 5D páginas
surgem,
dez por segundo, três mil em veloz
febre,
quando a Última Trombeta ali soou!
“É que eu mandei os meus arquivos
para a Nuvem!”
DECLARAÇÃO UNIVERSAL I – 17 ABRIL 2018
Aos criminosos seus direitos humanos!
Às suas vítimas direito a ter caixão,
para que dar às criancinhas proteção?
Que se acostumem da vida a sofrer danos!
Também pedófilos têm direitos soberanos,
e aos motoristas bêbados um perdão,
pois nossas leis só produzem confusão,
na afirmação de direitos desumanos!
Ao fim do ano, que sejam todos anistiados,
são bom negócio para seus advogados,
propinas a pagar a quantos mais?
Merecem todos a proteção da lei
e por isso alegre agora anunciarei:
Direitos humanos para os canibais!...
DECLARAÇÃO UNIVERSAL II
Haja anistia igualmente aos terroristas!
Que importa quantas mortes provocaram?
Quantas famílias seus atos destroçaram?
Por seus direitos, importa que hoje insistas!
Aos incendiários que na favela avistas,
pouco importa as pessoas que mataram,
foram barracos apenas que queimaram,
inalienáveis seus direitos e conquistas!
Que assim fique em liberdade o motorista:
gerou negócios para a funerária,
ao embriagar-se, impulsiona a economia!
Em tiroteio o faroeste aqui se avista,
precisa o tráfico o controle de sua área,
são seus direitos de máxima valia!
DECLARAÇÃO UNIVERSAL III
Que tais direitos se neguem aos soldados
e mais ainda para os policiais,
que estupradores cumprem funções sociais,
que os latrocidas não sejam condenados!
Penas de morte a punir os seus pecados
que os traficantes apliquem são normais,
pela justiça de seus próprios tribunais,
pois delatores nunca devem ser poupados!
Incompreensível que se chame “crime hediondo”
qualquer ofensa acoimada de racismo,
mas que à morte infligida a tal pessoa
classificação igual não se vá pondo!
E num país de mestiços tal modismo
de modo algum conduzirá a coisa boa!
DECLARAÇÃO UNIVERSAL IV
Do mesmo modo para os homossexuais:
são sua morte e espancamento naturais;
os assassinos com fiança, assim no mais,
em liberdade aguardam os tribunais;
mas se for declarada a homofobia,
qualquer ofensa maior castigo então teria:
um crime hediondo assim se firmaria,
porém matar menos pena a alguém traria!
E surge agora o tal feminicídio,
a cada vez que é morta uma mulher,
qualquer motivo para tal assassinato!
Dos assassinos em série um homicídio
pode ser feminicídio, mas qualquer
motivo outro não configura o mesmo fato!
DECLARAÇÃO UNIVERSAL V
Não é piada, quando foram anistiados
os terroristas, mas suspenso o indulto
para o exército!
De certo maior vulto
tem o espancar de tais aprisionados,
do que a morte de policiais e de soldados;
da Ditadura há um verdadeiro culto,
o revanchista sem ficar oculto,
a cada ano surgem novos torturados,
ao invés de diminuírem, o que é normal,
considerando dos anos a passagem.
Ninguém me diga que existe honestidade
nas assertivas de cunho eleitoral,
resultado de evidente pilantragem,
os eleitores a iludir com a inverdade!
DECLARAÇÃO UNIVERSAL VI
Se for hedionda uma ofensa só verbal,
o que sobra para os atos de sadismo?
Que se mate em silêncio, num mutismo,
não configura o preconceito individual.
Tem seus direitos humanos o serial
assassino, defendido com sofismo;
mas de que serve o nosso penalismo,
reduzido a trinta anos, no final?
Desvirtuamento total dessa intenção
na otimista declaração universal
e ainda há quem chame de adiantada
esta mixórdia de vasta confusão
inserida em nosso código penal,
com tanta culpa sendo desculpada!
CÉU COBALTO I – 18 ABRIL 18
O CÉU É AZUL CERÚLEO ANTE MEUS OLHOS,
ÀS VEZES PÁLIDO, OU ENTÃO, AZUL PROFUNDO,
DESDE QUE A TERRA É TERRA E O MUNDO É MUNDO,
COR DE SAFIRA, BERILO OU AZUL PETRÓLEO;
O CÉU É AZUL, ATÉ MESMO QUANDO O ESPÓLIO
DE UM DIA FAZ DE ROSA O CÉU FECUNDO,
EM FAIXAS DE VIOLETA OU EM NAUSEABUNDO
NEGRO-ARROXEADO NO VENENO DOS ESCOLHOS.
PORÉM É SEMPRE AZUL, AINDA QUE BRANCO
PAREÇA ENEVOADO OU AZUL PEDRENTO,
QUANDO O CINZOR DAS NUVENS DER REPONTE
E VEJO O AZUL NAS RÉSTIAS DO HORIZONTE,
AZUL SIMPLES DE SONHO OU VIOLENTO,
ANTE MEUS OLHOS BORBOTANDO EM FONTE.
CÉU COBALTO II
SEI MUITO BEM QUE NÃO TENHO O SANGUE AZUL,
AINDA QUE MEU PAI SEMPRE DISSESSE
QUE DE UM VISCONDE ELE MESMO DESCENDESSE
E O AFIRMASSE DE MODO ATÉ EXUL-
TANTE, EMBORA OS OSSOS SEJAM JÁ PUL-
VERULENTOS, SEM QUE ELE HERDAR PUDESSE
O TÍTULO HEREDITÁRIO OU NÃO O QUISESSE
E HÁ MAIS DE QUINZE ANOS OS SEUS CUL-
MINASSEM EM DESTINO SEMELHANTE;
DEZOITO ANOS DE SUA MORTE PASSAM
E ATÉ FOI FEITO O TRANSLADO DESSES OSSOS.
A SINAFIA JÁ EMPREGUEI AQUI BASTANTE, (*)
NUM TOM AZUL ESTAS PALAVRAS FAÇAM
PELA INTERNET SEUS DÍGITOS MAIS GROSSOS.
(*) a Grande sinafia, transpondo sílabas de uma palavra
Para o verso seguinte a fim de obter rimas escassas.
CÉU COBALTO III
DE QUALQUER MODO, MEU SANGUE É ENCARNADO
E NÃO AZUL. A NOBREZA QUE
TIVERA
TRANSMITO AO CÉU DA DIGITAL ESFERA.
COBALTO SEJA OU AO INVÉS AVERMELHADO,
QUANDO MEU SANGUE EM VERSO É DERRAMADO
SE TORNA AZUL CERÚLEO NESSA ESPERA,
COMO OS LÁBIOS AZULADOS DE UMA FERA,
ATÉ QUE O SANGUE DA PRESA SEJA ACHADO.
MAS O POEMA TALVEZ SURJA SOLFERINO
OU HELIOTRÓPIO, O VIOLETA GIRASSOL,
OU TENHA UM TOQUE DE MÁGICO BERILO,
MEU SANGUE DISSOLVIDO NESSE FINO,
MÁGICO BEIJO DE MUSA TURNASOL,
A APOQUENTAR-ME COMO ANILADO GRILO.
CÉU COBALTO IV
CONTUDO O CÉU É SEMPRE AZUL, ASSIM
QUANDO O CONTEMPLO COM OLHOS DE POETA;
NA ESCURIDÃO DA NOITE O AZUL VEGETA
E NO PRETEOR DA TEMPESTADE O VEJO, ENFIM,
QUE NESSE TOM AVIOLETADO VEM PRA MIM,
QUAL BERINGELA QUE NEGRORRUBRO AFETA,
UVA MADURA QUE UM AZUL NEGRO INJETA
ANTE MEUS OLHOS EM BLAU FEITOS DELFIM.
CASTANHOS SÃO E AZUL NÃO CONTEMPLARAM
NOS OLHOS AVELÃ DA BEM-AMADA;
DO CÉU, CONTUDO, ME FITA O AZUL OLHAR,
IGUAL QUE OS OLHOS ADOLESCENTES DESEJARAM,
OLHAR AZUL CERÚLEO PELA ESTRADA,
SEM UMA GOTA DE AMOR NELES ACHAR.
SOBREVIVENTES I – 19 ABR 18
Falam muito do mal que a humanidade
Estaria a causar no ecossistema,
Muita espécie em extinção, terrível pena,
Por sua expansão sem controle e sem
bondade.
Mas por mais que busque aí veracidade,
Não encontro qualquer prova dessa cena,
À exceção do pássaro dodô, que nos acena,
Empalhado nos museus, triste verdade!
Tais infelizes tinham carne saborosa,
Viviam somente em ilha de alto-mar,
Devorados por famintos marinheiros...
Mas não existe a extinção tão pavorosa;
Muitas espécies ao contrário a preservar
Nos zoológicos e nos circos prazenteiros.
SOBREVIVENTES II
Na realidade, até falham os esforços,
A despeito de venenos e herbicidas,
Ervas daninhas apenas coibidas
Ou animais a esconder de nós seus dorsos.
Gafanhotos foram mortos sem remorsos,
Combatidas as suas nuvens suicidas,
Porém restritos prosseguindo nas suas lidas,
A saltitar mostrando os verdes torsos.
Hoje é difícil encontrar-se muquiranas
Ou o pungente picar do percevejo,
Que inseticidas os mantêm sob controle,
Porém seus ovos há
latentes pelas ramas
E em lugares escondidos ainda os vejo:
Ao ecologista talvez ainda algum amole!
SOBREVIVENTES III
E que me dizes das pulgas e piolhos
Ou nas metrópoles dos ataques do cupim?
Adaptaram-se, róem cimento, assim
Teus bens fazendo sumir ante teus olhos!
Ainda restam desses todos os restolhos,
Talvez em surto a apresentar-se enfim;
Sempre que a falta de higiene é o estopim
Vem, sorrateiros, sugar os seus espólios!
E quanto aos ratos, terriveis
transmissores
Dessas doenças que, em parte,
exterminaram
Vastas populações, bouba, tifóide,
A leptospirose em seus horrores,
Que desde sempre nos acompanharam,
Persistentes seguidores do humanóide!
SOBREVIVENTES IV
Naturalmente, hoje o palco é dos
mosquitos,
Que nossos pântanos sempre dominaram;
Pela malária, aos Romanos desgraçaram,
Do Grande Império só enfraquecidos
gritos.
Os Anófeles a produzir tantos aflitos,
Febre amarela, terçã, sezã criaram,
Mais mansos, os Culex nos tiranizaram,
Sugam zumbindo os seus súditos benditos!
E agora, Aedes egypti importamos,
A transmitir-nos doenças africanas,
A Zyka e a Chikungunya, quiçá coisa pior!
Febre do Nilo ou Ebola em alguns anos...
Quando a tais dípteros nós exterminamos?
Só derrotados, para voltarem bem melhor!
SOBREVIVENTES V
O que de fato
conseguimos nós fazer
Foi tornar as bactérias resistentes,
Por mutações sempre mais sobreviventes,
Sua evolução fomos nós a provocar!
E quem os livros de história souber ler
Saberá das extinções prevalescentes,
Trilobitas, anfíbios e répteis potentes
E mamíferos, que os ancestrais puderam ver!
Ao invés de destruir, nós contribuímos
Para mais fortes tornar competidores,
Certas espécies certamente estando gratas
Pela limpeza étnica que nelas produzimos
Mesmo com nojo, mil esforços e temores,
Não pudemos extinguir sequer baratas!
SOBREVIVENTES VI
E existe o caso também desse infeliz,
Em sua latrina meditando calmamente,
Seu cigarrinho a pitar tranquilamente,
Depois no vaso a bagana jogar quis...
Não recordou o que a mulher lhe diz:
“Eu enchi de veneno essa patente,
Para matar uma barata resistente!”
Houve explosão! Não morreu só por um
tris!
Se alguém duvida que exista a evolução,
Veja só quantos vírus evolveram
E quantos vermes aos homens acolheram
Como habitat ideal à perfeição!
Mesmo as formigas, que já nos precederam
Talvez presidam até nossa extinção!
vitrais de vírus 1 – 20 abril 18
a natureza é bela em simetria,
nos vegetais a repetição fractal,
entre as montanhas, há um vale natural,
uns a têm bilateral, outros, radial.
os ciclos a renovar-se em harmonia,
todo apogeu levando à decadência;
todo clima se repete com frequência,
a vida vai do berço à senescência.
e sempre vemos na simetria o belo;
nós matamos a vida e nos mantemos
e os parasitas nos percorrem em seus giros,
micro-organismos nos devoram em seu zelo...
e talvez, por isso mesmo, percebemos
cacos de vento em tais vitrais de vírus...
vitrais de vírus 2
muito mais somos que exterminadores;
nossas cidades são grandes viveiros,
os animais nelas se adaptam, sorrateiros,
alimentados por nossos estertores;
somos estufas para seus ardores,
jamais os eliminando por inteiros,
alguns espécimes ficando, derradeiros,
reproduzidos na expansão de seus vigores!
talvez nos tenha criado a natureza
como reflexos de seus grandes vitrais,
em que se possam conservar tais animais;
psitacose dos passarinhos de beleza,
dos caracóis a esquistossomose,
nossas peles penetrando por osmose!
vitrais de virus 3
nisso que afirmo não há nada radical;
nós contribuímos com bastas plantações
para o alimento de tantas multidões:
não os senhores, somo servos, afinal!
há quem afirme, mas sem prova natural,
que descendemos de quaisquer constelações,
noutro planeta ancestral as gerações,
sem evoluirmos, enfim, de um animal...
mas como somos, então, tão compatíveis
com essa plêiade de variados parasitas,
vampiros são de nossas vidas, tão alegres,
a sugar-nos das formas mais incríveis?
e eu te sugiro, finalmente, que admitas
sermos estufas em que se plantam febres!
vitrais de vírus 4
sempre é possível sermos laboratórios
para experiências naturais de evolução,
os comensais a estudar, com aplicação,
melhores meios para seus esponsórios
com nossa carne e cérebros inglórios,
a dominar-nos em constante procissão,
despensas quentes para sua proteção,
o nosso sangue a preencher os seus cibórios!
cacos de vidro a perfurar os nossos olhos,
a provocar mais cegueira e infecção,
que arena somos, perene, de combates!
e no entretanto, nos ungem santos óleos,
lenta derrota da demoníaca invasão,
os generais sendo cientistas, santos vates!
SUPLICANTE I –21 ABRIL 2018
Ai, quem me dera que teus lábios doces
Bem perto suspirassem, junto a mim,
Sempre encontrar-te carinhosa, assim,
Sem que nunca para mim alheia fosses...
Ai, quem me dera partilhar as posses
Sempre contigo! Que pudesse, enfim,
Acordar cedo, como ao toque de clarim,
Ao som do ressonar ou de tuas tosses...
Compartilhar contigo a vida inteira,
Cada momento, na saúde e na doença,
Pois sei que não és fada, mas humana,
Até chegar a minha hora derradeira,
Pois fecharias meus olhos, nessa crença
Que a luz do dia torna a alma mais
profana!
Suplicante ii
Hoje recordo lembrar-se
tiradentes,
Que por ideal sua própria vida
deu.
Só recordamos a marília de
dirceu,
Qual bem-amada lançou olhos
dolentes
Para esse alferes de convicções
potentes,
Que a inconfidência chefiar
reconheceu,
Na lealdade com que a outros
protegeu,
Sem que, afinal, fossem seus atos
inocentes?
Qual desengano o levou a tal delírio?
Dizem que falsa promessa lhe
fizeram,
Que confessando, seria apenas
enforcado,
De felipe dos santos A evitaR
igual martírio...
Mas confessado, afinal o
enforcaram,
Para depois ser igualmente
esquartejado!
Suplicante iii
Foi o parêntese inspirado pela
data;
Quem se deixa matar por seu país
Foi por amor que o sacrifício
quis...
Mas a quem amor gentil mais
arrebata
De bem diverso sacrifício está à
cata...
Não é em vão que a brincadeira
diz
Que entregar-se ao casamento por
juiz
O nó da forca EM seu pescoço
engata!...
Que amor exige do egoísmo o
abandono
Em troca de um prazer
esperançoso,
Sem saber se traz real
felicidade!...
Que o coração adormece nesse sono
Para embarcar em sonho delicioso,
A desejar que nunca acabe, na
verdade!
SUPLICANTE IV
E se desejo meus olhos ter fechados
Por esses dedos de minha feiticeira,
Prova de egoísmo eu faço, derradeira,
Pois os seus dedos deixarei abandonados.
Os meus desejos sendo confirmados
Ponho em dúvida que a boca hospitaleira
Para sempre me pretenda ser inteira,
Nesses atos de amor compartilhados...
Mas como o amor em mim tão forte foi,
Sem força idêntica no dela duvidar,
Bem oposto devia ser o meu desejo:
Que venha o tempo que seu corpo destrói
E deva então ser minha função fechar
Seus doces olhos com meu triste beijo!
quadrilhas – 22 abril 2018
na batalha de meus prantos
com a crina dos sorrisos,
o perfume de teus mantos
revestiu-me de teus risos!
romantismo me assolou,
formosura é o que se quer,
quantas vezes me assaltou
o piscar de uma mulher!
o
brilho visto no olhar,
o
menear de seus cabelos,
bem
depressa a despertar
o
fervor de meus desvelos!
ou as pernas bem torneadas,
doce curva dos quadris,
quantas damas abençoadas
o meu corpo sempre quis!
mesmo apenas de passagem,
sem jamais vê-las de novo,
sem temor, mas sem coragem,
desejei esse renovo!
quantas
vezes pressenti,
caso
o aroma perseguisse,
que
esse amor de colibri
facilmente
se cumprisse!
mas caminhos se afastaram,
eu cumpri o meu destino,
no cartório sem chegar,
nem da igreja bateu sino!
na verdade, é mais a ideia
que desperta a inquietação,
caso houvesse uma epopeia,
perderia a inspiração!
são
amores passageiros,
que
nem sequer amor são,
olhares
breves, arteiros,
só
a pingar no coração!
alguns somente escolhi
ou quiçá fui escolhido
e quando pensei: “venci!”
de fato fui o vencido!
que de amores tive uns quantos,
nalguns deles fui feliz,
houve outros que não quis,
que não me quiseram... tantos!
mas
amar somente o amor,
em
doce paixão secreta,
contra
promessas de ardor
é
a vingança de um poeta!
ONAN E TAMAR 1 – 23 ABRIL 18
Tempo houve em que se fez modismo
Classificar de mental masturbação
Algum discurso divergente da opinião
Esposada por um mestre do sofismo...
Em zombaria, mencionei o onanismo,
Causando a morte por certa infração
Desse Onan bíblico cuja interrupção
Do ato sexual definia o seu egoísmo.
De Er, seu irmão, a viúva desposara,
Para dar ao falecido descendência,
Seus filhos sendo do irmão considerados.
Assim Onan a Tamar não fecundara,
Mas sobre a areia derramara sua potência,
Em vez de amor, a cometer pecados!
ONAN E TAMAR 2
Segundo o Gênesis, Jeová o fez morrer,
Em consequência do coito interrompido;
Onan, ou Forte, era seu nome recebido,
Os dois morreram sem seus filhos ter.
Pelo costume, Tamar deveria conceber
De Selá ou Zelá o filho prometido,
Porém Judá, seu sogro, arrependido,
Temia fosse o terceiro filho perecer!
Mandou Tamar para a casa de seu pai,
Até atingisse a idade varonil
Este Selá, então ainda adolescente
E na sua dupla viuvez a mulher vai,
Ali sofrendo um preconceito vil:
Além de estéril, maldita realmente!..
ONAN E TAMAR 3
Com paciência, ela aceitou a situação
E vários anos assim foram passados,
Seus óvulos mensalmente descartados,
Sabendo já que Selá crescera então...
Porém Judá evitava essa ocasião
De ser um novo matrimônio celebrado...
E se Selá também fosse trucidado
Por Tamar, repetida a maldição?
Um certo dia, ela trajou de prostituta,
Montando tenda à beira do caminho
Por que sabia seu sogro iria passar.
Judá viúvo, compreensível sua conduta,
À meretriz oferece seu carinho,
Sem conhecer a quem fora abraçar!
ONAN E TAMAR 4
Tamar indagou: “Que me darás?”
“Enviar-te-ei um cabrito do rebanho.”
“Mas que prova me darás deste meu ganho?”
“O meu cajado de pastor conservarás.”
Perfeitamente Tamar sabe o que faz,
De um dia fértil já percebera o amanho,
Dessa semente seu ventre leva o banho
E para a casa de seu pai voltou em paz.
Eventualmente, Judá foi avisado:
“Essa viúva de teus filhos fornicou,
Por seu pecado ela agora está pejada!”
Com a notícia, ficou Judá bem aliviado:
Podia matá-la, agora que pecou
E ordenou que fosse apedrejada!
ONAN E TAMAR 5
Mal se lembrava daquela meretriz,
A quem levara a prenda prometida,
Para encontrar-lhe a tenda removida
E seu destino, em vão, procurar quis...
Pois Tamar o enfrentou: “Isso que fiz
Foi para ter tua descendência garantida;
Pelo dono deste cajado fui possuída.
Por mais ninguém demonstrei desejos
vis!...”
Judá ficou profundamente perturbado:
“Essa Tamar é mais justa do que eu,
Selá lhe prometi, mas lhe neguei.”
Passou a viúva a habitar junto a seu lado,
Porem Judá somente honra então lhe deu,
Sem outra vez a possuir, contrário à lei.
ONAN E TAMAR 6
E no devido tempo, deu à luz
Dois gêmeos, Peretz e Zerá
E a Escritura nos informará
Ter sido antepassada de Jesus...
Mas à Igreja este episódio induz:
Como Onanismo se classificará
O coito interrompido e este será
Mais um pecado que confissão produz.
Assim, ao invés de masturbação mental,
Um verbete que causou-me zombaria,
Ao escutá-lo por tantas bocas repetido,
“É um onanismo,” com cinismo natural
A tais interlocutores então dizia,
Sem conseguir ser por eles compreendido!
O CARDEAL E AS POMBAS I – 24 ABRIL 2018
Vi um cardeal pousar na romãzeira,
acompanhado por seis pombas brancas,
eucaristias celebrando francas,
seus acólitos na eclesiástica videira...
Sobrepelizes sobre a batina rotineira,
os galhos pedestais tais como bancas,
mesa comum a recordar de pernas mancas,
as sete aves a bicar nessa fruteira...
No comparar não sou aqui original,
somente me apresento ad
reversum,
que foi a ave à autoridade comparada
e seu oposto para mim foi natural,
mas as seis pombas incluí ad
absurdum,
sua brancura por cinza maculada...
O
CARDEAL E AS POMBAS II
Mas,
realmente, é coisa de espantar
que
o cardeal e as pombas convivessem;
que
as seis nessa árvore estivessem
é
natural, visto o seu nidificar,
no
beiral de meu telhado o seu lugar
há
vinte anos, se bem que já morressem
os
casais originais e outros viessem,
para
de novo os mesmos ninhos ocupar.
Mas
que aceitassem a presença do cardeal!
Chamam
as pombas de pássaros da paz,
em
função de alegorias do Evangelho,
contudo,
têm uma atitude bem mortal:
contra
um intruso qualquer, isto é veraz,
é
bem mais belicoso o seu concelho!... (*)
(*)
Conclave, equipe, administração.
O CARDEAL E AS POMBAS III
Mas, afinal, o que fariam todas sete?
Não visitam a romãzeira geralmente,
talvez só fosse em função de estar presente
ali o cardeal, que a inimizade se projete,
para expulsar quem no seu pátio se intromete.
Pardais aceitam bem mais calmamente,
um bem-te-vi ali a pousar eventualmente
e tal visão talvez até me inquiete...
Pretenderiam as seis pombas devorar
esse cardeal pela sua intromissão
ou mais terrível a ser essa ocasião?
Que o encarnado que pude constatar,
fosse outra pomba, seu sangue em efusão,
a ser bebido pelas seis em comunhão!?
GROTESCO I – 25 ABRIL 18
Transformo a água por meu
pensamento
e com ela preencho a minha
janela;
afinal, se a mulher, de
uma costela
foi completada em seu
acanhamento,
por que não posso produzir
igual portento,
construir ao incensar
palavra bela?
O vento cavalguei,
tornando em sela
cada zéfiro para meu
divertimento!...
Afinal, se Éolo, o deus
dos ventos,
deu a Ulisses um surrão de
couro,
para soltar só quando
houvesse calmaria,
por que não posso exigir
iguais eventos?
Sei bem que Ulisses, para
seu desdouro,
perdeu os ventos que o
surrão trazia!...
GROTESCO II
Não foi culpa de Ulisses, totalmente,
pois guardou dos marinheiros o segredo
e certa noite, com curioso dedo,
foram abrir o surrão, furtivamente...
Mas no momento do delito dessa gente,
o surrão, permanecendo antes tão quedo,
soltou cem ventos, tempestade e medo,
e sua galera destruir inteiramente...
Triste, Odisseu uma vez mais aportou
na ilha de Éolo, para pedir mais vento,
ali encontrando tão só reprovação...
Nunca Éolo quaisquer brisas me entregou,
mas nada impede que para meu contento,
eu roube dele alguma breve viração!
GROTESCO III
E de igual modo, eu posso ao deus da
chuva
furtar um pouco de água condensada
e empregá-lo, em minha vidraça
transformada,
nos caixilhos a se prender como uma
luva...
Ou de Selene ir buscar a coma fulva,
para mudá-la em dama apessoada,
talvez mesmo a torná-la a bem-amada,
em pensamento a penetrar-lhe a vulva...
Ou poderei transformar o pó da terra
em deliciosa poção refrigerante,
para servir a meus hóspedes no estio
ou então pedir a Ares, deus da guerra,
que me alugue o seu fogo mais vibrante,
mais calidez assim mostrando quando rio!
GROTESCO IV
E deixarei o céu
submarino,
construirei uma abóbada de
oceano,
aos metais derretidos, com
afano,
eu beijarei para
mudar-lhes o destino!
Caso julgares ver aqui meu
desatino,
em pensamento, sou puro e
soberano!
Sou no meu sonho Imperador
Romano,
enchendo a taça com meu
canto peregrino!
Vento minuano comerei de
madrugada,
banhar-me-ei, na mais pura
ostentação,
nessa cuia de mate em que
outros tomam,
minha varinha de
crepúsculo encantada,
a indumentária toda feita
da emoção
dos pensamentos que minha
loucura abonam!
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William Lagos
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