MUNDO EMARANHADO &
MAIS
Novas Séries de William
Lagos, 26/4-5/5/2018
MUNDO EMARANHADO I – 26
ABRIL 2018
Amor me dói durante a
madrugada,
ao vê-lo hirto e sem
perspectiva
de qualquer
reciprocidade mais ativa,
busco entre os dedos e
não encontro nada.
Amor se foi qual
caprichosa fada
que ao coração agudos
cravos criva,
cada sorriso outra
armadilha esquiva,
em cada gesto outra
veia deslocada,
nesse amor poeira que
me pulveriza,
tão ao alcance da mão e
tão distante,
na graça impura do
manto que me envolve,
amor perfume que me
perfuma a brisa,
tão permanente em seu
ser inconstante,
como um beijo já fruído
e que não volve.
MUNDO EMARANHADO II
Fato é que tudo neste
mundo é transitório
e ao mesmo tempo um
labirinto permanente,
chumaço de mil fios, onipresente,
um carretel emaranhado
em seu cursório;
amor se esconde ao
fundo, peremptório
e só se mostra em
cintilar contente,
cada mulher uma fita
reluzente,
cada homem um cordão
mais irrisório;
tais fitas, para o
mastro destinadas
se enovelam, embaralhado
seu apoio,
já os cordões em
metálica navalha;
umas se expandem, em
tiaras reveladas,
outros se espalham como
grosso joio:
cumprida a dança, todo
ardor se talha.
MUNDO EMARANHADO III
“E por multiplicar-se a
iniquidade,
esfriará o amor em
muitos corações,”
presos nos peitos, sem
grandes proteções,
sempre sujeitos à menor
casualidade;
por isso é fácil, nessa
amoralidade,
que os amores se façam
invenções,
sem permanência as
breves intenções,
tão perdulária tal
eternidade!...
Assim, um corpo noutro
se emaranha,
pernas e braços
depressa a separar,
fica a semente, se não
for contida,
seguida em breve por
outra ação tacanha,
já separada até antes
de iniciar,
sem ser a alma nem ao
menos iludida.
MUNDO EMARANHADO IV
Não obstante, o suor é
permanente,
nessa mistura de óleos
corporais,
esses fluidos que a
água não faz mais
sumir da pele após o
ardor ausente,
porque a memória da
carne é delinquente
e por momentos nos
torna a dominar,
beijos no corpo de novo
a recordar,
súbito raio de fulgor
potente!...
Assim, não há como sair
do emaranhado,
mesmo que seja a mais
vazia comunhão,
ele é perene em seu
vezo heterogêneo,
que contraria o suflar
do oxigênio,
mesmo ocultado,
retornando em emoção,
qualquer que seja o
instante recordado.
COISIFICAÇÃO I – 27 ABRIL 2018
Até que ponto o
sexo casual,
hoje que
são os costumes diferentes,
em
transitórios abraços aparentes
não traz em si um
reflexo imortal?
Prossegue a raça
pelo amor carnal
em
quantas gerações subjacentes,
para
esse amor tão só indiferentes,
nao fora o ensejo
de ardor mais material...
Isso de amor
romântico é recente:
dois
séculos apenas, pouco mais,
já houve tempo em
que era mesmo proibido
que a mulher fosse
mais que complacente,
submissa
a seus deveres maritais,
seu coração mal e mal
sendo ferido.
COISIFICAÇÃO II
Mas este
ato, muitas vezes repetido,
inteiro
perde o sabor de uma aventura,
fica vulgar, por mais que haja ternura,
um pouco
às claras, porém mais escondido;
mas sendo coisa, que não seja esquecido,
sempre alguma caridade nessa agrura;
ao solitário, um rasgo de ventura,
ao
desprezado, consola o ardor ferido.
No
geral, será a dama que concede
esta
virtude ao coração plebeu,
que
masculina é a maior necessidade;
mas em
outras vezes, tristeza é a que pede
do
coração que outrem já esqueceu,
abraço
simples, mas eivado de bondade.
COISIFICAÇÃO III
O romantismo era mais para as
batalhas,
esses
feitos de honra e de combate,
nos
romances mais antigos que se cate,
desculpa a dama para essas
longas talhas,
a
encobrir as masculinas falhas:
que
junto à roca a jovem se recate
e seu desejo num bordado engate,
a sua tristeza no traçar das
malhas...
O
romantismo ao amor não se ligava,
mas
aos atos de valor e de bravura,
a ser cantados depois por
menestréis
e o cavaleiro para a noiva retornava,
para possuir sem carinho a carne pura,
os ventres sendo da raça os carretéis...
COISIFICAÇÃO IV
Para a linha comum
dessa semente,
a dama
dava ao nobre a descendência,
sua prova viva da máscula potência;
seda em bordado, qual
em torçal frequente,
a vida curta,
breve morrer-se ingente,
no amor
dos filhos a inteira contingência,
para o
marido tão só a complacência,
em novo parto
chega a morte permanente,
que mais não era que coisificação
esse sexor a
cumprir-se por dever,
sem um desejo real de parte a parte;
e então se achava, no final, reprovação
dos confessores
por momento de prazer,
que ao paraíso essa infeliz até descarte!
COISIFICAÇÃO V
Assim, no ato moderno,
sem pudor,
mas
cumprido também sem falsidade,
se encontrará, talvez, menor maldade
que no ato antigo
cumprido sem ardor,
que nesse encontro
casual, coisa de amor
sempre
se acha, escondida na verdade,
sem
compromisso nessa promiscuidade,
sem confessar que
se queria outro valor...
Mas não sómente
sendo coisa material,
não é
concreta tal coisificação,
traço de sonho
permeia esse delírio,
algo se doa, sem
sofrer martírio,
por um
átimo a respirar o espiritual,
que é uma coisa,
afinal, do coração!
TRISTE AMOR I – 28 ABRIL 18
Em sendo apenas um encontro
passageiro,
amor se faz, num momento, coisa
fútil;
não manifesta a pujança do
inconsútil,
nada de eterno neste amor de
desespero
de quem outra mulher queria
primeiro,
para ela o coração, em sonho dúctil,
nesse brilho estelar, vibrante e
rútil,
amor trocado pelo amor que não
espero,
fervor substituto, ardor vazio,
favor ersatz, sem nada permanente,
um momento de prazer para esquecer;
pura ilusão de estar com outra eu
crio
em tal encontro temporário e
inconsequente,
que nem no corpo irá permanecer!
TRISTE AMOR II
Um triste amor, amor
de macaréu,
amor inveja do amor
que já se teve,
amor de rua, que ao
lar nunca se leve,
sem constituir um
amor de solidéu,
toda emoção só no
tule desse véu,
é um outro rosto que
reluz em breve,
todo o calor
disperso, em que não deve
Hermes sorrir, pois
retira o caduceu.
É amor perdido, sem
qualquer denodo,
que não se quer
doravante recordar,
amor rotina, um amor
de refeição,
amor de espanto nesse
amor de lodo,
tão breve como a flor
que vai murchar,
fruto de um só bater
do coração!
TRISTE AMOR III
Amor de coito, sem o
menor sentido,
com quem não amo e
nem me ama ela,
mas que me abre em
raio fúlgido a janela,
tal qual por vento
apenas consumido;
e no entretanto,
igual a amor perdido,
como consola, tal
qual chama de vela,
brilho fulgente a
desgastar-se nela,
alçado o êxtase, sem
ser interrompido,
corpo no corpo, nesse
ideal nutrido,
por curto instante o
centro de meu mundo,
por um momento a ser
o centro da donzela,
mas não eu mesmo, em
mim nada profundo,
só de algum sonho
dela outrora perseguido,
durando apenas o
tempo da procela!
TRISTE AMOR IV
E não se trata sequer de amor venal,
pois no momento da entrega, é
doação;
sem ser amor de mãe ou amor de
irmão,
mas incluindo um incesto espiritual,
que na verdade, em si não traz o
mal,
somente o alívio para amarga
inquietação,
curta a tristeza que nos rasga o
coração,
longa a saudade em seu pendor
crucial;
e nem se trata de amor de
fingimento,
por uns segundos sendo feito de
carinho,
por uns momentos sendo feito de
esperança,
por longas horas um desapontamento,
cada parceiro a seguir o seu
caminho,
já desgastado pela arcana dança!
averbação 1 – 29 abril 2018
isto é inerente à natureza
humana,
sempre ansiando por aquilo
que não tem,
algo de novo a desejar
também,
lavrada a vida em certidão
insana!
essa fome pelo novo nos
irmana;
sempre que a vida de tudo
nos provém,
em cada instante da vida o
seu porém,
nasce o desejo de conquista
mais profana!
e quando tudo, afinal, foi
alcançado,
registrada a certidão, tudo
averbado,
de novo surge a inquietação
imponderável,
revestida, afinal, de
inconsequência,
tudo se tendo usufruído com
potência,
mas como não se amar o
inalcansável?
averbação 2
antes o fado
nos lavrou o documento,
a descrever os
bens que se possui,
as concessões
com que, enfim, se anui,
nesse nanquim
gelado de um assento
e o tempo
gira, a devorar momento;
em retrospecto
já não sei aonde fui,
no mais
concreto minha certeza rui,
o ar nos sopra
talvez padecimento
e a atmosfera,
às vezes, se congela,
líquida e
térrea, ígnea e aquática,
nessa gaiola
que cada um constrói,
na plástica
vitrine a ver-se vida bela,
nos exibindo a
certeza matemática
que o vento
espalha e a tempestade rói.
averbação 3
e num rasgão da pele uma
centelha,
então se fura parede
inexistente,
que só no imaginar se fez
presente,
que o exterior só o lado
interno espelha,
cortando a calma monótona do
existente,
a perda que se avista só de
esguelha,
toda corroída essa gaiola
velha,
dilacerada sendo de forma
permanente,
porque a parede era o
próprio coração
e agora um novo precisamos
enxertar
e o nosso antigo órgão
registrar
na risca rubra de tal
averbação,
sobre a margem do assento
redigida,
qual incurável e mística ferida!
desafio 1 – 30 abril 2018
(Com um agradecimento a Alfred
Alcorn)
“dentro de cada gordo,” há um ditado,
dizendo que “se esforça por sair
um homem magro” – ou então, para
impedir
a uma mulher que tenha o corpo
desejado...
esse dichote já deverás ter escutado
e reagido pelo esgar de algum sorrir;
talvez te vejas refletido nesse agir,
talvez de outrem tenhas debochado...
só que nunca é voluntária a
obesidade;
sedentarismo e da gula seu pendor
impedem o homem magro de escapar;
e aqui adiciono com maliciosidade:
“de cada mulher magra no exterior,
há um homem gordo ansiando por entrar!...”
desafio 2
existem hoje em dia leis sociais
tornando obrigatória a construção
de elevadores ou rampas, na intenção
de atender necessidades bem reais
dos deficientes ou mutilados ou de maternais
dificuldades para a locomoção
com carrinhos de bebê; ou em atenção
a cadeirantes ou quiçá a quantos mais.
porém tenho igualmente observado
que ao portador de prótese atrapalham
tais rampas; ou a quem anda de bengala
ou nas ruas por andador sendo amparado,
que degraus do meio-fio melhor lhes calham
do que rampa em que a muleta lhes resvala.
desafio 3
não é mais correto, politicamente,
falar-se hoje de alguma deficiência,
um “desafio físico” a ter mais ingerência
na descrição de quem difere doutra gente,
vindo a ser hoje definido, com potência,
a quem tenha uma visão mais deficiente
portar “desafio visual” -- mais reverente,
a receber
nossa atenção e complacência;
mesmo eu, que sempre tive miopia,
posso chamar-me assim desafiado,
mas com óculos ou com lentes de contato
deixo de ser um portador de ambliopia,
o desafio por desafio contrariado,
sem exigir maior auxílio sem recato!
desafio 4
é incontestável a falta de audição
do portador de “desafio auditivo”
ou daquele a quem acidente deu motivo
para um “desafio de locomoção”...
porém o engorde já tem outra razão;
mesmo sendo o exercitar proibitivo,
sempre o recurso tem, mais primitivo,
de limitar dos alimentos a ingestão.
e assim será que tenha igual direito
de requerer por especial assento
que só aos obesos seja destinado,
ao alegar que deva ser aceito,
de forma singular, em todo evento,
“morfologicamente” por ser
“desafiado”!?
CRIAÇÃO
I – 1º de maio de 2018
Criadores,
tanto quanto criaturas,
Somos
nós todos que chamais de humanos;
O
impulso da beleza, sem enganos,
Caracteriza
não somente as almas puras,
Mas
até mesmo as de visões mais duras
Daqueles
que só buscam, soberanos,
Lucrar
e enriquecer ou seus profanos
Desejos
realizar sem mais lisuras,
Pois
até mesmo na construção desses impérios
Existem
um equilíbrio e uma harmonia
Que
nos conotam uma forma de beleza
E
os que proclamam seus interesses sérios
Na
medicina ou na advocacia,
Não
procuram a feiúra, com certeza!
CRIAÇÃO II
Pois há beleza na aplicação
da lei,
Caso for justa e bem
equilibrada
Ou numa intervenção
bem adequada
A beleza da saúde
encontrarei;
Na matemática da
equação terei
Um contraponto à
conclusão errada,
Mesmo a limpeza das
ruas destinada
À perfeição do caminho
em que andarei.
O sacerdote proclama,
em sua doutrina,
A beleza do Ser e Sua
igual sabedoria
E quem pode contestar
ao arquiteto
Ou ao engenheiro na
planta em que se inclina,
Essa tendência que a
mente humana cria,
No edificar do mais
humilde teto?
CRIAÇÃO III
Até no crime se
encontra inspiração,
Para que seja o mais
perfeito que possível
E da polícia a ação,
mesmo imperceptível,
Enfim resulta em
qualquer bela detenção!
De modo algum a
limitar-se a criação
À obra de arte, ao
livro consumível,
Ao teatro ou ao poema mais
incrível,
Mas todo ato em que um
humano aplique a mão.
Não por acaso
“criação” se denominam
O cuidado pelo gado e
a agricultura;
Há objetivos na caçada
e em pescaria
E de igual modo que as
jóias se refinam,
Amor se encontra em
cada criatura
Que participe desta
humana parceria.
CRIAÇÃO
IV
Banal
dizer que toda humana criatura
Seja
dos pais o produto e a criação,
Pelo
ambiente que lhe dá a educação,
Pela
genética em que o Deeneá perdura,
Em
que a raça a se apalpar depura
As
deficiências de doenças sem razão
Ou
essas falhas que na senescência são
Tão
naturais em permanente agrura.
Pois
nesse amparo da velhice há a intenção
De
conservar por mais tempo a vida humana
Pelo
sagrado que se achara na “criança”,
Não
por acaso tendo igual conotação
Essa
palavra que a todos nós irmana,
Por
mais tragédia que se encontre na esperança.
CLIMA I – 2 MAIO 18
Tantos se queixam das condições extremas
de frio e de calor, mas na verdade,
existe um mérito em tal extremidade,
que esses períodos recordamos e as centenas
de dias comuns esquecemos nós, apenas;
nos dias extremos há memorabilidade,
nos dias
medianos só a uniformidade,
por nós passando iguais em suas dezenas,
sem ser segredo que frequente me queixei
desses dias absurdos de calor
e bem queria não os mais experimentar,
porém é certo que bem mais recordarei
dessa cálida umidade, em seu pavor
que do outro clima que me não veio incomodar!
CLIMA II
Portanto,
eu me desculpo, humildemente,
perante
os dias de calor de estio,
se
bem que, quando passam, me alivio,
mas dos
quais eu me lembro intensamente!
E escuto
alhures queixa bem potente
sobre
a inclemência desses dias de frio,
sem
que empatize com o manifesto brio
desses
queixumes e clamor de tanta gente!
Só lhes
indago se se esquecem desses dias,
após
passado tudo o sofrimento
ou se lhes
ficam latentes na memória,
ou mais
recordam, com exatidão das vias
do
bem-estar e do contentamento,
repetidas
uma a uma sem história!...
CLIMA III
Hão de dizer-me: a primavera é agradável
e há satisfação maior no outono,
mas de Estações seu relembrar é
dono,
quem recorda como um dia memorável
esse em que nada sucedeu de mais notável,
salvo o bom tempo, com todo o seu
abono,
igual ao de ontem e de amanhã, seu
sono
a despertar
para outro dia mais viável,
mas sem qualquer alteração do clima;
talvez recordem de alguma tempestade,
com geada e com granizo, porém não somente
dos dias monótonos sem expressão ferina,
por prazenteira que lhes fora a amenidade,
mas sem
trazer-lhes lembrança permanente!
CARDIOPATIA I – 3 MAIO 2018
SEMPRE TE DISSE QUE TE DEI MEU
CORAÇÃO
E EM TROCA DIZES QUE ME DESTE O TEU
TAMBÉM;
AMOR CARDÍACO É, PORTANTO, O QUE SE
TEM,
SENDO TALVEZ NECESSÁRIA INTERVENÇÃO!
SE POR ACASO HOUVER TRANSPLANTAÇÃO,
QUANDO UM NOVO CORAÇÃO OUTRO PROVÉM,
QUAL É O AMOR QUE ESSES MÚSCULO
CONTÉM,
JÁ QUE O ANTIGO SE PERDEU NA
OPERAÇÃO?
MAS SE ACASO FORES TU A
TRANSPLANTADA,
TEU ÓRGÃO MORTO GUARDAREI SEMPRE A
MEU LADO,
SEM PERMITIR QUE O DESCARTEM NO
FINAL,
POR ESSE AMOR QUE TENHO A TUAS
AURÍCULAS,
POR ESSE AMOR DEVOTADO A TEUS
VENTRÍCULOS,
POR TER PAIXÃO DE TUA VÁLVULA MITRAL!
CARDIOPATIA II
SE BEM QUE TIVE O POEMA EMBARALHADO,
AURÍCULA SENDO BEM DIFÍCIL DE RIMAR
E O VENTRÍCULO UM OUTRO ÓRGÃO A
LEMBRAR,
PERMANECEU O CORAÇÃO APAIXONADO,
PRESO NA AORTA POR UM ZELO CONSAGRADO,
DO MIOCÁRDIO SEM SE PODER LIVRAR,
OXI-HEMOGLOBINA SEMPRE A ESTIMULAR,
BOMBA DE SANGUE ESTE ÓRGÃO ENCANTADO,
CADA LEUCÓCITO MEU AMOR A DEFENDER,
CADA PLAQUETA DEPRESSA A PREENCHER
AS FERIDAS DO CIÚME E DA SAUDADE!
CADA HEMÁCIA AQUECENDO MEU PULMÃO
COM O OXIGÊNIO QUE IMPULSIONA O
CORAÇÃO
NA HERÓICA DANÇA DA VITALIDADE!
CARDIOPATIA III
A MINHA VÁLVULA TRICÚSPIDE É FIEL,
AMA-TE TANTO QUANTO A VÁLVULA MITRAL,
MEU CORAÇÃO JAMAIS TE FARÁ MAL,
MESMO A CARBO-HEMOGLOBINA NO SEU GEL!
COM MINHAS ARTÉRIAS TE FAREI O ANEL
DE UM MATRIMÔNIO PLURIDIMENSIONAL,
DOS CAPILARES MEU SANGUE NO CAUDAL,
SÓ REJEITADA A BILE DO MEU FEL!
MESMO QUE AGORA JÁ HÁ NOVA ESPERANÇA,
QUE UM NOVO CORAÇÃO POSSO IMPRIMIR
EM TRÊS-D, CASO O MEU VENHA A FALHAR!
TENDO CERTEZA DE QUE NO MOLDAR SE
ALCANÇA
O MESMO AMOR QUE POR TI VEIO A NUTRIR
MEU CORAÇÃO EM SEU FREMENTE PALPITAR!
CÁLIDA MODORRA I – 4 MAIO 18
Sonhando assim, no sonhar quando se
dorme,
não é desgaste do tempo de uma vida,
mas aos sonhos é preciso dar medida,
no devaneio que tua visão conforme,
que satisfaça o meu anseio tão
disforme,
de nós afaste a perene despedida,
a degolar-nos a senda tão querida
ou que, afinal, o destino nos transforme,
pois não é só o devaneio que nos leva
a passear pelas nuvens fabulosas,
em que castelos tanta gente
construiu;
sonhar, de fato, é o trigo que nos
ceva,
em seus caules mil espigas
portentosas
de uma insurgência que nunca em nós
ruiu.
CÁLIDA MODORRA II
Sonhar melhor é sonhar quando se acorda,
no respirar da expiração alheia,
esse leve ronronar nos incendeia
e o coração com mais calor desborda;
sonhar melhor é trançar a nova corda,
que prende às nossas de nosso amor a veia,
na voluntária extensão de cada peia,
que jamais o destino corte ou morda;
sonhar melhor é o proteger dessa
ilusão
de que essa carne adormecida seja eterna
e que nunca amortecida seja a luz,
desses olhos, que se aguarda em emoção,
que se abram para nós em mágoa terna,
em que seu próprio bocejo nos seduz!
CÁLIDA MODORRA III
E por acaso há algo melhor do que
sonhar,
nesses momentos sem ter compromisso,
quando o desejo do coração atiço
para a eclosão de um mais perfeito
amar?
E que melhor existe que esperar
que a vida toda conserve o mesmo
viço,
sabendo a insensatez que habita
nisso,
mas decidindo o que é real ignorar?
E que melhor se encontra que essa espera,
breve que seja, que longa nos parece,
nas pálpebras fechadas há uma prece,
que saudade antecipada já nos gera,
na atribuição de realidade a tal
sonhar,
enquanto a vida nos devora a deslizar?
BERÇO DE SONHO I – 5 ABRIL 18
Caso tua alma não nutra qualquer sonho,
Como esperar que algum se realize?
Sonhar se deve até o solo que se pise,
Por mais pareça um tal ideal bisonho.
Caso tua alma enfrente só o medonho,
Como esperar que o belo nela gize?
Espinho e pedra que teu sonhar alise!
Toda esperança em tal vereda eu ponho...
E pouco importa que o sonho te limite,
Por que tu deves enfrentar o macaréu
Da vida, sem nutrir-lhe a bizarria?
E que o sonho igualmente te concite
A suportar dos alheios o escarcéu,
Seu fragor a suportar com a mente fria...
BERÇO DE SONHO II
A vida só a enfrentar com os pés no chão
Irá acrescentar a teu solo mais dureza,
Sem preparar-nos, afinal, para a incerteza
Que a cada ponto nos assalta o coração.
É necessário algum tesouro ter à mão,
Mesmo que seja da mais vulgar beleza,
Que o sonho sempre exista à nossa mesa
Nesses momentos em que nos falte o pão!
Isso porque, do sonho apenas se abster
Caminho certo te será do pessimismo,
Sempre é possível se dar um passo atrás,
Aonde ao sonho se possa pertencer,
Para os percalços enfrentar com otimismo,
Flechas de sonho mantendo no carcás!
BERÇO DE SONHO III
Somente assim enxergarás a maravilha
Que se esconde em cada canto do real
Cada pequeno milagre espectral,
Ocultado no dobrar de cada trilha!
Se contemplares só a tristeza que se empilha
Na concretudo do mais tradicional,
Nessa ausência pura e simples de um ideal,
Para quê um novo dia se perfilha?
Guarda teu sonho para a tua saúde
Nos teus piores momentos de doença,
Quando mais forte chegar desilusão!
Porque teu sonho é teu e não te ilude,
Conserva nele bem firme toda a crença,
Sem deixá-lo escapar do coração!
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William Lagos
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