LEÃO EM JAULA – 6-15/12/2018
Novas Séries de William Lagos
Leão em Jaula (V) ...
6 dez 2018
Leões em Liberdade (IV)
... 7 dez 2018
Leões em Santuários
(III) ... 8 dez 2018
Cartas Incertas (IV)
... 9 dez 2018
Cartas Perdidas (IV)
... 10 dez 2018
Cartas de Retorno (IV)
... 11 dez 2018
Virgens Velhas (III)
... 12 dez 2018
Do Lado Errado (VI)
... 13 dez 2018
Aforismo (IV) ... 14
dez 2018
Revanche da Pintura
(VI) ... 15 dez 2018
LEÃO EM JAULA I – 6/12/2018
as vistas lanço para ti, televisão
que me transmites imagens de leões;
garras e presas, fortes feras, me depões
perante olhar já acostumado a tal visão.
não há uma besta guardada ali em prisão
por algum crime contra as multidões
entre as que mostras em rápidas visões;
ainda vivem em sua expectação
de alguma caça, feras são carnívoras;
quem as teme são os búfalos e gnus.
por isso andam em rebanhos os herbívoros
e não é fácil para os bandos assassinos
conquistar quentes seus alimentos crus,
couros e ossos a demarcar destinos.
LEÃO EM JAULA II
hoje é costume aos circos atacar,
que antigamente mostravam domadores
a estalar seus chicotes com ardores,
pondo leões e tigres a dançar,
um espetáculo mais a representar,
alimentados já tais comedores,
nas plateias a despertar falsos temores,
os tratadores quase nunca a maltratar.
houve, é bem certo, algum empreendimento
em que animais maltratados já sofreram,
mas bem pior viviam os funcionários;
e mesmo em Roma, o espectador atento
outros humanos vaiava,
que perderam
suas vidas a alimentar felinos vários...
LEÃO EM JAULA III
mas é tolice a um zoológico condenar
por não gozarem ali de liberdade
os animais a divertir a humanidade,
tal qual se fossem prisioneiros a penar,
pois seu vale-alimentação irão ganhar,
bastando apenas fingir ferocidade,
rugir um pouco, decerto sem maldade,
só a um imprudente podendo abocanhar!
já que em zoológicos sobrevivem muito mais:
dez ou mais vezes que em ambiente natural,
não sendo humanos para ali se lastimar;
muitas espécies nas matas, ademais,
já estariam extintas e só o artificial
meio-ambiente é que as pôde preservar.
LEÃO EM JAULA IV
e quem nos diz que tal animal preso,
vendo espetáculo através das barras,
expondo com prazer presas e garras,
não contempla o ser humano com desprezo?
talvez nos veja, alimentado e ileso,
como atores marchando sem amarras
para suas próprias diversões e farras,
grupo inconstante, ridículo e incoeso...
mas talvez percam sua atual preservação,
que existem hoje tantas feras eletrônicas,
até mesmo aquelas bestas anacrônicas,
os dinossauros de antiquíssima extinção;
e se forem substituídos nessa trilha
por outros tantos animais a pilha?
LEÃO EM JAULA V
por que, então, animais se alimentar,
manter suas jaulas em conservação,
veterinários a dar-lhes atenção
e sua higiene constante realizar?
provavelmente, os irão sacrificar,
indo às savanas retornar sua multidão,
as suas vidas em feroz limitação,
pois nem sequer conseguirão caçar!
porque não são animais de estimação,
tampouco gado para alimentação
e seu único sentido é serem belos...
novos zoológicos tão somente digitais,
desnecessária a presença de animais,
baterias, nada mais, para mantê-los!
LEÕES EM
LIBERDADE I – 7/12/2018
nisto um leão
é apenas emblemático;
maior
trabalho nos causam elefantes,
os
hipopótamos e os rinocerontes
ou um macho
de girafa sorumbático!
seu
mantimento muito mais enfático,
toneladas
consomem, bem constantes,
somente para
ser interessantes
nesse seu
comportamento pouco errático;
mas não se
creia ser só a imaginação,
já existem
tais robôs em exposição,
sob os
ditamos de qualquer programação
e assim eu
temo pelo futuro dos animais,
não por maus
tratos em zoológicos fatais,
por
devolvidos aos ambientes naturais.
LEÕES EM LIBERDADE II
houve tempo em que habitavam os leões
por toda a Europa até o Próximo Oriente,
sendo caçados sem mágoa complacente,
até Herakles os matou em ocasiões;
também Sansão nunca fez-lhes concessões,
que em Israel como na Grécia, antigamente,
feras andavam com seu porte imponente,
exterminadas porém nestas nações;
o de Nemeia diziam ser invulnerável
e só morreu após ser sufocado,
para depois ser por Herakles esfolado,
suas próprias garras a tornar viável
a retirada de sua pele, que depois serviu
de indumentária que o dito herói vestiu
LEÕES EM LIBERDADE III
já o de Sansão não era inconquistável,
morto apenas pela força ou arma qualquer;
meses depois, caminhando em seu mister,
viu a carcaça do leão toda friável,
abelhas indo em suas costelas preparar
uma colmeia com cera e mel inesgotável;
Sansão as expulsou, com força insuperável
e igual a um urso, todo o seu mel roubou!
e de um enigma usou no casamento:
“do comedor enfim saiu comida
e do forte retirei grande doçura...”
mas que lhe trouxe descontentamento,
ao decifrarem a adivinha proferida,
forçada a noiva a revelar sob tortura!
LEÕES EM
LIBERDADE IV
como estes, muitos
mais foram caçados,
até mesmo em
mais recônditos lugares,
só na África
e na Índia hoje encontrados,
onde ainda tremem
ante o rugir de seus esgares;
nos circos de
Roma muitos foram derrotados
por
gladiadores em combates singulares,
após serem
muita vez alimentados
por
prisioneiros, que sufocavam com vagares
e em pouco
tempo não se achavam nas florestas,
sendo preciso
ser de longe transportados,
como
espetáculo e adereço de tais festas,
até se verem,
finalmente, exterminados,
mais sendo
vitimas do que feras molestas,
mas pelo medo
sendo sempre condenados!
LEÕES EM SANTUÁRIOS I – 8/12/2018
contudo, existem hoje, bem guardados,
muitos leões em privadas propriedades,
os donos deles sacrificando quantidades
de gado e ovelhas para os manter alimentados;
já os espaços que lhes foram destinados
nas reservas africanas têm más utilidades,
que os naturais os condenam por maldades
e os caçam sempre, furtivos e emboscados;
já na Índia se demonstra mais respeito,
devido à metempsicose de sua crença; (*)
mesmo assim, estão muito diminuídos
e igual que os tigres, o governo toma a peito
reproduzi-los, mediante busca intensa
dos que em circos ou zoológicos são mantidos.
(*) A doutrina Jainista da reencarnação em animais.
LEÕES EM SANTUÁRIOS II
hoje se encontram em variadas locações,
em espaços livres ou mantidos em prisões,
na Europa, Japão ou América do Norte,
para alegria de inconscientes multidões;
contudo, estes animais de grande porte,
mostrando presa afiada e garra forte,
talvez possam realizar suas evasões
e caso surja da civilização um corte,
reproduzir-se em plena liberdade,
a competir com ursos e coyotes,
caçando gado ou à tocaia dos bisões,
mais uma vez a ameaçar a humanidade,
os seus velhos e crianças sob os botes,
feroz combate para as novas gerações!
LEÕES EM SANTUÁRIO III
afinal, já existiram elefantes,
em um período de fato até recente,
que os ameríndios exterminaram totalmente,
igual que o foram os rinocerontes;
o ser humano, mesmo fraco, inteligente
com suas armas os enfrentou constantes,
mesmo com muitas mortes resultantes,
ante os embates com esta fera mais potente;
e certamente, nossa cultura extinta,
não haverá quem deles tenha pena,
mas ao contrário, louvarão a quem os mate;
pois já foi dito, sem que aqui se minta,
que fera alguma é igual ao humano em cena,
sempre que venha aprestar-se a seu combate!
CARTAS
INCERTAS I – 9 DEZ 2018
Quando
uma carta te chega, inesperada,
até
de abri-la, talvez, terás receio,
caso
um timbre no envelope, de permeio,
demonstrar
sua procedência indesejada;
se
vier por fórum ou delegacia enviada,
da
tua correspondência achada em meio,
trará
a suspeita de desagradável veio,
será
tua paz por meio dela ameaçada?
E
se for vinda da Receita Federal,
é
bem pior que uma outra intimação,
que
teu dinheiro certamente exigirão
e
tal mensagem só virá para teu mal,
dificilmente
a te anunciar devolução
de
um numerário que desgastou teu cabedal!
CARTAS
INCERTAS II
Ou
se ela chega em invólucro timbrado
de
qualquer instituição a te pedir,
que
de algum modo devas contribuir
para
manter o tal grupo mencionado,
não
te dará qualquer prazer inesperado,
mais
uma vez a algibeira a te ferir;
e
quanta vez é trapaça a te iludir,
alguém
tem lucro no que está solicitado...
Ou
então chegam essas falsas promoções,
a
te dizer que foste selecionado
nesse
concurso antes jamais participado,
bastando
apenas preencher informações,
que
um lindo bônus a seguir será enviado
ou
já te mandam brinde barato em inclusões!
CARTAS
INCERTAS III
Sempre
aparecem essas cartas de convite
para
um jantar em que alguém é homenageado,
quantos
lugares já ali tens reservado,
cada
um deles a certa quota te concite
a
financiar tal homenagem e então dite
qual
o valor a ser por ti desembolsado,
com
um boleto até mesmo acompanhado,
mais
elogio que o orgulho teu incite...
Ou
se és poeta, a mencionar antologia,
uma
obra tua ali já está selecionada,
colaboração
de imediato a ser cobrada
por
quantas páginas teu trabalho ocuparia;
são
bem comuns e não farei segredo
que
carta ou email assim me causam medo!
CARTAS
INCERTAS IV
E
se essa carta te enviou desconhecida
ou
algum desconhecido, em outro caso,
dizendo
um poema ter lido, por acaso,
seu
imaginar por emoção sendo atingida?
À
tua pessoa assim sendo conduzida
essa
paixão ou amor de cunho raso,
não
ao autor, mas ao poeta, em seu ocaso,
quando
a pessoa quer por ti ser acolhida!
Cartas
Incertas... Como as há em profusão!
Alguma
vez teu coração é perturbado
por
tais sentenças de afeto e solidão...
Mas
quem é tolo para assim ser afetado
ou
até mesmo se perder, em compaixão,
merece
mesmo ser por elas enganado!
CARTAS
PERDIDAS I – 10 DEZ 2018
Quando
uma carta me chegou, inesperada,
daquele
amor que já quase se esqueceu,
algo
no cérebro se abalou e se moveu
qual
sob o sopro de um vento desusado.
Algum
perfume insensível, delicado,
brotou
das letras que minha vista leu,
trazia
um som no papel que desprendeu
em
estalidos de um dobrar amarelado.
Era
uma carta antiga, já esquecida
por
entre os escaninhos do correio,
que
normalmente até seria devolvida,
se
não tivesse encontrado, de permeio,
a
mariposa em uma teia recolhida:
de
retirá-la dali havendo algum receio...
CARTAS
PERDIDAS II
Por
responsável, a trouxe o postalista,
amarfanhada,
com selos do passado,
por
pingos de umidade acompanhado
o
sobrescrito da delatora pista...
Que
coisa antiga! Que quase se desista
de
entregar este momento calcinado,
já
meio cinza, meio calcificado,
de
algum carimbo preso a morta lista.
Mal
se conhece o endereço desbotado
da
remetente, talvez já falecida,
que
no antanho de um interesse partilhou,
sem
que de fato tivéssemos achado
uma
ocasião por amor favorecida,
qualquer
década do olvido a perturbar...
CARTAS
PERDIDAS III
Por
não chegar, nunca fora respondida
e hoje em dia, nesta época eletrônica,
a
carta escrita traz algo de anacrônica,
qualquer
lembrança dela já esquecida...
Qual
era a face que a tivera redigida?
Os
anos passam em sua marcha diacrônica,
a
despertar essa saudade irônica,
qual
arrepio a ser de novo difundida...
Já
está velha, decerto, essa gentil
mão
feminina que traçou estas sentenças;
se
fosse hoje, um email redigiria
ou
por redes sociais, em pueril
espera
de minhas próprias sombras densas,
sendo
provável que nem sequer responderia...
CARTAS
PERDIDAS IV
Até
hoje, não comprei um celular:
bastam-me
as células de minha própria mente;
para
essa mão eu nunca fora pretendente,
em
tempo antigo a poderia contentar
com
resposta gentil no digitar
de
letras finas, datilograficamente,
mas
há muito me demoro, impenitente,
em
responder cada email a me chegar.
O
selo, naturalmente, me agradou,
em
ardor ferrenho como filatelista,
antigamente,
para tantos escrevia!
Mas
nenhum selo para troca me mandou,
só
para amor e solidão sua troca avista,
bem
mais de mim que algum selo me pedia!
CARTAS
DE RETORNO I – 11 DEZEMBRO 2018
Também
há cartas de quem se conheceu,
e
no passado até mesmo a gente amou,
de
quem destino feroz nos separou
e
a solidão para ambos concedeu.
O
que fazer se uma tal carta apareceu,
de
amor falido, do qual nada resultou,
amor
que afirma que jamais se conformou
ao
desencontro que no final se deu?
Tantas
vezes este tema foi tratado,
em
mil poemas ou em tristes canções,
e
nos tangos argentinos por demais...
E
fica ali o envelope abandonado,
sujeito
à voga de mil hesitações,
até
“rasgar-se para não se sofrer mais”.
CARTAS
DE RETORNO II
Ou
então, uma alegria surpreendente
nos
envolve toda a mente e o coração,
dificil
sendo conciliar essa emoção,
seu
conteúdo a buscar-se avidamente,
e
achar mensagem de desaponto ingente,
a
alegria a esfumar-se da ilusão,
em
seu texto a se encontrar decepção,
tanto
mais quanto mais a ânsia foi potente.
Ou
então se abre, sem esperar mais nada,
para
encontrar mensagem diferente,
num
pedido de desculpas aparente,
por
uma ofensa real ou imaginada,
a
nos causar até certo desdém,
sem
dar impulso a responder também.
CARTAS
DE RETORNO III
Mas
que pensar, enfim, quando essa carta
nos
chega de inopino, em hora incerta,
qual
fragmento de alma meiga e aberta,
com
um vapor de solidão que nos comparte?
Como
um vento de verão, que nos reparte
a
vibração perdida, a mente alerta,
gotas
de chuva sobre duna antes deserta,,
quando
a salsugem em sua secura se descarte...
Qual
a surpresa que ao coração reserva,
depois
de tantos anos?... Qual a queixa,
qual
amargura vem em nós ressuscitar?
Ao
invés de a renovar, resseca a erva,
pelo
enxofre e miséria que nos deixa,
se
veio apenas para nos amargurar!...
CARTAS
DE RETORNO IV
Não
obstante, sempre evoca uma lembrança
e
sem se abrir, algo se pode imaginar,
qualquer
anelo sublime a realizar,
qualquer
fragrância que a alma inteira alcança.
Mas
só de o imaginar, a mente cansa:
será
que vale a pena abandonar
esse
inefável, dulcíssimo sonhar,
em
contraste com tal concreta lança?
Pois
no momento de se ver essa mensagem,
quer
seja alegre ou de recriminação,
a
quimera do sonhar há de partir,
não
mais reverdescendo essa paisagem,
que
só brotou durante essa inação,
e
que a certeza por certo há de apagar.
VIRGENS
VELHAS I – 12/12/18
(Para
Andreia)
Quando
a encontrei, tinha mais de trinta anos
e
há muito havia deixado de ser virgem;
virgem
de trinta mais nos parece ser miragem,
quem
a procura só encontra desenganos;
freiras
talvez se enquadrem nesses planos
ou
alguém perdida no meio da paisagem,
quem
sabe alguma da mais estranha origem,
virgens
da mente em sentidos mais arcanos.
Mas
virgens velhas ainda existem por aí,
as
quais suas mães, com o maior cuidado,
afastaram
de namoro ou casamento,
sua
companhia a desejar só para si,
quando
a velhice as tiver depauperado,
para
cuidá-las até o último momento.
VIRGENS
VELHAS II
Mas
o que ocorre quando a mãe falece?
Nessa
altura já estarão na meia-idade,
“para
semente ficaram”, na verdade.
sem
ser plantadas, que a terra mesma esquece.
Com
frequência, após ouvir vazia prece,
no
mesmo túmulo, atrás da mesma grade
ou
na mesma gaveta, sem piedade,
ossos
em plástico por quem ninguém padece.
Boa
sorte tendo se arranjaram bom emprego
e
se afeiçoaram a um bando de sobrinhos,
que
ajudaram a criar, qual mãe postiça,
porém
de ser feliz sem ter ensejo,
apenas
a cruzar anos mesquinhos,
sem
mais prazer do que assistir à missa!
VIRGENS
VELHAS III
A
que encontrei já fora até casada,
contudo,
não tivera descendência,
somente
a alma em virginal potência
olhando
a vida ao redor, amargurada.
porém
soubera ser organizada,
no
emprego se empenhara com paciência,
cursara
a escola com toda a diligência,
só
para o amor permanecera desconfiada.
Viu
em mim um novo pai e até a ajudei;
com
sua própria aparência insatisfeita,
finalmente,
decidiu-se por implante;
se
foi a causa real, não saberei,
mas
um tumor logo a seguir a espreita,
morta
ainda moça, com menos de quarenta.
DO LADO ERRADO I – 13/12/2018
Do lado errado da vida,
na verdade, ninguém nasce;
ao se nascer, alguma escolha faz-se:
qual a tarefa sobre o mundo a ser cumprida;
não é destino ou uma praga recolhida,
mas não é por acaso que se passe
para este mundo em certa humilde classe
ou com herança de ouro concedida.
O que se pode, realmente, discutir,
é a se a tarefa a nós foi atribuída
ou a escolhemos dentre as disponíveis;
mas algo temos por aqui a cumprir
e é muito injusta a revolta concebida
contra s tristezas para nós perceptíveis.
DO
LADO ERRADO II
Segundo
antigas fontes orientais
é
necessário em plenitude experimentar
cada
humana condição e alimentar,
uma
por uma, necessidades espirituais
e
em cada encarnação, corpos astrais
ou
“almas”, se quiser, vão trabalhar
uma
vertente humana e assim granjear
para
o espírito experiências materiais;
seria
essa escolha, geralmente, feita,
antes
de se nascer e os mais evoluídos,
como
Gautama Siddharta, até convocam
a
união de seus pais, a mais perfeita,
que
lhe faculte os poderes escolhidos
e
sua própria concepção assim provocam.
DO
LADO ERRADO III
Já
segundo as doutrinas do Ocidente,
o
nosso livre-arbítrio é bem menor,
existindo
anjo da guarda ou algum mentor
que
determina a situação premente,
acarretando
tal ocasião nascente;
mas
dentro dela, ainda serás senhor,
tuas
escolhas ainda fazes com ardor
ou
te deixas levar pelo
presente;
a cada escolha, mil possibilidades
para ti acenarão e viverás,
dentro do sulco que para ti traçaste,
até as novas probabilidades,
perante as quais de novo escolherás,
ou à maré novamente te entregaste.
DO LADO ERRADO IV
Ou para outros, de forma mais ferrenha,
a divindade ditará o teu destino,
sem grande escolha sob o sol a pino,
foi pretraçada a vida que te venha;
e nesse caso, deves seguir a senha
que demarcou teu fado e em pequenino
ponto ou traço do bordado vespertino
te tornarás
nesse tapete que te empenha;
essa é a tarefa que te impôs o céu,
dependem dela as tuas condições
e a deves executar com gratidão,
por pior que te pareça; e erguendo o véu,
perceberás enfim quais suas razões
porque tiveste de executar essa função.
DO
LADO ERRADO V
Mas
uma coisa é certa, meu amigo,
quer
adotes o ensino Janaísta
ou
certa ideia em que o confessor insista,
o
teu fadário se encontra já contigo
e
é inútil recalcitrar ante o perigo
desse
aguilhão que sempre te conquista;
tua
é a função e que dela não desista
o
teu ânimo até o momento do jazigo;
não
existe avesso nessa tapeçaria,
cada
um encontra nela o seu lugar,
mas
nao compete tão só se conformar,
pois
tua função, quem sabe, até seria
a
da revolta contra o ponto demarcado,
que
a lançadeira talvez tivesse mal traçado.
DO LADO ERRADO VI
Não se trata tão somente de humildade,
nem de aceitar-se o Maktub
do destino, (*)
mas de encarar-se com equanimidade
o constante bimbalhar desse teu sino,
que te leve ao enfrentamento da maldade
ou quando em vez, a um alívio pequenino
da condição humana, em sua fragilidade:
terás escolha antes de cada desatino
e se algo te advier de irresistível,
por escolha tua te expuseste a tal perigo
ou o deixaste te atingir por indolência,
sem fatalismo perante o inevitável,
pois tu somente és responsável pelo abrigo
que construíste ou não com tua paciência.
(*)
“Estava Escrito” em Árabe, segundo Malba Tahan.
AFORISMO
I – 14 DEZ 18
Alguma
vez é necessária uma tolice
para
o desânimo nos desativar.
Tão
apenas certo grau de chocarrice
que
tal bloqueio nos faça dissipar,
quando
sentimos certo laivo de sandice,
nesse
constante afã de trabalhar
e
gastar tudo, nessa maior momice,
porque
se tem de o governo sustentar...
Justo
é que exista imposto, quando em troca
nos
devolverem executivo benefício,
mas
não ao vermos seu malbaratar;
e
é por isso que o desânimo nos toca
e
então a Momo fazemos sacrifício,
ressentimento
de algum modo a se esvaziar.
AFORISMO
II
Sempre
é preciso desvendar certa ironia
em
cada mal que nos venha avassalar;
não
deve o mundo nossa vida sustentar,
se
nunca formos cobrar quanto devia,
pois
tão somente nosso esforço nos daria
o
que queremos ao mundo conquistar;
se
nos pusermos simplesmente a esperar,
ninguém
trará o quanto se queria;
e
com franqueza, se “bem mais bem-aventurado
é
dar que receber” – sua reciprocidade
tem
justamente uma idêntica valia,
sendo
de fato, mais mal-aventurado
receber
do que dar – e em realidade,
sem
se ganhar o que assim se recebia.
AFORISMO
III
Quem
só recebe, não tem dignidade,
qual
com o próprio trabalho se conquista
e
nestes tempos de desemprego à vista,
o
que o povo necessita, na verdade,
é
a abertura de mais potencialidade,
de
conviver de um bom salário à crista,
não
de seguir de qualquer vale a pista,
que
pouco dá, por sua pequena quantidade.
Sempre
é um auxílio, mas que não se mereceu,
o
que é preciso é oportunidade de trabalho,
que
lhes possa acentuar a autoestima;
mesmo
se o esforço não lhes pareceu
recompensado
por pagamento falho,
sempre
ao combate da indolência se destina.
AFORISMO
IV
Assim
tombou o Império dos Romanos,
em
parte sendo em consequência da malária,
mas
por sua plebe, em condição de pária,
alimentada
por seus tolos soberanos;
escravos
mesmo em trabalhos desumanos,
vivendo
os livres em indolência vária,
para
as legiões sem mais força necessária,
substituídos
por conscritos dos Germanos.
As
condições são hoje diferentes,
mas
os humanos semelhantes permanecem
e
sem emprego hoje há tantos que padecem,
até
para os impostos impotentes,
pelos
impostos alheios sustentados,
dos
que trabalham a serem retirados.
REVANCHE DA PINTURA 1 – 15 DEZ 18
HOJE QUE BASTA COMPRAR UM CELULAR
PARA O DOMÍNIO DA FOTOGRAFIA,
OS DAGUERREÓTIPOS PERDERAM SUA MAGIA,
CADA UM PODE ESSE ENCANTO COMPLETAR!
Bem raro aquele que as possa elaborar
como uma forma de arte em sintonia;
é o aparelho que seu foco escolheria
e nem permite de sua mão o tremular.
NEM SE PRECISA DE UMA REVELAÇÃO,
SENDO TÃO FÁCIL SEU REPRODUZIR
POR IMPRESSORA OU POR COMPUTADOR.
Curto o espaço da profissionalização,
um talentoso aqui e ali a resistir,
quando possui para a arte um tal pendor.
REVANCHE DA PINTURA 2
QUANDO SURGIRAM AS FOTOS, HÁ UNS CEM ANOS,
MUITOS DISSERAM MASSACRAREM A PINTURA,
TAL QUAL SÉCULOS ANTES, A ESCULTURA,
TÃO POPULAR QUE FORA ENTRE OS ROMANOS,
quando a pintura em afresco, sem enganos
em breve descascava e a iluminura
reservada para poucos e insegura,
com manuseio desbotada sem afanos.
ENTÃO SURGIRAM PINTURA A ÓLEO E A AQUARELA,
A PERMITIR SUA MAIOR DIVULGAÇÃO,
CADA RETRATO COM MELHOR AFIRMAÇÃO,
Damas assim representadas belas,
mais do que o eram, na realidade,
num toque artístico de desonestidade...
REVANCHE DA
PINTURA 3
MESMO SENDO MAIS
VELOZES QUE ESCULPIR,
ESSES QUADROS
MUITOS CORPOS PRESERVANDO,
ANTES DE IREM, MESMO
EM VIDA, DESMANCHANDO,
ERAM AINDA LENTOS
EM SE PRODUZIR.
Na Academia
tanto detalhe a conferir,
quadros de nus
obrigatórios se tornando
ou cenas de
batalha apresentando,
sempre um toque
pessoal a reprimir.
DAGUERRE E
NIÈPCE CRIARAM A INVENÇÃO,
RAPIDAMENTE
SENDO APERFEIÇOADA:
CHAPA DE VIDRO,
COM NITRATOS AFEIÇOADA.
Câmara escura,
as imagens em inversão,
um estúdio quase
igual ao de um pintor,
detalhe vago a
retocar-se com ardor!...
REVANCHE DA
PINTURA 4
E ENTÃO O MEIO
SE VULGARIZOU,
EM CADA CASA
PENDURADO ALGUM RETRATO,
QUE UM QUADRO A
ÓLEO MUITO MAIS BARATO,
EM MUITAS CÓPIAS
ENTÃO SE APRESENTOU.
A fotografia a
luz apenas captou,
um quadro a óleo
demonstrando mais recato,
buscando a alma
do modelo em seu contato
e o movimento
então o cinema revelou.
POUCO RESTANDO
PARA OS ACADEMISTAS,
SURGIU A BUSCA
DA LUZ E DA IMPRESSÃO,
CHEGOU O
ABANDONO DA FORMA, FINALMENTE,
Veio a invasão
das escolas dos Cubistas
e na Alemanha a
busca da Impressão,
que o Nazismo
condenou por decadente.
REVANCHE DA PINTURA 5
FOI O APOGEU DA ARTE FOTOGRÁFICA,
QUE SE EXPANDIU EM TODOS OS SENTIDOS,
PARA A CIÊNCIA E A MEDICINA SEUS ARITGOS
DE UMA FORMA BEM MAIS QUE PICTOGRÁFICA.
Nos jornais e na imprensa a forma gráfica,
a escala cinza em rasgos incontidos,
“Óleos tem cor” – diziam os mais antigos,
colorização sendo ainda pouco prática.
EM CONSEQUÊNCIA, RESSURGIU A PINTURA,
NUMA EXPRESSÃO DE TALENTO INDIVIDUAL,
VALORIZADOS OS CUBISTAS E OS TACHISTAS,
mas ser fotografo profissão ainda segura,
por rapidez e um dispêndio até banal,
até surgirem do Kodachrome suas conquistas!
REVANCHE DA PINTURA 6
PORÉM AGORA, PARA SE FOTOGRAFAR,
BASTA UM SÓ CLIQUE DE MÁQUINA PORTÁTIL,
QUE AINDA FAZ VÍDEOS DE FORMA BEM VERSÁTIL,
SEM FILMADORAS MAIS SE PRECISAR...
Sua apresentação hoje vulgar ficou,
na redundância de imagem tão volátil,
viralizar de cada pixel contrátil,
acompanhado pelo som que se gravou!...
QUE SOBRA ENTÃO PARA A REVANCHE DA PINTURA?
BEM, MUITOS QUADROS SÃO VENDIDOS POR MILHÕES,
QUANTOS SE PAGAM POR UMA FOTOGRAFIA?
Salvo de algo Paparazzo em aventura,
às escondidas clicando indiscriçoes
desses famosos que ao redor perseguiria!...
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