COLETA
I
Caso
pudesse, guardaria minhas noites
para
gastá-las totalmente do teu lado:
teria
um cofre ao tempo arrebatado,
com
coquetéis de minúsculos pernoites.
Tomaria
dos segundos os afoites,
esses
que correm em suor apalermado,
após
de longos sonhos despertado,
por
um ruído ou por silêncio nos açoites.
Tantos
minutos se desperdiça assim!
Nos
intervalos a girar sobre o colchão,
no
afofar de nosso travesseiro,
antes
do sono queimar seu estopim
e
novamente perder-me em comoção,
quando
a quimera me devora por inteiro...
COLETA
II
Eu
tomaria os momentos dessa espera
nos
interstícios do dia consumidos
por
quaisquer visitas inúteis perseguidos
ou
se os canais da tevê seguem a esfera
dos
comerciais em que a cobiça deblatera
ou
nos momentos em que são interrompidos
os
programas por discursos malqueridos,
quando
o desgosto a nosso lado persevera!
Ou
quando à noite é preciso levantar
para
abrir ou então fechar janela,
ligar
ou desligar ventiladores
ou
as cobertas sobre os pés ir arrumar,
quando
centelha anuncia uma procela
ou
ventania nos causa alguns temores.
COLETA
III
Por
acaso alguma vez já calculaste
esses
momentos perdidos em tais dias,
essas
chispas de marasmo tão vazias,
durante
as quais quase nada realizaste?
Ou
os instantes que ao letargo consagraste,
atrás
das pálpebras em diáfanas orgias,
imagens
plúmbeas em que mal pensarias,
que
em seu conjunto causam tal desgaste?
Ah,
se eu pudesse! Para mim guardava tudo
para
esconder em frascos de perfume,
que
só abriria quando estivesses perto!...
Correndo
os dedos por tua pele de veludo,
vendo
teus olhos cintilantes como lume,
aberto
o cofre e o coração aberto!...
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