OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES
&+
(Mitologia helênica compilada por Hesíodo em sua
Teogonia, versão poética de
William Lagos, 29 ago / 3 set 2017)
PRÓLOGO
Há
vários anos, fiz “Coroa de Sonetos”,
com os
trabalhos de Hércules completos,
mas sem
grandes descrições
e por
capricho, volto agora ao mesmo tema,
mas
envolvido, destarte, num dilema
de
variadas mutações!...
Para
modelo, tomei versos castrinos,
de
Castro Alves, hemistíquios pequeninos,
em
vasta pretensão!
E sou
forçado a confessar, agora,
quão
difícil foi a escolha desta hora,
esforço
de paixão!
Naturalmente,
para mim natural sendo
o
formato de soneto recebendo
completa
minha atenção
o atual
formato mais perturbador,
mas que
aos “Trabalhos” dará maior sabor
em sua
aplicação.
Assim
espero que os leias com paciência,
no meu
esforço de uma leve inconsequência
e de
mais atrevimento!
E com
Hesíodo assim os deixarei;
é dele
o mérito, não o contestarei,
não meu
merecimento!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES I
Um dia
Zeus por mortal se apaixonou:
doce
Alcmena, que ligeiro conquistou:
promíscuo
era esse deus!
A linda
jovem sentiu-se muito honrada
quando
Zeus a pediu por namorada,
entre
suspiros seus!...
Qual
mulher rejeitaria a corte alada
do pai
dos deuses? Facilmente conquistada
a jovem
bela!
E assim
gozaram ambos tais amores,
sem
Alcmena perceber que seus pendores
não
eram dela!...
Zeus
não mais era que um conquistador,
sobre
centenas derramando o seu amor
e
foi-se embora,
nela
deixando o fruto do prazer,
filho
gerado no ventre da mulher,
terrível
hora!...
Assim
foi esse o destino de Alcmena,
da
gravidez a suportar, sozinha, a pena:
Zeus
logo se cansou!
Já se
afastando para outros carinhos,
que
percorrendo alado os seus caminhos,
a
muitos mais gerou!...
Cumprido
o tempo, dois gêmeos lhe nasceram:
dois
belos filhos que rápido cresceram
de seu
materno leite,
um
demonstrando ter poderes, realmente,
mas o
outro sendo humano inteiramente:
duplo
deleite!...
Um
deles foi Hérakles, o forte,
o irmão
chamado Ifikles, tendo um porte
muito
menor;
no
mesmo berço os dois irmãos dormiam,
enquanto
os fados aos poucos se cumpriam,
sem
estridor.
Por uma
vez, Zeus mostrou-se como homem;
em cem
disfarces houve outras que o tomem,
sabendo
ou não;
sobre
Dânae desceu em chuva de ouro
e sobre
Leda foi cisne, estranho agouro:
vasta
paixão!
Sabe-se
bem qual foi o resultado:
violentamente
tomou-a o cisne alado,
em tal
surpresa;
mas seu
marido, ao saber do acontecido,
logo a
tomou, para ver-se garantido,
não por
vileza!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES II
Foi
mais em prova de real veneração,
que os
próprios filhos alcançassem a proteção,
que o
rei ansiava;
passados
meses, a dois ovos gigantes
a meiga
Leda deu à luz e instantes
depois
chocava!...
E teve
assim quatro filhos encantados:
pelo
deus haviam dois sido gerados,
semidivinos,
já os
outros dois completamente humanos,
dos
mesmo ovos saindo, sem enganos,
esses
meninos!...
Assim,
Helena foi de todas a mais bela,
filha
de Zeus, brilhante como estrela:
mulher
fatal!
E
Clitemnestra, sua irmã, audaz e forte,
porém
seus traços sem qualquer divino porte:
mulher
mortal!
Clitemnestra
e Castor foram humanos,
Póllux
e Helena semideuses soberanos:
Zeus os
gerara!
Porém
os seus irmãos eram mortais,
mas
Póllux pediu a Zeus fossem iguais:
prece
preclara!
E aos
dois irmãos deu Zeus imortalidade,
assim
os transformando, sem maldade,
numa
constelação!
Que no
Zodíaco como signo se apresente,
foram
os Gêmeos, muito certamente,
do
horóscopo atração!...
Contudo
Hérakles, também ser semidivino,
não
demonstrou igual gesto peregrino
de
Ifikles em favor,
que
desta forma, não se tornou imortal,
mas
teve morte bastante triunfal,
segundo
o narrador!...
O fato
é que Hera, esposa ciumenta,
sempre
do Olimpo observando atenta,
aos
dois meninos descobriu;
cheia
de ódio, duas serpentes enviou,
porém a
Zeus nem um pouco incomodou,
que
sorrateiro riu!
Ifikles,
vendo as cobras, assustado,
pulou
do berço e por terror levado,
fugiu
engatinhando!
Porém
Hérakles aos ofídios agarrou
e com
as duas mãos, os sufocou,
apenas
apertando!
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES III
Outros
autores dizem ter sido Anfitrião,
pai de
Alcmena, que, nessa ocasião,
mandou
as duas serpentes,
para
saber qual dos dois era seu neto,
experimento
que não foi nada discreto,
porém
de resultados eficientes!
Cresceu
Hérakles, realizando mil proezas,
nem
todas elas perfeitas em belezas,
e
algumas bem brutais!
Quis a
conquista de Esparta realizar,
quando
de Ifikles foi a morte provocar,
sem
intenções reais.
Este
morreu pela mão de Hipocoonte,
o rei
dessa cidade, ou seu arconte,
em
combate singular,
não
permitindo que o irmão interferisse,
Eu
também sou valente! – o infeliz disse,
querendo-o
impressionar!.
Naturalmente,
o forte Hérakles o vingou
e os
ritos fúnebres por ele celebrou,
em
honrada cremação;
mas
essa culpa sempre o perseguiu,
pois no
combate de então não acudiu,
a
Ifikles seu irmão!
De
outra feita, a Etiópia percorria,
esse
nome com que a Grécia referia
a terra
ao sul do mar.
(Depois
província criaram os Romanos,
chamada
África, após seus soberanos
a
Cartago derrotar).
E
aconteceu-lhe chegar à cordilheira,
no
deserto erguendo-se, altaneira,
altíssima
montanha,
ali a
encontrar um dos titãs,
o velho
Atlas, que com palavras vãs,
porém
de vasta manha,
o
convenceu a lhe dar certo descanso,
enquanto
ia banhar-se num remanso
e
Hérakles aceitou,
nos
fortes ombros tomando o vasto céu,
enquanto
Atlas malandreava ao léu,
quase
tal peso o esmagou!
É bem
possível que o titã não retornasse,
se essa
esfera dos céus não balançasse,
provável
a desgraça!
Aos
próprios ombros a carga retornando,
quando
Hérakles percebeu periclitando,
ao peso
dessa massa!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES IV
E de
outra feita, a Anteu desafiou,
outro
gigante, a quem por horas enfrentou,
sem
conseguir vencer!
Ele era
filho de Géia, a Deusa-Terra,
a mesma
Gaia – a energia que ela encerra,
constante
a lhe ceder!,
Pois
cada vez que o herói o derrubava,
renovado,
do chão se levantava,
e a
luta continuava!...
Até que
Hérakles o ergueu em pleno ar,
sem na
Terra conseguir os pés tocar
e assim
o estrangulou!...
Contudo
Hera, inclemente, o perseguia,
mais
que a outros filhos de Zeus o malqueria.
por ser
o mais famoso!
Chegou
um dia, depois de o ver casado,
que em
acesso de loucura – por ela provocado,
cometeu
crime horroroso!
E os
próprios filhos o semideus assassinou,
que
monstros eram a deusa o enganou.
pura
maldade!
Que não
deixasse de si a descendência:
netos
seriam de Zeus – vasta indecência,
um ato
de impiedade!...
Quando
Hérakles despertou de sua loucura
a deusa
Nêmesis o perseguia e já o tortura,
e ele
mesmo não podia se perdoar!
A
própria Hera determinou o seu castigo:
doze
trabalhos do maior perigo
deveria
realizar!...
Mas
veja bem como foi contraditória
a
deusa-mãe, que potente na sua glória,
a
loucura lhe enviou
e pelos
atos que inconsciente praticara,
em
vasto escárnio também o condenara
e assim
dele zombou!...
Tinha
então Hera um fervente adorador,
Euristeu,
de Argólida o senhor
e a
este encarregou
de as
doze penas ao herói determinar
e assim
por anos pôde em Hérakles mandar
o juiz
que ela indicou!...
Euristeu
aproveitou-se da ocasião,
para de
um monstro se livrar, sem compaixão,
que a
Argólida assolava!...
Pois no
pântano de Lerna uma serpente,
com
sete cabeças, cada qual delas diferente,
aos
homens devorava!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES V
E se o
rei vítima ali não enviasse,
em cada
aldeia por onde passasse
causava
morte e horror.
pois
cada qual que a cobra assim mordia
nas
mais terríveis dores perecia,
venenoso
o seu ardor!
Pensou
Euristeu que, se Hérakles vencesse,
porém
que a Hidra no combate ainda o mordesse.
seria
duplo o resultado!...
Pois
caso fosse uma cabeça assim cortada,
outra
brotava da garganta decepada,
em
combate prolongado!...
E até o
perigo continuava pelo chão,
pois as
cabeças ainda mordiam sem perdão.
se não
fossem esmagadas!
Chamou
Hérakles a Yolau, valente amigo,
que
muitas tochas carregou consigo,
aos
pescoços destinadas!...
Assim
Hérakles cortava uma cabeça
e dava
um pulo para trás, com pressa,
no chão
a esmagá-la!
Então
Yolau suas tochas aplicava,
cada
garganta assim cauterizava,
mais
ágil que uma bala!...
Pouco a
pouco destruiu todas as sete,
seu
sangue impuro a respingar como confete,
deixando
a Hidra morta!...
Hérakles
então desabotoou a sua aljava,
pontas
das flechas no sangue mergulhava,
que a
cabeça ainda comporta!...
Deixou
suas setas assim envenenadas,
mesmo
as mais leves feridas condenadas
à morte
dolorosa!
Seriam
vítimas quantas alvejasse,
caso em
batalhas Hérakles ingressasse,
até a
mais corajosa!
Ele
mesmo dos respingos se curou,
mas
Yolau, coitado! -- então matou,
mas
poupá-lo de tanto sofrimento...
Seu bom
amigo o final golpe agradeceu;
mesmo
no reino dos mortos, prometeu
ajudá-lo
em algum momento...
Hérakles
o corpo da Hidra carregou,
e para
o rei então o entregou:
a
tarefa foi cumprida!
Para
Yolau cumpriu os santos ritos,
vertendo
lágrimas dos olhos aflitos,
durante
a despedida!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES VI
Constrangido,
afirmou ser a fumaça
que no
canto de suas vistas fez trapaça
e seu
choro provocou...
Não
pôde Hera ver cumprida sua vingança,
porém
seu ódio perpétuo não se cansa
que
tanto o condenou!...
Contra
a Argólida enviou ela um Leão,
determinando
a Euristeu, então,
que a
Hérakles mandasse
até a
Nemeia, contra o leão invulnerável.
mesmo
por golpes de clava ainda intocável,
pensando
assim que o condenasse...
Contra
seu pelo as flechas se quebravam
e os
duros golpes somente o abalavam:
de novo
ele atacava!...
Mas
então Hérakles no chão o derrubou,
montou-lhe
às costas e então o estrangulou
e já
não respirava!...
Sua
pele invulnerável esfolou
com as
próprias garras e ao sol a colocou:
em
breve ele a curtiu!
Uma
túnica a pouco e pouco costurou
com as
grossas tripas que de ventre retirou
e com
ela se vestiu!...
Tornou-se
assim, em parte, invulnerável,
um
lucro assim a ganhar considerável
após
cada castigo!...
Euristeu
cada vez mais assombrado,
ao
descobrir qual fora o resultado:
a
vitória do perigo!...
Cada
vez mais ficou Hera despeitada,
em suas
más intenções assim frustrada
e ao
herói fortalecendo!...
Pois
via Zeus em seu trono sorridente,
muito
embora se fingisse indiferente,
a seu
filho protegendo...
E de
igual modo, em segredo, o auxiliou
quando
a Corça de Cirene ele caçou,
que
então, de astúcia usando,
pensou
Hera que só por força ele vencia,
mas que
essa corça matar não poderia,
tão só
capturando!...
Porque
era a Corça a Ártemis consagrada,
e desse
modo não poderia ser magoada,
sem
ofensa à Caçadora,
que de
fato, protegia a Natureza.
perpetua
virgem, por maior a sua beleza:
para si
só ela entesoura!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES VII
Ficava
o templo no Monte de Cirene,
cascos
de bronze a manter-lhe o passo indene
de
pedras ou de espinhos;
Por um
ano, caçou-a Hérakles em vão,
que
Ártemis Diana lhe dava proteção
ao
longo dos caminhos...
Finalmente,
Zeus cansou do esconde-esconde,
enviando
Hermes para explicar aonde
lançar
uma armadilha,
sem
deixar Hera a par desse segredo;
Zeus
prometera não meter sequer um dedo
de
Hérakles na trilha...
Por
Mercúrio ou Hermes de tal sorte instruído,
prendeu
Hérakles fina teia de tecido
quase
invisível
contra
as colunas do pórtico do templo,
que à
deusa Ártemis, de Arakne no exemplo. (*)
seria
imperceptível!...
(*) A
deusa Aranha, que pretendem introduzir no Horóscopo.
Já
outras redes a Corça destroçara;
com
suas patas de bronze estraçalhara,
fugindo
inalcançada;
covas
ocultas e cordas em alçapé
ela
evitara, com malícia até,
correndo
inabalada...
Porém
na nova teia se enredou
e as
quatro patas Hérakles lhe atou
levando-a
a Euristeu
e à
deusa Ártemis, movido por temor,
após
sua Corça libertar, com breve ardor,
holocausto
ofereceu!...
A
Ártemis Diana assim se propiciou
e a
Hérakles facilmente ela perdoou.
pois a
culpa fora de Hera,
a deusa
Juno venerada por Romanos
assim
movida por ciúmes soberanos,
qual
besta-fera!
E novamente,
com malícia extrema,
a
Euristeu inspirou mais uma pena,
que
julgou ser impossível!...
O rei
da Élida, Áugias, estrebaria
possuía
imensa, na qual ele acolhia
seu
gado, já quase intransponível...
Ao
invés de se limpar, ele ordenava
erguer
os tetos, quando o esterco acumulava,
sólida
massa,
Cujo
fedor o próprio ar envenenasse:
talvez
a Hérakles esse odor matasse:
feia
pirraça!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES VIII
Contra
a tarefa rebelou-se o semideus:
"Não
sou escravo dos caprichos seus!"
porém submeteu-se;
Chegado
à Élida, porém, desacorçoou,
mas
novamente Zeus a Hermes enviou:
conselhos
desse!...
Então o
herói abriu um vasto canal,
de dois
rios desviando o seu caudal:
Alfeu e
Paineu;
a
muralha às correntes represou,
mas com
golpes de clava as derrubou,
e o
galpão inteiro encheu!
A força
da água com cuidado dirigida
contra
o esterco então foi conduzida,
em
blocos o arrancando,
É bem
verdade que abalou a cavalariça,
mas
retirou o resultado da preguiça,
cinco
décadas lavando!
Primeiro
Áugias seu rebanho retirou;
por
sorte, vaca alguma se afogou,
contudo
o cheiro
o ar
empestou de sua cidade inteira,
pois
boa parte da enxurrada derradeira
cobriu
todo o terreiro!
Aos
poucos, retornaram os rios ao curso,
todo o
esterco carregando no percurso,
real
fertilizante,
que
pelas margens, tal qual um novo Nilo,
de uma
semente fez nascer um quilo:
bênção
gigante!...
A seu
colega aviso Áugias enviou;
com
grande pompa Euristeu o visitou
e
convenceu-se
de que
a tarefa fora inteira realizada;
a deusa
Hera, outra vez desapontada,
mais
ofendeu-se!...
E
arrepanhando as dobras de seu manto,
transportou
até as florestas de Erimanto
um
terrível Javali!...
Devia
Hérakles outra fera assim caçar,
todavia
abstendo-se de a matar,
o
animal em breve achando ali.
E o
Javali, ao vê-lo, se escapou,
por
mais enorme, ao herói não enfrentou,
quiçá
por medo,
por
indolência sem querer luta travar,
mas o
pôde Hérakles finalmente capturar,
sem
mais segredo.
OS DOZE TRABALHOS DE
HÉRCULES IX
Nele
montado, levou-o até Euristeu;
como um
churrasco o rei o recebeu,
mandando-o
abater,
mas das
amarras ele se libertou,
da
capital as ruas assolou,
todos
postos a tremer!...
Euristeu
escondeu-se num barril,
acometido
do terror mais vil
e o
Javali na praça
fruta e
legumes se pôs a devorar,
grave
prejuízo chegando a assim causar
dos
pobres a desgraça!
Mais
uma vez foi Hérakles chamado
e
novamente o Javali foi derrotado:
virou
churrasco!...
Porém
do rei o prestígio foi ferido
e a
deusa Hera soltou grande gemido,
de puro
asco!...
Mandou
Euristeu a seguir o enviar
ao Lago
Estínfale, para dali expulsar
as Aves
horrorosas;
tinham
de bronze suas garras e suas asas;
em
altos picos faziam ali suas casas,
famintas,
perniciosas,
que
devoravam as carnes dos rebanhos
e
agricultores que ali faziam seus amanhos,
ferozes
canibais!...
Quando
as asas sacudiam, as suas penas,
iguais
que adagas, embora mais pequenas,
soltavam-se,
fatais!...
Com
precisão suas vítimas atingiam
e com
vagar, quais abutres, as comiam
e iam
aumentando!
Mesmo
envolto em sua pele invulnerável,
percebeu
Hérakles ser quase irrealizável
um
trabalho assim nefando!...
De que
modo tais picos escalar,
enquanto
as Aves o viriam atacar?...
Missão
secreta
desta
vez Zeus a Minerva designou:
Pallas-Athena,
que de noite o visitou,
trazendo
uma corneta!...
Assim o
herói até o lago se achegou
e o
instrumento com vigor soprou:
forte
estridor!...
Os
pássaros de Estínfale, assustados,
alçaram
vôo, então desalojados,
com
guinchos de pavor!
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES X
Então
Hérakles as alvejou, uma por uma,
e o
veneno da Hidra, que as consuma,
em suas
pontas se achava;
e mesmo
alguma, só ferida de raspão,
estrebuchava,
logo vindo ao chão
e não
mais se levantava!...
Então o
herói, seguro da vitória,
aos
poucos completou a missão inglória,
subindo
aos ninhos,
em que,
sem pressa, cada ovo esmagou
e nem
sequer uma cria ali deixou,
matando
os passarinhos...
(De
suas tarefas foi a menos ecológica!...)
Outra
versão existe, mitológica,
que
eram as Hárpias, na verdade,
que com
o som da corneta revoaram
e para
os picos de origem retornaram,
em tal
necessidade!...
Claro
que Hérakles não as poderia matar;
servas
de Nêmesis, funções a realizar,
quando
enviadas...
Mas
para o norte então se retiraram,
não
mais os arcádicos rebanhos perturbaram:
feras
aladas!...
Ora, um
Minos, um certo rei de Creta,
promessa
fez a Netuno, certa feita,
de um
grande sacrifício;
e um
Touro branco, da força mais terrível,
foi
preparado... mas achou ser impossível
causar-lhe
um malefício...
Este
mito se relaciona, certamente
ao
Minotauro, que Teseu, valente,
matou
no Labirinto;
a ilha
de Creta era prestigiosa
por
seus rebanhos de carne deliciosa:
coincidência
talvez pinto.
Usava o
Minos o seu belo Touro
como
forma de beneficiar o seu tesouro:
rebanho
belo!
Porém
Posêidon, sua promessa não cumprida,
o Touro
libertou de sua guarida,
veraz
flagelo!...
Atacava
os pastores e a seguir matava;
cada
outro touro que por ali se achava!
Minos
em vão
muitas
rezes sacrificou de seu rebanho,
porém o
estrago continuou, tamanho,
desesperando,
então.
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XI
Foi a
Micenas, solicitando a Euristeu
que o
aceitasse qual problema seu
e a
Hérakles o atribuísse;
Foram
trocados, assim, ricos presentes,
as
condições dessa caçada assentes,
que
Hérakles cumprisse!...
E lá se
foi, satisfeito, o semideus:
seria o
mais fácil dos trabalhos seus,
pois o
Touro dominou,
por
força bruta, igual que mais gostava
e já
nas costas a besta carregava,
que ao
Minos entregou!...
Porém o
rei, pensando agradaria
a
Posêidon, a quem muito temia,
deu-lhe
certa liberdade
e o
animal, estando atarantado,
foi
para a praia do mar sendo levado,
como
ato de piedade...
Tocaram
muitas trompas e tambores
os
sacerdotes de Posêidon servidores,
até a
beira-mar!
Mas o
animal na maré se libertou
e até
ao Istmo de Corinto então nadou,
pensando
se escapar!...
E
enveredou então por Maratona,
planície
de que Atenas era a dona,
comendo
seus trigais!
Mas como
touro novamente foi caçado
e a
Posêidon, enfim, sacrificado;
esta
uma história a mais!...
Já o
rei da Trácia, um certo Diomedes,
criava
quatro éguas e seus hóspedes,
depois
de embriagados,
os dava
àquelas, como ímpia refeição,
acostumadas
a comer carne que estão
de
escravos e criados!...
Chamou
Hérakles a alguns de seus amigos
e à
Trácia foram, a enfrentar perigos,
ao
longo da viagem;
ficava
ao norte da Grécia, nos confins,
montanhas
ásperas, duros seus afins,
pastores
de coragem!...
Mas
Diomedes por todos era odiado;
por
montanheses foi Hérakles guiado
até a
capital,
que
conquistou, sem maior dificuldade,
venceu
Diomedes com facilidade,
destinando-o
a fim igual.
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XII
Para
suas éguas o rei serviu de refeição,
sem
ser, contudo, embriagado então,
terrível
seu terror!
E ao
ver as quatro feras satisfeitas,
com
pesados grilhões foram sujeitas,
arrastadas
sem temor.
Hérakles
apresentou-as a Euristeu
e foram
soltas, por mandado seu,
nas
faldas de montanha,
em que
lobos e ursos habitavam
que já
as quatro, prontamente, devoravam,
maior
sendo sua sanha!...
Já sem
ter monstros para o enviar,
Euristeu
conseguiu imaginar
mais
uma armadilha
e o
enviou para distantes zonas,
em que
moravam as ferozes Amazonas:
difícil
a partilha!...
Mandou
Euristeu que lhe trouxesse o cinturão
carregado
de jóias da rainha, para então
oferecê-lo
a Hera,
vendo
que a deusa se encontrava desgostosa,
pois
fracassava a sua vingança tenebrosa,
após
tão longa espera...
De novo
Hérakles reuniu os seus amigos,
para
enfrentar do Mar de Mármara os perigos,
chegando
à atual Turquia,
da qual
a Frígia ficava no nordeste...
Que
trouxe o cinto não existe quem conteste,
só a
forma em que o faria.
Dizem
alguns que à Hipólita venceu
em
combate singular e o cinto recebeu
como um
tipo de resgate;
já
dizem outros que o combate foi parelho
e que
Hérakles trocou o cinto por espelho,
após
esse combate.
Dizem
também que os dois se apaixonaram,
que
muito tempo juntos ali quedaram
e que
Hipólita concebeu,
tendo
uma filha de força singular,
Pentesileia,
que Aquiles iria matar
na luta
em que a venceu.
Mas
esta lenda já se refere a Tróia
e o
certo é que tal cinto, rica jóia,
Hérakles
conseguiu;
Existe
ainda um relato mais sereno,
que ela
casou, ao invés disso, com Tereno,
um
amigo que o seguiu.
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XIII
Depois
que Hérakles lhe entregou o cinturão
Euristeu
ergueu um templo e o consagrou
à deusa
Hera,
a qual
de novo aconselhou ao doador
nova
tarefa, de que seria o executor,
para
Hérakles severa!...,
Nesse
entretempo, cada vez mais Euristeu,
que ao
herói tantas tarefas concedeu,
já o
temia demais!
Hérakles
já não as recebia com paciência,
mas
reclamava, com máxima veemência
de suas
ordens imorais!
Então
mandou-o às terras do Ocidente;
quando
mais longe estivesse, realmente,
o rei
mais se aliviava!
Assim
ordenou-lhe a tropa ir buscar
do Rei
Geryon, que teria de enfrentar,
se a
tarefa completava!
Contudo
Hérakles não queria essa missão!
"Roubar-lhe
o gado? Mas não sou ladrão!"
Furioso
estava!...
Mas
Euristeu, com astúcia, o convenceu:
"O
rebanho é só a prova que o venceu,
não que
o roubava!..."
"Esse
Geryon é um gigante fabuloso:
tem
três cabeças, seis braços, poderoso
e ainda
seis pernas!...
Vencê-lo
irá aumentar o seu prestígio!"
E
finalmente o enviou, com grande alívio,
a
plagas bem externas!
Geryon
morava em certa ilha perdida
no Mar
Oceano, vastidão desconhecida,
bem no
alto-mar!
Que do
Mediterrâneo então era separado
por
altos montes, assim sendo evitado,
Netuno
a desafiar!...
Primeiro
Hérakles quase rebelou-se;
depois,
pensando bem, acomodou-se
com a
idéia de cruzar
o Mar
Oceano, até a terra do Ocidente,
recém
chegado de um país do Oriente,
aventuras
a enfrentar!...
Mas
seus amigos estavam engajados,
em suas
próprias tarefas ocupados
e ajuda
não dariam;
Ele
exigiu que Euristeu então formasse
uma
frota e muito bem a aparelhasse,
para as
ondas que achariam!
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XIV
Bem
cara sairia esta aventura,
mas
Euristeu aceitou esta amargura,
pois do
herói se livraria!
E assim
forte trirreme se aprestou,
bando
de escravos ali se acorrentou
que
então a remaria!...
Por
vários meses Hérakles vagou
por
sobre as ondas e perigos enfrentou:
morreram
marinheiros...
Enfim
chegaram a uma rocha intransponível,
que o
Mar Oceano tornava inacessível,
nos
dias derradeiros...
Mas com
sua clava poderosa o herói abriu
uma
passagem, pela qual o mar fluiu
e o
carregou de volta
até
quase a Sicília!... Porém ele retornou,
e de
"Colunas de Hércules" então se batizou
a
passagem tão revolta!...
Muitos
séculos e milênios se passaram;
um dia
os Mouros por ali atravessaram
e
chamamos Gibraltar,
ou
"Djeb El-Tarik", por seu forte comandante,
que aos
Cristãos então levou por diante,
a
Espanha a conquistar!...
Mas foi
Hérakles que abriu essa passagem,
ao Mar
Oceano enfrentando, com coragem
e em
Erítia enfim chegou.
a
"Ilha Vermelha", que era o seu destino;
mas seu
piloto, por maior seu tino,
não
pôde ali aportar...
Assim
desceram até a pequena ilhota
chamada
Gades, bem próxima sua rota,
baixando
um escaler
e
alguns remaram, conduzido o herói,
que
junto a Erítia ainda obrigado foi
pelo
mar a acometer!
Somente
a nado chegou até a praia,
toda
formada por recifes a sua raia
e
ninguém o acompanhou.
Mas ali
Hérakles avistou bela mulher,
que por
paixão ou capricho que a requer
um
acesso lhe mostrou.
E
quando Hérakles lhe quis agradecer,
beijos
e abraços por agrado lhe fazer,
soltou
uma gargalhada!...
E
dentre as ondas do mar se levantou
e com
seu corpo a Hérakles assombrou,
por sua
forma inesperada.
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XV
Trazia
tentáculos a partir de sua cintura!
"Quer-me
abraçar, terrena criatura?
então
me abrace agora!...
Sou
Équidna, filha de Callirói e Crisaor,
meus
tentáculos lhe causariam grande ardor:
melhor
que vá embora!..."
"Sei
que pretende enfrentar o meu irmão,
um
governante de feroz reputação:
desejo
boa sorte!...
Com ele
boa amizade hoje cultivo,
mas é
um tirano, gigante muito altivo
e
causará a sua morte!..."
"Eu
fico aqui de guarda e os atrevidos
posso
matar e tais homens atingidos
serão o
meu repasto!
Mas a
você eu darei hoje passagem,
que meu
irmão o enfrente com coragem,
a
defender seu pasto!..."
"Mas
primeiro a Orthos achará,
um cão
de duas cabeças, que decerto o matará,
açulado
por pastor,
Eurytion,
meu primo... Também tem
duas
cabeças... E Menelos irá também
do
rebanho ser um protetor..."
Assim
Hérakles subiu, bem prevenido,
pela
passagem a que fora conduzido
por
Équidna traiçoeira.
que com
o irmão, de fato, não se dava,
porque
seu filho, Orthos, escravizava,
igual
fera prisioneira!...
Este
era o guarda da única passagem
que de
Erítia defendia a pastagem,
mas
dúvidas não tinha
De que
Hérakles ao galgar, pereceria
e ainda
afundar a sua trirreme pretendia,
junto a
Gades bem vizinha!...
Tão
logo Hérakles conseguiu galgar
a
passagem, feio cão veio a rosnar,
e a
seguir, latindo,
em
duplo tom, um grave e outro agudo...
Do chão
tomando enferrujado escudo,
foi
Hérakles seguindo...
E
facilmente as duas cabeças esmagou;
Orthos,
o cão, depressa derrotou,
mas já
avisara seu pastor...
E veio
Eurytion, também com duas cabeças,
quatro
lanças com as mãos lançando às pressas,
sem ser
de dano causador...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XVI
A pele
do Leão continuava impenetrável;
o velho
escudo ainda era utilizável
e ao
gigante ele enfrentou;
Eurytion
tinha o dobro de sua altura,
porém
Hérakles, com malícia pura,
as duas
pernas lhe alvejou...
Com
duas setas bem envenenadas,
pelo
sangue da Hidra aparelhadas
e
Eurytion ali baqueou...
Então
Hérakles facilmente o executou:
suas
duas cabeças com dois golpes esmagou
e nem
ao menos se cansou!...
Porém
Menelos, que do rebanho era guardião
tinha
seis pernas, mas apenas uma mão
e sem
olhos, era cego!...
Mas foi
às pressas avisar o seu senhor
e logo
chega Geryon, em esplendor,
cujo
poder não nego!...
Pois
lutaram durante a tarde inteira,
até que
Hérakles sufocou a derradeira
de suas
três cabeças!...
Ele ao
herói nos fortes braços agarrou,
as
flechas Hérakles contra ele não lançou,
no ar
erguido às pressas!...
Durante
horas, como estátuas parecendo,
nenhum
dos dois esse embate ia vencendo,
até que
Hérakles puxou
sua
túnica feita com a pele do Leão
e as
três cabeças cobriu com força, então,
até que
as sufocou!...
E
quando o monstro, com três vezes sua altura,
finalmente
tombou, com grande agrura,
pulou
Hérakles no chão!
Já que
fôra para o alto carregado,
evitando
por Geryon ser esmagado,
de Zeus
na proteção!
Porém o
gado procurou, inutilmente:
Menelos
fôra, bem furtivamente,
avisar
mais um gigante,
chamado
Ketros, que o gado arrebanhou
e para
uma caverna o transportou,
em seu
ardil confiante!...
Pois
fez as rezes caminhar de costas,
suas
pegadas ao contrário postas,
para a
Hérakles iludir...
Mas
logo o herói percebeu a armadilha
e ao
inverso seguiu a longa trilha,
até
tudo descobrir...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XVII
O pobre
Ketros era apenas um gigante:
tinha
seis metros e mais nada interessante,
seus
membros bem normais,
Foi bem
fácil para Hérakles o matar
e o
gado da caverna transportar,
em
marchas naturais...
Mas
então lhe surgiu veraz problema:
como
levar para o barco uma centena
de
vacas e de bois?
Então
Menelos saiu do esconderijo
e
auxílio ofereceu ao herói rijo...
Construíram
então os dois
Uma
balsa de grandes dimensões,
que ao
mar baixaram com vastas precauções
e as
rezes, uma a uma,
com
cordas grossas também foram baixadas
e sobre
a balsa então localizadas,
que
para o mar se apruma!...
Porém
Équidna então reapareceu:
"Herói
maldito, vejo que venceu:
por que
mataste o cão?
Não
poderias tê-lo só amarrado,
suas
cabeças ser precisar ter esmagado
Por que
essa vil paixão?"
"A
seu irmão hoje também matei
e aos
demais gigantes trucidei,
qual
foi a diferença?"
"É
que Orthos era meu filho, ser malvado!
Por
meus tentáculos serás agora sufocado,
não
existe quem me vença!"
Então
saltou sobre o herói, tentacular:
com
seus apêndices o buscou envenenar,
mas
Menelos se interpôs
e foi a
ele que o veneno derrubou
e com
sua clava, Hérakles o salvou.
dessa
dor a que se expôs.
De
Geryon Menelos fora escravo,
assim
morrendo com o final de um bravo,
de
Hérakles nos braços.
Para a
balsa o herói o carregou
e até a
trirreme depois o transportou,
após
muitos percalços.
Mas a
Équidna, de fato, não matou.
Horas
depois do forte golpe despertou,
ansiando
por vingança;
dizem
também ser mãe da Hidra e do Leão,
mãe
igualmente sendo de um Dragão
mas só
de uma criança.
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XVIII
Foi o
gigante Kites, que algum poeta vai
dizer
dos Citas e dos Sármatas ser o pai,
os
nômades rivais.
que as
terras assolavam dos Helenos,
homens
apenas, de fato, até pequenos,
mas
inimigos figadais!...
De tal
Dragão falaremos igualmente;
somente
a Équidna a morte deu, ingente,
uma
outra criatura,
Argos
Panoites, o monstro de cem olhos,
quando
a encontrou adormecida nos escolhos
da
morte a dar-lhe a agrura!...
À mãe
dos monstros foi algures comparada,
a
Lilith, em trechos do Talmude mencionada,
escrito
por Judeus,
mas de
origem babilônia ou da Caldeia,
incluída
na adâmica epopeia (*)
pelos
ciúmes seus...
(*)
Lilith teria sido a primeira mulher de Adão, também identificada com a
Serpente..
Mas
quando Hérakles a Micenas retornou
só uma
parte dessas rezes carregou:
muitas
morreram,
durante
a longa travessia desse mar;
quase
um milagre que pudesse transportar,
as que
não pereceram!...
Nesse
entrementes, Euristeu conceberia
um novo
plano que a Hérakles indicaria,
como um
roubo novamente!
Devia
ir das Hespérides ao jardim,
maçãs
de ouro a lhes furtar assim,
o mais
régio presente!
Que com
a deusa Hera de novo o agraciara,
já que
a luta com os gigantes lhe falhara
e de
novo o repreendia!...
Mas
quando Hérakles foi informado do destino
enfureceu-se,
já quase em desatino,
pois de
novo ao Ocidente ele partia!
"Mas
por que não me mandou realizar
essa
tarefa quando me forçou a roubar
de
Geryon os bois?
Quer
que eu parta outra vez ao Ocidente,
logo
após esta viagem deprimente,
por que
não juntou os dois?"
"De
fato," disse Euristeu, melifluamente,
"esse
seu décimo trabalho, realmente,
não foi
a meu gosto completado...
Só me
trouxe pequena parte do rebanho:
são
vacas magras, de normal tamanho,
não o
rebanho que tinha idealizado..."
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XIX
Porém,
ao ver que o herói se enfurecia,
falou
depressa: "Sei que nunca mentiria
e a
própria Hera já me confirmou
a morte
dos gigantes dessa ilha
e
reconheço que nessa salgada trilha,
bastante
gado decerto se afogou!..."
"Mas
desta vez muito simples é o trabalho
e
facilmente poder-me-á "quebrar o galho",
trazendo
as frutas belas...
Uma
dúzia de maçãs quero somente --
é só
pedir... Se for bem conveniente,
conquistará
as donzelas..."
"Foi
a deusa quem mandou! E veja bem:
seu
undécimo trabalho irá cumprir também,
sem
grande sacrifício..."
Um novo
barco Euristeu logo arranjou
e logo
Hérakles os mares enfrentou,
cumprindo
o seu ofício...
Porém
Équidna ainda ansiava por vingança;
quando
a notícia a sua mente alcança,
enviou
o Dragão
para as
Hespérides como seu presente,
que seu
jardim guardaria permanente,
em
plena proteção!...
É que
este monstro jamais adormecia
e
certamente fogo e enxofre ainda cuspia,
a
Hérakles torrando!...i
Mas o
herói de nada suspeitava
e pela
costa da Etiópia navegava,
na
cabine descansando...
Era na
Espanha que ficava esse jardim
e
quando em Társis ele aportou, enfim,
falaram
no Dragão,
que das
Hespérides o jardim guardava
e ao
derredor os campos assolava,
sua
fome em vastidão!
Mas é claro
que, de novo, o herói venceu,
desta
vez com a ajuda de Nereu,
que
aprisionou nos braços.
Tal
deus do oceano era como camaleão,
variadas
formas assumindo entáo:
múltiplos
traços!...
Mesmo
mutável, por capricho ou simpatia,
para
ajudá-lo, afinal se convencia
e foi
até o jardim:
tomou a
forma de Hérakles, depressa;
quando
o Dragão para atacar se apressa,
mudou
de forma assim!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XX
Aparecia
logo nesta e noutra parte;
até o
Dragão de cuspir fogo se farte,
pois
transmutou-se em água!
E tanto
fez, que o fogo se esgotou;
só
então o Hérakles real se apresentou,
do
monstro para a mágoa!...
Matou o
Dragão e dispensou Nereu,
quando
na entrada do jardim já percebeu
as
Quatro Irmãs.
"Vai-nos
matar também, homem brutal?"
Envergonhado
por já ter feito tanto mal,
por
razões vãs,
diante
das Quatro Hérakles ajoelhou
e
humildemente recompensa suplicou,
sendo
atendido...
Desse
episódio comentam alguns poetas
que com
as Hespérides relações teve secretas,
tal
qual marido...
Após um
prazo, recebeu as frutas
e para
a Hélade retornou, sem muitas lutas,
vindo
da Espanha,
Dizem
alguns que esse real tesouro
não
seriam de fato frutas de ouro
que ali
apanha...
Porém
laranjas, até então desconhecidas,
que
pela Hélade foram distribuídas
e ali
crescem ainda...
Outras
versões dizem que Atlas foi buscar,
deixando
Hérakles dos céus o peso suportar.
sofrendo
dor infinda...
Ou que
uma dúzia Atlas recebeu,
porém
metade, guloso, ele comeu,
enquanto
o herói sofria...
Pai das
Hespérides, só sua carga retomou,
quando
o céu claramente vacilou
que o
herói aguentar não mais podia!...
Ora,
ocorreu que Hades ou Plutão
a Hera
Juno foi queixar-se, então,
já que
o gado era seu
que
então Hérakles de Geryon furtara,
que,
responsável pelo gado que criara.
lutou e
morreu!...
E desse
modo, em sua perfídia, Hera
concebeu
a tarefa com que espera
as doze
completar...
E a
Euristeu então apareceu
e o
novo plano em detalhes descreveu:
tarefa
de arrepiar!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XXI
Que
fosse de Hades furtar o cão peludo,
terrível
Cérbero, outro monstro cabeçudo,
guardando
seu portão!
Mais um
ser de três cabeças, igualmente,
característica
aqui assaz frequente:
pobre
imaginação!...
Sem que
ofender eu queira ou desagrado
causar
a Hesíodo e outros poetas do passado.
Longe
de mim!...
Mas é
que a conta das cabeças sempre aumenta;
certa
preguiça em minha mão se assenta,
perto
do fim!...
Dizia o
ditado: Facilis descensus Averno --
"é
muito fácil descer até o Inferno,"
difícil
é sair!...
O cão
Cérbero fora posto ali a guardar
esse
portão para ninguém dali escapar:
impossível
de fugir!...
E
quando Hérakles dele se aproximou,
com
baba e fúria o cão então rosnou,
fera
ameaça!...
Mas
falou, ao semideus pedir entrada:
"Entrar
um vivo é tolice demasiada,
só alma
passa!..."
"Mas
eu preciso conversar com seu patrão!"
"Pois
entrar, pode... Mas sair de novo, então,
por
certo impedirei!...
Entrou
Hérakles no Hades, temeroso,
não do
cão, mas desse mundo tenebroso:
Será
que eu sairei?
Mas na
descida, surpreso, deparou
com
Yolau, o amigo que matou,
para
poupar-lhe a dor!
"Tal
qual lhe prometi," a sombra lhe falou,
"hoje
o irei ajudar!..." E assim o acompanhou
até o
trono do Senhor
do
reino imenso das almas falecidas,
em
condições diversas recolhidas,
por seu
merecimento.
Umas no
Tártaro a receber castigo,
as boas
no Elêusis a encontrar abrigo,
outras
apenas no esquecimento...
Alimentado
pelo Asfódelo florido,
quem
pelo bem não fora recebido,
nem
praticara o mal,
vagando
assim, primitivo purgatório,
mas sem
sofrer castigo mais inglório
no
mundo perenal!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XXII
Por
isso afirmam que Jesus desceu,
na Anastásis,
quando o Hades percorreu,
gentil
resgate
de
quantos lhe aceitaram a mensagem,
para
dos Céus povoarem a paisagem:
que o
Credo acate!...
Mas
esta lenda se passou na pré-história,
quando
outros deuses tinham maior glória
e o
mundo dominaram...
E então
Yolau conduziu o seu amigo,
sem
sofrer aflição ou achar perigo,
nos
pontos que cruzaram.
E
finalmente alcançaram a mansão
de que
Hades dominava esta região,
junto à
sua esposa,
doce
Perséfone, de Ceres gentil filha,
cada
seis meses do sol seguindo a trilha,
da
primavera a rosa...
Falou
Hérakles com o deus em humildade,
narrando
a seu tio, de detalhe em saciedade
os seus
trabalhos onze,
mas
Hades o apostrofou, com ironia:
"Roubar
minhas vacas não lhe bastaria,
ó herói
de bronze...?"
"Senhor
e tio, que era seu gado eu não sabia!"
"Hera,
porém, mui certamente, conhecia,
aquela
pretensiosa!...
Meu
cão, agora, ainda pretende me roubar?"
"Não,
meu senhor, por empréstimo tomar
sua
fera tão furiosa!..."
"Trazer-lhe
o cão ileso eu lhe prometo,
minha
palavra e fé lhe comprometo,
meu tio
onipotente!"
"Muitos
súditos você já me forneceu,
porém
conversa eu terei com Euristeu,
esse
insolente!"
"Quando
passar pela barca de Caronte,
pois
muito em breve irá cruzar a ponte,
Hera o
abandonará!...
Ora,
pois bem!... Yolau dará o recado,
mas do
portão ficará encarregado...
Sei que
retornará..."
"Mas
veja bem: não lhe arranque um só cabelo!
Quero
meu Cérbero conservando todo o pelo,
sem um
só fio lhe faltar!
Caso
contrário, sobrinho meu ou não,
você é
mortal e há de voltar, então,
no
Tártaro a ficar!..."
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XXIII
Agradecendo,
tornou Hérakles ao portão;
quis-lhe
Cérbero impedir a saída, então,
mas
Yolau falou...
"Bem,
se for essa a vontade do Senhor,
esse
herói eu seguirei, sem mais temor,
já que
Hades me ordenou!
Assim
Cérbero a Hérakles acompanhou,
que sem
coleira ou corrente o transportou,
até ao
palácio de Micenas.
Todos
fugiam dessa infernal presença;
mostrou
Euristeu a covardia mais densa:
"Retorne-o
apenas!...”
"Declaro
que o estou oficialmente dispensando!
A
nenhum outro trabalho ainda o mandando,
cumpriu
todo o seu castigo!..."
E
Euristeu lhe jurou, em seu temor,
perante
trêmulas testemunhas ao redor...
"Mas
leve o cão consigo!..."
Assim
Hérakles foi ao Hades novamente.
sem
Cérbero cometer ato inclemente,
durante
seu retorno...
Assim a
Hades fielmente o devolveu,
sem ter
ferido qualquer pelo seu,
que
usasse como adorno...
Então
Perséfone chamou-o, gentilmente:
"Sei
bem porque, assim traiçoeiramente,
sua tia
o perseguiu!...
Mas de
seu crime encontra-se perdoado,
por
Hera sendo de fato só instigado,
sem
culpa ela o puniu!..."
"E
como prova, agora lhe apresento,
as
sombras de seus filhos, um portento
bem
raro concedido!
Foram
nos Campos Elíseos encontrados,
suas
almas puras, não foram castigados
por
Hades, meu marido!
Muitas
lágrimas o herói nesse instante derramou,
quando
as sombras de seus filhos contemplou:
grande
carinho!...
"Mas
agora, vocês vão se separar,
que ao
mundo claro tu deves retornar,
em teu
caminho!..."
Assim
dos filhos o herói se despediu,
o seu perdão
totalmente conseguiu,
mas
quem sabe voltaria?
E o
próprio Cérbero conduziu-o até a saída,
ali
cumprindo com Yolau a despedida,
que o
cão apenas assistia!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XXIV
Eventualmente,
ele de novo se casou
com
Dejanira, a quem bastante amou,
mas
que era ciumenta
e vendo
a forma com que outras o olhavam,
suas
incertezas mais ainda se acendravam,
a ele
sempre atenta!
Havia
um Centauro cuja índole gentil
diferia
dos demais, gente bem vil,
por
Quíron designado,
que era
de Hérakles amigo e companheiro,
mas em
combate com Pholos, o guerreiro
suas
setas havia lançado.
Por
acidente, uma a Quíron atingiu,
sendo
imortal, apenas o feriu:
terríveis
dores!...
Foi
Hérakles a Zeus, arrependido,
pedindo
fosse seu amigo socorrido
dos
horríveis estertores!
Porém
Zeus declarou só haver um jeito:
se
desistisse de seu imortal direito,
para o
Hades ir descer;
E deste
modo, Hérakles o convenceu
e
Quíron nos seus braços faleceu,
sem as
dores mais sofrer...
Mas em
sua espera, o Centauro, revoltado,
por
Dejanira em seu lar sendo tratado,
porém
muito ressentido,
ao
escutar-lhe as palavras de ciúme,
foi
tomado pela infâmia do azedume.
a ela
um frasco concedido,
que de
fato mau veneno só continha,
porém
Quíron iludiu a pobrezinha:
"Este
é um filtro de amor!
Borrife-o
nas roupas desse seu marido,
que
será sempre fiel, lançado ao olvido
qualquer
rosto sedutor!
Existem
muitas versões do acontecido;
teria
Nessos tal veneno fornecido,
um
Centauro diferente,
a quem
a coxa tivera Hérakles arranhado
por
acidente e com uma flecha envenenado,
morrendo,
finalmente.
Mas
Dejanira um manto assim teceu,
púrpura
e rubro, que ao marido ofereceu,
depois
de o borrifar...
Quando
Hérakles o vestiu, viu-se ferido
pelas
gotas do veneno ali contido,
até se
incinerar!...
OS DOZE TRABALHOS
DE HÉRCULES XXV
Em
desespero, também ela se matou:
dizem
alguns que na pira se lançou,
ao lado
do marido.
Segundo
outros, teria se enforcado
ou o
coração com adaga transpassado.
pelo
crime cometido!...
Outro
poeta diz que Hérakles a pira,
para da
dor poder furtar-se à ira,
o
próprio herói ergueu,
para
nela lançar-se, finalmente,
e que
em tal chama, assim mais inclemente,
finalmente
pereceu!...
E que
enquanto se sentia consumido
pensou
podia, afinal, ver-se reunido
com os
filhos que perdera...
Suprema
a dor, superou-a, finalmente,
a
Perséfone suplicando ser clemente,
como
antes já lhe fora...
E de
seu trono o deus Hades, sorridente,
admirado
de sua ação valente,
a seu
irmão chamou,
Júpiter
Zeus, que tomasse a decisão
sobre
seu filho -- e o resultado, então
o deus
dos Céus julgou!...
E
quando Zeus viu a pira que se erguia,
em que
o corpo de seu filho queimaria,
um
relâmpago lançou
que a
consumiu num instante de esplendor,
sem que
Hérakles suportasse mais ardor,
cinza
apenas lhe restou!...
Contudo,
o deus sua alma resgatou
e para
o Olimpo de imediato a transportou.
no mais
breve relance.
E no
seu reino o transformou num imortal,
a
própria Hera comovendo-se, afinal,
por
causa de tal lance.
Como
desculpa e recompensa, lhe ofertou
sua
filha Hebe, com quem ele casou,
himeneu
no reino santo!...
E ali
se encontra, com néctar e ambrosia,
na
eternidade que com ela gozaria,
sem
verter pranto!
Assim
Hérakles não retornou ao Hades,
mas se
de Sófocles as peças hoje invades,
verás
que Dejanira
foi
também por Perséfone perdoada
e nos
Campos Elíseos abençoada;
dos
enteados mira
as
sombras puras, como a mãe real,
incapazes
de fazerem qualquer mal
e em
danças gira!...
William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog: www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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