INFLEXÕES I -- 11 JAN
2018
meu nome é
madrugada. sou apóstolo
das nobres
inflexões. Tenho sentido
desfaçatez e a
zombaria ouvido,
a fazer da vida
inteira o meu ergástulo.
as dimensões recolho,
como oráculo,
a fim de
interpretar. Assim as tenho haurido
nos esforços mais
viris. Fui recolhido
na pista dos deveres,
por mais másculo
meu pendor fosse. Transformei quanto tocava
de palha em ouro, mas
aprendi também
que o ouro é para os
outros. Não tomei
mais que o feno dos
campos que ceifava,
de modo tal que me
tornei refém
das nobres reflexões
com que sonhei.
INFLEXÕES II
meu nome é madrugada. já
desperto
antes dos galos. tomo meu
café
e me ponho a escrever, chegando até
as onze, mais ou menos.
salvo, é certo
se o calçamento eu percorri, deserto,
praticamente a sós com meu boné,
salvo fantasma que encontrei na sé
dos próprios sonhos.
algum encontro incerto
mas cumprimento a tais raros passantes
que sempre me respondem a essa hora.
mas verifico que, depois das dez,
as respostas são bem mais inconstantes,
cordialidade carregada embora
pelas desfeitas que o dia já lhe fez.
INFLEXÕES III
meu nome é madrugada. em
ocasiões
esse processo que adoto é invertido:
horas devoro sem tê-las percebido,
meias-noites adormecidas nos galpões.
das horas duas e três as durações
vejo findar sem que tenha dormido:
no leito só me vejo recolhido
quando das quatro já ausculto as pulsações.
mas nem por isso me levanto tarde,
dificilmente após as oito dormirei:
mesmo que o queira, tenho sono leve
e não preciso que algum sonho me carde
a lã dos dias na quimera que acharei,
nem devaneio que na mente mais se atreve.
INFLEXÕES IV
meu nome é
madrugada. as inflexões
que a tempo me
sussurram os fantasmas
não coalescem na
mortalha dos miasmas
senão nas horas de
diárias ilusões,
quando as palavras têm
de outrem brotações
e vejo a luz dos
cílios nos quiasmas
de meus olhos. E a fúria das marasmas
da vida morta em
diárias tentações.
a madrugada é minha e
a ela pertenço
quando me furto a
outros quefazeres ,
nas inflexões de cada
verso tenso.
pois sou da madrugada,
minha rainha,
nas horas mansas
encontro meus prazeres
e me reclino na
madrugada minha.
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