quarta-feira, 8 de janeiro de 2014





NATAL I – 25 DEZ 13

Ao redor da fogueira nos reunimos
a celebrar o Yule dos antigos,
vestindo só a lã branca dos mendigos
e com um cinto vermelhos nos cingimos.

Quais peregrinos aos montes nós subimos,
nas tradições a redimir castigos,
as tréguas feitas com nossos inimigos,
longos archotes de resina ali brandimos.

E então dançamos em volta de um pinheiro
que à meia-noite será sacrificado,
sua chama a espantar a escuridão

e extinguiremos seu fogo derradeiro
com o monte de neve acumulado
de um novo ano garantindo a gestação!

NATAL II

Em outra parte temos outras tradições:
não é santo o pinheiro, é o carvalho,
o visgo a ser colhido em cada galho,
foices de prata só nessas ocasiões,

coroas tecidas para nossas proteções,
pequenos brotos de azevinho em talho;
para o alto da montanha, em cada atalho,
ramos levados de tantas direções

para a fogueira erguer no descampado,
nessa noite mais longa e mais escura,
os espíritos noturnos a espantar,

para o retorno da primavera, ao terminado
inverno envolto em asas de brancura,
a luz do sol em seu seio a amamentar!

NATAL III

Bem diferente é o natal em Portugal:
em vez de árvore, se fazem figurinhas
de gesso ou barro, imagens pequeninhas,
para lembrar essa noite inatural

de um nascimento de caráter divinal,
ali dispostas à frente de grutinhas,
um boi, um burro, ovelhas bem branquinhas,
hálito quente a presentear cada animal.

Alguns pastores e reis com seus presentes,
anjos cantando em coro triunfal,
José e Maria em igual adoração,

em seu futuro os humanos confidentes,
que ofertas paguem seu pecado original...
E os animais?  Será que esperam salvação?

NATAL IV

Esse calor que provém dos animais
ser-me parece a oferenda natural
dos que bem não esperam, nem o mal,
nem no presente, nem em qualquer jamais.

Teriam corrido entre as ovelhas especiais
Profecias... Sobre a ação desse pascal
Cordeiro, que suprimiria no Natal
holocaustos de ovelha até os finais?

Caso ocorresse, por telepatia
ou por efeito de quântica atuação,
seu bafo quente não seria altruísta...

De tal fenômeno, eu porém, duvidaria,
o seu calor inconsciente doação
que, desta forma, ainda mais mérito conquista.

NATAL V

Mas suponhamos que houvesse essa esperança.
Pobres ovelhas!   Fatal desilusão!
O sangue do Cordeiro, em comunhão,
só encheu almas humanas de bonança...

São Francisco, com sua alma de criança
e seu olhar de imensa compaixão,
levou aos animais a pregação:
será que a bênção do Calvário ali alcança?

Possuem alma, contudo, os animais?
Segundo dizem, reencarnação é heresia
e até contraditória à Redenção...

Mas para os corpos não chegará jamais
para as ovelhas, que a gente abateria,
sem sacrifícios, tão só por refeição!...

NATAL VI

E o pobre burro, o que esperaria?
Que lhe poupassem cargas mais pesadas?
Carnes de burro são por poucos apreciadas...
Não obstante, recebeu tanta honraria!

Muito em breve, essa família fugiria
para o Egito, em marchas compassadas,
a virgem e a criança, ali abraçadas,
que em seu ossudo dorso levaria...

E muitos anos depois, outro jumento
Jesus adulto levaria a Jerusalém...
Era por isso que esse burro respirava?

De um pecado original isento,
Buscando apenas a Deus servir também,
naquela noite em que a neve se espalhava...?


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