NATAL
I – 25 DEZ 13
Ao
redor da fogueira nos reunimos
a
celebrar o Yule dos antigos,
vestindo
só a lã branca dos mendigos
e
com um cinto vermelhos nos cingimos.
Quais
peregrinos aos montes nós subimos,
nas
tradições a redimir castigos,
as
tréguas feitas com nossos inimigos,
longos
archotes de resina ali brandimos.
E
então dançamos em volta de um pinheiro
que
à meia-noite será sacrificado,
sua
chama a espantar a escuridão
e
extinguiremos seu fogo derradeiro
com
o monte de neve acumulado
de
um novo ano garantindo a gestação!
NATAL
II
Em
outra parte temos outras tradições:
não
é santo o pinheiro, é o carvalho,
o
visgo a ser colhido em cada galho,
foices
de prata só nessas ocasiões,
coroas
tecidas para nossas proteções,
pequenos
brotos de azevinho em talho;
para
o alto da montanha, em cada atalho,
ramos
levados de tantas direções
para
a fogueira erguer no descampado,
nessa
noite mais longa e mais escura,
os
espíritos noturnos a espantar,
para
o retorno da primavera, ao terminado
inverno
envolto em asas de brancura,
a
luz do sol em seu seio a amamentar!
NATAL III
Bem diferente é o natal em Portugal:
em vez de árvore, se fazem
figurinhas
de gesso ou barro, imagens
pequeninhas,
para lembrar essa noite inatural
de um nascimento de caráter divinal,
ali dispostas à frente de grutinhas,
um boi, um burro, ovelhas bem
branquinhas,
hálito quente a presentear cada
animal.
Alguns pastores e reis com seus
presentes,
anjos cantando em coro triunfal,
José e Maria em igual adoração,
em seu futuro os humanos
confidentes,
que ofertas paguem seu pecado
original...
E os animais? Será que esperam salvação?
NATAL IV
Esse calor que provém dos animais
ser-me parece a oferenda natural
dos que bem não esperam, nem o mal,
nem no presente, nem em qualquer
jamais.
Teriam corrido entre as ovelhas
especiais
Profecias... Sobre a ação desse
pascal
Cordeiro, que suprimiria no Natal
holocaustos de ovelha até os finais?
Caso ocorresse, por telepatia
ou por efeito de quântica atuação,
seu bafo quente não seria altruísta...
De tal fenômeno, eu porém,
duvidaria,
o seu calor inconsciente doação
que, desta forma, ainda mais mérito
conquista.
NATAL
V
Mas suponhamos
que houvesse essa esperança.
Pobres
ovelhas! Fatal desilusão!
O sangue
do Cordeiro, em comunhão,
só
encheu almas humanas de bonança...
São Francisco,
com sua alma de criança
e
seu olhar de imensa compaixão,
levou
aos animais a pregação:
será
que a bênção do Calvário ali alcança?
Possuem
alma, contudo, os animais?
Segundo
dizem, reencarnação é heresia
e
até contraditória à Redenção...
Mas para
os corpos não chegará jamais
para
as ovelhas, que a gente abateria,
sem
sacrifícios, tão só por refeição!...
NATAL
VI
E o
pobre burro, o que esperaria?
Que lhe
poupassem cargas mais pesadas?
Carnes
de burro são por poucos apreciadas...
Não
obstante, recebeu tanta honraria!
Muito
em breve, essa família fugiria
para
o Egito, em marchas compassadas,
a
virgem e a criança, ali abraçadas,
que
em seu ossudo dorso levaria...
E
muitos anos depois, outro jumento
Jesus
adulto levaria a Jerusalém...
Era
por isso que esse burro respirava?
De
um pecado original isento,
Buscando
apenas a Deus servir também,
naquela
noite em que a neve se espalhava...?
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