OLHOS DE ESTRELA & MAIS
William Lagos
Olhos de Estrela 1 – 15 dez 13
Segundo dizem, dançam as estrelas
A cada vez que amas; ou teus olhos
Se enchem de alegria em seus
refolhos,
Só vendo a dança das estrelas belas.
Segundo dizem, templos e estelas
Dentro das vistas se erguem, com
antolhos
Para quaisquer desdouros ou escolhos
E numa tal idolatria te congelas.
Todas as cores e sons são diferentes
Sob as nuvens cor-de-rosa que aqui
narro,
Teus pés parecem nem tocar no piso.
Mas as estrelas no céu, indiferentes
Permanecem e teus templos são de
barro,
Argamassados com a saliva do
sorriso...
Olhos de Estrela 2
E as estrelas, será que se apaixonam
Pela beleza vista nos humanos?
Antigamente, no tempo dos romanos,
Sentir amores em nada as desabonam,
Pois muitas lendas de paixão ressonam
Entre uma deusa ou musa em seus
afanos
Ou entre deuses ou titãs com
sobre-humanos
Poderes que de mortais fácil se
adonam.
E existem lá no céu muitas estrelas
Que começaram a viver como donzelas
E nesses pontos de luz se transformaram
E assim os gregos acenderam longas
velas
Para esses olhos que entre nós já se
apagaram
No vasto manto das pupilas que
pregaram.
Olhos de Estrela 3
Caso as estrelas algum dia se
enamorem
Não dirão suas próprias frases de
magia?
“Dançam humanos,” talvez se proferia,
“Nos próprios raios de luz que nos
percorrem.”
Em sua tristeza, quiçá estrelas
chorem,
Sua luz prateada pelo impulso da
elegia,
Amor perdido cada luzir gemia
Na geada pura que do alto nos
escorrem.
Mas a elas são humanos indiferentes:
Só uns com outras projetam seu
bailar:
Como prender-se a qualquer raio
estelar?
Pequenas vidas, de ânsias
contingentes,
Por quem estrelas se irão em vão
apaixonar,
Ao invés de por cometas coriscar...
Olhos de Estrela 4
Talvez, no contemplar de uma lagoa
Os miríades reflexos estampados,
Possam olhares luzir apaixonados,
Dando às estrelas leve esperança boa.
Então, talvez nos desçam em garoa
Mil respingos nas águas espalhados
E ao refletir-se nos olhos
contemplados,
Cada borrifo em bimbalhar ressoa.
Mas as mulheres que olham para as
águas
Ou mesmo os homens cujos rostos se
refletem
Veem a si mesmos através dessas
estrelas,
Igual que lágrimas mostrassem as suas
mágoas
Ou só contornos de faces ali
completem,
Mirando estrelas por se acharem belas!
Reincidência I – 16 Dez 13
reincidência é a palavra desses
crimes
que escorrem verdes sobre lábio até
perplexo,
no verde em brotação do puro sexo,
mil versos mudos sem que o verde
rimes,
geração a geração, maduros vimes
do berço em que se cria o novo nexo,
do ventre vivo para o novo amplexo,
da lâmina febril que aos poucos limes
pois reincidimos em nossa distropia,
formando mais motores, que energia
concentram, sem deixar que se
dissipe,
nesses casais que lutam como equipe
para enfrentar a morte e sua
entropia,
milagre inútil mas de idêntica
magia.
Reincidência II
o nosso crime não difere de outras
vidas;
quanto perdura conserva sua ambição,
mais energia quer manter dentro da
mão
no preservar de suas quimeras
concebidas;
a maioria mal percebe ter reunidas
antigas forças isoladas sem razão,
apenas junta, sem calcular paixão,
as vibrações que ao redor acha
perdidas,
algumas por um mínimo de tempo,
logo soltando outra vez, ao se esvair
cada unidade do calor que amealhou,
a dissolver-se em breve contratempo,
outras vidas ao redor a permitir
que bebam vida que cada qual soltou.
Reincidência III
enquanto aumenta a escala da
consciência
essas vidas passageiras mais se
adonam;
o quanto encontram a seu redor
retomam
e reproduzem em sua vasta reincidência;
quanto maiores são, maior potência
nesse reunir com que em torno se
redomam,
nas vibrações desse canto que
ressonam,
a combater com firmeza a decadência;
filhas do sol, contrariam sua
vontade,
que o astro-rei só preside à
entropia,
na mais cálida e total dissipação,
mas roubam vidas toda a oportunidade
de em si tomar e manter a distropia
e assim reforçam a sua preservação.
Reincidência IV
mas os humanos são os maiores
criminosos:
ao reincidir, o fazem bem
conscientemente;
água, alimento, a luz do sol potente
são capturados em seus atos
sediciosos;
enquanto podem, mais que o sol são
poderosos,
pois ele espalha sem qualquer alvo
aparente,
mas os humanos reúnem, com frequente
renovação destes atos impiedosos...
somente nós plena consciência temos
deste crime de guerra praticar
e uns nos outros nos fortalecer,
e novas vidas criamos, pois sabemos
que dentro delas podemos perdurar
muito depois de nosso próprio
perecer.
PASSOS
TORTOS I – 17 DEZ 13
Quer se
encontrem passos tortos no caminho,
na branca
areia ou permeio à poluição;
quer passos
tornos vão girar por entre o espinho
das rosetas
para evitar o seu fisgão;
quer tortos
passos desvendem o carinho,
na busca
fútil de qualquer paixão;
que seja o
passo torto comezinho
em qualquer
ponto que se contempla o chão;
quer se
busque o passo torto sobre o arminho
tornar mais
fácil, apesar da perversão,
desses mil
passos tortos me avizinho,
por mais que
puro eu busque o coração,
pois são
humanos e no humano me definho,
que passos
tortos dos humanos todos são...
PASSOS
TORTOS II
Se os passos
fossem sempre retilíneos,
marcharíamos
todos nós em paralelo;
são os
desvios que dão cruzar ao alelo,
são
verdadeiros amores curvilíneos;
os paralelos
são egoístas e odiolíneos,
cada qual
olha à frente e quer o belo
somente para
si. Recusa o selo
da permuta e
partilhar dos amorlíneos;
são passos
tortos que permitem relações
de maior
intimidade e imperfeição;
e os passos
retos só se cruzam nas esquinas,
no
seguimento das determinações
da clareza,
do rigor e da razão,
predestinadas
por superiores sinas.
PASSOS
TORTOS III
São os erros
desses passos que impulsionam
a vida
humana, com todo o seu defeito;
são
maquinais as amplitudes do perfeito,
são
instintivos os caminhos que se tomam
e até
parábolas da Escritura nos ressonam:
da perdição
o caminho é bem direito,
da salvação
o sendeiro é muito estreito,
largos os
passos que ao primeiro nos retomam;
se larga é a
estrada que conduz à perdição,
interrompida
tão só em encruzilhadas,
enquanto é
estreita a que nos leva à salvação,
com mil
percalços e correntes encontradas,
a cada ponto
são as veredas desviadas,
por passos
tortos pelo peso da emoção.
PASSOS
TORTOS IV
Quero
portanto para mim os tortos passos,
que me
conduzam a outros caminhantes,
que me façam
colidir com viandantes
e a suportar-nos
mutuamente por abraços;
eu quero os
passos tortos que a teus traços
já me
lançaram em momentos delirantes;
erros foram,
talvez, mas tão vibrantes,
na
permanente frouxidão dos laços!...
que passos
tortos nós podemos apoiar
ou de outrem
receber apoio igual
e os passos
retos a causar somente espanto:
ficam os outros somente a contemplar,
por mais que
o reto pareça natural,
quando até
curvo nos escorre o pranto.
TROVAS REBELDES I – 18 DEZ 13
Das raras vezes em que tentei trovar
logo as sílabas se fizeram irrequietas;
queriam mais, queriam ser completas
e em versos mais extensos se espalhar.
Pois as trovas só as buscavam limitar,
mas tais correntes pareciam abjetas;
ansiavam coisas ser bem mais estetas
e nos poetas do passado se espelhar...
Bem sei prefere a trova o violeiro,
na rima simples, muitas vezes repetida,
que muitos chamarão de rima pobre;
mas novas rimas plantarei em meu canteiro,
em métrica diversa da mantida
que a mente popular hoje recobre.
TROVAS REBELDES II
Assim, se uma mulher quero “trovar”,
tal qual é a expressão hoje corrente,
devo buscar um tema mais frequente
para o triunfo de meu breve galantear,
para as mais simples das mentes alcançar,
agindo tal que não fosse inteligente
o belo rosto que encontro pela frente,
esse e(terno) feminino a desprezar...
Talvez estejam por isso a esperar,
mas é em vão que a tanto me limito,
esse trovar para mim é sucedâneo,
enquanto em busca de um melhor rimar
talvez me perca nas brumas do infinito,
em seus ouvidos sem nada de espontâneo.
TROVAS REBELDES III
Só posso então esperar que não compreendam
as minhas rimas ou sequer vocabulário;
tudo em mim, naturalmente, é multifário
e não me atenho a padrões que outros me vendam;
se não me esforço assim para que entendam,
tampouco busco ser atrabiliário;
somente deixo que me reflua o vário,
muito diverso daquilo que encomendam...
Porque, de fato, após trovas já andei
e versos livres tenho até buscado,
mas nada disso assopram minhas musas;
e deste modo, tão só redigirei
as ideias que me tenham inspirado,
sem buscar para mim outras escusas...
O PORTO
DA POESIA I – 19 DEZ 13
POSSO
AFIRMAR QUE SOU POETA POR ACASO,
UMA
FUNÇÃO CONTRA A QUAL JÁ RELUTEI;
EM MEUS
VERSOS QUASE NUNCA ACREDITEI,
NO MEU
FLUTUAR NAS MAROLAS DO MAR RASO;
MAS POR
MAIS QUE ME REBELE, ME DEFASO
AO VER OS DEDOS QUE EM VERSOS JÁ BANHEI:
FORAM BEM
OUTROS OS SONHOS QUE BEIJEI
E SE
ESCOARAM DE MIM, NO SEU DESCASO.
DE FATO,
NUNCA SOUBE O QUE QUERIA;
À VIDA
PERMITI QUE DECIDISSE
O QUE
QUERIA DE MIM, POIS NÃO FUI EU
A DECIDIR
QUANTOS VERSOS EU FARIA,
OU QUE
ESSA IMENSA VARIEDADE EU VISSE,
AINDA
DESCRENDO QUE ALGO SEJA MEU.
O PORTO
DA POESIA II
EU NÃO ME
SENTO POR DECISÃO MOVIDO:
“VAMOS
AGORA ESCREVER OUTRO SONETO...”
(OU OUTRO
RITMO QUALQUER MENOS HERMÉTICO,
AO QUAL
ME SINTA POR VAIDADE DIRIGIDO.)
PERANTE
TODO ESSE RITUAL SOU CÉTICO:
NÃO SOU À
GLÓRIA OU FAMA COMPELIDO.
SE
DEPENDESSE DE MIM, SERIA SECRETO
CADA
POEMA, POR MAIS QUE FOSSE ESTÉTICO.
O MEU
NOME NÃO IMPORTA E NEM SEQUER
ASSINARIA,
SE NÃO FOSSE PRAXE,
SEM
RECAIR EM ORGULHOSO PSEUDÔNIMO
(QUE UMA
VAIDADE INVERSA ASSIM REQUER,
POR
EFEITO DE ESTRANHA PARALAXE,
FUGINDO À
CRÍTICA AO SE MANTER ANÔNIMO.)
O PORTO
DA POESIA III
PORÉM EU
ME PERCEBO UM CAPITÃO,
O
TOMBADILHO DE VERSOS APINHADO,
CADA
TÁBUA UM POEMA REJUNTADO,
CADA VELA
UM SONETO DE ALCATRÃO.
EM MEU
CONVÉS HÁ CENTENAS MAIS QUE ESTÃO,
APÓS
PASSAGEM DE MIM TEREM COMPRADO,
QUE
EXIGEM O CRUZEIRO COMPLETADO,
ATÉ AS
COSTAS EM QUE ARRIBARÃO.
EU
PERMITI QUE SUBISSEM AO TOMBADILHO
E
OCUPASSEM CADA CAMAROTE,
SUPERLOTASSEM
CADA ALOJAMENTO
E ASSIM,
NESSA DERROTA, EU ME PERFILHO;
CHEGADO
AO PORTO, NÃO BAIXAREI UM BOTE,
DEIXANDO
O BARCO AO SABOR DO VENTO.
O PORTO
DA POESIA Iv
MAS
EMBORA O CONDUZA ATÉ O CAIS
ENTÃO
BAIXO PARA A DOCA A PASSARELA:
DESCEM
ALGUNS PARA VER SE A PRAIA É BELA;
DEI-LHES
PASSAGEM E NÃO LHES DEVO MAIS.
MEUS
VERSOS SÃO TURISTAS NATURAIS
QUE VÃO A
HOTEIS, ESPIAR PELA JANELA
OU A
CASSINOS, EMPÓS A BOA ESTRELA.
JÁ OS
REDIGI – QUE SE FAÇAM IMORTAIS!
SOU
OBRIGADO, ESVAZIADO ESTE NAVIO,
MEU TRANSATLÂNTICO,
COMO ANTES SE DIZIA,
A
RETORNAR A MEU PORTO INICIAL;
QUE NO
MOMENTO EM QUE O BARCO ESTÁ VAZIO
ERGUI A
LUNETA E PASSAGEIROS MIL LÁ VIA
A ME
EXIGIREM NOVO CRUZEIRO INAUGURAL
SACRIFÍCIOS
DE SANGUE I – 20 DEZ 13
Antigamente,
se queimavam nos altares
pombas e
ovelhas para a divindade;
em parte
do sacerdócio à saciedade,
outra
parte santificada aos seus esgares
para ser
compartilhada aos familiares;
em
longas mesas, a carne, em amizade
era por
todos dividida, assada em grade,
como
símbolo ritual de dons talares...
Fez
promessa de que tais sacrifícios
nunca
mais se tornassem necessários
um só
Cordeiro, para toda a humanidade,
no mais
perfeito dentre os benefícios,
equalizando
mil bens hospitalários,
iguais
tornando os homens em verdade.
SACRIFÍCIOS
DE SANGUE II
Contudo,
hoje se abatem animais,
sem que
nada se queime nos altares;
são
apenas iguarias e manjares,
satisfação
dos apetites naturais.
Se aos
deuses não se erguem os fanais,
realizam-se
hecatombes similares;
há
idolatria nas carnes desses lares:
para si
mesmo os sacrifícios são finais.
Ao invés
de redimir o sangue escuro,
guardam-se
pratos para sarrabulho
e molho
pardo das aves inocentes,
ao
próprio estômago esse holocausto puro...
mas a
mim mesmo causa sempre certo engulho
ver
pobres seres degolados impotentes.
SACRIFÍCIOS
DE SANGUE III
Mil
vezes o holocausto dos pagãos
ou os
sacrifícios pascais desses judaicos
magarefes,
sem permissão aos laicos
de
sangue derramar em jatos vãos!...
Havia
limpeza nos tecidos sãos
entregues
às famílias nos arcaicos
sacerdócios
de sangue dos mosaicos;
havia
nobreza nas hecatombes dos verões.
Enquanto
hoje se comprimem nessas granjas
os
pobres frangos, de hormônios entupidos...
(Ainda
que câncer causem, lucro trazem.)
E
marcham mil novilhos, longas franjas,
a
caminho dos churrascos produzidos,
que os
paladares somente satisfazem...
URUCUBACA
I – 21 DEZ 13
A
vida é um pássaro que voa para trás,
somente
vendo os lugares em que esteve;
mas
não à frente o caminho a que o leve
esse
seu voo às cegas e sem paz...
A
vida é tão somente o que se faz,
um
sacrifício que só ao passado ceve,
na
busca vã do que o futuro deve,
nessa
incerteza de escolhas boas e más.
O
passarinho da vida estende a cola,
em
direção ao tempo, qual balão,
e
por seu bico sopra-se o passado,
servindo
o corpo qual diária mola
e
a cada instante nos ultrapassarão
sopros
vazios, sem ser nada preservado.
URUCUBACA
II
Quem
pode mesmo conservar o seu passado,
quem
o pode prender por entre os dedos?
Esse
voo é permanente e sem segredos:
cada
momento é para trás abandonado,
sem
jamais poder ser recuperado.
Até
a memória desses tempos ledos
se
encaixa do presente nos albedos:
tudo
é reflexo apenas espelhado...
O
que lembramos já possui um novo nexo;
não
é o fato realmente vivenciado,
mas
a bruma consentânea do já-feito.
E
nem a dor, nem o prazer do sexo
e
nem sequer o indiferente é recobrado,
enquanto
o voo escorre sem defeito...
URUCUBACA
III
E
quem de nós conserva o seu presente?
O
mesmo passarinho diligente
que
deixa a vida fluir por entre o bico,
à
nossa ânsia de manter-se indiferente?
Nosso
presente são apenas as entranhas,
no
rápido fluir de suas patranhas,
o
futuro a passar, rápido e rico:
perde-se
o ingênuo e voam artimanhas...
Em
vão se busca pôr grades à garganta
e
transformar esse pássaro em canoro:
cada
canção já é passado ao terminar.
Tão
logo seu início nos espanta,
nesse
momento de repetir-se o coro,
já
o vemos no antanho a mergulhar...
URUCUBACA
IV
E
quem pode assegurar o seu futuro?
Fazer
que se conserve num instante
esse
devir de retroagir constante,
cada
momento apenas inseguro,
cada
passo encetado em pleno escuro,
a
decisão não mais que delirante
ou
sendo imposta, em caráter intrigante,
se
decidir nos parece ser mais duro...
Ah,
belo pássaro que se chama vida!
Nossa
consciência sempre a debicar,
nossa
esperança levando de vencida!...
Cuja
parada não são pode ousar,
pois
a corrente seria então interrompida,
nenhum
porvir mais além a experimentar!
JEQUITIBÁS
I – 22 DEZ 13
A
esperança é coisa muito estranha:
só
de fitar o inexistente é que ela existe!
O
imponderável a encarar insiste,
por
mais que a desilusão seja tamanha,
quando
nada do esperado afinal ganha....
A
esperança o inesperado enfrenta em riste;
do
intangível no toque ela consiste,
do
impossível na espera não se acanha...
Toda
esperança é um fiapo do presente,
no
porvir totalmente enraizado,
a
cada instante a ser desarraigado
pelas
múltiplas escolhas do inconsciente,
seus
ramos a crescer no coração,
com
verdes frutos que amadurecer não vão.
JEQUITIBÁS
II
Já
foi dito nas Sagradas Escrituras
que
a fé é tão somente a substância
das
coisas nunca vistas, a bonança
que
se busca conquistar por obras puras,
sombras
fantásticas de pura expectância,
Sendo
a fé e a esperança assim escuras
não
existe fé ou esperança na lembrança:
só
existem fatos que viveste e em que perduras.
“Pois
aquilo que se vê, como se espera?”
Onde
o desejo de quanto já se tem?
Toda
a esperança é a busca de um ensejo,
que
sempre acena, mas jamais se abeira...
Torna-se
nosso aquele que nos vem
e
não se espera mais o antigo beijo...
JEQUITIBÁS
III
É
a esperança apenas a semente
de
que pode brotar jequitibá;
entre
nós mais frondosa outra não há,
mas
que esperança temos, frente à frente
com
a bela árvore que já se encontra lá?
Admirável
é seu crescer potente,
quem
o desejar, seu tronco abraçará,
sua
sombra a usufruir em tarde quente.
Mas
não se espera essa árvore espantosa:
só
em sua semente está nossa esperança,
essa
coisinha minúscula, a criança
que
para o imaginar é dadivosa,
toda
a esperança envolta no porvir
que
não se sabe se jamais se irá cumprir.
SUSSURROS DE LUZ I – 23 DEZ 13
Teus olhos dançam como a luz da
aurora,
cada centelha um novo amor de outono;
o teu olhar de mim tornou-se dono,
desde o passado até o presente agora.
Ainda hoje não sei o que me agoura
o meu destino, ao despertar do sono;
sempre algum plano para mim abono,
que a esperança, bem de leve, cora...
Então, as tuas pestanas estremecem
e me contempla o olhar estremunhado,
ainda perdido no vogar do sonho;
e só depois de piscar, me reconhecem,
sem que esse palco eu tenha
partilhado,
seja o roteiro alegre ou mais
tristonho...
SUSSURROS DE LUZ II
Mas ao se abrirem, no instante
primordial,
os teus olhos sussurram, em lampejo,
talvez a relembrar o sonho andejo,
talvez já abertos para o mundo
terrenal.
Para mim vejo que brilham, afinal,
muita vez como prelúdio de algum
beijo;
outra vez só em tua dúvida eu adejo,
na flutuação desse instante
natural...
Tão logo recuperas a consciência,
à luz retornam os velhos sentimentos,
em geral, se dormiste ressentida,
ante qualquer emoção de mais
premência,
no predomínio de passados julgamentos
e com carinho, me retomas em tua
vida.
SUSSURROS DE LUZ III
Quem sou eu, para essa luz do
despertar
pôr em dúvida, quando e se me dá
calor?
Tão somente retribuo igual amor,
a favorável intenção a receptar...
Mas gostaria de ver a luz a
sussurrar,
inadvertida, ainda plena em seu
torpor;
de saber ter sido meu esse fervor
que em teu sonho te soube dominar...
E se em teu sonho ingressar então
pudesse,
no breve instante desse lusco-fusco,
bem eu queria enxergar a clara luz...
Ou então fizesse verdadeira prece:
que nesse simples momento em que me
ofusco
só fosse meu o teu sussurro que
reluz...
APOSTASIA I – 24 DEZ
13
NEM TODO MUSTAFÁ É
MUÇULMANO
E NEM QUALQUER JESUS
É UM BOM CRISTÃO;
NEM TODO GANDHI É
FIEL AO INDUSTÃO,
E NEM QUALQUER JACÓ
SEGUE SEU PLANO
DO MOSAICO OBEDECER
AO DEUS ARCANO;
MUITOS EXISTEM QUE
ATÉ CONVERSOS SÃO,
ENQUANTO OUTROS NA
ORTODOXIA ESTÃO,
POR MAIS QUE SOFRAM
UM ORDÁLIO DESUMANO.
OS NOMES DADOS POUCO
SIGNIFICAM,
SENÃO DO PAI E DA
MÃE PREDILEÇÕES;
BEM AO CONTRÁRIO,
PODEM GERAR REVOLTA,
POR ZOMBARIA,
TALVEZ, QUE OS SACRIFICAM;
OU POR QUAISQUER
OUTRAS SITUAÇÕES,
QUAIS JOVENS POTROS
CORRENDO À RÉDEA SOLTA.
APOSTASIA II
CONTUDO, MUITOS SE
CHAMAM MUSFAFÁ
QUE POR JACÓS A VIDA
COMEÇARAM
OU POR JESUS OS PAIS
OS BATIZARAM,
OU SENDO HINDUS, QUE
AGORA SÃO DE ALÁ.
IMENSAS ONDAS HOJE
DE ISLAMISMO HÁ,
QUE NOS PAÍSES DA
ÁFRICA AVANÇARAM
OU O SUDESTE DA ÁSIA
DOMINARAM,
TERRAS LONGÍNQUAS DE
SEU CARAVANÇARÁ.
DE FATO, SE
EXPANDIRAM CONVERSÕES
MUITO ALÉM DAS
TRIBOS DOS PAGÃOS,
ABRINDO SENDAS NAS
TERRAS DOS CRISTÃOS;
MONOTEÍSTAS EM SUAS
INTENÇÕES,
MAS PROVOCANDO
ALGUMA VEZ ATOS MALSÃOS
ENTRE OS CONVERSOS
DE OUTRAS RELIGIÕES.
APOSTASIA III
MAS NÃO É ISSO QUE
DOUTRINA O ALCORÃO
E NUNCA FOI A
PREGAÇÃO DE MAOMÉ;
MAS O ATUAL AVANÇO
DO ISLÃ AGORA É
SEMELHANTE À ANTIGA
ONDA DE EXPANSÃO,
POIS TRANSMITIRAM À
FORÇA A RELIGIÃO
SOBRE AS TERRAS EM
QUE ANTES TINHA SÉ
O IMPÉRIO BIZANTINO
E A MESMA FÉ
DA ORTODOXIA, MESMO
EM DÉBIL CONVICÇÃO.
POUCOS ENTENDEM A
SANTÍSSIMA TRINDADE
E OS DOGMAS
CATÓLICOS SÃO COMPLEXOS,
SÓ AMENIZADOS PELOS
SANTOS OU MARIA,
ENQUANTO PREGOU O
ISLÃ A UNICIDADE
E NEM SEQUER UMA
IMAGEM PERMITIA
A INTERFERIR EM
MONOTEÍSTICOS AMPLEXOS.
APOSTASIA IV
NÃO É DE ADMIRAR
QUÃO FACILMENTE
OS MUSTAFÁS PELO
MUNDO SE ESPALHARAM;
O TERRENO ESTAVA
PRONTO, QUE APLAINARAM
OS APÓSTOLOS
CRISTÃOS DE ANTIGAMENTE.
ISTO LEVOU A UM
OPRIMIR FREQUENTE
DAQUELES QUE A CONVERTER
SE RECUSARAM,
A QUEM
CONSTANTEMENTE ESCRAVIZARAM
OU IMPUSERAM-LHES
IMPOSTO DIFERENTE.
MAS COMO OCORRE
ENTRE TANTAS MAIORIAS
EM QUALQUER GRUPO
HUMANO OU SOCIEDADE
AS MINORIAS SÓ
DESPERTAM DESCONFIANÇA,
PUNINDO A SHARYIA QUAISQUER APOSTASIAS
ENTRE OS FIÉIS
PERTENCENDO À ISLAMIDADE,
ENQUANTO TRATA OS
CONVERSOS COM BONANÇA.
APOSTASIA V
MAS AOS JUDEUS E
CRISTÃOS DEU MAOMÉ
UM LUGAR ESPECIAL
NAS ESCRITURAS;
MARIA RECEBE
ALI HONRAS MAIS PURAS,
JESUS É TIDO QUAL
PROFETA DE SUA FÉ.
A ABRAÃO E MOISÉS NO
MESMO PÉ
QUE OS PRECEITOS DAS
MUÇULMANAS JURAS;
POUCOS JUDEUS
SOFRERAM TAIS TORTURAS
ENTRE ELES: DOS
CRISTÃOS BEM MAIS ATÉ,
DEPOIS QUE TÊM O
PODER BEM GARANTIDO
E O GOVERNO DO PAÍS
ASSEGURADO,
O “POVO DO LIVRO”
TOTALMENTE SUBMETIDO.
JÁ NA EXPANSÃO TUDO
É DIFERENCIADO,
PELO ZELO DOS
CONVERSOS CONCEBIDO
QUE SÓ NO ISLÃ PODE
ALGUÉM SER ABENÇOADO.
APOSTASIA VI
HOJE VEMOS ATRAVÉS
DAS FILIPINAS
E EM NUMEROSOS
PAÍSES AFRICANOS
UM MOVIMENTO DE
IMPULSOS SOBERANOS
OS CATÓLICOS A
DESVIAR DE ANTIGAS SINAS.
FICAM APENAS AS
SUPERSTIÇÕES MAIS FESCENINAS,
AINDA PRESENTES NOS
SINCRÉTICOS ARCANOS,
CERTAS RAÍZES, MESMO
PASSADOS TANTOS ANOS,
CRENÇAS ANTIGAS
SOBRE A CARNE DAS MENINAS.
E CONVERSOS VEEM-SE
DISPOSTOS A MATAR
PARA A ADVERSA
RELIGIÃO DESARRAIGAR,
IGUAL SUNITAS E
XIÍTAS ENTRE SI,
NA MESMA FASE QUE
ULTRAPASSOU O MUNDO CRISTÃO
MATANDO CÁTAROS E A
PROTESTANTE MULTIDÃO
MAS QUE HOJE EM DIA
AINDA ASSISTIMOS POR ALI...
NATAL I – 25 DEZ 13
ao redor da fogueira nos reunimos
a celebrar o yule dos antigos,
vestindo só a lã branca dos mendigos
e com um cinto vermelhos nos cingimos.
quais peregrinos aos montes nós subimos,
nas tradições a redimir castigos,
as tréguas feitas com nossos inimigos,
longos archotes de resina ali brandimos.
e então dançamos em volta de um pinheiro
que à meia-noite será sacrificado,
sua chama a espantar a escuridão
e extinguiremos seu fogo derradeiro
com o monte de neve acumulado
de um novo ano garantindo a gestação!
NATAL II
em outra parte temos outras tradições:
não é santo o pinheiro, é o carvalho,
o visgo a ser colhido em cada galho,
foices de prata só nessas ocasiões.
coroas tecidas para nossas proteções,
pequenos brotos de azevinho em talho;
para o alto da montanha, em cada atalho,
ramos levados de tantas direções
para a fogueira erguer no descampado,
nessa noite mais longa e mais escura,
os espíritos noturnos a espantar,
para o retorno da primavera, ao terminado
inverno envolto em asas de brancura,
a luz do sol em seu seio a amamentar!
NATAL III
mas diferente é o natal em portugal:
em vez de árvore, se fazem figurinhas
de gesso ou barro, imagens pequeninhas,
para lembrar essa noite inatural
de um nascimento de caráter divinal,
ali dispostas à frente de grutinhas,
um boi, um burro, ovelhas bem branquinhas,
hálito quente a presentear cada animal.
alguns pastores e reis com seus presentes,
anjos cantando em coro triunfal,
josé e maria em igual adoração,
em seu futuro os humanos confidentes,
que ofertas pagam seu pecado original...
e os animais? será que esperam salvação?
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