PRIMA
VERA & MAIS
William
Lagos
PRIMA VERA I – 4 DEZ 13
Partiu a Prima Vera e o
filho me deixou,
com o qual nunca, de
fato, me dei bem...
Sempre exigiu demais de
mim, também,
pois já ferveu meu
coração e o ressecou...
Esse jovem Verão que me
atacou,
subitamente, sem como
nem porém,
essa gosma sudorosa que
me tem
entre seus palpos, como
aranha que picou...
Esse sol aracnídeo,
patas-raios,
cada uma deles picando
radiação
para em minha pele
provocar a brotação
de melanomas, quais
cavalos baios
a percorrer-me depressa
a epiderme,
ante cujo galopar me
encontro inerme...
PRIMA VERA II
Quero mil vezes o sol da
Prima Vera!...
Entre primos sempre há
alguns direitos,
a carícias melífluas são
sujeitos:
embora algo de inocente
é o que se espera...
Não é minha essa prima,
quem me dera!
Ambos deitados sobre os
mesmos leitos,
num prado verde de
flores sem defeitos,
à beira de um regato o
som se gera...
Mil murmúrios de
brilhor, em cristalina
reflexão da brisa sobre
a pele
da primavera ainda
menina – que alegria!
Que com ela partilhasse
de minha sina,
o ano inteiro querendo
que me vele,
do albor primeiro até o
morrer do dia...
PRIMA VERA III
Mas Prima Vera é mulher
e caprichosa,
bem depressa tem menarca
e adolescência;
a pele lisa e clara em
opalescência,
cheiro de flor que não é
o olor da rosa,
mas mistura da orquídea
mais formosa
com uma antera em plena
deiscência,
as sementes a espargir
sem consequência,
uma em dez mil terá vida
futurosa!...
E logo faz-se adulta,
que, depressa,
sua calidez adquire mais
ardor:
suspiros brotam de seu
coração...
Finda as carícias e para
o além se apressa
e é quando lhe devoto
mais amor
que me sorri apenas o
verão!...
MULHER DE INVERNO I – 5
DEZ 13
A primavera é planta em
claro verde,
pelo inverno gerada, em
sua velhice...
Talvez estranho pareça e
esquisitice
que seu mínimo calor o
inverno herde...
Pois o recolhe com
cuidado e nada perde
e dos humanos encolhidos
ri-se...
É o Rei do Gelo, a gente
dele disse,
enquanto rendas de geada
o inverno cerde,
do mesmo modo que as mostra
nas vidraças,
raros desenhos de
abstrata flor
e mais esboça sobre a
xirca e o alecrim
e das mil felpas em que
tanto te embaraças
ele recolhe cada gota de
calor
e a primavera então
gera, num festim!
MULHER DE INVERNO II
Porém, assim que a vê,
ainda em botão,
já em seus braços a toma
o encanecido,
de seu granizo e saraiva
revestido
e a aperta firme contra
o coração,
Na mais perfeita e
gentil fecundação,
forma-se a planta, sem
par e sem marido,
fruto de geada por garoa
perseguido,
ainda dura e sem qualquer
maturação...
Vai-se o inverno e a
seiva empalidece,
torna-se grossa e
distribui seu viço,
a planta cresce e
abrange o mundo inteiro,
mulher de inverno, canto
de uma prece,
em seu sabor do sonho
mais castiço,
gavinha e rama a
enverdecer primeiro...
MULHER DE INVERNO III
Essa filha do inverno
faz-se esposa
do vento frio ainda
deixado para trás;
ninguém percebe o que
este nela faz,
quando sua folha agita,
pudorosa...
Titila o zéfiro cada
vinha mais viçosa,
qual namorado com a
garota se compraz;
do Sol a luz se
transforma num rapaz,
sobe da terra a espuma
caprichosa...
Nascem os frutos do
espanto que derramam
e flores brotam para
festim de abelhas:
muitas morrem e na terra
se incendeiam
e marimbondos e
joões-de-barro chamam,
no festival de melífluas
acendelhas,
em que os raios do Sol
ainda gorjeiam...
MULHER DE INVERNO IV
Assim dos prados se
reveste a primavera,
como um tapete de flor a
marchetar,
das ameixeiras os botões
a derribar:
que frutos nasçam, que
se faça a cera!...
Ela é traiçoeira, qual
dama fica à espera,
do companheiro que passa
a tocaiar;
breves meses antes de
tudo terminar,
antes que o sol o chão
rasgue em cratera.
Não nos avisa de sua
fuga breve,
tão logo o filho ficar
mais atrevido,
que não nos mais
protegerá sua calidez...
Nem ela mesma permanecer
se atreve,
o seu curto reinado já
perdido
no transitório feminino
em que se fez...
FELIX FAETORENTUS I – 6 DEZ 13
Nunca gostei de gatos, mensageiros
que são do Demo, como Martins Fontes
os descreveu em peças e recontes,
parasitas inúteis e faceiros...
Quando nos buscam, é que são interesseiros:
somos apenas da comida as pontes;
não têm amor por nós e seus remontes
contra nossas pobres pernas são ronceiros...
Ao se roçarem em nós, deixam seu cheiro,
marcando território... Ainda bem
que não preferem urinar em nós!...
Tal como fazem, com andar alvissareiro
os machos pelos cantos, que também
pouco se importam em nos deixarem sós!
FELIX FAETORENTUS II
Eles têm fama de apreciarem a limpeza,
mas de fato, me parece até o contrário:
só vejo neles esse jeito atrabiliário
de o assoalho escarvarem com firmeza!
Lá no passado, o hábito deu-lhes inteireza,
ao disfarçarem emunctório vário,
para melhor despistar adversário
e os desviavam, na maior certeza...
Mas seu instinto, ao que parece, para ali,
se não forem treinados pela dona,
ou não seguirem o exemplo de um adulto:
soltam sem pena, em cada canto, o seu xixi,
que quase sólido no nariz ressona,
suas patinhas lambendo como indulto...
FELIX FAETORENTUS III
Quando brigam, faz-se horrível gritaria,
nesses gemidos com soar fantasmagórico;
um ao outro algo expressa de retórico:
Demóstenes discursando à gataria!
Ou de Cícero é o arrazoado que se ouvia:
quem os enxerga, algo vê de pictórico,
os dois monstrinhos num miar fosfórico,
um verdadeiro balé que se assistia...
Um avança, outro recua, dois guris,
contra o chão a expelir a cuspidinha:
“Apaga aqui!” – a se desafiar
Suas lutas a apartar somente quis
quando um dos gladiadores casa tinha
nas almofadas arranhadas de meu lar!...
FELIX FAETORENTUS IV
Porque, sem dúvida, é horrível o seu cheiro,
quando pretendem marcar seu território
ou desafiar um ocupante provisório:
até passam por gambás para o campeiro!
Chego à janela, para espantar ligeiro,
mas quem me diz que atendem ao simplório
ser humano, em seu ato perfunctório,
que nos telhados não anda parelheiro!
Sem contar as tantas vezes que arranhou,
certa vez, até um gato me mordeu!...
fui ao “postinho” para ali ser vacinado,
nem tanto contra a raiva que passou,
mas pelo medo que me acometeu
de ser em “gato-homem” transformado!
FELIX FAETORENTUS V
Mas quando afirmo detestar os gatos,
não me refero a algum em particular;
dois ou três até aprecio no meu lar,
são mais discretos em miar e espalhafatos.
Saphira está velhinha, tristes fatos
que bem menos que nós possam durar;
é persa cinza, amarelo o seu olhar,
já não mais caça passarinhos e nem ratos.
Mas em sua longa ocupação de caçadora,
jamais a vi judiar de alguma presa:
matava e então comia em singeleza;
até uma rã de quem se alçara em protetora
a senhora desta casa, na epopeia,
só as patinhas a lembrar sua Doroteia...
FELIX FAETORENTUS VI
Arthur Pendragon também é estimado,
animalzinho que parece de cinema...
Ótima índole, que merece grande pena,
por ter sido por vizinho bem judiado...
Outro persa foi a estes agregado,
jovem Mephisto, qual na antiga cena
do pobre Fausto a quem Goethe assim condena
a própria alma a vender – feio pecado!
Também Herodes apreciei, quase rosado,
gato da rua, que casou com Messalina
e ficou em nosso rancho aquerenciado...
E ainda Calígula, seu filho, triste sina,
que pelas garras do pai foi expulsado:
todos perdidos pelo fado em malha fina!...
VIRUS FAMINTUS I – 7 DEZ 13
Hoje demora esta atualização
de meu antivírus AVG.
A janela sobre a tela ali se
vê:
leva o tempo de um soneto em
redação...
Mudou agora, quase em
retaliação,
surgindo outra janela, como se
quisesse demonstrar que se
prevê
em vão o tempo de sua
instalação.
No final, tantos nobres
artifícios,
programas digitais em profusão,
ainda encaro com bastante
desconfiança.
Até admito que tragam
benefícios,
porém nada que ao passado, de
antemão,
eu não fizesse com bem menor
tardança.
VIRUS FAMINTUS II
Ainda hoje tenho sobre a mesa
a minha antiga máquina de
escrever;
muito serviço me prestou em meu
viver:
bom datilógrafo eu era, com
certeza.
Redigi nela poemas de beleza,
numerosas traduções, a meu
prazer;
na prateleira mais alta eu
posso ver,
cópias-carbono sem ter grande
despesa.
Mas afinal, por questão de
comodismo,
senta-se a gente em idêntico
lugar,
cruzando os dedos para um vírus
não chegar
e ainda recordo, por questão de
saudosismo,
a enorme aranha, que queria
fabricar
entre as teclas sua teia, a me
assustar!
VIRUS FAMINTUS III
A pobre aranha eu matei, bem
facilmente;
talvez quisesse apenas uns
mosquitos...
Já esses vírus me parecem mais
aflitos,
a destruir muito mais,
frequentemente.
Assim, no atualizar, fico
impaciente:
será que há Worms, Trojan
Horses infinitos?
Existe reza a quaisquer santos
benditos
que assim combata sua ação
impenitente?
Provavelmente não, são coisa
humana,
sem precisar de interferência
diabólica,
que existe gente maleva em
natureza,
sempre inclinada a qualquer
coisa profana,
seu coração a bater na
diastólica
e sistólica expressão de sua
vileza...
VIRUS FAMINTUS IV
Por que atribuir a diabos tal
maldade,
se capazes somos dela,
inteiramente?
Através de nossa história é bem
frequente
achar-se o impulso de destruir
a sociedade.
Só que hoje existe mais
vulnerabilidade:
algum programa se faz, bem
facilmente,
pode apertar um botão esse
inclemente,
premendo o dedo contra toda a
humanidade.
Por que essa fome de tudo
destruir?
E por que essa espantosa
ingenuidade
que o mundo inteiro expõe à
devastação?
Mas se algum dia toda
informática sumir,
guardo um consolo na
domesticidade,
que a velha máquina ainda
funciona à perfeição!
REMORDIMENTO I – 8 dez 13
Pois me buscou de
angústia avassalada
aquela jovem triste e
irrefletida,
que não confiava em si,
que deu guarida
às mil perquirições da
alma assolada...
Eu a cobri de gentileza
alada,
até lhe restaurei a sua
perdida
autoconfiança,
mostrei-lhe ideal guarida,
em amor puro e paciência
renovada.
Dei-lhe meu tempo, minha
bênção e suspiro,
descurei de mim mesmo
por seu bem,
mostrei-lhe um fado mais
nobre e majestoso.
E esta é a razão
para o tanto que refiro:
passou de largo -- e
constatei, também,
que perde amor quem mais
foi generoso.
REMORDIMENTO II
Quem busca amor, amor
também quer dar
e não apenas carinhos
receber;
cada um ao outro sempre
recorrer,
nessa troca constante do
abençoar.
Assim se amor só queres
demonstrar
e nada pedes por teu
padecer,
por maior o sacrifício
em tal sofrer,
acabas por bem pouco a
conquistar.
Quem busca amor, após
amor perder,
sem vir de fora, que era
seu, inteiramente,
não deseja igual bênção
consequente,
mas um condão semelhante
conceder,
que amor se retribui, se
for perfeito
e amor de graça nos traz
pouco proveito.
REMORDIMENTO III
Por isso tanta gente se
ressente
do amor de Cristo,
apregoado por gratuito,
com ausência de culpas,
um fortuito
oferecer do perdão a
tanta gente.
E apenas diga porque
seria diferente
do que ocorre entre
nós? Paga-se muito
para algo receber, feroz
o intuito,
mas esse preço de sangue
é tão veemente!
Muito mais fácil é se
fazer promessa
ou uma vela acender a
qualquer santo
ou a algum santuário
fazer peregrinação;
sempre é um negócio no
qual a gente ingressa:
pouco se deve à entidade
no seu canto,
pois garantimos lhe
fazer retribuição!...
REMORDIMENTO IV
Ou quando alguém se
entrega à confissão,
das penitências a
cumprir repetição,
para então receber a
absolvição,
pela promessa de manter
a contrição!...
A maioria dos fieis sai
aliviada,
mas da promessa feita
cumpre nada,
para quê? – se já foi
recompensada
em suas contas do
rosário atarefada...?
Também amor é
assim. Há tanta gente
que até prefere outro
desapontamento
que receber um gratuito
benefício,
ou acredita que um
pagamento ingente
dispensa mesmo do
arrependimento
e já se apresta para
outro malefício!...
REMORDIMENTO V
Assim por mais que nos
custe sacrifício,
esse amor que por alguém
se demonstrou,
que a certo ponto o
coração quebrou,
é encarado como sendo
até fictício;
que amor de graça não
parece benefício,
com a experiência nem
sequer se coadunou;
é coisa estranha o que
se revelou:
quem foi traída repetir
busca esse ofício,
como se paga empréstimo
ou promessa...
Existe sempre algum
temor de juro,
quando algum vem a
consolá-la, sem demora!
Em troca é de esperar
que algo lhe peça,
igual que um outro já se
mostrou perjuro,
que Imaculada é só Nossa
Senhora!...
REMORDIMENTO VI
Se há algo de básico na natureza humana
é demonstrar para com outrem desconfiança;
o que se pode entender dessa esperança
que a alma e não o corpo nos reclama?
Essa pessoa que tão boa se proclama,
talvez os dedos dentro ao peito alcança
e nos retira a mais gentil lembrança...
Para que tipo de maldade nos conclama...?
Pois foi assim comigo.
Tanta vez
interpretaram-me mal as intenções,
pelo pecado atroz de não pedir...
E assim me desgastei, mês após mês,
a proteger quebrados corações
que só buscavam era de novo se iludir...
RESSAIBO I – 9 dez 13
Por mais que seja sincero o teu
auxílio,
se for grande demais, ressentimento
fará brotar no alheio pensamento
e empanará de teu presente o brilho.
De certo, é ingratidão, porém é filho
de não poder pagar, tal sentimento,
se aquele que recebe esse alimento
nunca seguiu da ingratidão o trilho.
E agora vê-se nela: mais ressente
sentir-se ingrato por um tal
presente,
que lhe desperta nalma ira mesquinha.
Muito melhor seria não ganhar,
sem ter de agradecer e imaginar
que não pode retribuir com quanto
tinha.
RESSAIBO II
Bem melhor é dar presente limitado,
que possa ser, de algum modo,
retribuído
por trabalho ou de outro modo
consentido,
após ter sido, de antemão,
solicitado.
Pois de fato é menos bem-aventurado
receber do que dar, quando é perdido
o senso de igualdade e concebido
como humilhante tal favor inesperado.
Na percepção deste ressentimento
caleidoscópico de alguma ingratidão,
brota uma nova faceta do rancor,
manifestado em inverso julgamento
de um ressentir que se faz obrigação,
comprado o ódio pensando ser amor.
RESSAIBO III
Portanto, faz o bem a quem te peça,
mas nunca mais do que foi solicitado,
quando, de fato, o outro está
atribulado
e por qualquer migalha te agradeça.
Melhor até que o teu favor esqueça
e jamais seja, de novo, recordado;
fazer o bem em excesso é até pecado,
que raiva causa sem que a alma
aqueça...
Que seja o bem uma oportunidade,
um trabalho que possa redimir
do benefício a escala e condição;
que sinta o outro tê-lo ganho, na
verdade,
contra a tarefa que lhe podes exigir,
sem ter a esmola, mas tua aceitação.
FACETAS XXV - A
PROFISSIONAL I – 15 JUL 2006
Bondosa é essa mulher
que, anestesiada,
por força de um amor
desiludido,
ou descrente de si,
nesse perdido
ideal de ser algum dia
revelada,
aos olhos de outro
homem como bela,
permanece, assim
mesmo, diligente,
cumprindo suas
tarefas, consistente
à profissão de
escolha, onde revela
o quanto podia ser
ainda melhor,
caso tivera na vida
objetivo
que não fora chegar,
ao fim do dia,
ao lugar onde mora,
sem amor,
e apenas se esconder,
em leito esquivo,
como quem sua alma
morta já possuía...
A PROFISSIONAL II – 10 DEZ 13
Há muitas como esta.
Escondem bem,
por trás de seus deveres, a tristeza:
todas os cumprem, com ínclita nobreza,
qualquer que seja a trilha em que se têm.
Algumas são serventes.
Outras, porém,
sobem a escada social, em sua firmeza,
até a Presidência ou igual grandeza,
lá suas funções a exercer também.
Em qualquer caso, escondem seu vazio.
Não é bom que a mulher esteja só,
como o Gênesis se refere ao velho Adão.
A companhia é necessária nesse estio
que lhe esmaga o coração em pedra mó,
a cada noite respirando a solidão.
A PROFISSIONAL III
Naturalmente, não são todas.
Cá refiro
as que não têm companheiro permanente;
não as que vivem num lar pertinente,
dos filhos e marido no seu giro,
que sabem conciliar, nesse respiro,
a sua tarefa, por mais tenha de exigente,
longe de casa, em obrigação frequente,
que em hospitais ou tribunais eu miro.
Cada uma delas tem sua forma de bondade
e não se furta à aplicação de seu dever;
tem vida dupla, sem nada do vazio
que acima mencionei, porém integridade:
não é preciso ser sozinha para ter
parte nas ondas desse imenso rio...
A PROFISSIONAL IV
Eu me refiro àquelas que deixaram
de lado ou para trás as esperanças,
muitas delas rodeadas de crianças,
quer suas sejam ou aquelas que ensinaram,
ainda feridas pelos que as abandonaram
e com eles levaram suas bonanças
e algo dos corações, nessas instâncias,
que se partiram e nunca se soldaram...
E contudo, ao desespero não se entregam;
ocupam seu lugar na sociedade
e mesmo estudam para a sina melhorar
e a quem delas precisa não se negam;
seu vazio não está cheio de maldade,
sempre prontas aos outros ajudar...
A PROFISSIONAL V
Também algumas nutrem ressentimentos
e são difíceis de se conquistar
para uma causa qualquer a trabalhar:
bem enterrados os velhos sentimentos.
De ser princesa se foram os pensamentos,
o príncipe encantado a se escapar
por entre os dedos que o pensavam agarrar:
amargas são após tantos ferimentos.
Mas também estas conseguem suspirar
e às outras amparar, maugrado seu,
porque faz parte da natureza feminina,
vendo o nenê em quem vai-lhe suplicar
ou a cara de um gatinho as surpreendeu
igual que fossem uns traços de menina...
A PROFISSIONAL VI
Na imensa maioria há
tal bondade,
seu coração partido
disfarçado,
um novo amor quase
sempre rejeitado,
na desconfiança de
idêntica impiedade.
E contudo, amor
derramam, na verdade
em seu trabalho, com
esforço dedicado,
por mais mal pago que
seja, executado,
não obstante sua maior
necessidade.
E que seria de nós, se
assim não fosse?
Se não houvesse, por
todo o lugar,
esse alimento que se
dispõem a cozinhar
ou da criança
enjeitada o tomar posse,
até assaltantes na
polícia a combater
e mesmo adultos a
ensinar como viver?
Zero e Um 1 –
11 Dez 13
Qual a
diferença entre o Dois e o Três?
Você dirá ser
de só uma unidade.
Sua resposta
está certa, na verdade,
sempre igual o
resultado, em cada vez.
E a diferença
entre o Cinco e o Seis,
entre o Oito e
o Nove, com igual tonicidade;
do Seis para o
Sete a realidade
não modifica
muito, quando a vês...
E a diferença
entre o Um e o Dois?
Será de novo
uma unidade, simplesmente
ou é mais entre
o plural e o singular?
O Três ao Dois
segue fácil, depois,
não mostra
grande diferença, realmente,
mas que o Dois
é o dobro do Um, não há negar...
Zero e Um 2
Mas se dirá:
Quatro não é também
dobro de Dois? Não representa o Oito
dobre de
Quatro? Por que cálculo afoito,
Dois como dobro
se vá insistir, porém?
Mas no Um é só
unidade que se tem
e já no Dois
pluricidade acoito...
Nesse plural de
Dois eu já pernoito
a diferença
entre o Cinquenta e o Cem?
São todos mais
que o Um, quer seja um par,
que facilmente
conduzirá ao Três
ou a uma Dúzia
de sinceros seguidores,
ao redor de um
Único, a pregar,
que poderão
repetir, chegada a vez,
Um só não
sendo, maugrado seus ardores.
Zero e Um 3
E a diferença
entre o Um e o Zero?
Maior
ainda. Só se a pode calcular
indicando estar
presente ou se ausentar,
que Um já
existe, pelo Zero ainda espero...
Mas até sem
existir, é bem mais fero
esse Zero
invisível de se achar...
Um qualquer
pode-se bem classificar,
porém o outro
só no imaginar eu gero...
Assim, ninguém
se deve surpreender
que só uma vez
os persas o inventassem
e os árabes
para nós o transmitissem.
E quão mais fácil os cálculos fazer,
quando Nada a
qualquer soma acrescentassem,
Por mais que
eles mesmos nunca o vissem...
Zero e Um 4
Mas esse Zero
se tornou hoje o senhor
de nossa Era da
Informação...
Na Informática
apenas dois estão:
Um é o
indivíduo e Zero o opositor...
Não é incrível
que só duplo condutor
produza efeitos
de tal conformação?
Quando Um se abre
e o Zero fecha a mão,
um tudo dá sem
o outro mostre amor...
Estranho mundo
esse da Informática,
o universo a
medir com um olho cego
e o outro que é
apenas uniforme...
As Árvores de
Decisão postas em prática,
para as raízes
voltado o seu apego
de decidir
sobre quanto era disforme!
SENUS DECODEX I – 12 DEZ 13
UM SEIO DE MULHER É CRIATURA
MÍSTICA OU MÍTICA ATÉ PRIMEIRO SER TOCADO;
DA ADOLESCÊNCIA UM LIMITE ASSIM CRUZADO,
QUAL UM MERGULHO EM LAGOA FUNDA E ESCURA,
TOQUE PRIMEVO QUE TODA A VIDA DURA,
DA PRÓPRIA MÃE O SEIO ULTRAPASSADO,
UM PASSO AO NOVO ALVO DESEJADO:
AINDA MAIS MÍSTICO SEGREDO QUE PERDURA,
ATÉ QUE SEJA, FINALMENTE, PENETRADO,
QUAL ESSE CÓDIGO DA TAL “MÁQUINA ENIGMA”,
QUE A ALEMANHA USOU DURANTE A GUERRA.
NESSA MENSAGEM DE MISTÉRIO DESVENDADO,
PERANTE O QUAL A MENTE SE PERSIGNA
E MODIFICA INTEIRAMENTE TODA A TERRA!
SENUS DECODEX II
PROVAVELMENTE, O MENINO TEVE ACESSO
A OUTROS SEIOS, ALÉM DO SEU MATERNO;
EM MUITOS COLOS ESTEVE, AO LADO EXTERNO;
TALVEZ ALGUMA LHE PERMITISSE ATÉ O INGRESSO,
SEM QUE AÍ HOUVESSE PEDOFÍLICO PROGRESSO,
POR GENTILEZA OU POR PRAZER INTERNO;
QUALQUER JOVEM OU MULHER, EM DOM FRATERNO,
O MISTÉRIO REVELASSE PELO AVESSO...
MAS NÃO HAVIA AINDA A COMPREENSÃO,
SE NÃO FOSSE ALGUMA COISA PROIBIDA,
QUE LHE TINGISSE DA INFÂNCIA O REFRIGÉRIO.
MOSTRAM-SE OS SEIOS A ALGUM SOBRINHO OU IRMÃO,
SEM HAVER PLENA MALÍCIA ALI INSERIDA
E SEM QUE AO MENOS SE PERCEBA ALGUM MISTÉRIO.
SENUS DECODEX III
O MISTICISMO DO SEIO NÃO SE APLICA
NAS SOCIEDADES QUE TÊM SEIOS EXPOSTOS;
OUTROS TABUS EXISTEM ENTRE OS OPOSTOS,
OUTROS MISTÉRIOS NÃO SE CLARIFICA.
MAS É O MISTÉRIO QUE NOS TORNA A VIDA RICA,
NESSE MOMENTO DA VERDADE, SEM DESGOSTOS:
SEIOS TOCADOS, A CONTEMPLAR-SE OS ROSTOS,
JÁ DO MUNDO A COMPREENSÃO SE RETIFICA...
E O MAIOR MAL DA ATUAL FACILIDADE
EM CONTEMPLAR DAS MULHERES A NUDEZ,
SEM QUE POR ISSO NOS DEEM INTIMIDADE,
É QUE A NUVEM DO MISTÉRIO SE DESFEZ,
MOSTRADO TUDO, SEM MOSTRAR MATERNIDADE,
NO SACERDÓCIO DA MULHER A QUEM TE DÊS.
DERME SAGRADA I – 13 DEZ 13
Sob a armadura de minha pele, eu te procuro,
oculta dentro da armadura de tua pele;
ali se encontra, quando o impulso nos propele,
mesmo nos toques gentis do canto escuro,
mesmo no instante em que eu amor te juro,
teus membros a abraçar-me, que amor sele,
mesmo nas horas em que a paixão mais vele,
tua carne é tua, oculta atrás de um muro...
Mais do que a mente que no cérebro se oculta.
Mais que a emoção que produz a adrenalina.
Mais que a pureza a que o coração se inclina,
a pele é pele e só a roçar indulta,
nuvem de seda em corpo aveludado,
invulnerável, por mais que acariciado...
DERME SAGRADA II
Pois se conserva a distância sob a palma,
quando ao contato se arqueia o muscular,
por mais concreto que seja o desejar,
por mais disposta até que esteja a alma,
por mais que o cheiro minha narina embalma,
por mais suores nesse instante a misturar,
por grande a ânsia para o pronto fecundar,
maior ressaibo que a explosão transforme em calma,
jamais ocorre a divinal fusão
de uma metade a outra desvelada;
não são as duas criaturas de Platão,
mesmo que a pele seja em crime desfoliada,
idêntico ritmo no debater do coração,
em ti conservas tua muralha indevassada...
DERME SAGRADA III
Será que eu penso que, em arcano dia,
fomos de fato, na escritural promessa,
uma só carne, após essa compressa
de ritual e comunhão que alguém fazia?
Que até na gruta rosada em que jazia
a antiga sina que para amor me apressa,
existe a pele que jamais se esqueça,
por mais que a carne à minha consentia.
Somos pele... Mais grossa
ou mais esguia;
na eucaristia mais íntima do ser
nunca houve das metades a fusão...
E nessa busca longa que nos guia,
se encontra sempre o germe do sofrer,
na mágoa pura da própria solidão.
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