sexta-feira, 14 de agosto de 2020

 

 

JOVENS DE ROMA XXVI

MARCELLA

 

OUTRA VEZ ENCONTREI, PELAS RUAS, A MULHER,

QUE EU SEI UM DIA ATÉ ME AMOU BASTANTE,

EMBORA EU NUNCA TENHA ACHADO INTERESSANTE

COM ELA RELAÇÃO FORMAR QUALQUER...

 

APENAS AO NOS VERMOS, NOS BEIJAMOS:

ELA SORRI PROMESSA E DESAPONTO;

EU LHE SORRIO, PENSANDO SER UM TONTO,

PORQUE UM CASO DE AMOR NUNCA INICIAMOS...

 

É CLARO QUE ELA TEM OS SEUS AMANTES:

GENEROSOS ALGUNS E SANGUESSUGAS

OUTROS TAMBÉM; E AGORA, ESTÁ DESFEITO

 

O SEU ROSTO, EM TRAÇOS BEM MARCANTES;

E NESSE INSTANTE PERCEBO QUE ESSAS RUGAS

SÃO AS MARCAS DE UM AMOR INSATISFEITO...

 

 

JOVENS DE ROMA XXVII

VOLÚMNIA

 

APENAS UM SORRISO E UM LEVE ACENO,

POIS NADA MAIS ME DEU, SENÃO O JÚBILO

DE RETORNAR A MEU IDEAL SERENO

DE TRANSFORMAR EM ARTE TODO O NÚBILO

 

ESPLENDOR GERADOR EM QUE JAZIA...

E COMO DESPERTOU!... NÃO MAIS CONSIGO

REPRESAR ESTE ARDOR, O QUAL, CONTIGO,

TERIA SIDO O GRANDE AMOR, QUE UM DIA

 

MAL CONCEBESTE DENTRO DE TEU PEITO,

O AMOR INEXAURÍVEL E PERFEITO:

MAS INCAPAZ TU FOSTE DE ENTENDÊ-LO...

 

TALVEZ PELA DESCRENÇA DO DIREITO

DE POSSUIR TAL AMOR, TÃO ESCORREITO,

COMO ME ESCORRE O SANGUE, SÓ DE TÊ-LO!...

 

 

AS JOVENS DE ROMA XXVIII

CINCINNATA

 

EU CONTEMPLEI MIL FACES NO PASSADO

E AMEI A TODAS, NESSE ATRIBULADO

E CAPRICHOSO AMOR QUE AMA O POETA;

E A CADA UMA DEI, NO IDEAL DE ESTETA,

 

UMA DELGADA FATIA DE MINHA ALMA;

E ELAS SE FORAM, LEVARAM MEUS MOMENTOS,

MEU CORAÇÃO, MINHA MENTE, MEUS PORTENTOS,

COMERAM-ME AS PAIXÕES, SEM DAR-ME A CALMA.

 

E AO CONTEMPLAR ESSAS FACES PARDACENTAS,

JÁ MORTAS DO PASSADO, VIRULENTAS,

SINTO UM VAZIO IMENSO NO MEU PEITO.

 

CADA UMA DELAS ME ROUBOU UM POUCO:

TANTO LEVARAM, EM SEU BANQUETE LOUCO,

QUE NEM SEI SE ALGO RESTA A SER REFEITO...

 

 

AS JOVENS DE ROMA XXIX

CAELINA

 

O QUE ACONTECE COM ESTE DOM POÉTICO

É QUE AS PALAVRAS VOAM, SEM CONTROLE,

ESCORREM PELOS DEDOS, NESSE ESTÉTICO

FLUIR DOS VERSOS, ENQUANTO A AREIA ROLE

 

DE UM BOJO A OUTRO, COMO NA AMPULHETA...

COMO POSSO SABER, AO FIM DO VERSO,

O QUE DIREI?... QUAL ESPLENDOR DIVERSO,

OU QUAL O SENSABOR DE ANACORETA

 

QUE ESCREVEREI A TI, QUE TE DESCREVA?

É COMO UMA PAIXÃO, SEM ALVO CERTO:

EU ME ENTREGO NAS FAUCES DA EMOÇÃO

 

E ENTÃO, PRETENDO AMAR, SEM QUE ME ATREVA,

NESTE MEU VASTO CORAÇÃO DESERTO,

SEQUER SONHAR DE TI  RETRIBUIÇÃO...

 

 

AS JOVENS DE ROMA XXX

TARÂNTIA

 

O QUE EU QUERIA ERA AMOR APAIXONADO,

COMO HÁ MUITO NÃO TENHO, POR DESPEITO

DO VÃO CARINHO MEU, POR MAIS QUE DESVELADO

ME HAJA DEMONSTRADO, SOB QUALQUER CONCEITO.

 

MAS É QUE ELA REPELE MEUS AVANÇOS,

COMO SE INJÚRIAS FOSSEM... E EU QUERIA

QUE APENAS ME TOCASSE, SABER QUE PODIA

CONFIAR EM BEIJOS LONGOS, BEIJOS MANSOS.

 

E, NO ENTANTO, SÃO SÓ CURTOS ABRAÇOS

E A BOCA MAL ME ROÇA QUANDO BEIJA:

QUASE NUNCA RETRIBUI MINHA CARÍCIA...

 

ESSA MULHER ESTRANHA, CUJOS TRAÇOS

NUNCA SE ABRANDAM, MESMO QUANDO ENSEJA

ESSE AMOR CONJUGAL DE IMPUDICÍCIA...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário