GARDÊNIAS SECAS I (2008)
(fay wray, musa do cinema mudo)
um
tempo houve que o coração saltava
a
cada vez que te via de passagem
e
mais batia ainda se a coragem
perto
de ti em meus passos me levava.
um
tempo houve que a mente se abrasava
a
cada vez que pensava em tal bobagem,
em
quanto te queria... e meiga aragem
parecia
refrescar-me e a alma cantava.
mas
agora, se te vejo, eu quero bem,
porém
o coração descompassado
nunca
mais fica ao veR A TUA MIRagem.
prazer
conservo em ti e amor também,
mas
aonde foi o tempo relembrado,
do
coração saltando por bobagem...?
GARDÊNIAS
SECAS II ( 16 JUL 11 )
UM
TEMPO HOUVE QUE O CORAÇÃO SOLTAVA
AS
SÍSTOLES E DIÁSTOLES DO DESEJO.
eM
CADA ARTÉRIA SUSPIRAVA UM BEIJO,
EM
CADA CAPILAR EU ME ASSANHAVA...
UM TEMPO
HOUVE QUE A MENTE REBRILHAVA
DE
MIL PLANOS FUGAZES PARA ENSEJO
PROVOCAR,
NESSA BUSCA DE UM ADEJO
DO
AR QUE TUAS NARINAS AINDA ARFAVA.
UM
TEMPO HOUVE EM QUE FOSTE INSPIRAÇÃO,
ACIMA
E ALÉM DE TODO O ENTENDIMENTO,
AMOR
QUE O PRÓPRIO AMOR ME SUFOCAVA.
MAS
TUDO PASSA, AO BATER DO CORAÇÃO,
E
AGORA RESTA, TÃO SÓ, COMEDIMENTO,
AO
VER O ROSTO QUE UM DIA TANTO AMAVA.
gardênias
secas iii
um
tempo houve que o mundo lampejava
a
cada vez que te encontrava assim,
nesse
fulgor que trazias para mim,
só
por estares perto de onde eu estava.
um
tempo houve em que a aridez passava,
como
chuva pintalgando meu jardim.
gosto
de orvalho na corola do jasmim
na
alma caía, se te contemplava....
e
como me era belo tal momento !...
tuas
gotas de saliva, em meu lamento,
formavam
estrelinhas sobre a poeira...
e
o leve som apenas de teus passos
só
despertava o gosto dos abraços,
acima
e além da férvida zoeira...
GARDÊNIAS
SECAS IV – 5 SETEMBRO 2023
AH,
TEMPO HOUVE QUE SÓ EM TI PENSAVA
DE
TARDE E DE MANHÃ, POIS TE NÃO TINHA.
A
DEUS EU SUPLICAVA FOSSES MINHA
E
POR NÃO SERES, ME MARTIRIZAVA...
AH,
NESSE TEMPO, COMO EU ME APLICAVA
A
TE ESCREVER DE SONETOS LADAINHA,
CADA
VEZ MAIS A MENTE COMEZINHA
POR
TEU AMOR TÃO SÓ SE ILUMINAVA...
e
NESSE TEMPO DE IMORTAL QUIMERA,
CONGELA
O TEMPO EM FINAS GELATINAS,
CADA
MOMENTO RETIDO EM MINHAS RETINAS !
mAS
CADA IMAGEM QUE A MEMÓRIA GERA
É
IMAGEM TÃO SOMENTE DA LEMBRANÇA
DA
MEMÓRIA IMAGINÁRIA DA ESPERANÇA...
GARDÊNIAS
SECAS V
POIS
TEMPO HOUVE EM QUE A ESPERANÇA FOI
REALIZADA
EM MÁGOA PERMANENTE,
POIS
ESSE BEIJO TEU QUE FOI FREQUENTE
NÃO
ERA O BEIJO QUE A QUIMERA RÓI,
ERA
UM BEIJO DIFERENTE QUE ME DÓI,
SÓ
DE LEMBRAR-ME NÃO SER BEIJO DA MENTE,
QUE
O IMAGINÁRIO FORA MUITO DIFERENTE
E
COMO O SONHO NO REAL SE MÓI!
TIVE
TEU BEIJO, SIM, E O VENTRE AINDA
ESTANCOU-ME
TODA A ÂNSIA MAIS FEBRIL,
MAS
NÃO A ÂNSIA FUNDA E MAIS INFINDA,
FOI
BEIJO DE CARMIM E NÃO DE ANIL,
SABOR
DE AÇÃO CARNAL E NÃO A LINDA
BRISA
DE ORVALHO NO CÉU PRIMAVERIL.
GARDÊNIAS
SECAS Vi
Porque
esse beijo assim tão transparente
Só
foi beijo real e não de sonho...
E o
que eu queria, em conceber bisonho
Tinha
um flavor de gosto diferente.
Não
era o beijo que se dava em gente,
Era
esse beijo de fada, esse risonho
Beijo
de ar, de vento, esse tristonho,
Beijo
escondido em espelho, simplesmente,
Enquanto
o beijo teu era macio
E
pintalgado por tua língua rosa,
Teus
dentes contra os meus nesse rangir,
Beijo
suave, mas não beijo de rocio,
Era
o oscular que dá mulher formosa
E
não o beijo de alma a me iludir...
GARDÊNIAS
SECAS vII – 6 setembro 23
E
quem dirá que existe sanidade
Em
se querer tão só TER beijo de vento?
Em
se querer oscular qualquer lamento,
De
preferência a uma alegria de verdade?
E
quem dirá que pode haver saudade
Do
que não foi, quando houve evento?
Essa
seiva impoluta de portento
Manifestada
na concreticidade?
E
quem dirá, em gesto de loucura,
Que
melhor é não ter o que se quer
Do
que possuir essa delícia pura
DE
UM corpo cristalino dE mulher
E
não a lâmia do espelho que tortura
Nessa
pétala final do mal-me-quer?
GARDÊNIAS
SECAS viii
E
foi assim a flor fotografada
PelA
melífluA objetivA da memória,
guardou
dentro de mim visão de glória
que
não será jamais desperdiçada,
mas
gardênia do pedúnculo arrancada
tornou-se
logo NUMA persecutória
visão
de folhas secas, qual escória
nas
páginas de um livro conservada...
aberto
o livro, passados vinte anos,
já
se finou sua divinal brancura,
não
mais orvalho nas pétalas jacente
e toda
a maciez dos velhos panos
que
constituíam das sépalas a ternura,
hoje
é castanha, seca e indiferente.
GARDÊNIAS
SECAS Ix
Mas
por que deveria ser assim?
Porque
a loucura do beijo imagindo
Nunca
é igual à do beijo já roubado,
Mas
permanece decadente, enfim?
Há
esse olor saltimbanco de jasmim,
Há
o sabor do aroma nacarado,
Há
a textura da língua em seu pecado,
Há
a polidez dos dentes de marfim,
Mas
não contém aquela espera dolorosa,
Aquele
austero e agridoce adiamento,
Aquele
acariciar da sempre-viva...
O
beijo é verdadeiro e vera a rosa,
Que
enfim se abre na ânsia do momento,
Porém
o beijo do sonho então se esquiva...
GARDÊNIAS
SECAS X – 7 setembro 2023
E um
tempo houve em que gardênias riam,
Balançando
em suas hastes fulgurantes,
Nas
suas corolas de jóias deslumbrantes,
Se
bem no pé bem cedo murchariam...
Como
os ensejos que para nós sorriam,
Em
mil promessas de cintilar constantes,
Mas
que passados seus pálidos instantes,
Sem
permanência também nos secariam...
E é
por isso que se colhe o beijo
E é
por isso que se experimenta o sexo,
Por
saber que se perde no adiamento,
Sem
perceber que, realizado o ensejo,
Empalidece
logo o fero amplexo,
Deixando
empós vaZIo E SÓ ressentimento.
GARDÊNIAS
SECAS xI
Poucos
percebem que o ideal romântico
Não
é o orgasmo de fulgurante espanto,
Mas
o fulgor ocultado em cada pranto,
Que
se derrama no entoar do cântico,
Que
o amor imaginário é mais gigântico,
Nessa
malícia do êxtase do santo,
nessa
carne só entrevista dentre manto,
do
que perpetuação do abraço tântrico.
A
ladainha do mantra do “eu te amo”!
Que
mal consegue ocultar o desengano
Do
malho e da bigorna do real,
Enquanto
amor que nunca se alcançou,
Contudo
ao fundo dalma se almejou,
Para
quem é romântico... é imortal.
GARDÊNIAS
SECAS xii
Pelo
que houve, coração não salta mais,
Usufruiu-se
o quanto se queria
E
pelos ares fluiu a NOSSA nostalgia,
Porque
nunca mastigamos o jamais.
O
beijo é feito de lágrimas e sais,
Dizer
que é doce é pura fantasia,
Somente
é doce o beijo que se cria
Nessa
magia dos sonhos imortais...
E
agora que as gardênias ressecaram
Nas
páginas do livro em seu armário,
Não
mais se pode imaginar como seriam
Gardênias
vivas que nunca se cortaram
E
que conservam o perfume perDulário
Dessas
quimeras que jamais se traduziam.
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