sexta-feira, 8 de setembro de 2023


 

 

GARDÊNIAS SECAS I (2008)

(fay wray, musa do cinema mudo)

 

um tempo houve que o coração saltava

a cada vez que te via de passagem

e mais batia ainda se a coragem

perto de ti em meus passos me levava.

 

um tempo houve que a mente se abrasava

a cada vez que pensava em tal bobagem,

em quanto te queria... e meiga aragem

parecia refrescar-me e a alma cantava.

 

mas agora, se te vejo, eu quero bem,

porém o coração descompassado

nunca mais fica ao veR A TUA MIRagem.

 

prazer conservo em ti e amor também,

mas aonde foi o tempo relembrado,

do coração saltando por bobagem...?

 

GARDÊNIAS SECAS II ( 16 JUL 11 )

 

UM TEMPO HOUVE QUE O CORAÇÃO SOLTAVA

AS SÍSTOLES E DIÁSTOLES DO DESEJO.

eM CADA ARTÉRIA SUSPIRAVA UM BEIJO,

EM CADA CAPILAR EU ME ASSANHAVA...

 

UM TEMPO HOUVE QUE A MENTE REBRILHAVA

DE MIL PLANOS FUGAZES PARA ENSEJO

PROVOCAR, NESSA BUSCA DE UM ADEJO

DO AR QUE TUAS NARINAS AINDA ARFAVA.

 

UM TEMPO HOUVE EM QUE FOSTE INSPIRAÇÃO,

ACIMA E ALÉM DE TODO O ENTENDIMENTO,

AMOR QUE O PRÓPRIO AMOR ME SUFOCAVA.

 

MAS TUDO PASSA, AO BATER DO CORAÇÃO,

E AGORA RESTA, TÃO SÓ, COMEDIMENTO,

AO VER O ROSTO QUE UM DIA TANTO AMAVA.

 

gardênias secas iii

 

um tempo houve que o mundo lampejava

a cada vez que te encontrava assim,

nesse fulgor que trazias para mim,

só por estares perto de onde eu estava.

 

um tempo houve em que a aridez passava,

como chuva pintalgando meu jardim.

gosto de orvalho na corola do jasmim

na alma caía, se te contemplava....

 

e como me era belo tal momento !...

tuas gotas de saliva, em meu lamento,

formavam estrelinhas sobre a poeira...

 

e o leve som apenas de teus passos

só despertava o gosto dos abraços,

acima e além da férvida zoeira...

 

GARDÊNIAS SECAS IV – 5 SETEMBRO 2023

 

AH, TEMPO HOUVE QUE SÓ EM TI PENSAVA

DE TARDE E DE MANHÃ, POIS TE NÃO TINHA.

A DEUS EU SUPLICAVA FOSSES MINHA

E POR NÃO SERES, ME MARTIRIZAVA...

 

AH, NESSE TEMPO, COMO EU ME APLICAVA

A TE ESCREVER DE SONETOS LADAINHA,

CADA VEZ MAIS A MENTE COMEZINHA

POR TEU AMOR TÃO SÓ SE ILUMINAVA...

 

e NESSE TEMPO DE IMORTAL QUIMERA,

CONGELA O TEMPO EM FINAS GELATINAS,

CADA MOMENTO RETIDO EM MINHAS RETINAS !

 

mAS CADA IMAGEM QUE A MEMÓRIA GERA

É IMAGEM TÃO SOMENTE DA LEMBRANÇA

DA MEMÓRIA IMAGINÁRIA DA ESPERANÇA...

 

GARDÊNIAS SECAS V

 

POIS TEMPO HOUVE EM QUE A ESPERANÇA FOI

REALIZADA EM MÁGOA PERMANENTE,

POIS ESSE BEIJO TEU QUE FOI FREQUENTE

NÃO ERA O BEIJO QUE A QUIMERA RÓI,

 

ERA UM BEIJO DIFERENTE QUE ME DÓI,

SÓ DE LEMBRAR-ME NÃO SER BEIJO DA MENTE,

QUE O IMAGINÁRIO FORA MUITO DIFERENTE

E COMO O SONHO NO REAL SE MÓI!

 

TIVE TEU BEIJO, SIM, E O VENTRE AINDA

ESTANCOU-ME TODA A ÂNSIA MAIS FEBRIL,

MAS NÃO A ÂNSIA FUNDA E MAIS INFINDA,

 

FOI BEIJO DE CARMIM E NÃO DE ANIL,

SABOR DE AÇÃO CARNAL E NÃO A LINDA

BRISA DE ORVALHO NO CÉU PRIMAVERIL.

 

GARDÊNIAS SECAS Vi

 

Porque esse beijo assim tão transparente

Só foi beijo real e não de sonho...

E o que eu queria, em conceber bisonho

Tinha um flavor de gosto diferente.

 

Não era o beijo que se dava em gente,

Era esse beijo de fada, esse risonho

Beijo de ar, de vento, esse tristonho,

Beijo escondido em espelho, simplesmente,

 

Enquanto o beijo teu era macio

E pintalgado por tua língua rosa,

Teus dentes contra os meus nesse rangir,

 

Beijo suave, mas não beijo de rocio,

Era o oscular que dá mulher formosa

E não o beijo de alma a me iludir...

 

GARDÊNIAS SECAS vII – 6 setembro 23

 

E quem dirá que existe sanidade

Em se querer tão só TER beijo de vento?

Em se querer oscular qualquer lamento,

De preferência a uma alegria de verdade?

 

E quem dirá que pode haver saudade

Do que não foi, quando houve evento?

Essa seiva impoluta de portento

Manifestada na concreticidade?

 

E quem dirá, em gesto de loucura,

Que melhor é não ter o que se quer

Do que possuir essa delícia pura

 

DE UM corpo cristalino dE mulher

E não a lâmia do espelho que tortura

Nessa pétala final do mal-me-quer?

 

GARDÊNIAS SECAS viii

 

E foi assim a flor fotografada

PelA melífluA objetivA da memória,

guardou dentro de mim visão de glória

que não será jamais desperdiçada,

 

mas gardênia do pedúnculo arrancada

tornou-se logo NUMA persecutória

visão de folhas secas, qual escória

nas páginas de um livro conservada...

 

aberto o livro, passados vinte anos,

já se finou sua divinal brancura,

não mais orvalho nas pétalas jacente

 

e toda a maciez dos velhos panos

que constituíam das sépalas a ternura,

hoje é castanha, seca e indiferente.

 

GARDÊNIAS SECAS Ix

 

Mas por que deveria ser assim?

Porque a loucura do beijo imagindo

Nunca é igual à do beijo já roubado,

Mas permanece decadente, enfim?

 

Há esse olor saltimbanco de jasmim,

Há o sabor do aroma nacarado,

Há a textura da língua em seu pecado,

Há a polidez dos dentes de marfim,

 

Mas não contém aquela espera dolorosa,

Aquele austero e agridoce adiamento,

Aquele acariciar da sempre-viva...

 

O beijo é verdadeiro e vera a rosa,

Que enfim se abre na ânsia do momento,

Porém o beijo do sonho então se esquiva...

 

GARDÊNIAS SECAS X – 7 setembro 2023

 

E um tempo houve em que gardênias riam,

Balançando em suas hastes fulgurantes,

Nas suas corolas de jóias deslumbrantes,

Se bem no pé bem cedo murchariam...

 

Como os ensejos que para nós sorriam,

Em mil promessas de cintilar constantes,

Mas que passados seus pálidos instantes,

Sem permanência também nos secariam...

 

E é por isso que se colhe o beijo

E é por isso que se experimenta o sexo,

Por saber que se perde no adiamento,

 

Sem perceber que, realizado o ensejo,

Empalidece logo o fero amplexo,

Deixando empós vaZIo E SÓ ressentimento.

 

GARDÊNIAS SECAS xI

 

Poucos percebem que o ideal romântico

Não é o orgasmo de fulgurante espanto,

Mas o fulgor ocultado em cada pranto,

Que se derrama no entoar do cântico,

 

Que o amor imaginário é mais gigântico,

Nessa malícia do êxtase do santo,

nessa carne só entrevista dentre manto,

do que perpetuação do abraço tântrico.

 

A ladainha do mantra do “eu te amo”!

Que mal consegue ocultar o desengano

Do malho e da bigorna do real,

 

Enquanto amor que nunca se alcançou,

Contudo ao fundo dalma se almejou,

Para quem é romântico... é imortal.

 

GARDÊNIAS SECAS xii

 

Pelo que houve, coração não salta mais,

Usufruiu-se o quanto se queria

E pelos ares fluiu a NOSSA nostalgia,

Porque nunca mastigamos o jamais.

 

O beijo é feito de lágrimas e sais,

Dizer que é doce é pura fantasia,

Somente é doce o beijo que se cria

Nessa magia dos sonhos imortais...

 

E agora que as gardênias ressecaram

Nas páginas do livro em seu armário,

Não mais se pode imaginar como seriam

 

Gardênias vivas que nunca se cortaram

E que conservam o perfume perDulário

Dessas quimeras que jamais se traduziam.

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