TRIDENTES I
(28/12/2009)
(Myrna Loy, musa do cinem mudo)
muita porta se fechou, quando se Ocupam
os servos do destino, sem Cessar,
sedulamente meus sonhos a Cortar,
que nem me inquietam mais nem Preocupam
e nem sequer consigo me Abalar:
são dessas coisas que vivem me Ocorrendo,
vez após outra, num fragor Tremendo,
sem que vitória venha me Aliviar;
pois eu sinto pisarem meu Sepulcro,
de cada vez que de minha vida o Fulcro
pareça finalmente Alcandorar:
como se os deuses apenas Balouçassem
a cornucópia murcha e me Atiçassem
para poderem melhor me Espezinhar.
TRIDENTES II
trabalho por trabalho, mais Desejo
rascunhar um outro ainda dos Versículos,
no ressaibo e amargor dos Conventículos
de pacto venal, de que nunca tive Ensejo.
nunca pedi aos espíritos um Beijo,
a Deus somente, em dadivosos Círculos;
de Deus somente recebi Minúsculos,
dotes incertos de amor, simples Adejo.
pois percebi que amor é Demonstrar,
dia após dia que se ama, sem Espera
de que igual amor por nós Revelem.
e assim eu faço, da vida ao Perlustrar,
amor demonstro a quem amor não Gera,
nas gastas rimas que
até amor Congelem.
TRIDENTES III
de Netuno o atributo era o Tridente,
ou seja, um garfo com três pontas Agudas,
com que pescava as criaturas Mudas
e que brandia com fervor Frequente.
só por esporte, sem motivo Aparente,
porque as Sereias, suas servas Desnudas
lhe trariam bacalhaus e Barracudas,
em seu empenho de servir ao deus Potente.
não igual aos nobres de Antigamente,
que iam aos bosques para suas Caçadas,
por javalis suas vidas Ameaçadas,
mas que as arriscavam por razão Premente,
pois a comida para todos era Escassa
e precisavam realmente dessa Caça!
TRIDENTES IV – 12 jan 21
mas o tridente fora atributo de
Nereu,
o antigo deus do mar, depois
Vencido
por Netuno e seu trono assim
Perdido;
mesmo as Nereidas nascidas de
seu Véu,
por Posêidon a tornar domínio
Seu,
o nome de Syrenes bem mais Conhecido;
porem o mar também por ele
Repartido,
abrindo espaço pelas ondas sob
o Céu.
mas como fosse condenado o Paganismo,
a hierarquia criou novo
Malefício
para os fiéis manter longe do
Vício,
a grande turba de diabos num
Sofismo
e ao comandante entregaram o
Instrumento,
com maligna função de
Empregamento!
TRIDENTES V
durante séculos, foi até mesmo
Proibido
o uso de garfos pelos bons
Cristãos,
que deveriam utilizar as
próprias Mãos
ou então de facas terem-se
Servido.
até aos cozinheiros só era
Permitido
o garfo de dois dentes em seus
Panelões,
o tridente reservado aos
Caldeirões
em que os diabos torturassem o Sofrido
condenado a receber dores
Eternas;
decerto era tão só no
Purgatório,
não aguardavam o eterno
Julgamento?
só imagino se um caldeirão
Adernas,
a água fervente em ato
Decisório
queimando as patas dos capetas
num Momento!
TRIDENTES VI
também diziam que belzebu tinha
o Portento
de trancar as portas da
Felicidade,
como castigo ou somente por
Maldade,
a cada vez que cochilasse o
Impedimento
da proteção divinal em tal
Momento,
oposto ao amor uma tal
Capacidade
do mau tridente da
Paganicidade,
todo o futuro truncado nesse
Assento!
contudo Heimdall, no nórdico
Entender,
tinha o tridente sob seu
Controle,
para dele fazer brotar o
Arco-íris,
portas abertas podendo assim
Manter
para os heróis a quem a morte
Assole,
talvez Valquírias sobre tal
ponte Mires!
TRIDENTES VII
mas que é amor, senão Demonstração
de carinho, compreensão e
Gentileza?
se amor restringes apenas à Beleza,
amor não é, mas egoística Emoção.
quando se ama, qualquer seja a
Situação,
a conseguimos aceitar em sua
Vileza,
embora mais ansiando por Nobreza,
numa aliança de perpétua Comunhão.
mesmo que seja tão só Unilateral,
sem receber em troca igual Calor,
o amor transpõe tal ponte com
Vigor,
quer seja apenas um arco-íris
Temporal,
que se expande sob nós por um
Momento
e se desfaz como aragem sem Alento!
TRIDENTES VIII
desce Bifrost após a Tempestade,
pote de ouro do arcaico Misticismo,
refresca o ar em faixa de Mutismo,
em refração de imperfeita
Divindade.
alguns dizem que um duende faz de
Abade,
nesse final recôncavo do Abismo;
tem um mosteiro no qual reza com
Cinismo,
defendendo seu tesouro a quem o
Invade!
com o tempo, sua longa barba
Entranha
nesses cofres de ferro que o
Contém,
sem que permita se acercar Ninguém,
salvo o afastem por força de
Artimanha
dessa defesa constante em seu
Desdém,
muito difícil realizar esse Porém!
TRIDENTES IX
essa a razão por que o ouro não se
Acha:
fica o duende com tais longas
Raízes,
que não importa a lentidão que
Pises,
será impossível não tocar em alguma
Faixa.
abre-se um olho, malevolente Racha,
depois o outro, claramente em
Crises,
em maldição contra quaisquer
Deslizes,
grosso tridente contra ti se
Abaixa.
mil ossos secos de intrusos por
Ali,
que a tempo não lograram se
Escapar,
que o tesouro é defendido
Ferozmente
e com maldade esse duende Ri,
levando o arco-íris para outro
Lugar,
só os esqueletos a mostrar onde era
Assente.
TRIDENTES X
mas lá no alto da ponte está o
Guerreiro,
seu capacete de ferro Demarcado
por duas asas em bronze
Trabalhado,
tridente e lança porta o audaz
Armeiro.
não há quem cruze o final do
Tabuleiro,
essa ponte de Bifrost a seu
Cuidado,
só dando entrada a quem foi
Convidado
e o sangue alheio derrama-se
Certeiro
e contribui para o encarnado
Reforçar,
perturbando parcialmente os
outros Tons,
tornando a ponte mais
Escorregadia;
só as Valquírias ali podem
Cavalgar,
suas trombetas anunciando em
rudes Sons
os mortos Vikings a quem o
Walhalla Aceitaria!
TRIDENTES XI
não é o arco-íris só um símbolo
de Paz,
tal como foi interpretado por
Noé,
demonstrando na promessa plena
Fé
de que um dilúvio nunca mais o
céu nos Traz!
arco-da-chuva para os nórdicos
Dirás,
arco-do-céu para a francesa Sé,
arco-do-raio em italiano Até,
o centurião do céu, em trono
Audaz!
raio-do-céu na Rússia se
Proclama,
arco-celeste qual dizia-se em
Latim,
arco-de-Íris, a celeste
Mensageira,
enquanto arco-da-aliança se
Reclama,
como a promessa que foi feita
Assim,
nessa leitura da escritural
Esteira.
TRIDENTES XII
porém todos os povos de minha
Raça
no céu enxergam sua Exuberância;
após a chuva a aguardam com
Constância,
qualquer que seja a mensagem
que lhes Passa.
sempre após a tempestade traz a
Graça,
após a seca traz nova
Expectância,
sempre se apontam sete cores à
Infância,
gentil anel que tão depressa
Embaça.
como um tridente ostentando
sete Pontas,
cada qual figurando uma
Promessa,
sete cores, sete notas, sete
Dons,
com duração, porém, de escassas
Montas,
pois logo o aspecto anterior
Regressa,
últimas gotas a pingar em
meigos Tons.
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