(A VITÓRIA DE GIDEÃO, GRAVURA DE GILBERT AND ARLISLE BEERS)
O GUERREIRO GIDEÃO
Narrativa dos capítulos 6 a 9 do Livro dos Juízes no Velho
Testamento,
versão poética de William Lagos, 20 Fev 16)
O GUERREIRO GIDEÃO I
Depois que Israel saiu do Egito,
sob o comando de Moisés e de Josué,
por longos anos as terras conquistaram
que por nome de Canaan denominaram,
que era composta por cidade-estados,
e seus reis mui raramente eram aliados
dos reis vizinhos, assim sendo derrotados
pelo ímpeto de tais homens armados,
sob o poder de seu Deus Infinito,
enquanto Nele conservaram a sua fé.
Passados tempos, após mortos os guerreiros,
seus descendentes se tornaram criadores
e agricultores na terra conquistada,
sua nação em doze tribos espalhada,
sem um exército para os defender.
Para outros povos foi fácil compreender
que suas vastas colheitas e rebanhos
poderiam lhes trazer enormes ganhos,
sem precisarem semear esses terreiros
ou desse gado cuidar como pastores...
Ao mesmo tempo, para a idolatria
se desviaram os filhos de Israel;
com os vizinhos contraíam casamentos
e de seus sacerdotes os portentos
passaram a acreditar rapidamente,
e corromperam a sua nação recente,
perdendo a antiga galhardia dos avós;
e abandonando a Jeová, quedaram sós,
seu grande número facilmente os iludia
causar temor aos que seguiam Bel...
Porém não foi assim.
Amalequitas,
que também eram um povo Cananeu,
os quais haviam no antanho derrotado
e para terras sáfaras expulsado, (*)
começaram a assaltar os seus rebanhos,
em rápidas razias, mas tamanhos (+)
foram os prejuízos que então causaram
que os Hebreus depressa se assustaram,
sacrifícios a fazer para as semitas
divindades, mas nenhuma os atendeu...
(*) Pouco férteis. (+) Incursões guerreiras.
O GUERREIRO GIDEÃO II
Logo a seguir, chegaram os Mitanianos,
um povo de falar indo-europeu,
aparentados com os Gregos e os Hititas,
nas Escrituras denominados Midianitas.
Na verdade, o seu grande herói, Moisés,
sobre o Deus Único aprendera aos pés
de Jethro, de Midian um sacerdote;
que a filha Séfora lhe dera com seu dote,
muito mais férteis as terras nesses anos;
e no Sinai, Moisés a Deus reconheceu!
Durante sua conquista, os Israelitas
também tal povo tiveram de enfrentar,
que procuraram pelo amor os seduzir
e parcialmente os conseguiram destruir,
mas sempre acharam em Jeová a fortaleza
que à vitória os conduzira, com certeza...
Mas já foi dito que Dele se esqueceram
e pelos deuses de Canaan se corromperam;
disso também se aproveitaram os Midianitas,
que facilmente os conseguiram espoliar.
Não pretendia Midian reconquistar
essas terras que Israel colonizara;
mas cada vez que amadureciam os trigais
os Mitanianos, por impulsos naturais,
se lançavam sobre tais agricultores
ineptos para a guerra, ou aos pastores
e as melhores colheitas lhes roubavam,
ou seus rebanhos igualmente arrebatavam,
os aldeões fracos facilmente a derrotar
(Midian na atual Jordânia se instalara).
Do norte vinham povos desde o Oriente,
e percebendo ali ser fácil a pilhagem,
sobre os Hebreus igualmente se lançavam,
as colheitas e rebanhos lhes pilhavam;
passando fome o povo em opressão,
dizimados por constante multidão,
que os assaltava em seus rápidos camelos...
De seus labores não podiam tê-los
os frutos, carregados por tal gente,
iguais que gafanhotos de passagem!...
O GUERREIRO GIDEÃO III
Mas dentro todos, eram mais os Midianitas
que os oprimiam com ferocidade;
precisaram em cavernas refugiar-se,
e sobre os montes também fortificar-se,
de tal modo a evitar a escravidão
ou serem mortos em tal degradação...
Somente então se recordaram do Senhor
dos falsos deuses esquecendo seu clamor...
E então pena sentiu Jeová dos Israelitas,
depois que a Ele se curvaram em humildade.
Sobre os montes era difícil cultivar
e não se uniam para inimigos derrotar,
sempre tomados de medo e covardia...
Ouvindo as preces, Jeová então dizia,
por intermédio da voz de Seus profetas:
Do Egito vos
tirei!... Terras diletas
vos entreguei,
mas depois Me abandonastes;
tremeis agora
sob o pé dos que expulsastes!
Não obstante,
um novo herói vou suscitar,
que da opressão
vos há de libertar!...
Nesse tempo, na região de Manassés,
que fica ao norte de Jerusalém,
havia a cidade de Ofra, bem pequena,
situada em um outeiro... E nesta cena
morava Joás, da família de Abiezer,
que vários filhos tivera com a mulher,
sendo Gideon, que é para nós Gideão,
o mais jovem de todos; na ocasião
malhava o trigo, escondido nos sopés
do lagar, senão roubá-lo viria alguém!... (*)
(*) Poço de pedra em que se pisavam uvas para o vinho.
Ele era homem muito forte e lutador,
há pouco tempo deixando a vida de solteiro
e então um Anjo do Senhor lhe apareceu,
ao qual Gideão, com certa dúvida, acolheu.
Disse-lhe o Anjo: “Salve, homem valente,
o Senhor é contigo, o Deus clemente!...”
Mas Gideão respondeu-lhe, duvidoso:
“Se o Senhor é conosco dadivoso,
por que a Midian Ele mostra o Seu favor?
Por que ajuda ao povo mau e interesseiro?”
O GUERREIRO GIDEÃO IV
“Sempre escutei que fez meu povo vir do Egito
e diante deles derrubou seus inimigos...
Por que agora a todos nós abandonou
e nas mãos de Midian nos entregou...?”
E o Anjo respondeu: “Vós O deixastes,
mas agora que a Ele suplicastes,
a ti escolheu como herói e comandante;
Sua força aceita e vencerás, vibrante,
aos Midianitas e quantos mais vos têm aflito:
em Seu poder, está o triunfo dos perigos!...”
“Senhor, porém de todos, por que eu?
Minha parentela é muito pobre em Manassés,
sou o mais moço na casa de meu pai!...”
Disse-lhe o Anjo: “Não obstante, agora vai
e a Midian derrotarás completamente,
qual se um só homem fosse toda aquela gente!”
Disse Gideão: “Se, de fato, achei mercê
perante o olhar de Jeová, que tudo vê,
dá-me um sinal de que de fato me escolheu
espera pois, sem do local tirar os pés!...”
“Em breve eu voltarei, com um sacrifício!...”
Disse-lhe o Anjo: “Não vou sair daqui.”
Partiu Gideão e no redil matou um cabrito, (*)
de todo o seu rebanho o mais bonito;
preparou pães cozidos sem fermento
e um puro caldo filtrou em cozimento;
retornou com um cesto e uma panela:
ainda o Anjo sob seu carvalho vela;
a oferta preparou qual indica o velho ofício,
sobre uma pedra que se achava ali.
(*) Curral de ovelhas ou de cabras.
Mas ao tomar o ferro e a pederneira,
disse-lhe o Anjo: “O caldo antes derrama
sobre o teu holocausto.”
“Mas, Senhor,
assim o fogo não ateará o seu vigor!...”
“Faze, Gideão, tão somente o que te digo.”
E obedeceu o guerreiro ao Anjo amigo,
que apontou para a pedra o seu cajado, (*)
que forte chama disparou para esse lado:
foi consumida a sua oferenda inteira,
num milagroso sinal que assim proclama!
(*) Bastão de pastor ou viajante.
O GUERREIRO GIDEÃO V
E como se o sinal não lhe bastasse,
ele apontou seu cajado para o chão
e subiu para o céu, em claro jato!
Gideão lançou-se ao chão, sem mais recato
E orou:”Jeová, agora vejo claramente
que eras Tu e não um Anjo na minha frente!”
Porém no fundo do coração, temeu:
Eu vou morrer,
pois Jeová me apareceu!
Mas uma voz escutou que o acalmasse:
Não morrerás,
contigo estou, fiel Gideão!
Então Gideão edificou ali um altar,
Ao qual denominou: “Jeová é Paz!”
(Ainda existia nos tempos de Jesus,
mantida ali sempre acesa alguma luz.
Ofra se encontra na Margem Ocidental,
reconstruída, mas chamada de ilegal
pelos que negam a Cisjordânia a Israel,
mas algo resta desse altar de Shalom-El,
em que se busca a Deus ainda louvar;
e se lá fores, quiçá ainda o encontrarás...
Então ouviu a voz de Deus no coração,
que lhe dizia: Vai e
destrói o altar de Baal
que se acha
hoje nas terras de teu pai;
e a coluna de
Asherá derrubar vai,
que a falsa
deusa não traz fertilidade:
ambos meu povo
induzem à maldade;
de pedras
brutas me erguerás um altar,
sem argamassa
ou ferramenta usar,
mas não das
pedras dessa destruição,
do ímpio altar
do falso deus do mal!...
Sobre esse
altar empregarás a lenha
dessa coluna de
madeira da Asherá!
Ouviu Gideão a voz de Deus no coração,
dez servos seus colocou de prontidão,
na mesma noite, a fim de O obedecer
(não o quis fazer de dia, por temer
dos homens de Ofra a possível reação),
porém tudo executou com exatidão,
sem que qualquer interrupção lhe venha,
mais um sinal de que a vitória alcançará!
O GUERREIRO GIDEÃO VI
Enquanto oferecia em holocausto um boi,
foram as chamas avistadas da cidade;
chegou-se um homem para olhar de perto
e vendo os onze homens, achou certo
no ritual não tentar se intrometer...
Mas no outro dia, antes até do amanhecer,
do grave fato preveniu os moradores,
que confirmaram a exatidão de seus temores
e a turbamulta à casa de Joás foi:
“Praticou Gideão grave ato de impiedade!”
“Traz teu filho para fora e o levaremos
até o altar que ele mesmo derribou,
em sacrifício perante o deus Baal,
que na sua fúria não nos faça mal!...”
Porém Joás reuniu sua própria gente:
“Gideão não nega a sua ação valente,
que a praticou em respeito a Jeová!...
Todo esse tempo de seu Baal não há
qualquer ajuda contra os Hagarenos,
nem a Asherá para nada os auxiliou!...”
“Se Baal é deus, por que não se defendeu
ao ver o seu altar ser derribado?
E o que fez a Asherá em sua defesa?
Poder nenhum demonstraram, com certeza!”
“São nossos deuses e os defenderemos
e pela morte de Gideão insistiremos!” –
alguns dos circunstantes insistiram,
mas já os homens de Joás armados viram:
“Esse altar, em minhas terras, era meu:
tenho o direito de vê-lo destroçado!...”
“Há muito tempo já o deveria ter feito!
por indolência na idolatria consentia...
E vós agora, por Baal, contendereis?
Se não tem força, por que o defendereis?”
Contudo, ainda se atreveu o sacerdote:
“É obrigação que ao servo se denote,
de defender seu deus e seu senhor!”
“Que seja ele de vós outros defensor!
Se derrubaram seu altar, tinha direito
de fulminar àquele que o agredia!...
O GUERREIRO GIDEÃO VII
Ficaram então esses homens constrangidos
embora o padre ímpio ainda os incitasse.
“Querem lutar? Pois
estamos preparados
e os mataremos, caso formos atacados!”
Bem depressa se dispersou a multidão,
perante o apoio recebido por Gideão,
que passou a ser chamado Jerubaal,
por contender contra o deus sem sofrer mal.
Porém o padre e os acólitos, ofendidos
foram a Midian, pedir ao rei que os apoiasse...
O Rei Horeb enviou logo embaixadores
aos outros reis dos estados Hagarenos:
“Devemos dar aos Hebreus uma lição
que nosso deus defenderemos com razão!”
E se acamparam de Jezreel no vale,
em grande número, de que o terror abale,
mas o espírito do Senhor veio a Gideão:
tocou o shofar e fez assim proclamação (*)
e a ele se então juntaram os pastores
de Abiezer, respondendo a seus acenos!
(*) Trombeta feita de uma grande concha.
E também ele enviou seus embaixadores,
chegando homens de todo o Manassés
e apoiadores de Zabulon e de Asher
e até do norte, pois dessa luta quer
participar mesmo a distante Naphtali
e a pouco se pouco se ajuntaram por ali...
Orou Gideão a Deus: “Mais um sinal
preciso eu dar a todo o povo por fanal!...”
Chefes tribais reuniu então dos arredores,
pensando assim fortalecer suas fés!...
Porque, de fato, imensa tropa se reunira
dos inimigos, para a guerra acostumados...
Disse Gideão: “Jeová me convocou
e hoje um sinal de Seu poder lhes dou:
vou colocar pelego seco sobre a eira;
de madrugada a umidade, bem certeira,
do orvalho, só ali se encontrará
mas o terreiro todo seco se achará!...”
Ante o prodígio que Jeová lhes produzira,
os circunstantes ficaram impressionados!...
O GUERREIRO GIDEÃO VIII
Alguns porém disseram: “Fácil é
que se concentre no pelego a umidade,
enquanto a terra do eirado a sugará...”
Disse Gideão: “Mais uma prova indicará
que deus Jeová se encontra a nosso lado:
que todo o solo encontre-se orvalhado,
mas que o pelego esteja seco de manhã,
o exato oposto, pois ontem espremi a lã
e enchi uma taça de água em plena fé,
sem duvidar de Jeová e Sua bondade!...”
Assim, de fato, pela manha seguinte,
a terra inteira se mostrava umedecida,
mas totalmente seco o seu pelego,
o que bastava a convencer até a um cego!
E as testemunhas no real se convenceram
e a todo o povo declarar então puderam:
“Deus Jeová nos retornou com Seu poder
e logo irá a Gideão Jerubaal fortalecer!”
E se reuniram os Hebreus, com grande acinte,
diante da tropa que por Midian fora reunida!
Diante da fonte de Harod se acamparam,
ao sul dos Midianitas, reunidos em Moriá.
Mas viu Gideão sua multidão desordenada:
nenhuma tropa para a luta ali treinada.
São demais para
a luta... Sua coragem
não poderá lhes
romper a vassalagem
que tantos anos
ante Midian prestaram...”
Falou Gideão aos que o acompanharam
“Diz Jeová: Não pensarão
que em mim confiaram,
Mas que sua
força essa vitória lhes dará!...”
E assim Gideão a todos apregoou:
“Quem quer sentir para o combate timidez,
erga-se agora e vá para a sua terra:
só os corajosos lugar terão na guerra!”
E como não se tratava de guerreiros,
muitos se foram e só ficaram derradeiros
dez mil homens, dos trinta e dois que eram,
vinte e dois mil para suas tendas foram...
Mas Gideão olhou o povo e ainda pensou:
São ainda por
demais para esta vez!...
O GUERREIRO GIDEÃO IX
Faze os dez mil
descer até a fonte,
murmurou em seu ouvido Jeová,
e a melhor
tropa eu mesmo escolherei:
com estes
apenas a todos livrarei.
A maioria junto à fonte se ajoelhou,
com as mãos em concha à boca água levou,
mas se deitaram contra o chão trezentos,
bebendo com a língua, à fonte atentos.
Podem ser
poucos, caso assim se conte,
mas com
trezentos a vitória se achará!
Separou Gideão a grande maioria,
ordenando-lhes permanecer em sobreaviso
e reuniu junto de si só os trezentos,
já a seu número tão pequeno atentos,
mas novamente lhe disse Jeová:
Se alguma
dúvida em teu peito ainda há,
desce esta
noite até o arraial,
com Purá, teu
escudeiro mais marcial
e escuta o que
Midian de ti dizia:
nenhuma dúvida
mais terás de meu aviso!
Os Midianitas e a multidão de aliados
cobriam o vale, numerosos como a areia!
Purá e Gideão foram até as sentinelas
e escutaram o que entre si falavam elas.
“Eu tive um sonho,” disse um recém-chegado,
que para o turno fora há pouco convocado.
“Havia um pão de cevada, um pão gigante,
que a tenda derrubou do comandante;
foram todos os camelos espalhados
e a soldadesca na confusão mais feia!”
E disse o outro, pelo sonho já assombrado:
“São os Hebreus, comandados por Gideão!
O apelidaram ainda mais de Jerubaal,
pois derrubou o grande altar de Baal!...
Esse deus que aos Hebreus acompanhava,
quando Josué, seu general, os comandava,
voltou agora para os defender!...
Com grande tropa vai-nos Gideão vencer!”
E tendo este o tal sonho escutado,
toda a confiança recobrou em sua missão!
O GUERREIRO GIDEÃO X
Gideão e Purá deixaram o acampamento
e a boa distância a Jeová rezaram
e retornaram até Harod junto à fonte;
disse aos trezentos, que encontrou ao pé do monte:
“Erguei-vos em silêncio, meus irmãos:
os Midianitas Deus entregou em nossas mãos!”
Depois em três companhias seus trezentos
dividiu e inspirado a tais portentos,
deu-lhes cântaros, que tinham de enchimento
tochas acesas e mais trombetas que agarraram.
E então falou: “Para mim lançai todos o olhar
e fazei precisamente o que eu fizer!...”
Levou consigo a primeira companhia
e para a esquerda e a direita então envia
as outras duas, sempre silêncio a conservar;
quando tudo viu disposto em seu lugar,
aproximou-se até a beirada do arraial
e aguardou que ali dessem o sinal
para o turno da guarda se trocar,
o rumor daquele sonho já a correr...
Quebrou então seu cântaro e a luz
diante da guarda acendeu-se bruscamente
e assoprou em sua trombeta com vigor;
seus homens o imitaram em igual valor
e indicou-lhes um lema a proclamar,
a tropa inteira retomando o seu gritar:
“Espada por Jeová e por Gideão!...”
espantando aquela imensa multidão;
mas ao ataque seus trezentos não conduz,
permanecendo em seus postos firmemente...
Os inimigos, porém, não o perceberam
e ele chamou aos soldados
de atalaia,
homens de Asher, Manassés e Naphtali
que já aguardavam por seu comando ali
e a multidão descoordenada perseguiram,
matando quantos fugir não conseguiram;
então enviou mensageiros a Ephraim:
“Efraimitas, vinde todos para mim!...”
E das montanhas centenas mais desceram
cortando os vaus do Jordão a toda a laia!...
O GUERREIRO GIDEÃO XI
E sem poderem retornar para sua terra,
os Midianitas ficaram encurralados,
sendo então mortos em grande quantidade.
Alguns milhares escaparam, na verdade,
mas os de Ephraim seus dois reis capturaram
e a Horeb e a Zeeb de imediato executaram;
suas duas cabeças para Gideão trouxeram...
Ações de graças a Jeová todos renderam,
novamente vitoriosos numa guerra,
consoante o exemplo de seus antepassados!
Midian de cidades-estados era formado
e desse modo tinha mais dois reis,
que Zebá e Zalmuna eram chamados
e precisavam ser ainda derrotados...
Mas ao chegarem os homens de Ephraim,
com as cabeças dos outros dois, assim,
contra Gideão contenderam fortemente:
“Por que não convocaste a nossa gente
para o confronto na batalha realizado?
Nós fomos preteridos, bem o sabeis!...”
Porém Gideão falou aos comandantes:
“Não vos pedi que controlásseis o Jordão?
Matastes muitos mais dos fugitivos
e até os dois reis que tomastes por cativos
executastes e me trouxestes suas cabeças,
de Horeb e de Zeeb! Esse
poder não meças
com o dos trezentos que aqui estão comigo,
pois matastes a maior parte do inimigo!”
A ira se abrandou dos circunstantes
e despediram-se como amigos de Gideão!
Mas faltavam contudo esses dois reis
que tantas vezes os haviam assaltado.
Com seus trezentos homens foi Gideão,
atravessando os vaus do rio Jordão.
Do outro lado, erguia-se Succothe,
cidade antiga, de Manassés ainda no dote,
e se encerraram atrás dos altos muros,
a Gideão respondendo em tons bem duros,
quando pães lhe pediu para suas greis:
“Zebá e Zalmuna sobre nós têm dominado!”
O GUERREIRO GIDEÃO XII
“Vocês são poucos e se acham bem cansados
e se os reis dos Midianitas os vencerem?
Trazei-nos aos mãos de Zebá e de Zalmuna
e saberemos que não existe quem nos puna
caso descubram que a vós nós ajudamos...
Ide em paz, que só mais tarde os auxiliamos...”
Então lhes respondeu o herói Gideão:
“Eu voltarei. Trarei
comigo cada mão
e meus homens vos punirão, mesmo exauridos,
com os espinhos e abrolhos que encontrarem!”
Indo dali, chegou também a Penuel
e aos habitantes solicitou alimento,
porém lhe responderam de igual forma:
“Se com as mãos dos reis você retorna,
nosso total apoio aqui terão,
pois já de há muito sofremos sua opressão
e foi por isso que erguemos nossa torre;
mas se perderes e hoje tua tropa morre,
virão os reis contra nós, cheios de fel
e tirarão de nós todo o sustento!...”
Então, irado, Gideão lhes respondeu:
“Quando eu voltar, derrubarei esta torre!”
Mas mesmo assim, lhe negaram alimento,
pois esperavam de Gideão o falecimento...
Zebá e Zalmuna acampavam em Karkor,
com quinze mil sobreviventes do estertor
do vasto exército por Gideão exterminado,
mais grande tropa que haviam congregado.
Porém Gideão de Ephraim não se esqueceu
e os convocou para a luta a que concorre!
Ali se haviam ajuntado Amalequitas
e os Beduínos que chegavam desde o Oriente.
“Desta vez derrotaremos os Hebreus:
trouxe Gideão só trezentos homens seus!”
E se puseram a festejar já de antemão,
bebendo vinho aquela imensa multidão,
que adormeceu descuidada, novamente...
Os de Ephraim chegaram pontualmente,
cercando o acampamento os Israelitas,
massacrando de surpresa toda a gente!
O GUERREIRO GIDEÃO XIII
Segundo narram as Santas Escrituras,
foram mortos uns cento e vinte mil!...
Zebá e Zalmuna para a fuga se lançaram,
mas as tropas de Gideão os alcançaram
e o guerreiro assim aos dois capturou;
de sua escolta o que restava executou
e então subiu até chegar a Penuel:
“Observai, não nos destes um quartel, (*)
mas trouxe as mãos dos reis, nestas venturas,
ainda presas a seus corpos, gente vil!...”
(*) Abrigo, apoio, ajuda.
Facilmente contra a cidade pelejou
e aos habitantes fez derrubar sua torre
e após cumprida sua inicial promessa,
executou todos os homens, sem ter pressa.
Partiu então em direção à outra cidade
em que a notícia de sua vitória, em realidade,
já chegara claramente e alguns fugiam...
Capturaram um rapaz entre os que iam;
Setenta e sete nomes este moço delatou,
os principais dessa cidade de que corre...
Chegou então às portas da cidade,
e com voz dominadora lhes falou:
“Aqui estão Zebá e Zalmuna com suas mãos,
Ides agora socorrer a meus irmãos?”
“Não te abriremos! Vais a
todos nos matar,
qual os de Penuel acabaste de esmagar!”
“Não foi essa a promessa que aqui fiz
e vos farei justamente o que antes quis!”
Falou ao povo com toda a honestidade,
porém dos principais destarte os separou.
“Se me entregardes os vossos principais,
todos os demais da cidade irão em paz!”
“São nossos pais e irmãos!
Ides matá-los?
“Por Jeová jurei. Vou
apenas castigá-los
com os abrolhos do deserto e com espinhos;
sabeis os nomes muito bem desses vizinhos!”
E claramente fez a lista proclamar!...
“Como ele sabe? Foi Jeová
a revelar?”
E então fizeram sair de seus portais
Setenta e sete que a relação lhes traz!...
O GUERREIRO GIDEÃO XIV
Gideão ordenou que se despissem
e conduziu-os nus até o deserto,
um a um chicoteando com espinhos!
Talvez morressem até os mais mesquinhos,
mas sua promessa ele cumpriu integralmente:
deixou sangrando a tão malvada gente!
Logo a seguir a Zebá e a Zalmuna ele falou:
“Quem o carrasco de vocês executou
depois que uns poucos prisioneiros conseguissem,
sem que os matassem em combate aberto?”
Disse Zebá: “Quem eram, não sabemos...”
Falou Zalmuna: “Pareciam-se contigo...”
Agindo assim claramente em desafio.
“Os que passastes pela espada ao fio
Eram irmãos meus, os filhos de meu pai
e de minha mãe, que a lamentar-se vai!...
Se os tivésseis com vida então deixado,
por Jeová, também a vós teria poupado!...”
E disse a Jéther, o seu filho mais velho:
“Mata a esses dois, após sova de relho!...”
Mas Jéther era moço e se esquivou,
brandindo apenas de leve o seu chicote,
sem se atrever a puxar por sua espada...
Disse Zalmuna: “Tens palavra já empenhada:
qual é o homem, tal será sua valentia,
faz com tua mão o que temeu fazer tua cria!...”
Sacou então da espada o herói Gideão,
matando os dois, sem mostrar mais compaixão!
E um valiosíssimo botim então tomou
das jóias de seus braços e congote!... (*)
(*) Braceletes, pulseiras, brincos e colares.
E dos camelos reuniram meias-luas,
que ostentavam à guisa de ornamento...
Então se congregaram os Hebreus
e lhe disseram: “Escuta a voz de Deus,
torna-te rei sobre nós agora e aqui
e teus filhos reis serão depois de ti!...”
Mas Gideão não aceitou uma coroa,
por julgar ser de fato coisa à toa,
retiradas das cabeças já então nuas
dos reis de Midian, após seu passamento...
O GUERREIRO GIDEÃO XV
E assim falou-lhes Gideão: “Não quero ser
o vosso rei, nem a vós todos dominar,
nem os meus filhos seguirão esse caminho;
será o poder para nós como um espinho
e de algum modo, nos corromperá!...
Sobre nós somente Deus Jeová dominará!...”
E como o quisessem ainda assim recompensar,
disse Gideão: “Então irei de vós solicitar
os brincos de ouro que acabais de recolher.”
Sobre uma capa, o ouro foram derramar...
Fez Gideão então fundir um grande manto,
com gravuras das cenas dos combates,
todo de ouro, colocando-o num sacrário,
de sua cidade Ofra no santuário;
mas o povo logo ao manto idolatrava,
pensando em vão que a Jeová assim rezava
e veio o épode transformar-se em laço (*)
para a casa de Gideão, em breve espaço...
Voltou o povo cada qual para seu canto,
grandes colheitas a juntar em açafates!...
(*) Manto divinatório sobre que lançavam sortes.
Ficou Israel em paz quarenta anos,
quanto durou a existência de Gideão,
que só passou a cuidar de seus haveres
e desposou grande cópia de mulheres;
setenta filhos homens assim teve,
mais de cem filhas em seu lar susteve;
teve outro filho na cidade de Siquém,
Abimeleque, que sustentou também
e fez ao povo esquecer deuses profanos,
os idólatras a castigar com dura mão!
Morreu Gideão em uma boa velhice
e no túmulo de Joás foi sepultado,
igual que seus avós e seus irmãos,
tornado um ponto de peregrinações.
Até hoje é recordado com orgulho,
por haver interrompido tanto esbulho
sofrido pela ganância dos vizinhos,
Israelitas a combater sozinhos:
quando obedientes ao que Moisés lhes disse,
venceram sempre os inimigos a seu lado!
EPÍLOGO
Eu gostaria de dar aqui um final feliz,
mas esta foi uma real história
e não um conto de fadas mais gracioso.
Morto Gideão, outra vez foi impiedoso
o povo dos Hebreus, a adorar um leque
de deuses falsos e seguindo a Abimeleque...
Mas esta é outra história, certamente,
talvez ainda a redija, eventualmente,
seguindo o Livro dos Juízes, qual nos diz
nosso Velho Testamento, em santa glória!
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