terça-feira, 16 de janeiro de 2024


 

 

O TERCEIRO HÓSPEDE III

 

Então Macário encontrou um galho duro,

mas de haste bem fina e foi serrando:

fez dois tarugos e depois foi empurrando

 

nos buracos em que um dia houvera pregos

e no cabo que cortara, abriu dois regos,

enfiando uma cavilha em cada furo,

 

para cortar depois, pacientemente,

de cada lado, a ponta que sobrara;

fizera inchar o pedaço que ficara,

 

pondo-lhe água até ficar bem preso,

deixando o cabo perfeitamente teso

e capaz de aguentar golpe potente.

 

Foi desse modo que Macário conseguiu

um excelente instrumento de trabalho,

com que podia cortar um grosso galho

 

e aumentou suas cargas, bem contente,

vendendo, por um preço diferente,

cada acha grossa que agora produzia...

 

 

O TERCEIRO HÓSPEDE IV

 

Mas embora sua renda melhorasse,

seus filhos aumentaram mais depressa:

teve dez, teve doze; e depois dessa,

 

procurou ficar longe da mulher:

não poderia sustentar, com seu mister,

mais nenhum filho que ela lhe gerasse.

 

Todos os dias comia raízes e frutinhas

e fizera uma vasilha de taquara,

comprida e grossa, carregada numa vara,

 

que de água enchia; e assim, a toda hora,

a fome se enganava e ia embora,

enquanto mastigava umas folhinhas.

 

E às vezes, conseguia roubar mel,

enxotando as abelhas da colmeia,

que levava para a esposa, Rosicleia,

 

com as frutas que pudesse carregar,

e que seus filhos vinham logo disputar,

breve consolo para o amargor de fel...

 

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