TANNENBAUM I – 26 DEZ 2023
Minha árvore de Natal parece triste,
Ainda apresenta suas bolas e os enfeites,
No alto a estrela a cintilar deleites,
Sobre a árvore ela está de lança em riste;
Mas embora a ser montada a gente insiste,
E suas guirlandas prateadas ali ajeites,
Bolinhas de algodão nos galhos deites,
Nenhuma luz hoje acesa nela existe;
E mais ainda, não há criança ao redor dela,
Só a rodearam em busca dos presentes,
Papéis rasgados nevaram sobre o chão,
Somente a luz da Lua na janela,
Como lágrimas prateadas de parentes,
Que já se foram e para olhar não volverão.
TANNENBAUM
II
Mui
antigo costume o da árvore de Natal,
Bem
anterior ao raiar do Cristianismo,
Antigo
ideal de um nevado Paganismo,
Do Fimbulwinter a
enfrentar o frio e o mal...
Outro
costume a nos restar de forma igual,
Da
primavera a indicar o cismo
Entre o
inverno em seu pleno nihilismo,
Danças
perdidas de um arcano Carnaval;
Em épocas
de bem menos ceticismo
Sagrada
era essa árvore triunfal,
Testemnha
de que o inverno acabaria,
Que a
neve e o gelo correriam para o abismo
E a vida
prosseguiria o seu fanal
Em cada
pequeno ser que nasceria.
TANNENBAUM
III
A
tradição realmente portuguesa
Era o
Presépio a demarcar o seu Natal,
O Retábulo espanhol de
ardor igual,
Dez
figurinhas com traços de nobreza;
Em minha
casa se montaria com certeza,
Bem
numerosa das figuras a espiral,
Minha
avó, minha mãe, em meigo festival,
Depois
sobrou para mim igual proeza:
Panos
tingidos de verde e um espelho,
Um lago plácido
ali a representar,
Com
quatro cisnes feitos de algodão;
Vinham os
Magos em seu andar parelho,
Pela
explosão da Supernova a se guiar,
Três
astrônomos a seguir seu coração.
ASAS DE QUARTZO I – 27
DEZ 2023
Se eu não der asas a
meus pensamentos,
Serei a causa de
ficarem acorrentados,
Irão murchar, até a
morte condenados,
Pranteado em vão o
total dos sentimentos.
Se ao invés der asas a
meus julgamentos,
Serão os ideais
igualmente agrilhoados,
Oprimidos por receios
comportados,
Timorosos a declarar impedimentos.
Como posso então cortar
suas asas,
Não são galinhas que eu
impeça de voar,
Não os pretendo conter
no meu quintal,
Por mais lhes dê um
mínimo de vazas,
Até que aprendam para
as nuvens levitar,
Em grandes flocos de
neve sideral.
ASAS DE
QUARTZO II
Ocorre às
vezes muertecica, a breve morte,
Não
realmente de qualquer inspiração,
Do
sentimento a nadar no coração,
Sem
permitir-lhe buscar a própria sorte;
Levantar-me
e o redigir seria um corte
Nesse meu
sono de fraca fixação:
Para
amanhã deixarei sua redação,
À memória
confiarei seu breve porte...
Mas de
manhã, as frases já morreram,
Haviam
brotado no solo de minhalma,
Sem
receber nem água e nem adubo,
Quais
arestas se saberá se perderiam.
Na
escolha tola de conservar-se a calma,
Enquanto
os dados giravam em seu cubo.
ASAS DE
QUARTZO III
Por isso,
geralmente eu me levanto
E deixo o
sono me abandonar sem pena
Por mais
um verso que a meu olhar acena,
Talvez de
riso ou a pipocar de pranto;
Quiçá tal
verso em nada será santo,
Mas
esquecê-lo meu coração condena,
Melhor o
escreva nesta presente cena,
Se for
inverno, a me cobrir de manto,
Se for
verão, diante do ventilador,
Que sopra
ao longe essa pequena morte,
Que ao
sono sobreviva este soneto,
Meu
inconsciente o venenoso sedutor,
Talvez
querendo que o poema assim se aborte,
Cristalizado
em verde quartzo secreto.
NA GÔNDOLA DOS ELFOS I
– 28 DEZ 2023
Ouvi dizer que cada
verso é um duende,
Mal disfarçado de
duende de jardim,
Algo de pedra ou de
cimento assim,
Que meu vago sentimento
nele prende;
Mas cada verso a
lamparina acende,
Em sua luz traquinando
um arlequim,
Num lusco-fusco
hibernal feito cetim,
Que a luz elétrica em
crueldade fende.
Nunca vivi à luz de
lamparinas,
Foi sempre o Sol ou a
luz artifical,
Engarrafada em cada fio
de seu bornal,
Inversas sendo destarte
as minhas sinas,
Sequer a Lua a desfiar
meu pensamento,
Tão só um duende a
soprar seu julgamento.
NA
GÔNDOLA DOS ELFOS II
Porém se
for cada verso duendiforme,
Até que
ponto poderá subsistir,
Se não o
prender no gradil do redigir?
Um verso
adiado talvez fique disforme
Ou a um
novo sentimento se conforme,
Que me
chegou para os dedos me iludir.
Mas é
melhor em qualquer sonho persistir
Do que
esperar por rascunho mais conforme.
Talvez
devera só escrever à luz de velas,
Com cem
falenas a buscar o suicídio,
Ou
mariposas a mostrar mais resistência,
Que de
meu cérebro escancarem as janelas,
Sem
permitir de um poema o infanticício,
Mas
dar-lhe a linfa em sua maior potência.
NA
GÔNDOLA DOS ELFOS III
Em sendo
assim, todo o sono sacrifico,
Do verso
a gôndola a me mostrar seu esporão,
Sempre
outros sonos no futuro me virão,
Sempre em
outro dia a dormitar eu fico;
Mas cada
verso só de si mesmo é rico,
Não se
pode procrastinar seu aguilhão,
Que se
irradie de mim a sua tensão,
Na
hemorragia a que tanto me dedico.
E desse
modo acumulo mil cartões,
Com
tantos outros de anterior escrita,
Que um
dia digito em sua forma final,
Em
gôndolas lepidópteras de emoções,
Um pouco
de éter para a élfica bendita,
No altar
que ergui de pendor sacrificial.
DÁRIO HUMBERTO I – 29
DEZEMBRO 2023
De chumbo eu tinha
muitos soldadinhos,
Só mais tarde me
alcançou a galalite;
Nessa coleta o meu avô
me incite,
Em sua ferragem os
forja no cadinho.
Muitos dos quais a tomar
outro caminho,
Em suas vitrinas que
cobiça alheia agite,
Que o interesse
comercial lhe dite,
Nem toda a obra a
enviar para o netinho.
Fazia um longo batalhão
no corredor
Daquela velha casa em
que eu morava,
Expectando que ninguém
os amassasse,
Horas a fio em tal ato
de amor
Do menino que na rua
não jogava,
Para brincar que alguém
viesse e o visitasse...
DÁRIO
HUMBERTO II
Nem todos
o meu avô havia forjado,
Alguns
vieram da França ou da Alemanha,
Depois as
formas para igual façanha,
Minhas
tias os pintavam com cuidado
E os
deixavam ao sol para o esmaltado
Firmar-se
bem, erguidos em peanha,
A mostrar
delicadeza e gentil manha
(Ou o
degrau do chafariz era ocupado.)
Mas muito
mais ensinou-me o meu avô,
Seus
fascículos rosacruz a me emprestar,
De meu
pai desaprovação tendo receio
E nos
meus quinze anos me entregou
Um atlas
mágico, capas metálicas em permeio,
Que em Art-Nouveau grande tempo ele guardou.
DÁRIO
HUMBERTO III
Longas
tivemos também conversações,
Em que
contava da família algum segredo,
Recomendando
que o guardasse em meu degredo,
Não eram
coisas para se contar a multidões;
Mais
tarde, após sua morte, as confissões
Fui
conferir com meu pai em seu albedo,
Da morte
de minha avó soube o rubedo,
Em seu
desastre de tristes proporções.
Também se
foram minha mãe e então meu pai
Assim
acabei para o mundo transmitindo
Isso que
um dia meu avô me havia confiado.
A nenhum
deles tal lembrança ainda vai
Prejudicar
se meus pecados for nutrindo,
Porém
suspeito ter meu avô assim honrado.
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