sábado, 8 de junho de 2024


 MAISONS VILLAGEOISES I  (5 ago 11)

 (Danielle Darrieus)

Talvez as reconheças, viajante...

Essas casas de pedra que se erguem;

essas paredes grossas se soerguem

a proteger-te do vento contra o guante!

 

Talvez as tenhas visto, viandante,

e suas visões à tua memória leguem...

De tua recordação então despeguem

curtos vislumbres de sonho delirante...

 

Aproveitando os mínimos espaços,

elas se apertam contra a rocha viva,

quase uma afronta a qualquer vegetação,

 

sem lhe deixar de superfície os traços,

enquanto o humano ser nelas se ativa,

nos mil terraços de seu coração...

 

MAISONS VILLAGEOISES II

 

Por entre as gretas, a menor semente,

trazida pelo vento ou albatrozes,

levanta ao sol o broto, em fracas vozes,

de cada lâmina de relva enverdescente.

 

Cotiledônias frágeis, de potente

sobrevivência, por mais que as folhas toses,

a contentar-se com as menores doses

da umidade e do ar viridescente.

 

São samambaias e dentes-de-leão,

são cogumelos, nos pontos mais escuros,

ou organismos até mais atrevidos,

 

que se apresentam, em fúria de paixão,

para enfrentar os seus percalços duros:

zumbis de avenca de mil ideais perdidos!

 

MAISONS VILLAGEOISES III

 

Aqui não moro eu: são os meus sonhos

que se espalham pelo mundo, sem cessar.

A cada nuvem têm de acompanhar,

inusitados os seus ideais bisonhos...

 

Não são os pesadelos mais medonhos,

que não os tenho, ao menos de lembrar.

Bem diferente se mostra o meu sonhar,

em devaneios tristes ou risonhos...

 

Mas sim, eu moro, porque humana gente

ainda se encontra por trás dessas paredes,

em que centenas viveram no passado

 

e desses todos transformo-me em agente,

a captar memórias em minhas redes,

para rufar no coração descompassado.

 

MAISONS VILLAGEOISES IV – 22 ABRIL 2024

 

Só imagino, nos séculos passados,

desde que alguém tais pedras cimentou,

desde que outrem as grades reforjou,

com seu orgulho de ferreiros consagrados;

 

desde que foram os vidros colocados

nesses caixilhos que alguém armou,

nessas janelas e portas que montou,

nessas ardósias dispostas nos telhados,

 

quanta gente já dormiu sob esses tetos

ou espiou das janelas e mansardas

para os poucos que passavam pela rua;

 

quem já gozou ou não gozou de afetos,

entre as muralhas das paredes pardas

e agora dorme sob outra pedra nua.

 

MAISONS VILLAGEOISES V

 

Minhas casas de pedra foram outras,

alicerçadas em minha própria mente;

já morei dentro delas bem contente,

saía de umas para habitar em outras!

 

Ainda com a poeira que trouxera doutras,

abrigado em mim mesmo, certamente,

em cada casa tinha noiva diferente,

nos cabarés da mente achava estoutras!

 

Que nos importa se a multidão de orgasmos

tidos com elas foram sonho bem mesquinho,

autoerotismo de um puro fantasiar?

 

Muito melhor que o abraço dos marasmos

de tanta coisa enovelada no caminho,

que não se pode jamais recuperar!...

 

MAISONS VILLAGEOISES VI

 

E quanto a ti, em quantas casas já moraste?

Mansões erguidas por nobre imaginação,

as capelinhas de um suave coração,

sem que no mundo exterior te aventuraste?

 

Ou só em casas mais robustas habitaste,

na alvenaria de cada construção,

cimento armado de alheia criação,

tijolo e cal por outros juntos encontraste?

 

Ou de fato, em tal vetusta pedra antiga

tu já viveste, nos tempos teus de antanho

ou por vezes as ajudaste a construir?

 

Nos mil outroras quiçá já foste auriga

das carroçadas de pedra para ganho

ou para o próprio lar fazer subir?

 

MAISONS VILLAGEOISES VII – 23 ABRIL 2024

 

Porém se foram tais casas habitadas,

no decorrer do tempo, há gerações,

não me parece terem sido habitações

dos operários que lhes ergueram as fachadas;

 

talvez sejam a visitantes dedicadas,

aos turistas de arqueológicas paixões

ou a romeiros de contritos corações,

que às abadias acorrem consagradas.

 

Buscando a bênção de sua peregrinação,

que lhes permita cobrir muitos pecados

(e contnuar a pecar mais à vontade)

 

ou talvez alcancem mais amena propensão,

nessa estadia em ambiantes marchetados

por tantos séculos da milenar humanidade.

 

MAISONS VILLAGEOISES VIII

 

São de madeira das janelas os caixilhos,

bem protegidas por brancos cortinados:

não será fácil com olharse apressados

dos inquilinos perscrutar os brilhos.

 

Nas encostas, árvores seguem seus anilhos,

alçando ao ar seus florais amarelados,

pela exiguidade do espaço assim deixados,

forçadas a se manter em estreitos trilhos,

 

enquanto as frondes se expandem na montanha,

fracos abrigos contra tantas invasões,

mas cercando as velhas casas com firmeza;

 

não é zona que o tremor da terra assanha,

seus terremotos são só revoluções,

a que o muro antigo contempla em altiveza.

 

MAISONS VILLAGEOISES IX

 

Mas quem morou nas casinhas apertadas

contra essa encosta íngreme do monte?

Nessas histórias que talvez ninguém mais conte,

nessas salas ao sigilo consagradas,

 

que algumas vezes são ainda visitadas

pelos monges da abadia junto à fonte,

para o galgar da montanha como ponte,

transposições ao céu facilitadas.

 

Quiçá em visitas a doentes, batizados,

antes da boda aos noivos confessando,

para ocultar visões inescrutáveis,

 

ou talvez para festejos convidados,

ou nesses lares talvez mesmo ingressando

para milagres jamais irrealizáveis...

 

MAISONS VILLAGEOISES X – 24 ABRIL 2024

 

Eis que os católicos possuem uma vantagem

que não partilham os mais devotos protestantes:

embora cometam as infrações mais delirantes,

logo as confessam num arremedo de coragem

 

e de seus padres, oculta sua visagem,

recebem logo absolvições bem confortantes,

em troca de penitências hesitantes,

que os dispensarão da infernal paragem.

 

São as ditas obras de supererrogação,

esses tesouros recolhidos pelos santos,

que teriam graça  mais do que precisam,

 

que os confessores podem servir em prestação,

a compensar do penitente os prantos,

embora peçam que em diversos futuros vivam.

 

MAISONS VILLAGEOISES XI

 

Porém igual concediam indulgências

a quem prestasse obras meritórias,

por exemplo nas Cruzadas, cujas glórias

deveriam justificar quaisquer tendências

 

para matar, roubar e outras pendências

e mesmo estupros no momento das vitórias,

corpos violentados em pilhas de escórias,

sobre mortos a assistir em complaciências...

 

E por que não conceder aos próprios frades

uma indulgência de plena aceitação

pelos pecados cometidos na ocasião?

 

Muito melhor que os enviar ao Hades,

reservado para os hereges protestantes,

salvo os conversos nos últimos instantes!

 

MAISONS VILLAGEOISES XII

 

Uma figura se debruça ao parapeito,

a contemplar certa cena lá no fundo;

usa uma capa de cinzor profundo,

a mão se apóia diante de seu peito...

 

De que suas vistas vão tirar proveito,

algo de puro ou em oposto imundo?

Por que inclina seu rosto rubi cundo

e se observa daqui, com que direito?

 

Talvez seja mulher de orelhas delicadas,

seus longos dedos parecendo cor-de-rosa,

por que visita esse abascal mosteiro?

 

Tantas perguntas  apenas esboçadas,

fotos modernas já digitalizadas,

em transitório momento derradeiro...

MAISONS VILLAGEOISES XIII – 25 ABRIL 2024

 

Recordo agora essa imagem inicial

desses merlões e ameias no seu crivo,

que certo dia registrou diapositivo,

conservado ainda em sua pasta original.

 

Até a figura de cinza monacal,

seu rosto críptico a sugerir aviso:

Noli me tangere! a indicar seu siso, (*)

olhar vestido de ameaça espiritual,

(*) Que ninguém me toque!

               

que me inspirou os meus primeiro versos,

seguindo após por caminhos bem diversos,

minha curiosidade impelida a investigar,

 

sem saber que ainda viva a personagem,

que me encara desde o fundo da visagem,

meu próprio olhar quem sabe a perscrutar!

 

MAISONS VILLAGEOISES XIV

 

Talvez se ache até mesmo contemplando

dessa cabeça seus dois olhos imensos,

no peitoril a crispar seus dedos tensos,

talvez no aguardo de destino mais infando,

 

tal boca imensa talvez a devorando,

seu corpo inteiro com molares infensos,

quiçá pensando em balançar seus lenços,

como oferta de paz apresentando,

 

por mais que tema esse rosto de dragão,

que talvez sobre ela cuspa fogo,

sem que a proteja o pétreo parapeito,

 

ganhando assim esse instante de atenção,

numa esperança de ter ouvido o rogo

ou até mesmo de reagir tendo o direito!

 

MAISONS VILLAGEOISES XV

 

Porém é a casa que domina a aldeia,

toda de pedra mas nua inteiramente,

sabe a muralha que vale mais que a gente,

todos devora em paulatina ceia.

 

Sempre é preciso contemplar na teia

essa figura singular ali presente,

a conservar-se de forma permanente,

no diapositivo que tal mansão permeia,

 

sem mais temor de ser absorvida

ou calcinada pelos olhos do dragão,

a planejar talvez uma investida,

 

para fora do retrato em plenitude?

Mas quem governa essa visão que alude

é a própria casa pela qual será engolida!

 

MAISONS VILLAGEOISES I  (5 ago 11)

 

Talvez as reconheças, viajante...

Essas casas de pedra que se erguem;

essas paredes grossas se soerguem

a proteger-te do vento contra o guante!

 

Talvez as tenhas visto, viandante,

e suas visões à tua memória leguem...

De tua recordação então despeguem

curtos vislumbres de sonho delirante...

 

Aproveitando os mínimos espaços,

elas se apertam contra a rocha viva,

quase uma afronta a qualquer vegetação,

 

sem lhe deixar de superfície os traços,

enquanto o humano ser nelas se ativa,

nos mil terraços de seu coração...

 

MAISONS VILLAGEOISES II

 

Por entre as gretas, a menor semente,

trazida pelo vento ou albatrozes,

levanta ao sol o broto, em fracas vozes,

de cada lâmina de relva enverdescente.

 

Cotiledônias frágeis, de potente

sobrevivência, por mais que as folhas toses,

a contentar-se com as menores doses

da umidade e do ar viridescente.

 

São samambaias e dentes-de-leão,

são cogumelos, nos pontos mais escuros,

ou organismos até mais atrevidos,

 

que se apresentam, em fúria de paixão,

para enfrentar os seus percalços duros:

zumbis de avenca de mil ideais perdidos!

 

MAISONS VILLAGEOISES III

 

Aqui não moro eu: são os meus sonhos

que se espalham pelo mundo, sem cessar.

A cada nuvem têm de acompanhar,

inusitados os seus ideais bisonhos...

 

Não são os pesadelos mais medonhos,

que não os tenho, ao menos de lembrar.

Bem diferente se mostra o meu sonhar,

em devaneios tristes ou risonhos...

 

Mas sim, eu moro, porque humana gente

ainda se encontra por trás dessas paredes,

em que centenas viveram no passado

 

e desses todos transformo-me em agente,

a captar memórias em minhas redes,

para rufar no coração descompassado.

 

MAISONS VILLAGEOISES IV – 22 ABRIL 2024

 

Só imagino, nos séculos passados,

desde que alguém tais pedras cimentou,

desde que outrem as grades reforjou,

com seu orgulho de ferreiros consagrados;

 

desde que foram os vidros colocados

nesses caixilhos que alguém armou,

nessas janelas e portas que montou,

nessas ardósias dispostas nos telhados,

 

quanta gente já dormiu sob esses tetos

ou espiou das janelas e mansardas

para os poucos que passavam pela rua;

 

quem já gozou ou não gozou de afetos,

entre as muralhas das paredes pardas

e agora dorme sob outra pedra nua.

 

MAISONS VILLAGEOISES V

 

Minhas casas de pedra foram outras,

alicerçadas em minha própria mente;

já morei dentro delas bem contente,

saía de umas para habitar em outras!

 

Ainda com a poeira que trouxera doutras,

abrigado em mim mesmo, certamente,

em cada casa tinha noiva diferente,

nos cabarés da mente achava estoutras!

 

Que nos importa se a multidão de orgasmos

tidos com elas foram sonho bem mesquinho,

autoerotismo de um puro fantasiar?

 

Muito melhor que o abraço dos marasmos

de tanta coisa enovelada no caminho,

que não se pode jamais recuperar!...

 

MAISONS VILLAGEOISES VI

 

E quanto a ti, em quantas casas já moraste?

Mansões erguidas por nobre imaginação,

as capelinhas de um suave coração,

sem que no mundo exterior te aventuraste?

 

Ou só em casas mais robustas habitaste,

na alvenaria de cada construção,

cimento armado de alheia criação,

tijolo e cal por outros juntos encontraste?

 

Ou de fato, em tal vetusta pedra antiga

tu já viveste, nos tempos teus de antanho

ou por vezes as ajudaste a construir?

 

Nos mil outroras quiçá já foste auriga

das carroçadas de pedra para ganho

ou para o próprio lar fazer subir?

 

MAISONS VILLAGEOISES VII – 23 ABRIL 2024

 

Porém se foram tais casas habitadas,

no decorrer do tempo, há gerações,

não me parece terem sido habitações

dos operários que lhes ergueram as fachadas;

 

talvez sejam a visitantes dedicadas,

aos turistas de arqueológicas paixões

ou a romeiros de contritos corações,

que às abadias acorrem consagradas.

 

Buscando a bênção de sua peregrinação,

que lhes permita cobrir muitos pecados

(e contnuar a pecar mais à vontade)

 

ou talvez alcancem mais amena propensão,

nessa estadia em ambiantes marchetados

por tantos séculos da milenar humanidade.

 

MAISONS VILLAGEOISES VIII

 

São de madeira das janelas os caixilhos,

bem protegidas por brancos cortinados:

não será fácil com olharse apressados

dos inquilinos perscrutar os brilhos.

 

Nas encostas, árvores seguem seus anilhos,

alçando ao ar seus florais amarelados,

pela exiguidade do espaço assim deixados,

forçadas a se manter em estreitos trilhos,

 

enquanto as frondes se expandem na montanha,

fracos abrigos contra tantas invasões,

mas cercando as velhas casas com firmeza;

 

não é zona que o tremor da terra assanha,

seus terremotos são só revoluções,

a que o muro antigo contempla em altiveza.

 

MAISONS VILLAGEOISES IX

 

Mas quem morou nas casinhas apertadas

contra essa encosta íngreme do monte?

Nessas histórias que talvez ninguém mais conte,

nessas salas ao sigilo consagradas,

 

que algumas vezes são ainda visitadas

pelos monges da abadia junto à fonte,

para o galgar da montanha como ponte,

transposições ao céu facilitadas.

 

Quiçá em visitas a doentes, batizados,

antes da boda aos noivos confessando,

para ocultar visões inescrutáveis,

 

ou talvez para festejos convidados,

ou nesses lares talvez mesmo ingressando

para milagres jamais irrealizáveis...

 

MAISONS VILLAGEOISES X – 24 ABRIL 2024

 

Eis que os católicos possuem uma vantagem

que não partilham os mais devotos protestantes:

embora cometam as infrações mais delirantes,

logo as confessam num arremedo de coragem

 

e de seus padres, oculta sua visagem,

recebem logo absolvições bem confortantes,

em troca de penitências hesitantes,

que os dispensarão da infernal paragem.

 

São as ditas obras de supererrogação,

esses tesouros recolhidos pelos santos,

que teriam graça  mais do que precisam,

 

que os confessores podem servir em prestação,

a compensar do penitente os prantos,

embora peçam que em diversos futuros vivam.

 

MAISONS VILLAGEOISES XI

 

Porém igual concediam indulgências

a quem prestasse obras meritórias,

por exemplo nas Cruzadas, cujas glórias

deveriam justificar quaisquer tendências

 

para matar, roubar e outras pendências

e mesmo estupros no momento das vitórias,

corpos violentados em pilhas de escórias,

sobre mortos a assistir em complaciências...

 

E por que não conceder aos próprios frades

uma indulgência de plena aceitação

pelos pecados cometidos na ocasião?

 

Muito melhor que os enviar ao Hades,

reservado para os hereges protestantes,

salvo os conversos nos últimos instantes!

 

MAISONS VILLAGEOISES XII

 

Uma figura se debruça ao parapeito,

a contemplar certa cena lá no fundo;

usa uma capa de cinzor profundo,

a mão se apóia diante de seu peito...

 

De que suas vistas vão tirar proveito,

algo de puro ou em oposto imundo?

Por que inclina seu rosto rubi cundo

e se observa daqui, com que direito?

 

Talvez seja mulher de orelhas delicadas,

seus longos dedos parecendo cor-de-rosa,

por que visita esse abascal mosteiro?

 

Tantas perguntas  apenas esboçadas,

fotos modernas já digitalizadas,

em transitório momento derradeiro...

MAISONS VILLAGEOISES XIII – 25 ABRIL 2024

 

Recordo agora essa imagem inicial

desses merlões e ameias no seu crivo,

que certo dia registrou diapositivo,

conservado ainda em sua pasta original.

 

Até a figura de cinza monacal,

seu rosto críptico a sugerir aviso:

Noli me tangere! a indicar seu siso, (*)

olhar vestido de ameaça espiritual,

(*) Que ninguém me toque!

               

que me inspirou os meus primeiro versos,

seguindo após por caminhos bem diversos,

minha curiosidade impelida a investigar,

 

sem saber que ainda viva a personagem,

que me encara desde o fundo da visagem,

meu próprio olhar quem sabe a perscrutar!

 

MAISONS VILLAGEOISES XIV

 

Talvez se ache até mesmo contemplando

dessa cabeça seus dois olhos imensos,

no peitoril a crispar seus dedos tensos,

talvez no aguardo de destino mais infando,

 

tal boca imensa talvez a devorando,

seu corpo inteiro com molares infensos,

quiçá pensando em balançar seus lenços,

como oferta de paz apresentando,

 

por mais que tema esse rosto de dragão,

que talvez sobre ela cuspa fogo,

sem que a proteja o pétreo parapeito,

 

ganhando assim esse instante de atenção,

numa esperança de ter ouvido o rogo

ou até mesmo de reagir tendo o direito!

 

MAISONS VILLAGEOISES XV

 

Porém é a casa que domina a aldeia,

toda de pedra mas nua inteiramente,

sabe a muralha que vale mais que a gente,

todos devora em paulatina ceia.

 

Sempre é preciso contemplar na teia

essa figura singular ali presente,

a conservar-se de forma permanente,

no diapositivo que tal mansão permeia,

 

sem mais temor de ser absorvida

ou calcinada pelos olhos do dragão,

a planejar talvez uma investida,

 

para fora do retrato em plenitude?

Mas quem governa essa visão que alude

é a própria casa pela qual será engolida!

 

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