CONFISSÕES
1 – 26 ABRIL2024
desde
criança eu sei que já te amava,
nesses
enquantos em que não te conhecia,
nos
olhos de outras eram teus olhos que já via,
no
ventre de outras com tua carne copulava;
quando
tua carne a algum outro se entregava,
apenas
eu é que me achava ali,
somente
eu as tuas delícias conheci,
a
ninguém mais teu beijo tímido alcançava;
pois
certamente apenas eu fui teu amante,
mesmo
que a outrem dispensases teu carinho,
nenhum
outro senão eu te percebi;
mesmo
em momento de prazer mais delirante,
lá
estava eu a percorrer o teu caminho,
somente
eu que me entreguei inteiro a ti!...
CONFISSÕES 2
ela indagou-me: “serei eu tão pretensiosa,
que me ache acima de qualquer competidor,
que o meu corpo tenha assim tanto valor,
que me pareça a interferência indecorosa?”
mas não se trata de ser assim tão orgulhosa,
ela de fato possui em si imenso ardor,
que mereceu que a colocase em meu andor
e em meu amor assim a tornasse poderosa.
mas o que ocorre é algo bastante diferente:
há muito sei que lhe pertenço inteiro,
amor e vida, a mente e o corpo ardente,
porém se assim eu percebo lhe pertenço,
como poderia cometer um contrasenso,
de roubar-lhe o que era dela inteiramente?
CONFISSÕES
3
a
traição bateu à porta, saiu amor pela janela:
mesmo
que sejam até mesmo parentes,
objetivos
e atos possuem bem diferentes,
pois
amor não tolera o melífluo que sai dela;
traição
se apresenta em vestes de donzela,
veste
o desejo de roupagens reluzentes
ou
do anseio por culpas complacentes,
chave
brilhante para o cofre de uma estrela,
que
fosca se torna sem dar satisfação,
sem
compensar ninguém por talta de carinho,
nessa
ocasião fugaz em que existe apenas sexo
e
como é fácil cair nessa tentação!
pois
nos espreita a cada volta do caminho
e
nos afasta do amor no puro amplexo...
CONFISSÕES 4
mas realmente o que é uma traição?
tantos igualam a traição ao simples sexo,
tão diferente do mais meigo amplexo,
mas que importância tem tal consumação?
traição de fato é se houver revelação
da intimidade em um narrar sem nexo
das fantasias maltratadas num complexo
e indiferente descrever de sua noção,
que a pouco e pouco se fará comparação
em nada importa ser o amor que se revela
bem superior ao acender-se dessa estrela,
que logo explode, ao deixar conspurcação
das horas puras mencionadas na procela,
gotas rasgando do amor toda a ilusão!
DEPRECAÇÃO 1 – 27 ABR 2024
surgi e te alcancei em meu desejo,
amor incansável, ave de arribação,
alma sempre a te adejar em vibração,
prendi nos lábios o teu potente beijo,
mas mesmo assim dediquei-me ao ensejo,
teus dentes de marfim qual oração,
minha lágrima a patinar-me na ocasião,
nas comissuras minha prece e adejo
e só em minha vida se materializa o dom
do amor guardado em mim no teu sabor,
ave pousada na cumeeira desse amor
e a minha confissão lancei com pejo
nesse alcance final a escutar teu meigo tom,
quando em teu sono me recebeste com bocejo!...
DEPRECAÇÃO 2
há confissões e confissões, por
certo,
algumas reais, outras imaginárias
ou tão somente fantasias
atrabiliárias,
jamais as fendas de um coração
aberto,
que amor revela para ti em som
deserto,
de versos nas falanges
costumárias,
tantas vezes em lianas ordinárias,
que para longe expandem o que é
perto.
pois me disseste que, desta vez
que me atacaste,
na face estanhada de outra
Górgona, a Esteno
e confessaste que fora outra em
teu lugar
e que o controle de ti mesma
abandonaste,
teus cabelos feitos cobras de
veneno,
em sua fraqueza teu escudeiro a condenar!
DEPRECAÇÃO 3
se foram outras de ti que me
magoaram,
em meu momento de maior fraqueza,
também as aceito sem mais
incerteza,
já que são partes de ti que me
arranharam,
pois amo as mil mulheres que
habitaram
tua mente e coração de igual
nobreza:
bem mereci, por meu instante de
vileza,
essas frases cruéis que me
picaram.
mas não chorei, senti apenas
desespero,
sem que minhaw vistas borbulhassem
pranto,
meu coração tão somente torturei,
mas são tantas emoções que agora
eu gero!
nunca pensei que me pudessem arder
tanto
essas lágrimas que eu nunca
derramei!
MISCIGENAÇÃO
1 – 28 ABRIL 2024
no
escrínio das águas as cabeças balançam,
sobem
as cabeças das moças de biquini,
os
homens descem qual em rolo de filme,
crianças
brincam por tudo e não descansam,
sobem
a escada até o alto e não se cansam,
os
corpos pulam lá do alto como vime,
a
baloiçar-se ao vento que os imprime
e
gigantescos espadanam saltodançam!
tão
cheia está a piscina! como podem
saltar
do alto do flexível trampolim,
seguros
que se afastarão outros assim
já
descuidando das cabeças que ali rolem
e
se em alguém esbarrarem, creem que acodem
os
guarda-vidas , a salvar ambos enfim?
MISCIGENAÇÃO 2
nunca na vida entrei nessas
piscinas,
desde criança por certa
claustrofobia,
ou seria antes uma demofobia,
partilhar de tanta gente as mesmas
tinas!
naturalmente, ia lá ver as
meninas,
nessa época, biquinis não se via,
mas numa década o costume
permitia,
quw umbigos expusessem nessas
sinas!
Lembro a canção do biquini
amarelino,
de petit-pois nesse
constrangimento,
que aos olhos dos outros se
mostrasse,
a inspirar algum desejo pequenino,
no controle da ereção estando
atento,
sem que por tal exibição eu me
acanhasse!
MISCIGENAÇÃO 3
mas ac cabeçam balançm, sobem,
descem,
como grãos de milho ou de feijão,
em movimento browniano a multidão,
como um refúgio dos solares que a
aquecem!
mas é preciso que meus olhos mecem
o real sentido dessa mutação,
com tanta gente, água para
infecção,
até haja alguns ali que certo sexor
confessem,
na inspiração de tal germicidade,
tantos corpos suas células a
soltar,
tantos odores para incitar ao amor,
por mais que duchas exija a
sociedade,
minha demofobia a assim
justificar,
nesse refúgio em que engambelava
meu ardor!
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