segunda-feira, 10 de junho de 2024


 

(Norma e Constance Talmadge, cinema mudo) 

CONFISSÕES 1 – 26 ABRIL2024

desde criança eu sei que já te amava,

nesses enquantos em que não te conhecia,

nos olhos de outras eram teus olhos que já via,

no ventre de outras com tua carne copulava;

quando tua carne a algum outro se entregava,

apenas eu é que me achava ali,

somente eu as tuas delícias conheci,

a ninguém mais teu beijo tímido alcançava;

pois certamente apenas eu fui teu amante,

mesmo que a outrem dispensases teu carinho,

nenhum outro senão eu te percebi;

mesmo em momento de prazer  mais delirante,

lá estava eu a percorrer o teu caminho,

somente eu que me entreguei inteiro a ti!...

CONFISSÕES 2

ela indagou-me: “serei eu tão pretensiosa,

que me ache acima de qualquer competidor,

que o meu corpo tenha assim tanto valor,

que me pareça a interferência indecorosa?”

mas não se trata de ser assim tão orgulhosa,

ela de fato possui em si imenso ardor,

que mereceu que a colocase em meu andor

e em meu amor assim a tornasse poderosa.

mas o que ocorre é algo bastante diferente:

há muito sei que lhe pertenço inteiro,

amor e vida, a mente e o corpo ardente,

porém se assim eu percebo lhe pertenço,

como poderia cometer um contrasenso,

de roubar-lhe o que era dela inteiramente?

 

CONFISSÕES 3

a traição bateu à porta, saiu amor pela janela:

mesmo que sejam até mesmo parentes,

objetivos e atos possuem bem diferentes,

pois amor não tolera o melífluo que sai dela;

traição se apresenta em vestes de donzela,

veste o desejo de roupagens reluzentes

ou do anseio por culpas complacentes,

chave brilhante para o cofre de uma estrela,

que fosca se torna sem dar satisfação,

sem compensar ninguém por talta de carinho,

nessa ocasião fugaz em que existe apenas sexo

e como é fácil cair nessa tentação!

pois nos espreita a cada volta do caminho

e nos afasta do amor no puro amplexo...

 

CONFISSÕES 4

mas realmente o que é uma traição?

tantos igualam a traição ao simples sexo,

tão diferente do mais meigo amplexo,

mas que importância tem tal consumação?

traição de fato é se houver revelação

da intimidade em um narrar sem nexo

das fantasias maltratadas num complexo

e indiferente descrever de sua noção,

que a pouco e pouco se fará comparação

em nada importa ser o amor que se revela

bem superior ao acender-se dessa estrela,

que logo explode, ao deixar conspurcação

das horas puras mencionadas na procela,

gotas rasgando do amor toda a ilusão!

 

DEPRECAÇÃO 1 – 27 ABR 2024

surgi e te alcancei em meu desejo,

amor incansável, ave de arribação,

alma sempre a te adejar em vibração,

prendi nos lábios o teu potente beijo,

mas mesmo assim dediquei-me ao ensejo,

teus dentes de marfim qual oração,

minha lágrima a patinar-me na ocasião,

nas comissuras minha prece e adejo

e só em minha vida se materializa o dom

do amor guardado em mim no teu sabor,

ave pousada na cumeeira desse amor

e a minha confissão lancei com pejo

nesse alcance final a escutar teu meigo tom,

quando em teu sono me recebeste com bocejo!...

 

DEPRECAÇÃO 2

há confissões e confissões, por certo,

algumas reais, outras imaginárias

ou tão somente fantasias atrabiliárias,

jamais as fendas de um coração aberto,

que amor revela para ti em som deserto,

de versos nas falanges costumárias,

tantas vezes em lianas ordinárias,

que para longe expandem o que é perto.

pois me disseste que, desta vez que me atacaste,

na face estanhada de outra Górgona, a Esteno

e confessaste que fora outra em teu lugar

e que o controle de ti mesma abandonaste,

teus cabelos feitos cobras de veneno,

em sua fraqueza teu escudeiro a condenar!

 

DEPRECAÇÃO 3

 

se foram outras de ti que me magoaram,

em meu momento de maior fraqueza,

também as aceito sem mais incerteza,

já que são partes de ti que me arranharam,

pois amo as mil mulheres que habitaram

tua mente e coração de igual nobreza:

bem mereci, por meu instante de vileza,

essas frases cruéis que me picaram.

mas não chorei, senti apenas desespero,

sem que minhaw vistas borbulhassem pranto,

meu coração tão somente torturei,

mas são tantas emoções que agora eu gero!

nunca pensei que me pudessem arder tanto

essas lágrimas que eu nunca derramei!

 

  

MISCIGENAÇÃO 1 – 28 ABRIL 2024

no escrínio das águas as cabeças balançam,

sobem as cabeças das moças de biquini,

os homens descem qual em rolo de filme,

crianças brincam por tudo e não descansam,

sobem a escada até o alto e não se cansam,

os corpos pulam lá do alto como vime,

a baloiçar-se ao vento que os imprime

e gigantescos espadanam saltodançam!

tão cheia está a piscina!  como podem

saltar do alto do flexível trampolim,

seguros que se afastarão outros assim

já descuidando das cabeças que ali  rolem

e se em alguém esbarrarem, creem que acodem

os guarda-vidas , a salvar ambos enfim?

 

MISCIGENAÇÃO 2

nunca na vida entrei nessas piscinas,

desde criança por certa claustrofobia,

ou seria antes uma demofobia,

partilhar de tanta gente as mesmas tinas!

naturalmente, ia lá ver as meninas,

nessa época, biquinis não se via,

mas numa década o costume permitia,

quw umbigos expusessem nessas sinas!

Lembro a canção do biquini amarelino,

de petit-pois nesse constrangimento,

que aos olhos dos outros se mostrasse,

a inspirar algum desejo pequenino,

no controle da ereção estando atento,

sem que por tal exibição eu me acanhasse!

 

MISCIGENAÇÃO 3

mas ac cabeçam balançm, sobem, descem,

como grãos de milho ou de feijão,

em movimento browniano a multidão,

como um refúgio dos solares que a aquecem!

mas é preciso que meus olhos mecem

o real sentido dessa mutação,

com tanta gente, água para infecção,

até haja alguns ali que certo sexor confessem,

na inspiração de tal germicidade,

tantos corpos suas células a soltar,

tantos odores para incitar ao amor,

por mais que duchas exija a sociedade,

minha demofobia a assim justificar,

nesse refúgio em que engambelava meu ardor!

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