SETE QUEDAS 1 – 2
MAIO 24
quarenta anos atrás,
animei-me a procurá-la,
no auge do vigor,
confiança em plenitude,
não esperava que
algum dia me demonstrasse rude,
a ponto de correr em
busca de outra impala...
ah, se uma impala
fosse! mais posso imaginá-la,
como fêmea de
chacal, que meu destino mude;
como é frágil o
homem, quando sexo o ilude!
penetra facilmente
da hiena na capela!
mas por mais que eu
tenha sido o criminoso,
a trocar a maçã pura
por maçã selvagem,
como fui manipulado
pelo que me sucedeu!
e por mais tenha
sido um alvo do ardiloso,
em minha estupidez
demonstrei não ter coragem,
pois nessa imunda
história a real vítima fui eu!
SETE
QUEDAS 2
sete
quedas tinha guairá em iguassu.
saltos
de grande beleza, qual cartão postal,
correndo
pelo rio em nado natural,
agora
mortos saltos sob o lago nu;
também
eu dei sete saltos em perigo cru,
nestes
últimos dias, sem nada consensual:
caí
para a frente ou de costas neste mal,
hematomas
formando nos negros tons do anu.
os
sete saltos do guairá ocultos hoje são,
sob
o grande itaupu, esse mar artificial,
porém
meus sete saltos se encontram não sei onde:
será
que me observam ou nas vértebras estão.
a
me desperceber no momento discricional,
em
que alguma criatura me empurra e então se esconde?
SETE
QUEDAS 3
vingança
é um pratp que se come frio!
eis
um ditado que ´é alheio para mim,
nunca
a ninguém jamais toquei assim,
não
está em minha natureza o postergado cio:
o
quanto me fizeram sempre pus de lado, enfim,
sua
lembrança fica quais sementes num jardim,
mas
só pensar em vingança me deixa um calafrio.
não
pretendo afirmar de outros ser melhor,
somente
aqui atesto a minha natureza,
por
certo irei cuidar-me desse outrem com certeza,
porém
arquitetar-lhe destino bem pior,
mastiga-me
por dentro em vias de cansaço,
mesmo a cobrança aberto a transformar em abraço.
SETE
QUEDAS 4
e
não me digam simplesmente que isto é religião.
sem
dúvida que existe um inciso no pai nosso:
perdoa
nossas faltas e arrependimento grosso,
tal
qual nós já perdoamos quem nos fere o coração.
há
nisto uma promessa e advertência então:
perdáo
nos será dado sem lançamento ao fosso
pelo
deus da prece antiga, senhor que é meu e vosso,
há
gerações que chamam de dominical esta oraçãp,
porém
não ajo assim por temer algum castigo:
de
antemão minhas faltas lavadas pela graça
e
não pelos meus méritos ou nunca elas serão,
porém
não está em mim maquinar algum perigo
sobre
quem em mim manifestou qualquer desgraça:
mesmo
que não o mereça, o esqueço em meu perdão.
RESGATE 1 – 3 MAIO
24
eu torno a repassar
o que me sucedeu,
nestes últimos mes,
durante estas semanas:
uma após a outra,
sete quedas insanas,
mais uma repreensão
que alguém me ofereceu.
pela boca de esteno,
a górgona, ocorreu,
em máscara de
estanho e vistas inumanas,
escleróticas negras
nesse rosto em ganas,
daquela a quem amor
por mim não esquceu.
ela mesma me disse:
“não fui eu que subi,
fui tomada de
impulso, mas não te procurei
algo diverso em mim
subiu aquela escada;
não foi por meu
capricho que essa noite te feri,
mas o passo estava
em mim e não me refreei
e minha língua
surtiu de minha boca como espada!
RESGATE
2
percebi
muito bem que amor era encontrável
em
cada afirmação de atroz ressentimento;
se
fui eu que a magoei, foi tudo em meu provento
o
que pensou de mim muito menos favorável
do
que foi o ato em mim, leviano e descartável,
mas
porque recai em mim tão só nesse momento,
depois
de tantos anos de bom comportamento,
contudo
um único feito a tornar-me condenável?
foi
quase se eu quisesse receber a punição,
qual
um meliante a roubar descaradamente,
a
vítima observando para ver em qual trejeito,
no ditado antigo, a ocasião faz o ladrão,
mas
por que deveria tão desprendidamente
conspurcar
com essa falha um amor que era perfeito?
RESGATE
3
por
uma década e mais me trataste com carinho,
desde
a triste ocasião da morte de teu pai,
nenhum
ressentimento ou mágoa me contrai
durante
tantos anos ao longo do caminho;
bem
reconheço que certas vezes fui mesquinho
e
te dei ocasião, porém nada se atrai,
sincera
foste comigo e nada mais recai
durante
tantos anos, sem me deixar sozinho,
de
teu amor gentil, ainda que contido;
outrem
afirma que não foste carinhosa,
mas
não reclamo dessa fria gentileza,
que
amor mostraste em atos e não foi esquecido
e
sempre te entendi que me foste dadivosa,
com
teu amor retido, mas cheio de beleza.
INCOMPREENSÃO 1 – 4
MAIO 2024
mas porque, de
repente, tanta coisa sucedeu,
em torno a ti e
depois a mim também?
de onde nos surgiu
tão vasto esse porém,
como algo de atroz,
que amor não percebeu,
após a advertência
que tanto te ofendeu,
fosse quem fosse a
entidade que então vem;
ao teu livro
publicado correlação contém,
uma vingança antiga
contra qualquer bem teu.
mas eu não penso
assim. se houve punição
foi a quem não
respeitou a devida gratidão
e acabou por queimar
os dedos nesse ordálio
e se o mal nos
alcançou, a culpa é toda minha,
fui eu que
enfrequeci o poder de minha rainha,
por minha culpa
antiga de um único ato falho!
INCOMPREENSÃO
2
certa
vez, ela escreveu sobre o filho que era seu,
antes
mesmo perdido do que eu a conhecesse,
uma
pequena crônica que tanto comovesse,
não
pela religião, nem por que fosse ateu,
mas
a entrega do feto ao indiferente véu,
que
desse modo simples assim se realizasse
aos
esgotos da raça e a mágoa disfarçasse,
até
esse momento em que o papel a recolhesse.
não
sei a quantos mais esse relato afetou,
conheço
um bom amigo abalado quando o leu.
talvez
tanto quanto a mim, que não fui o responsável,
mas
a própria frialdade seu coração magoou,
parte
de seu coração nas cloacas se perdeu
e
lá no fundo geme sua mágoa inconfessável.
INCOMPREENSÃO
3
passados
anos, tornei-me responsável
por
outra concepção, porém esta vingou;
a
filha que nasceu eu sei que muito amou,
conforme
com seu ser um tanto inalcansável;
para
mim o seu peito nem sempre foi tocável,
havia
uma barreira e nunca a derribou,
contudo
para mim seu amor nunca negou,
mas
nunca se deixou mostrar-se vulnerável.
só
lhe resta na lembrança o fruto proibido,
por
lhe negar a vida, a si mesma machucou,
sabem
os deuses que a culpa não foi minha,
mas
por ser afinal outro fruto permitido,
com
as células do sonho, ao sonho se entregou,
não
tendo merecido todo o amor que dela vinha.
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