quarta-feira, 12 de junho de 2024


SHELLEY WINTERS

 

SETE QUEDAS 1 – 2 MAIO 24

quarenta anos atrás, animei-me a procurá-la,

no auge do vigor, confiança em plenitude,

não esperava que algum dia me demonstrasse rude,

a ponto de correr em busca de outra impala...

ah, se uma impala fosse!  mais posso imaginá-la,

como fêmea de chacal, que meu destino mude;

como é frágil o homem, quando sexo o ilude!

penetra facilmente da hiena na capela!

mas por mais que eu tenha sido o criminoso,

a trocar a maçã pura por maçã selvagem,

como fui manipulado pelo que me sucedeu!

e por mais tenha sido um alvo do ardiloso,

 

em minha estupidez demonstrei não ter coragem,

pois nessa imunda história a real vítima fui eu!

 

SETE QUEDAS 2

sete quedas tinha guairá em iguassu.

saltos de grande beleza, qual cartão postal,

correndo pelo rio em nado natural,

agora mortos saltos sob o lago nu;

também eu dei sete saltos em perigo cru,

nestes últimos dias, sem nada consensual:

caí para a frente ou de costas neste mal,

hematomas formando nos negros tons do anu.

os sete saltos do guairá ocultos hoje são,

sob o grande itaupu, esse mar artificial,

porém meus sete saltos se encontram não sei onde:

será que me observam ou nas vértebras estão.

a me desperceber no momento discricional,

em que alguma criatura me empurra e então se esconde?

 

SETE QUEDAS 3

vingança é um pratp que se come frio!

eis um ditado que ´é alheio para  mim,

nunca a ninguém jamais toquei assim,

não está em minha natureza o postergado cio:

o quanto me fizeram sempre pus de lado, enfim,

sua lembrança fica quais sementes num jardim,

mas só pensar em vingança me deixa um calafrio.

não pretendo afirmar de outros ser melhor,

somente aqui atesto a minha natureza,

por certo irei cuidar-me desse outrem com certeza,

porém arquitetar-lhe destino bem pior,

mastiga-me por dentro em vias de cansaço,

mesmo  a cobrança aberto a transformar em abraço.

 

SETE QUEDAS 4

e não me digam simplesmente que isto é religião.

sem dúvida que existe um inciso no pai nosso:

perdoa nossas faltas e arrependimento grosso,

tal qual nós já perdoamos quem nos fere o coração.

há nisto uma promessa e advertência então:

perdáo nos será dado sem lançamento ao fosso

pelo deus da prece antiga, senhor que é meu e vosso,

há gerações que chamam de dominical esta oraçãp,

porém não ajo assim por temer algum castigo:

de antemão minhas faltas lavadas pela graça

e não pelos meus méritos ou nunca elas serão,

porém não está  em mim maquinar algum perigo

sobre quem em mim manifestou qualquer desgraça:

mesmo que não o mereça, o esqueço em meu perdão.

 

RESGATE 1 – 3 MAIO 24

eu torno a repassar o que me sucedeu,

nestes últimos mes, durante estas semanas:

uma após a outra, sete quedas insanas,

mais uma repreensão que alguém me ofereceu.

pela boca de esteno, a górgona, ocorreu,

em máscara de estanho e vistas inumanas,

escleróticas negras nesse rosto em ganas,

daquela a quem amor por mim não esquceu.

ela mesma me disse: “não fui eu que subi,

fui tomada de impulso, mas não te procurei

algo diverso em mim subiu aquela escada;

não foi por meu capricho que essa noite te feri,

mas o passo estava em mim e não me refreei

e minha língua surtiu de minha boca como espada!

 

RESGATE 2

percebi muito bem que amor era encontrável

em cada afirmação de atroz ressentimento;

se fui eu que a magoei, foi tudo em meu provento

o que pensou de mim muito menos favorável

do que foi o ato em mim, leviano e descartável,

mas porque recai em mim tão só nesse momento,

depois de tantos anos de bom comportamento,

contudo um único feito a tornar-me condenável?

foi quase se  eu quisesse receber a punição,

qual um meliante a roubar descaradamente,

a vítima observando para ver em qual trejeito,

 no ditado antigo, a ocasião faz o ladrão,

mas por que deveria tão desprendidamente

conspurcar com essa falha um amor que era perfeito?

 

RESGATE 3

por uma década e mais me trataste com carinho,

desde a triste ocasião da morte de teu pai,

nenhum ressentimento ou mágoa me contrai

durante tantos anos ao longo do caminho;

bem reconheço que certas vezes fui mesquinho

e te dei ocasião, porém nada se atrai,

sincera foste comigo e nada mais recai

durante tantos anos, sem me deixar sozinho,

de teu amor gentil, ainda que contido;

outrem afirma que não foste carinhosa,

mas não reclamo dessa fria gentileza,

que amor mostraste em atos e não foi esquecido

e sempre te entendi que me foste dadivosa,

com teu amor retido, mas cheio de beleza.

 

INCOMPREENSÃO 1 – 4 MAIO 2024

mas porque, de repente, tanta coisa sucedeu,

em torno a ti e depois a mim também?

de onde nos surgiu tão vasto esse porém,

como algo de atroz, que amor não percebeu,

após a advertência que tanto te ofendeu,

fosse quem fosse a entidade que então vem;

ao teu livro publicado correlação contém,

uma vingança antiga contra qualquer bem teu.

mas eu não penso assim.  se houve punição

foi a quem não respeitou a devida gratidão

e acabou por queimar os dedos nesse ordálio

e se o mal nos alcançou, a culpa é toda minha,

fui eu que enfrequeci o poder de minha rainha,

por minha culpa antiga de um único ato falho!

 

INCOMPREENSÃO 2

certa vez, ela escreveu sobre o filho que era seu,

antes mesmo perdido do que eu a conhecesse,

uma pequena crônica que tanto comovesse,

não pela religião, nem por que fosse ateu,

mas a entrega do feto ao indiferente véu,

que desse modo simples assim se realizasse

aos esgotos da raça e a mágoa disfarçasse,

até esse momento em que o papel a recolhesse.

não sei a quantos mais esse relato afetou,

conheço um bom amigo abalado quando o leu.

talvez tanto quanto a mim, que não fui o responsável,

mas a própria frialdade seu coração magoou,

parte de seu coração nas cloacas se perdeu

e lá no fundo geme sua mágoa inconfessável.

 

INCOMPREENSÃO 3

passados anos, tornei-me responsável

por outra concepção, porém esta vingou;

a filha que nasceu eu sei que muito amou,

conforme com seu ser um tanto inalcansável;

para mim o seu peito nem sempre foi tocável,

havia uma barreira e nunca a derribou,

contudo para mim seu amor nunca negou,

mas nunca se deixou mostrar-se vulnerável.

só lhe resta na lembrança o fruto proibido,

por lhe negar a vida, a si mesma machucou,

sabem os deuses que a culpa não foi minha,

mas por ser afinal outro fruto permitido,

com as células do sonho, ao sonho se entregou,

não tendo merecido todo o amor que dela vinha.

 

  


 

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